Dan Baumgardt: ‘O que seu nariz pode
revelar sobre sua saúde’
Graças a uma
peculiaridade conhecida como atenção seletiva inconsciente, seu cérebro
aprendeu a ignorar seu nariz. Uma característica facial proeminente posicionada
perto dos olhos, o nariz poderia atrapalhar nossa visão, mas o sistema nervoso
o filtra de forma inteligente.
Você pode, porém,
optar por procurar seu nariz. Feche um olho ou olhe para a esquerda, direita ou
para baixo e ele aparecerá.
Embora o cérebro se
esforce para impedir que o nariz interfira na sua linha de visão, ele não é
algo a ser ignorado. Como muitas outras partes do corpo, o exame do nariz pode
ajudar a diagnosticar problemas externos de pele — e doenças internas.
• Acne
Embora existam várias
formas de acne, a acne vulgar (acne vulgaris) é a mais comum, e geralmente
afeta o nariz.
Essa doença de pele se
desenvolve a partir do entupimento de pequenas glândulas que secretam óleos
protetores, o que leva a comedões abertos e fechados.
Os comedões abertos,
mais conhecidos como cravos, desenvolvem um tampão de cor escura, enquanto os
comedões fechados são cravos brancos, que se formam quando o poro é
completamente bloqueado.
Os poros entupidos
também podem se transformar em caroços e saliências maiores, que podem se
tornar infectados, inflamados e cheios de pus, podendo até causar cicatrizes na
pele, como espinhas (comedões fechados inflamados), pápulas (protuberâncias
salientes e sólidas) e pústulas (protuberâncias superficiais contendo pus).
A acne rosácea tem uma
aparência diferente. É uma doença inflamatória da pele que causa eritema — ou
vermelhidão da pele — mais frequentemente no nariz e nas bochechas. Atualmente,
a rosácea é incurável, mas pode ser controlada, geralmente com tratamento de
longo prazo. Os pacientes com rosácea geralmente desenvolvem erupções cutâneas,
pápulas e pústulas que se assemelham à acne, e também têm vasos sanguíneos
visíveis que aparecem como linhas finas vermelhas ou arroxeadas no nariz e nas
bochechas.
Em alguns casos, a
rosácea pode fazer com que a pele do nariz cresça e fique mais espessa. Essa
condição é conhecida como rinofima e, assim como outras condições visíveis da
pele, pode resultar em mudanças profundas na aparência e afetar seriamente a
autoestima dos portadores.
Tanto a acne vulgar
quanto a rosácea têm sido associadas a vários fatores de risco e condições de
saúde, embora algumas ligações sejam mais fortes do que outras. No caso da
rosácea, a lista inclui pressão alta e colesterol, diabetes e artrite
reumatoide.
• 'Nariz de lobo'
A sarcoidose é uma
doença inflamatória que pode afetar qualquer tecido do corpo, principalmente os
pulmões e os gânglios linfáticos.
Esta condição pode
gerar manchas de erupções cutâneas azuladas ou arroxeadas, principalmente nas
extremidades do corpo, onde a pele é normalmente mais fria.
Isso inclui as
orelhas, os dedos das mãos e dos pés e, é claro, o nariz. Quando a sarcoidose
afeta o nariz, ela é conhecida como lupus pérnio, embora o nome seja errôneo,
pois essa condição não é a mesma que a doença autoimune conhecida como lúpus.
O lúpus regular é uma
doença completamente diferente em que o corpo ataca seus próprios tecidos. Seu
nome vem da palavra latina para “lobo” e o nome remonta aos tempos medievais,
quando se dizia que a erupção cutânea associada se assemelhava à mordida de um
lobo.
Quando o lúpus, e não
a sarcoidose, afeta a pele, ele gera uma erupção cutânea em forma de borboleta
ou erupção cutânea malar, que se espalha pelas bochechas e pela ponte nasal.
Essa erupção cutânea pode ser muito semelhante à rosácea.
De fato, o lúpus é
conhecido como “o grande imitador”, pois compartilha sintomas semelhantes aos
de muitas doenças diferentes.
• Síndrome trófica do trigeminal
A síndrome trófica
trigeminal é uma condição rara desencadeada por danos ao nervo trigêmeo, que
controla a mastigação, mas também dá sensação de tato à face.
Quando os ramos
menores do nervo que suprem a área da pele ao redor das narinas são
danificados, o tato é afetado.
O paciente percebe que
a pele está ficando dessensibilizada ou dormente, ou que ela está formigando,
como alfinetes e agulhas, criando uma vontade de cutucar ou coçar. Danos
repetidos à pele podem causar o desenvolvimento de úlceras ao redor das
narinas.
Essa condição é
diferente do transtorno de escoriação — ou dermatilomania — quando uma
compulsão psicológica leva a pessoa a arranhar e cutucar repetidamente a
própria pele.
Portanto, feche um dos
olhos de vez em quando para admirar seu nariz ou, melhor ainda, dê uma boa
olhada nele no espelho. Ele merece mais reconhecimento do que o ponto cego que
seu cérebro produz.
• Por que colocar o dedo no nariz pode
trazer riscos à saúde. Por Mark Patrick Taylor, Gabriel Filippelli e Michael Gillings
Não adianta negar,
admita. Seja quando estamos na companhia de alguém com quem temos intimidade ou
achamos que ninguém está olhando, todos nós em algum momento colocamos o dedo
no nariz. E não estamos sozinhos: outros primatas fazem isso também.
O estigma social em
torno de cutucar o nariz é generalizado. Mas será que deveríamos estar fazendo
isso? E o que devemos fazer com a meleca depois?
Somos cientistas que
pesquisam contaminantes ambientais — em nossas casas, ambientes de trabalho e
jardins —, então temos algum conhecimento sobre onde estamos realmente nos
metendo quando cutucamos o nariz.
A seguir, o que você
precisa saber antes de decidir "limpar o salão".
• O que tem na meleca?
Colocar o dedo no
nariz é um hábito totalmente natural: as crianças que ainda não aprenderam as
normas sociais logo se dão conta de que o encaixe entre o dedo indicador e a
narina é muito bom. Mas há muito mais do que apenas meleca lá em cima.
Durante os
aproximadamente 22 mil ciclos respiratórios diários, o muco que forma a meleca
atua como um filtro biológico fundamental para capturar poeira e alérgenos
antes que eles penetrem em nossas vias aéreas, onde podem causar inflamação,
asma e outros problemas pulmonares a longo prazo.
As células da cavidade
nasal, chamadas células caliciformes (devido à sua aparência em forma de
cálice), geram muco para capturar vírus, bactérias e poeira contendo
substâncias potencialmente nocivas, como chumbo, amianto e pólen.
O muco nasal, junto a
seus anticorpos e enzimas, são a linha de frente do sistema imunológico de
defesa do corpo contra infecções.
A cavidade nasal
também tem seu próprio microbioma. Às vezes, essas populações naturais podem
ser perturbadas, o que provoca várias condições, como a rinite.
Mas, em geral, os
micróbios do nosso nariz ajudam a repelir invasores, lutando contra eles em um
campo de batalha de muco.
A poeira, os micróbios
e os alérgenos capturados no muco acabam sendo ingeridos à medida que esse muco
escorre pela nossa garganta.
Isso não costuma ser
um problema, mas pode exacerbar a exposição ambiental a alguns contaminantes.
Por exemplo, o chumbo
— uma neurotoxina encontrada na poeira doméstica e na terra do jardim — entra
no corpo das crianças de forma mais eficiente por meio da ingestão e digestão.
Portanto, pode piorar
a exposição a certas toxinas ambientais se você aspirar ou consumir o muco, em
vez de assoar o nariz.
• O que a ciência diz sobre os riscos de
tirar meleca?
O estafilococo dourado
(Staphylococcus aureus, às vezes abreviado como S. aureus) é um germe que pode
causar uma variedade de infecções leves ou graves. Estudos mostram que é
frequentemente encontrado no nariz (isso é chamado de transporte nasal).
Uma pesquisa descobriu
que colocar o dedo no nariz está associado ao transporte nasal de S. aureus —,
podendo ser a causa do mesmo em certos casos. E concluiu que a superação do
hábito de cutucar o nariz pode ajudar nas estratégias de descolonização do S.
aureus.
Tirar meleca também
pode estar associado a um risco maior de transmissão de estafilococo dourado
para feridas, onde representa um risco mais grave.
E, às vezes, os
antibióticos não funcionam com o estafilococo dourado.
Um artigo recente
observou que "a crescente resistência aos antibióticos exige que os
profissionais de saúde avaliem os hábitos de cutucar o nariz dos pacientes e os
eduquem sobre maneiras eficazes de prevenir tais práticas".
Tirar meleca também
pode ser um veículo para a transmissão de Streptococcus pneumoniae, uma causa
comum de pneumonia entre outras infecções.
Em outras palavras,
enfiar o dedo no nariz é uma ótima maneira de introduzir mais germes no corpo
ou de espalhá-los no ambiente com o dedo sujo.
Além disso, existe o
risco de produzir arranhões e abrasões dentro das narinas, o que pode permitir
que bactérias patogênicas invadam seu corpo.
Cutucar o nariz
compulsivamente ao ponto de se autolesionar é chamado de rinotilexomania.
• Tirei meleca, e agora?
Algumas pessoas comem
a meleca (o termo técnico é mucofagia, que significa "alimentação de
muco").
Além de ser um hábito
nojento, envolve a ingestão de todos aqueles germes inalados vinculados ao
muco, metais tóxicos e contaminantes ambientais que mencionamos antes.
Outros limpam a meleca
no objeto mais próximo, deixando um pequeno presente a ser descoberto mais
tarde por outra pessoa. Uma maneira nojenta de espalhar germes.
Há pessoas bem mais
higiênicas que usam um lenço de papel para fazer a extração e depois
simplesmente jogam no lixo ou no vaso sanitário.
Esta é provavelmente
uma das opções menos piores, se você realmente precisar limpar o salão.
Certifique-se apenas
de lavar as mãos com bastante cuidado depois de assoar ou cutucar o nariz, uma
vez que até que o muco esteja completamente seco, os vírus infecciosos podem
permanecer nas mãos e nos dedos.
• Nada vai te impedir
Seja escondidos, no
carro ou em guardanapos, todos nós fazemos isso. E, verdade seja dita, é muito
gratificante.
Mas honremos o
trabalho incansável realizado por nossos extraordinários narizes, mucosas e
cavidades nasais — adaptações biológicas tão surpreendentes —, e lembremos que
estão se esforçando para nos proteger.
Nossos narizes fazem
hora extra para nos manter saudáveis, então não vamos dificultar ainda mais o
trabalho deles enfiando nossos dedos sujos lá dentro.
E se você acabar
caindo em tentação, faça um favor a si mesmo: assoe o nariz discretamente,
descarte o lenço de papel com cuidado e lave as mãos depois.
Fonte: The
Conversation
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