China: desvendado suas complexidades
Não resta dúvida que a
China é um fenômeno novo e complexo que perpassa muitas dimensões da nossa
vida. Não resta dúvida que o distanciamento civilizacional e o etnocentrismo
turvam o entendimento da realidade chinesa. Além disso, um país cujo dinamismo
é incrível, o que era verdade há um ou duas décadas, hoje já é passado.
São muitas as
perguntas que nos intrigam. Como foi a estratégia chinesa e porque não replicou
o modelo neoliberal tão em voga? Quais as políticas estruturantes desse projeto
nacional? Como o desenvolvimento mudou a configuração do país? Quais os
impactos industriais e urbanos? Como afetou diversos indicadores? Qual o
relação entre o PCCh e o Estado? Como está organizado o sistema político e
administrativo da China? De que maneira a China tem organizado instituições
eficazes e quais seus mecanismos de funcionamento? Como a Economia Digital se
relaciona com a Governança Digital? Qual o papel das novas tecnologias nas
políticas públicas? Quais os exemplos emblemáticos de Big Data e IA em ações
governamentais?
Essas questões e
outras estarão no nosso curso “Rota da China: Perspectivas Contemporâneas” que
será estruturado em quatro eixos principais:
Estratégias
do Desenvolvimento Chinês pós-Reforma
Transformações
Socioeconômicas e Mobilidade Social
O Estado,
Instituições e Governança
Governança
Digital e Políticas Públicas.
O curso oferece uma
visão abrangente do desenvolvimento chinês, um tema crucial tanto para o Brasil
quanto para o cenário global. A proposta é combinar acessibilidade com um
aprofundamento acadêmico, em um formato de dois meses com aulas quinzenais ao
vivo, realizadas online. Além das aulas, os participantes terão acesso a um
fórum de debates, material de apoio e suporte contínuo. As aulas serão ao vivo
e ficarão gravadas, permitindo que os alunos revisitem o conteúdo durante e
após o curso.
Destinado a todas as
pessoas interessadas em aprender mais sobre a China contemporânea, o curso não
exige formação prévia. É uma relevante oportunidade para expandir conhecimentos
sobre esse gigante asiático.
¨ Tensões no Mar da China Meridional ameaçam comércio global
Os anos pós-pandemia
de covid-19 têm sido difíceis para o comércio global. Confinamentos e
fechamentos de fábricas durante a pandemia provocaram atrasos em cadeias
globais de fornecimento e ajudaram a alimentar uma inflação como não se via há
décadas.
Em 2021, o Canal de
Suez ficou fechado por uma semana por causa do encalhe de um navio de
contêineres. Paralelamente, os ataquesa
navios de transporte marítimo por rebeldes iemenitas houthis e
pelo Irã, ao longo dos últimos dez meses, levaram ao redirecionamento de navios
de contêineres do Mar Vermelho para o caminho
em torno da África.
Mas também as
pretensões militares chinesas no Mar da China Meridional podem afetar o fluxo
do comércio global.
<><> A
importância para o comércio global
O Mar da China
Meridional é parte do Oceano Pacífico ocidental e fica entre o sul da China,
Taiwan, Filipinas, Indonésia, Vietnã, Tailândia, Camboja e Malásia.
Cerca de um terço do
comércio marítimo global passa anualmente por essa via marítima de 3,5 milhões
de quilômetros quadrados, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre
Comércio e Desenvolvimento (Unctad).
Cerca de 40% dos
produtos petrolíferos comercializados globalmente são transportados por esse
mar todos os anos.
Em 2016, um valor
estimado em 3,6 trilhões de dólares em bens e commodities viajou por essa via
marítima, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais
(CSIS), com sede em Washington. Outra estimativa estima que o total chegue a
5,3 trilhões de dólares.
Pesquisadores da
Universidade de Duke, na Carolina do Norte, calcularam que o comércio total
através do Mar da China Meridional e do Mar da China Oriental – que fica entre
a China, as duas Coreias e o Japão – alcança 7,4 trilhões de dólares por ano.
Dezenas de milhares de
navios de carga passam pelo Mar da China Meridional todos os anos,
transportando cerca de 40% do comércio da China, um terço do comércio da Índia
e 20% do comércio do Japão com o resto do mundo, de acordo com dados do CSIS.
Em toda a Ásia, é a
segurança econômica desses três países que mais depende do bom funcionamento da
hidrovia. O Mar da China Meridional é uma via vital tanto para o comércio
intra-asiático quanto para o comércio da Ásia com o resto do mundo,
especialmente com a Europa, o Oriente Médio e a África.
<><>
Controvérsia que pode resultar em guerra
A China reivindica
para si quase todo o Mar da China Meridional, o que incomoda seus países
vizinhos, que afirmam que as ambições territoriais da China atravessam suas
zonas econômicas exclusivas.
A China ignorou uma
decisão de 2016 de um tribunal de arbitragem internacional em Haia, na Holanda,
segundo a qual não há base legal ou histórica para as reivindicações
expansionistas de Pequim.
Os militares chineses
estão realizando ações cada vez mais agressivas no Mar da China Meridional,
incluindo confrontos com navios
filipinos, o que alimenta temores de um conflito em grande escala. Os Estados
Unidos já alertaram várias vezes que serão obrigados a defender as Filipinas
caso os militares filipinos sejam atacados, inclusive no Mar da China
Meridional.
No mês passado, o
Vietnã apresentou uma reivindicação às Nações Unidas para uma plataforma
continental estendida que vá além das suas atuais 200 milhas náuticas no Mar da
China Meridional. As Filipinas fizeram um movimento semelhante em junho.
E há ainda a questão
de que a China considera Taiwan– que se separou da China continental no
final de uma guerra civil, há 75 anos – como uma província rebelde com a qual
deve ser reunificada. As preocupações de que Pequim possa usar a força militar
para colocar a ilha sob seu controle aumentaram ainda mais as tensões no Mar da
China Meridional.
<><> O
valor econômico
Estima-se que o Mar da
China Meridional tenha cerca de 5,38 trilhões de metros cúbicos de gás natural
e 11 bilhões de barris de petróleo, de acordo com a agência de informações
americana Administração de Informação de Energia.
As águas disputadas
também contêm grandes depósitos de minerais de terras raras, cruciais para as
ambições tecnológicas da China e usados em baterias de veículos elétricos e
aparelhos eletrônicos avançados.
Algumas estimativas
sugerem que o Oceano Pacífico contenha mil vezes mais minerais de terras raras
do que as reservas terrestres conhecidas, das quais mais da metade são controladas
pela China e que são necessárias para a transição para uma energia mais limpa.
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Terceiro polo na crise do transporte global?
Desde o fim de 2023, o
comércio global tem sido prejudicado pelos ataques dos rebeldes houthis, que
são apoiados pelo Irã, no Mar Vermelho, ao largo do Iêmen. Os houthis fizeram
ataques com drones e mísseis contra a navegação comercial em resposta à ofensiva
de Israel contra os militantes do Hamas em Gaza.
Como resultado,
grandes empresas de navegação desviaram suas embarcações da rota do Mar
Vermelho, que inclui o Canal de Suez. Em vez disso, os navios de carga estão
passando pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África, o que aumenta em cerca
de dez dias a viagem média da Ásia para a Europa. Essa mudança elevou os custos
de transporte por causa de custos maiores com seguros e combustível e causou
atrasos em portos na Europa e na Ásia.
Com a guerra em Gaza
ameaçando se expandir para uma área mais ampla do Oriente Médio, incluindo um
ataque direto do Irã a Israel a qualquer momento, há temores de que Teerã possa
fechar outro ponto importante para o comércio global: o Estreito de Ormuz. Essa
estreita via navegável fica na abertura do Golfo Pérsico e movimenta quase um
terço do comércio mundial de petróleo.
Nos últimos anos, o
Irã atacou regularmente navios comerciais no estreito, e novos ataques seriam
vistos como uma grande provocação pelo Ocidente. Se as empresas de navegação
optarem por evitar também Ormuz, o comércio marítimo poderá enfrentar atrasos e
custos ainda maiores.
Se as tensões entre a
China e seus vizinhos aumentarem ainda mais, isso poderá abrir uma terceira
frente na crise global do transporte marítimo. As empresas marítimas podem
tentar evitar partes do Mar da China Meridional. Os atrasos e os subsequentes
aumentos de custos podem causar escassez de produtos e commodities e reduzir a
receita dos principais portos asiáticos, incluindo os de Singapura, Malásia e
Taiwan.
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Estreito de Malaca
Embora as principais
tensões envolvam China, Filipinas e Taiwan, a maior ameaça ao comércio no Mar
da China Meridional pode vir do Estreito de Malaca, que fica mais ao sul, entre
Malásia, Indonésia e Singapura.
No ano passado, 23,7
milhões de barris de petróleo e derivados foram transportados por dia pelo
estreito, de acordo com a Administração de Informação de Energia, dos EUA. Esse
número foi 13% maior do que o registrado no Estreito de Ormuz.
O Estreito de Malaca
tem apenas 64 quilômetros de largura em seu ponto mais estreito e já é hoje
vulnerável a congestionamentos e colisões. Ao longo dos anos têm ocorrido
muitos incidentes de roubo e de pirataria.
Alguns especialistas
militares e em geopolítica preveem que, caso a China invada Taiwan, por
exemplo, os EUA e seus aliados poderiam bloquear o Estreito de Malaca,
limitando o acesso da China a petróleo, bem como as exportações da maior
economia da Ásia.
¨ Como a China quer se tornar a potência naval do Pacífico
A ameaça de uma
guerra paira sobre a ilha de Taiwan. A
República Popular da China não esconde que deseja a reunificação com o
território que considera uma província renegada, se necessário, até mesmo pela
força das armas. Na apresentação do relatório anual das ações do governo
ao Congresso Nacional do Povo – principal órgão Legislativo da China comunista
–, o primeiro-ministro, Li Qiang, reafirmou a determinação de Pequim de
"promover resolutamente a causa da reunificação da China".
Segundo ele, isso faz
parte da "estratégia geral" do regime. A declaração em si não é nova.
No entanto, observadores notaram a ausência da palavra "pacífica"
depois de "reunificação", em contraste com as formulações de relatórios
de anos anteriores.
Pequim aponta que vê
como uma ameaça potencial o fato de que a República da China – como Taiwan se autodenomina oficialmente
– recebe garantias de segurança dos Estados Unidos. Cinco
porta-aviões dos EUA estão atualmente no Pacífico, de acordo com relatos da
mídia americana. Recentemente, políticos da China têm mostrado uma predileção
em falar sobre "paz e segurança em ambas as margens". Muitos
especialistas estão gradualmente se convencendo de que não se trata mais apenas
do Estreito de Taiwan, mas do Oceano Pacífico como um todo.
Com o objetivo de
realmente controlar as águas reivindicadas, Pequim tem expandindo significativamente sua marinha, ainda pouco poderosa em comparação com a de outras potências.
O ponto mais ao sul do Mar da China Meridional fica a cerca de 2.000
quilômetros do continente. Pequim quer ampliar ainda mais seu raio de ação. E
para isso quer contar com mais porta-aviões.
Dois em serviço, mais
dois em construção
Dois porta-aviões se
encontram atualmente em serviço na marinha chinesa. O primeiro, chamado
Liaoning, foi batizado em homenagem a uma província onde o navio de guerra
sofreu adaptações. Ele era originalmente um porta-aviões inacabado da antiga
marinha da União Soviética.
Batizado inicialmente
como Riga, ele começou a ser construído na década de 1980 e, com a
dissolução da União Soviética, ficou em poder da Ucrânia. Seu casco inacabado
foi comprado pela China em 1998 por meio de um intermediário de Macau por 20
milhões de dólares. Inicialmente, o empresário alegou que desejava converter a
embarcação em um hotel e cassino flutuantes. Em 2012, rebatizado como Liaoning,
o porta-aviões entrou em serviço na Marinha da China após ser remodelado e
modernizado.
O segundo
porta-aviões, chamado Shandong, também recebeu o nome de uma província costeira
da China. Com pequenas modificações, a embarcação é uma cópia do Liaoning produzida inteiramente na China. Desde 2019, esse porta-aviões tem navegado principalmente no
Mar Meridional da China.
Um terceiro
porta-aviões, batizado de Fujian, encontra-se em construção em um estaleiro em
Xangai. Como seus dois antecessores, ele tem propulsão convencional, mas, em
contraste com os porta-aviões de raiz soviética, o Fujian tem um design
inteiramente desenvolvido na China. Espera-se que ele entre em serviço em 2025.
Como os outros dois, é movido a combustível comum, o que limita seu
raio de ação.
Mas há especulações
sobre um quarto porta-aviões, que estaria sendo construído ao lado do
Fujian. "Não estou ciente de nenhuma dificuldade técnica com o quarto
porta-aviões", disse o almirante Yuan Huazhi indiretamente sobre os
rumores a um repórter de Hong Kong, nos bastidores do Congresso Nacional do
Povo.
Quando questionado se
o porta-aviões já estaria equipado com um sistema de propulsão nuclear, o
oficial político do mais alto escalão da marinha chinesa respondeu
evasivamente: "informaremos o público no devido tempo". No entanto,
a nova embarcação continua não sendo mencionada na imprensa oficial.
<><> Mídia
reporta dois porta-aviões movidos a energia nuclear
Antes do início do
Congresso do Povo, veículos de imprensa de Hong Kong e Taiwan apontaram
que dois porta-aviões movidos a energia nuclear estariam com a
construção em andamento – simultaneamente em dois estaleiros. Cada um
deles teria dois reatores de sal líquido de tório que gerariam energia por meio
de fissão nuclear, segundo os jornais.
"A China quer
claramente exibir sua forte ambição de defender suas águas com uma marinha
moderna", disse Wang Feng, editor do jornal China Times, de
Taipei, a capital de Taiwan.
O almirante Yuan
permanece no curso oficial: "Estamos construindo porta-aviões, não para
nos igualarmos aos EUA; e certamente não para entrar em guerra com os EUA.
Queremos usá-los para defender nossa soberania e integridade territorial",
disse.
Em contraste com
algumas democracias ocidentais, a bancada do governo no Congresso Nacional
do Povo não costuma ser contestada ou obrigada a prestar contas. Questionamentos críticos não costumam ser feitos. Os planos do
governo são regularmente aplaudidos e ovacionados pelos 2.980 delegados. E, no
Grande Salão do Povo, a forte ambição da China de se tornar uma superpotência
militar regional fica bastante clara.
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Aumento de gastos militares
Em 2024, os gastos
militares da China devem aumentar 7,2%, em comparação com o ano anterior,
atingindo a marca de 215,5 bilhões de euros (R$ 1,2 trilhão). Se a economia do
país registrar um crescimento de 5% no ano corrente, os gastos de defesa no
orçamento podem acabar respondendo por 1,2% do produto interno bruto (PIB). De
acordo com o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI),
uma organização que se dedica à análise de conflitos, isso colocaria a China em
segundo lugar no mundo em termos de gastos com defesa, logo atrás dos EUA.
E esses gastos se
refletem na marinha. A tecnologia militar mudou drasticamente desde o fim da
Segunda Guerra Mundial, aponta Charles Martin-Shields, do Instituto Alemão de
Desenvolvimento. Se contar com porta-aviões movidos a energia nuclear,
"uma marinha moderna não precisa mais de cadeias de ilhas como bases de
suprimentos para reabastecimento a fim de controlar o vasto Pacífico".
Atualmente, no mundo,
apenas os EUA e a França têm oficialmente porta-aviões movidos a energia
nuclear.
Um motivo para o
aumento das recentes tensões militares na região, apontam especialistas, é o
fato de que"William" Lai Ching-te, um crítico da China, assumirá a presidência de Taiwan em maio.
"Em princípio, nem a China, nem os EUA estão interessados em um conflito
militar", diz Hanna Gers, do Conselho Alemão de Relações Exteriores.
"Pessoalmente, acho que bloqueios econômicos são mais prováveis. Mas
também sei que todos os cenários possíveis estão sendo discutidos".
Os porta-aviões
chineses ainda estão se limitando a navegar nas águas territoriais do país. Mas
o almirante Yuan já vem insinuando que a marinha chinesa poderá em breve se
dirigir a destinos mais distantes. "Os porta-aviões estão sendo
construídos para isso".
Um possível teste
seria a atual crise no Oriente Médio. Desde
que as milícias houthis do Iêmen passaram a atacar cargueiros no Mar Vermelho,
a navegação comercial tem sofrido restrições na região.
"As rotas
comerciais através do Mar Vermelho são de importância estratégica para o
fornecimento de energia da China", aponta o editor Wang, do China
Times.
Entretanto, a Marinha
da China ainda não parece capaz de realizar operações defensivas de segurança
marítima. Mas isso não deixa de ser mais um argumento a favor do aprimoramento
das forças navais do país.
Fonte: Por Diego Pautasso e Isis
Paris Maia, em Outras Palavras/Deutsche Welle
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