sexta-feira, 3 de maio de 2024

Silvio Almeida rebate executiva da Meta e diz que redes estão colonizadas por extremistas

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, afirmou em evento paralelo do G20 na tarde desta quarta-feira (1º) que a violência das redes sociais alimenta os conflitos na realidade, e que o ódio ganha novas formas ao longo da história.

Defensor da regulamentação das redes sociais, ele rebateu a vice-presidente de desenvolvimento de políticas de conteúdo da Meta, Nell McCarthy, que argumentou que as tensões políticas e sociais não estão diretamente vinculadas às redes.

"As redes sociais estão sendo colonizadas por extremistas e pelo crime organizado, que precisam dessa falta de regras para prosperar", disse o ministro. "Não há possibilidade de falar de democracia, soberania, direitos humanos, num mundo que se pauta por esse caos absoluto."

Almeida citou, ainda, incompatibilidade de valores como soberania, liberdade e direito com o comportamento das empresas de mídia social, e pontuou que discutir o tema é responsabilidade desta geração para com as próximas.

"Não há possibilidade de falar de democracia, soberania, direitos humanos, num mundo que se pauta por esse caos absoluto. Todos estaremos ameaçados se nada for feito. Tem que haver regulação, senão todos nós estaremos ameaçados", concluiu o membro do governo Lula (PT).

Em sua fala, McCarthy argumentou que "o ódio e a violência não são novos" ou produto das plataformas de redes sociais, mas "uma faceta das comunidades offline".

"Não achamos que a abordagem correta é um grupo pequeno de pessoas na Califórnia decidindo o que é certo ou errado ao redor do mundo", disse ainda a executiva, falando sobre a política de moderação da plataforma.

Ela acrescentou que a Meta busca cultivar um ambiente "onde as pessoas se sintam empoderadas para comunicarem-se", e ponderou que a empresa tem parceria com agências de checagem.

Em outra mesa do mesmo evento, o deputado Orlando Silva (PC do B-SP), relator do PL das Fake News, afirmou estar pessimista sobre a tramitação do projeto, e disse que "a obstrução de um trabalho é mais fácil que a construção".

O congressista afirmou que a pressão das big techs foi um fator que dificultou o andamento do texto, e alegou que as plataformas se aliaram com à extrema direita para obstruir a proposta, com sucesso.

"A convicção que alguns têm de que 'não tem que ter regra' parte da premissa de que, como está hoje, está bem porque alguns são beneficiados. A dinâmica da polarização política nutre espaço político para muita gente e nenhum tipo de regramento facilita a operação desse tipo de comportamento."

Orlando também disse que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), é favorável à regulamentação, e que entendeu o ato de zerar o projeto e criar um grupo de trabalho para debater novamente o projeto como uma "tentativa de criar uma alternativa".

"Até penso que a gente poderia pensar um texto mais objetivo, mais curto, com menos polêmicas. Até o Poder Executivo poderia tomar uma iniciativa. Algo pactuado com a Câmara dos Deputados. Propõe um projeto de lei que tramita na Câmara. Seria uma forma de zerar o jogo, partindo de um patamar mínimo", concluiu.

•        Ministro de Lula chama regulação de fake news de PL00 e diz que, se Legislativo atrasar, TSE terá poder

"PL2630 agora nem é mais 2630, é PL00", afirmou nesta quarta-feira (1º) o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta (PT), em evento paralelo do G20.

"Se o Poder Legislativo atrasar muito esse debate, vai chegar eleição e novamente o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] vai definir o que pode e o que não pode ser feito", acrescentou o ministro do governo Lula. "Aquilo que deveria ser resolvido pela lei vai acabar novamente sendo regulado pelo próprio tribunal eleitoral."

Como mostrou a Folha de S.Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), ainda não oficializou o grupo de trabalho que irá formular uma nova proposta do projeto de lei das Fake News, anunciado pelo próprio parlamentar há 20 dias.

A ideia de retomar as discussões sobre o PL, que está travado na Casa há quase um ano sem consenso, ocorreu na esteira do embate entre o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e o empresário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter).

Lira sugeriu que fosse criado um grupo de trabalho para elaborar nova proposta. Na prática, o processo de discussão em torno da regulamentação das redes sociais começará praticamente do zero.

Apesar das declarações, Pimenta disse confiar na criação do grupo de trabalho prometido por Lira. "Acho que não vai ser desprezado o trabalho do deputado Orlando Silva", afirmou, em referência à proposta original do parlamentar do PC do B-SP.

O ministro participou de coletiva de imprensa ao lado do diretor-geral adjunto de comunicação e informação da Unesco, Tawfik Jelassi, e da subsecretária geral da ONU para Comunicações Globais, Melissa Fleming.

Em mesa anterior do mesmo evento, Pimenta defendeu a remuneração de jornalistas por uso de conteúdo para treinamento de sistemas de inteligência artificial e anunciou a criação de uma iniciativa global de combate à desinformação sobre mudanças climáticas.

•        Lula tem recebido briefings sobre IA e determinou que tema seja prioridade do G20

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem recebido briefings periódicos sobre aspectos da inteligência artificial de membros da Presidência e da Esplanada e determinou que o tema precisa ser prioridade do G20.

Segundo interlocutores, Lula quer que o assunto esteja na declaração final do G20, a ser divulgada após a reunião de cúpula no Rio, em novembro, e deve também inclui-lo em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro.

Foi a partir de uma conversa com o secretário -geral da ONU, Antônio Guterres, que Lula passou a se dedicar mais ao assunto. Na reunião da COP em Dubai, em dezembro do ano passado, Guterres disse a Lula que seria crucial tratar da regulação de IA no âmbito do G20, para que as regras não fossem debatidas apenas pelos países ricos do G7 ou pela OCDE.

O temor é que haja uma colonização regulatória e que as regras e parâmetros acordados deixem os países do chamado Sul Global na periferia. Entre os assuntos que têm interessado o presidente estão as armas autônomas e a falta de regras para o uso desses armamentos, também uma preocupação de Guterres.

Lula também foi brifado sobre os perigos e vieses do reconhecimento facial, efeitos da IA sobre o trabalho e os empregos.

Para Bruno Bioni, integrante do T20, grupo dos think tanks do G20, é importante haver uma agenda de IA específica para países em desenvolvimento, que têm questões distintas das prioridades dos países ricos.

"Essa globalização da IA pode gerar práticas extrativistas de dados, de minérios (pra chips) e também de mão de obra (países pobres ficarem com a parte precarizada do trabalho em IA como a anotação de dados). Não podemos ter uma padronização ditada pelos países ricos que gere uma nova colonização", diz Bioni, diretor fundador da Data Privacy Brasil. "Isso não elimina o dever doméstico de ter política pública e uma boa regulação para IA."

•        ‘STF do Facebook’ prepara uma rodada de demissões em massa; entenda

O órgão de supervisão da Meta, que é financiado pela própria empresa e funciona como uma espécie de “STF da moderação de conteúdo”, está planejando cortar sua força de trabalho, um movimento que pode afetar a sua capacidade de monitorar a maior rede social do mundo.

O Conselho de Supervisão da Meta é um grupo independente de acadêmicos, especialistas e advogados que supervisionam as decisões de conteúdo espinhosas do gigante da mídia social. O órgão informou a alguns de seus funcionários na semana passada que seus empregos corriam o risco de serem cortados, segundo apuração do Washington Post.

A eliminação de postos de trabalho provavelmente aumentará os desafios enfrentados pelo Conselho de Supervisão em um momento em que ele tem sido criticado por agir de forma muito lenta e cautelosa para emitir decisões e pareceres que moldam significativamente a forma como o Meta lida com debates controversos sobre liberdade de expressão.

Os cortes também podem colocar em xeque um modelo viável de governança para o setor de mídia social aos olhos dos reguladores, grupos da sociedade civil e do público em geral.

Stephen Neal, presidente do Conselho de Supervisão Confiança, disse em um comunicado que os “cortes direcionados” permitirão que o Conselho de Supervisão “otimize ainda mais nossas operações, priorizando os aspectos mais impactantes do nosso trabalho”.

“O Conselho continua a ser uma das principais organizações de moderação de conteúdo do mundo e a Meta continua comprometida com seu sucesso contínuo e o Conselho está totalmente confiante de que a empresa fornecerá financiamento adicional no futuro”, acrescentou Neal.

O porta-voz da Meta, Andy Stone, disse em um comunicado que a empresa “continua comprometida com o Conselho de Supervisão” e “continua a apoiar fortemente seu trabalho”.

“Valorizamos a perspectiva do Conselho, implementamos todas as suas decisões de conteúdo vinculativo até o momento e continuaremos a atualizar nossas políticas e práticas em resposta ao seu feedback”, acrescentou Stone.

A Meta concebeu o Conselho de Supervisão como um experimento em 2019, quando os reguladores de todo o mundo estavam tentando criar regras uniformes que governassem as plataformas de mídia social. O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, argumentou que sua empresa não deveria estar na posição de tomar “tantas decisões importantes” sobre como as plataformas da internet deveriam equilibrar seu desejo de apoiar a liberdade de expressão com seu desejo de proteger os usuários de conteúdo prejudicial.

Mas os críticos rapidamente questionaram a ideia, argumentando que um conselho que depende da empresa para obter financiamento e informações não teria poder suficiente para forçar a empresa a lidar com questões antigas, como desinformação e discurso de ódio.

A liderança do Conselho de Supervisão vinha sinalizando nos últimos meses que a organização provavelmente teria que cortar custos. Espera-se que os cortes de empregos afetem amplamente os funcionários que apoiam os membros do conselho que emitem opiniões sobre as decisões de moderação de conteúdo da Meta. O conselho de 22 membros é apoiado por funcionários cujas responsabilidades profissionais incluem pesquisa, tradução e promoção do trabalho da organização.

O conselho também explorou oportunidades que expandiriam seu escopo e fontes de financiamento para além da Meta, inclusive tornando-se um órgão de apelação de fato para casos de moderação de conteúdo em outras plataformas sob a Lei de Serviços Digitais da União Europeia.

Em 2022, o Conselho de Supervisão anunciou que a Meta estava investindo mais US$ 150 milhões para financiar por três anos o fundo independente do órgão, que é gerenciado exclusivamente pelo conselho. A empresa já havia dado ao conselho US$ 130 milhões em 2019, quando o Trust foi lançado.

Nos últimos meses, o Comitê de Supervisão aumentou o número de casos que analisa, bem como o escopo do conteúdo que analisa. Recentemente, o Comitê de Supervisão disse que começaria a analisar as publicações no aplicativo de mídia social baseado em texto da Meta, o Threads, que tem como objetivo rivalizar com o X.

O Conselho de Supervisão assumiu uma série de casos importates, incluindo sua recente crítica à política da Meta sobre mídia manipulada depois que um vídeo alterado do presidente Biden se espalhou no Facebook. Essa decisão levou a Meta a expandir sua rotulagem de conteúdo gerado por inteligência artificial. O Conselho de Supervisão também ponderou se a Meta deveria ter suspendido a conta do então presidente Donald Trump por causa de seu papel no ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021.

De acordo com as regras, a Meta e seus usuários podem recorrer ao “STF do Facebook” nos casos em que a empresa retirou postagens por violar os padrões da comunidade - regras que ela impõe contra discurso de ódio, assédio e outros tipos problemáticos de conteúdo. As decisões que o órgão toma sobre esses casos são consideradas vinculantes.

Separadamente, o Conselho de Supervisão pode emitir recomendações de políticas para mudanças nos sistemas de moderação de conteúdo da empresa, mas elas não são consideradas vinculativas.

Cortes na Meta não têm sido uma novidade - a empresa tem feito seu próprio corte de custos. Zuckerberg chamou 2023 de o “ano da eficiência” da empresa, que incluiu o corte de milhares de empregos e o achatamento da hierarquia da empresa. Após os cortes, as ações da empresa se recuperaram no último ano, à medida que a Meta desenvolve um conjunto de novos serviços baseados em IA.

 

Fonte: FolhaPress/Agencia Estado

 

Nenhum comentário: