sexta-feira, 3 de maio de 2024

Comitiva brasileira propõe à OEA relatoria de crimes contra democracia e se contrapõe a bolsonarismo

Uma comitiva de congressistas brasileiros propôs a criação na CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), vinculada à OEA (Organização dos Estados Americanos), de uma relatoria sobre crimes contra a democracia, nos moldes de outras subcomissões existentes no organismo, como povos indígenas e mulheres.

Também foi discutida a instalação, em separado, de uma comissão de acompanhamento permanente sobre milícias no Brasil.

Os temas foram debatidos em uma reunião na manhã de terça-feira (30) em Washington (EUA) entre a delegação liderada pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI do 8 de Janeiro, a secretária-executiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, Tania Reneaum Panszi, e o relator especial para Liberdade de Expressão, Pedro Vaca.

Integram a delegação brasileira o senador Humberto Costa (PT-PE) e os deputados Jandira Feghali (PC do B-RJ), Henrique Vieira (PSOL-RJ), Rafael Brito (MDB-AL) e Rogério Correia (PT-MG).

A articulação para a visita aos EUA vinha sendo feita desde o final do passado pelo Instituto Vladimir Herzog, que organiza a viagem, motivada pela ideia de trocar experiências tendo em vista os desafios semelhantes à democracia em ambos os países.

Os esforços também acontecem em paralelo a uma ofensiva internacional liderada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já esteve na capital americana ao menos duas vezes neste ano para denunciar uma suposta perseguição política e ataques à democracia pelo atual governo no Brasil.

A proposta de uma relatoria sobre crimes contra a democracia não é focada apenas no Brasil, abrangendo toda a região coberta pela CIDH. Eliziane diz que o próximo passo é fazer uma provocação, via Congresso e Executivo brasileiros, para que a organização analise a ideia -para ser implementada, ela depende da chancela dos demais países membros, disse a senadora.

Foi feito também um convite para que a CIDH visite o Brasil. Eliziane afirmou ainda que vai solicitar até agosto uma audiência pública na comissão, que deve ocorrer em novembro, para debater direitos humanos no país.

Com relação à comissão sobre milícias no Brasil, Henrique Vieira afirmou que a comitiva deve fazer uma articulação junto com o Ministério da Justiça e o Itamaraty para propor a criação desse novo mecanismo.

"Falamos de como o desenvolvimento das milícias no Rio de Janeiro e a sua expansão para o conjunto do Brasil é um ataque direto à democracia. A lógica miliciana interfere diretamente em processos eleitorais, inclusive com violência política contra eleitos. Marielle Franco, por exemplo, foi assassinada como pano de fundo em uma ação miliciana", disse o deputado.

Os congressistas afirmam que também foram questionados pelos representantes da CIDH sobre o embate recente entre Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Segundo Correia, a comitiva brasileira fez uma defesa do trabalho das cortes no Brasil. "Nós dissemos que o que foi divulgado foi a decisão, não o processo. Na verdade, o que o ministro Alexandre Moraes enfrentou foi um processo longo e reiterado de crimes na plataforma digital", afirmou Feghali .

O tema, no entanto, não foi abordado na reunião que os parlamentares tiveram durante a tarde com os deputados democratas Jim McGovern, Greg Casar, Chuy Garcia e Delia Ramirez. Há duas semanas, o Comitê do Judiciário da Câmara, comandado pelo republicano Jim Jordan, divulgou um relatório em que expôs decisões sigilosas do ministro do STF.

O foco do encontro desta terça foi a articulação entre Brasília e Washington em defesa da democracia, disseram os participantes. Foram discutidas estratégias de combate à desinformação, os ataques de 6 e 8 de janeiro e a resposta dada por cada um dos países, inclusive pelo Legislativo.

Garcia disse que conversou com os brasileiros sobre os desafios enfrentados por ambos os países, e questionou se os envolvidos no 8 de janeiro foram responsabilizados pela Justiça de modo semelhante ao que vem acontecendo com apoiadores de Donald Trump.

"Nós queremos criar um movimento internacional, uma articulação internacional para isolar a extrema direita", afirmou Feghali, destacando a presença de McGovern no encontro, deputado que barrou uma audiência articulada por bolsonaristas no Legislativo americano.

O encontro acontece pouco mais de um mês após a passagem por Washington de uma outra delegação, liderada por Eduardo Bolsonaro. Na ocasião, o grupo participaria de uma audiência intitulada "Brasil: Uma crise da democracia, da liberdade e do Estado de Direito?", a qual foi bloqueada por McGovern, copresidente democrata do órgão, que desde então se tornou alvo de bolsonaristas.

Nesta terça, porém, uma nova audiência com a mesma temática foi anunciada para o próximo dia 7, com a presença do jornalista americano Michael Shellenberger, que divulgou os arquivos do Twitter relacionados ao Brasil, do CEO da rede conservadora Rumble, Chris Pavlovski, e do ativista brasileiro Paulo Figueiredo Filho, alinhado ao bolsonarismo.

O evento está sendo organizado pelo subcomitê de Saúde Global, Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais. O copresidente republicano do órgão, Chris Smith, já recebeu bolsonaristas em Washington e, após o bloqueio da audiência na Comissão de Direitos Humanos, já havia prometido insistir na realização dela em outro espaço.

A iniciativa faz parte de uma ofensiva internacional coordenada por Eduardo Bolsonaro para angariar apoio a alegações de perseguição e censura no Brasil. Além de visitas frequentes a Washington -houve ao menos outras duas, em novembro e fevereiro-, ele esteve no início do mês na Bélgica, em missão ao Parlamento Europeu. O embate entre Musk e Moraes foi um dos temas centrais das conversas.

•        Deputados republicanos dos EUA reorganizam audiência para discutir suposta ‘crise’ no Brasil

Um subcomitê do Congresso dos Estados Unidos vai organizar na próxima terça-feira, dia 7, uma audiência pública para discutir uma suposta crise na “democracia, liberdade e Estado de Direito” do Brasil. O ativista e jornalista americano Michael Shellenberger é um dos convidados. Ele ficou conhecido por publicar os chamados “Twitter Files Brazil” e chamar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de “ditador”.

Outros convidados incluem o empresário Christopher Pavlovski, criador da rede social Rumble, usada principalmente por bolsonaristas suspensos em outras plataformas, e o influencer brasileiro Paulo Figueiredo Filho. A audiência foi convocada pelo deputado republicano Chris Smith, presidente do subcomitê de Saúde e Direitos Humanos Globais e Organizações Internacionais, ligado ao Comitê de Assuntos Internacionais.

Smith tinha proposto em março uma audiência no Congresso com o mesmo título da que será organizada na semana que vem. Na época, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) escreveu no X (antigo Twitter) que mais de 50 parlamentares brasileiros participariam da reunião. Porém, de acordo com o texto divulgado pelo filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado democrata Jim McGovern teria bloqueado a organização da audiência.

Parlamentares bolsonaristas também se organizaram no último mês para ouvir nomes relacionados ao “Twitter Files”. Em 11 de abril, Shellenberger falou à Comissão de Comunicação e Direito Digital (CCDD) do Senado brasileiro sobre suas acusações contra o Judiciário brasileiro. Ele participou em audiência convocada pelo senador Magno Malta (PL-ES). Na semana passada, deputados bolsonaristas da Comissão de Segurança Pública aprovaram requerimentos para ouvir o empresário dono da rede social X (antigo Twitter), Elon Musk.

No começo de abril, Musk fez uma série de críticas e ataques a Moraes, acusando o magistrado de censura. Em resposta, o ministro incluiu o bilionário como investigado no inquérito das milícias digitais por “dolosa instrumentalização” da rede social.

Por trás das acusações de Musk, está o “Twitter Files Brazil”, uma série de e-mails divulgados por Shellenberger. São mensagens trocadas entre funcionários do antigo Twitter em 2020 e 2022 relatando e reclamando de decisões da Justiça que determinaram exclusão de conteúdos em investigações envolvendo a disseminação de fake news.

Alexandre de Moraes não é diretamente citado nesses documentos. Inicialmente, Shellenberger havia afirmado que o ministro havia ameaçado processar um advogado do Twitter. Depois, o americano recuou e admitiu o erro. “Isso está incorreto. Não tenho provas de que Moraes tenha ameaçado processar criminalmente o advogado brasileiro do Twitter”, escreveu.

O caso repercutiu entre trumpistas nos Estados Unidos. Há duas semanas, a ala republicana da Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos EUA divulgou um relatório sobre a suposta “censura do governo brasileiro” ao X (antigo Twitter) e a outras redes sociais, como Facebook e Instagram. O documento incluía 88 decisões do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinando a retirada de perfis das plataformas. Muitas delas foram tomadas por Moraes em processos que tramitam sob sigilo.

De acordo com o STF, os documentos divulgados pelos deputados dos EUA não eram decisões fundamentadas que determinaram a retirada de conteúdos ou perfis, mas sim os ofícios enviados às plataformas para cumprimento da decisão.

•        Organizações protestam contra prisão de jornalista em Cuba por críticas ao regime

Várias organizações que atuam com direitos humanos vêm se manifestando contra a prisão em Cuba do jornalista José Luis Tan Estrada. Segundo observadores internacionais, ele foi detido após publicar na internet críticas ao regime num momento em que a ilha enfrenta a pior crise econômica em três décadas.

As acusações contra Estrada não foram especificadas. O jornalista foi capturado na última sexta (26) e levado ao presídio Villa Marista, em Havana, para onde vão os acusados de crimes políticos. Segundo seu perfil nas redes sociais, ele tem um blog e é colaborador de veículos independentes como CubaNet Noticias e Diário de Cuba.

A prisão de Estrada indica uma estratégia mais ampla do regime para reprimir as vozes dissidentes após protestos recentes. De acordo com o site Periódico Cubano, a ditadura intensificou as ameaças e ações contra aqueles que considera sediciosos, passando a impor penas mais longas a presos políticos. A detenção ainda realça a tensão crescente entre autoridades e ativistas que criticam as suas políticas.

Ainda segundo veículos locais, Estrada participou de uma reunião no final de março com outros jornalistas e ativistas defensores dos direitos humanos para discutir estratégias e medidas que poderiam aliviar a crise econômica e promover reformas democráticas. O Periódico Cubano informou que as medidas incluiriam o apoio a manifestações pacíficas e a libertação de presos políticos.

Não é a primeira vez que o jornalista é alvo de repressão em função de sua atividade profissional. Em novembro de 2022, ele foi demitido do cargo de professor da Universidade de Camagüey. Nos últimos dias, foi multado por usar as redes para denunciar situações de abandono e má gestão governamental.

Há duas semanas, Estrada relatou ter sido multado em 3.000 pesos cubanos (R$ 646,5, na cotação atual) por violar um decreto usado pelo regime para silenciar críticos. "[Uma inspetora] me mostrou uma pasta cheia de publicações minhas nas plataformas Facebook e X, além de curtidas de memes, comentários, curtidas de outras publicações, memes compartilhados, inclusive algumas do ano passado. De acordo com a inspetora, eu 'gosto de coisas engraçadas contra líderes'", escreveu ele nas redes sociais.

Várias organizações protestaram contra a prisão. Em nota, a PEN internacional, que representa escritores, pediu a libertação de Estrada e apelou às autoridades cubanas para que parem com o "assédio às vozes críticas" no país. Já Astrid Valencia, diretora-adjunta de pesquisa para as Américas da Anistia Internacional, afirmou que o regime tem medo da liberdade de imprensa.

"Sem liberdade de imprensa, a auditoria e o escrutínio dos que estão no poder ficam reduzidos. Portanto, a estratégia dos Estados que violam os direitos humanos é silenciar o mensageiro", escreveu ela nas redes.

Johanna Cilano, investigadora da Anistia Internacional, acrescentou que ele foi detido arbitrariamente. "Denunciar não é crime. Ajudar quem precisa de remédios, comida ou abrigo não é crime. Mostrar solidariedade, civilidade e comprometimento não é crime", escreveu ela.

Cuba enfrenta uma crise econômica quase sem precedentes desde a pandemia, convivendo com escassez de alimentos, de remédios e de combustível. Famílias ainda relatam falta de energia -os serviços de fornecimento pioraram em março, quando obras de manutenção na central termelétrica Antonio Güiteras -a mais importante da ilha, localizada na província de Matanzas --começaram a provocar cortes de energia.

Os EUA mantêm um bloqueio econômico contra a ilha há mais de seis décadas. O embargo foi reforçado nos últimos anos, primeiro durante o mandato de Donald Trump e, depois, pelo atual presidente, Joe Biden. Em 2021, Washington voltou a incluir Cuba em sua lista de patrocinadores do terrorismo, uma medida que dificulta transações comerciais com a ilha e investimentos nela.

Antes raras, manifestações contra o regime têm ocorrido com cada vez mais frequência em Cuba. Embora a Constituição de 2019 conceda aos cidadãos o direito de protestar, uma lei que delineia esse direito está paralisada no Legislativo, o que faz com que aqueles que decidem ir às ruas fiquem em uma espécie de limbo legal.

Os protestos que mais chamaram a atenção desde então ocorreram em 11 de julho de 2021, em meio a uma onda de atos no país considerada a maior desde a Revolução Cubana, em 1959. EUA, União Europeia e grupos de direitos humanos criticaram a repressão do regime aos manifestantes, que foram considerados culpados de agressão, vandalismo e sedição.

 

Fonte: FolhaPress/IstoÉ

 

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