Saúde
digital e o aprofundamento da dependência tecnológica
A
contemporaneidade é caracterizada pela disseminação de tecnologias,
principalmente àquelas voltadas a metodologias, princípios e técnicas inerentes
à coleta, armazenamento, processamento e categorização de dados. Esse fenômeno
tem exercido um impacto nas mais diversas esferas sociais no século XXI. Dentre
elas, o setor da saúde, o que acaba gerando apreensão entre pesquisadores,
estudiosos e ativistas.
O termo
“saúde digital” ou digital health ganhou corpo nas últimas décadas e tem
composto documentos oficiais de organizações e instituições globais da área.
Entre elas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), que, desde 2005, por meio de
resoluções apresentadas nas Assembleias Mundiais da Saúde e nas Assembleias
Gerais das Nações Unidas (ONU), afirma que a utilização de tecnologias de
informação e comunicação (TIC) na saúde se tornou um componente estratégico e
fundamental para promover acesso equitativo e universal a saúde.
Até o
presente momento, a OMS publicou três resoluções sobre o tema. A primeira,
intitulada WHA58.28, publicada em maio de 2005 recomendava aos países a criação
de estratégias de longo prazo para o desenvolvimento e a implementação de
programas e serviços nacionais de e-Saúde (primeiro termo cunhado para
descrever o que seria uma saúde permeada por tecnologias digitais; termo que,
posteriormente, em meados de 2018, seria substituído por digital health). A segunda, WHA66.24, datada de maio de 2013,
orientava os países sobre padronização e interoperabilidade da e-Saúde,
instando-os a considerar o desenvolvimento de políticas públicas e mecanismos
legislativos ligados a uma estratégia nacional geral de e-Saúde. A terceira,
WHA71.7, de maio de 2018, apresentava a necessidade da elaboração de uma
estratégia global sobre saúde digital (digital health), identificando áreas
prioritárias em que a própria OMS deveria concentrar esforços e atuações.
A partir
dessa resolução, em março de 2019, a OMS iniciou a realização de diversos
fóruns públicos online, consultas técnicas e reuniões em seus comitês regionais
para a consolidação de diretrizes e ações voltadas à implementação das
proposições presentes na terceira resolução, ou seja, na concretização de uma
saúde digital global. Essas iniciativas culminaram no desenvolvimento e na
publicação do documento oficial denominado Estratégia global sobre saúde
digital 2020-2025.
Este
documento da OMS apresenta uma conexão entre diretrizes já apresentadas em
outros momentos, incorpora novos estudos que contam com perspectivas globais,
além de um plano de ações para os países implementarem a saúde digital em seus
territórios.
Para tal,
a OMS elenca a importância de haver uma estreita colaboração entre atores que
ela chama de interessados em implementar a estratégia global de saúde digital
em âmbito internacional, regional e global, que seriam os agentes estatais
junto aos não estatais, contemplando desde o mercado financeiro, grupos de
seguros de saúde e outros financiadores de cuidados de saúde até
desenvolvedores de tecnologia.
Ao
mencionar que setores estatais e privados devem trabalhar conjuntamente para a
implementação de uma saúde digital globalizada, a OMS não faz nada mais do que
reforçar os preceitos neoliberais de privatização dos serviços públicos e do
Estado enquanto agente promotor dos interesses do capital, ao passo que, nos
casos dos países periféricos, significa, ainda, o aprofundamento da
dependência, visto que a implementação de “parceiras” neste âmbito, significa a
contratação pelo Estado de serviços, soluções e tecnologias de empresas
privadas multinacionais, com sedes nos países imperialistas.
OMS E A
DIGITALIZAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)
O Brasil,
um dos membros fundadores da OMS e por duas décadas na direção-geral da
organização (1953-1973), possui uma extensa trajetória de absorção das
diretrizes da OMS ao desenvolvimento e aprimoramento de políticas públicas do
Ministério da Saúde (MS).
Desde
2005, o Brasil vem elaborando e implementando políticas e legislações voltadas
para o uso e disseminação de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) no
setor da saúde. Contudo, foi a partir de 2019 que as orientações da OMS,
especialmente aquelas direcionadas para o estabelecimento de uma saúde digital
global com sólida integração entre os setores público e privado, ganharam maior
impulso no Brasil. Foi nesse contexto que o MS lançou a Estratégia de Saúde
Digital 2020-2028, uma iniciativa abrangente que não apenas atualiza ações
anteriores, como a revisão da Política Nacional de Informação e Informática em
Saúde (PNIIS), mas também introduz novas medidas, exemplificadas pelo Programa
Conecte SUS e pela Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
O antigo
Conecte SUS, rebatizado em janeiro de 2024 para Meu SUS Digital, aplicativo
oficial desenvolvido pelo MS, desempenha um papel crucial ao proporcionar
acesso digital e integrado aos serviços do SUS para cidadãos, profissionais da
saúde e gestores. Cada perfil possui funcionalidades específicas e permissões
de acesso a informações diferenciadas. Por exemplo, profissionais de saúde
alimentam e desfrutam de dados clínicos dos pacientes, incluindo informações
sobre vacinação, alergias, prescrições, medicamentos administrados, exames,
atendimentos e internações. Por outro lado, gestores têm acesso a informações
gerais sobre atendimentos nas Unidades Básicas de Saúde, ao passo que os
cidadãos podem informar e consultar seus históricos clínicos personalizados,
além de realizar buscas de locais e horários de atendimento conforme suas
necessidades.
O Meu SUS
Digital é considerado pelo MS como um passo significativo e essencial para a
consolidação da saúde digital no Brasil, dada a fluidez das informações que por
ele transitam. Para assegurar o tráfego eficiente desses dados, o aplicativo
conta com a infraestrutura da RNDS, uma plataforma nacional de integração de
dados na área da saúde. Em termos simples, a RNDS é uma plataforma que unifica
a coleta, o armazenamento e o processamento de dados provenientes de diversas
atividades no campo da saúde brasileira.
RNDS:
INFRAESTRUTURA FUNDAMENTAL PARA A OPERACIONALIZAÇÃO DO CONECTE SUS
De acordo
com apresentação realizada pela equipe da Secretaria de Informação e Saúde
Digital (SEIDIGI) para os autores deste artigo, a RNDS já abrange 72 milhões de
registros de exames laboratoriais, 1 bilhão de registros imunológicos, 15
milhões de autorizações de internações hospitalares, 20 milhões de autorizações
de procedimentos ambulatoriais, 582 mil registros de atendimento clínico e 10
milhões de regulações assistenciais. No entanto, estes números, ainda que
substanciais, são considerados modestos diante do potencial que a RNDS tem para
a saúde brasileira.
Conforme
enfatizado pela equipe, a expectativa é que até 2028 a RNDS se consolide como a
principal plataforma nacional para inovação, informações e serviços digitais de
saúde. Se essa projeção se concretizar, a RNDS se tornará o ponto central dos
sistemas de informação do setor, promovendo uma integração tanto do setor
público quanto o privado, ou seja, culminando na consolidação de um ecossistema
completo da dataficação da saúde no Brasil.
RNDS E A
CONSOLIDAÇÃO DA DATAFICAÇÃO DO SETOR DA SAÚDE
A
complexidade deste cenário encontra-se fundamentalmente, mas não
exclusivamente, na própria consolidação da RNDS que, desde seu início,
encontra-se em infraestruturas da Amazon Web Services (AWS), plataforma de
serviços de computação em nuvem na Amazon, empresa multinacional de tecnologia
estadunidense com sede em Seattle, Washington. Com contrato vigente do início
de 2020 até dezembro de 2024, a Big Tech dos Estados Unidos foi a escolhida
pelo Ministério da Saúde para cuidar do armazenamento e da segurança dos dados
de saúde de todos os cidadãos brasileiros. Com efeito, seguindo a diretriz da
OMS em unificar “esforços” públicos e privados para o avanço da saúde digital,
o Estado brasileiro optou pelo desinvestimento de infraestruturas tecnológicas
nacionais, abrindo caminho para a entrada do capital internacional, a partir da
contratação da AWS.
A
pesquisadora Ilara Hammerli, em entrevista, foi enfática ao percorrer os riscos
que esse cenário apresenta. “Ao hospedarmos a RNDS em infraestruturas privadas
e transnacionais, estamos entregando ao capital todos os dados de saúde de
nossos cidadãos e profissionais, bem como as informações estratégicas voltadas
ao desenvolvimento e avanço da ciência de saúde brasileira. Sabemos que os
países centrais, onde essas empresas estão concentradas, passaram a atuar
fortemente no século XXI no desenvolvimento tecnológico e no registro de
patentes, por isso quanto mais dados obtiverem mais vantagens econômicas e
políticas terão sobre os demais países, como o Brasil”.
Em
dezembro de 2022, o SUS assinou um contrato com o Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro) para que este realizasse a gestão de suas
infraestruturas de sistemas e de armazenamento de dados. O contrato, com
vigência de 36 meses, visava a migração da RNDS para a plataforma Serpro
MultiCloud.
A notícia
gerou expectativas sobre uma possível mudança na trajetória da saúde digital. À
primeira vista, isto poderia significar uma guinada estratégica em direção ao
desenvolvimento de tecnologias digitais nacionais públicas ao invés da
privatização do setor, cujos efeitos consistiriam no avanço da soberania da
tecnologia digital.
Contudo,
não obstante o entusiasmo inicial, o cenário real aponta exatamente para a
direção oposta. Atualmente, o serviço Serpro MultiCloud consiste numa parceria
entre a infraestrutura própria do Serpro com os serviços das gigantes
multinacionais de tecnologia do mundo, a saber, Amazon Web Service (AWS), Azure
Stack (Microsoft), Google Cloud, Huawei Cloud, IBM Cloud e Oracle. Na prática,
isto significa que o armazenamento dos dados da RNDS continua em infraestrutura
da AWS, podendo, ainda, ser alocado em outras corporações internacionais a
partir da gestão do Serpro.
Essa
situação é crítica, visto que a atuação das gigantes da tecnologia ocorre de
forma dispersa, com datacenters localizados em diversas partes do mundo, o que
sugere que dados e informações provenientes da saúde brasileira poderão ser
alocadas fora do território nacional. A
AWS, por exemplo, possui mais de 100 centros de dados no mundo, abrangendo 36
Regiões e está presente em 245 países e territórios. Um dos exemplos desse
cenário seria os registros oriundos de acesso ao domínio do Meu SUS Digital. Em
uma breve consulta realizada em 11 de janeiro de 2024, data em que o aplicativo
ainda se chamava Conecte SUS, notou-se que o acesso ao domínio foi estabelecido
em uma das regiões da AWS nos Estados Unidos. Isso sugere que esses dados podem
estar presentes em outros países.
DOMÍNIO DO
MEU SUS DIGITAL (CONECTE SUS) ENCONTRA-SE HOSPEDADO EM SERVIDOR NOS ESTADOS
UNIDOS
Há ainda
outras implicações que aprofundam o neoliberalismo, mediante a privatização, e
a dependência da saúde digital brasileira no que tange à relação do Meu SUS
Digital com o Serpro. Nesse sentido, para acessar o aplicativo Meu SUS Digital,
todo e qualquer cidadão obrigatoriamente tem que ter uma conta no Gov.br.
Apesar dos dados de perfil e login estarem em infraestruturas de nuvem do
governo, outras aplicações do Gov.br, como é o caso do chat, estão em
infraestruturas de multinacionais, como a IBM Cloud (IBM), uma multinacional de
tecnologia dos Estados Unidos.
Em um
cenário em que os dados têm adquirido condição de insumo fundamental para que o
capitalismo, em sua etapa neoliberal, avance no século XXI, por meio da criação
de serviços, produtos e tecnologias baseadas em dados, como a Inteligência
Artificial, ter um Estado financiador do capital internacional e ausente na
perspectiva de soberania digital e de soberania de dados significa um
aprofundamento da dependência e da subordinação tecnológica.
SAÚDE
DIGITAL NEOLIBERAL COMO APROFUNDAMENTO DA DEPENDÊNCIA DO CAPITALISMO BRASILEIRO
A
introdução de novas tecnologias em países dependentes como o Brasil não
consiste em uma novidade. Ainda assim, cada nova rodada de disseminação de um
conjunto de inovações tecnológicas, absorvidas na periferia do sistema mundial,
é acompanhada de um otimismo com o período que se abre. Em realidade, esse
fenômeno obedece às próprias leis do movimento capitalista mundial, a partir
das necessidades e das contradições do desenvolvimento do capitalismo
imperialista, com seus grandes monopólios multinacionais. Assim, a exportação
de maquinários, equipamentos e capitais é uma característica do próprio
imperialismo – bem como a tendência a monopolização dos diversos setores
econômicos.
Dito isto,
é necessário enfatizar que a dependência está longe de ser um fenômeno
meramente externo ou exclusivamente interno. Existe aqui uma dialética da
dependência. Conforme observado por Ruy Mauro Marini (1973), o capitalismo
dependente se reproduz em função das necessidades dos países imperialistas.
Nesse sentido, a relação entre imperialismo e dependência, como polos opostos e
contemporâneos da economia mundial, implica uma divisão internacional do
trabalho cujos efeitos nos países que são objeto da expansão imperialista,
condicionam um capitalismo com características próprias e diversas do
capitalismo de “via clássica”.
Dentre os
fenômenos característicos dos países de capitalismo dependente interessa
destacar a transferência de valor. Ao travar relações econômicas com as
economias imperialistas, os países dependentes transferem uma parte do
mais-valor produzido internamente para os países imperialistas. Essa
transferência pode ocorrer através de inúmeros mecanismos: via pagamento de
empréstimos, royalties, patentes; através da troca desigual que ocorre em
função da superioridade tecnológica que gera um mais-valor extraordinário (e,
portanto, um lucro extraordinário) para as grandes corporações dos países
imperialistas ou que ocorre por meio de preços monopólicos; entre outros. Com
efeito, existe uma relação de expropriação do mais-valor gerado em economias
dependentes que é apropriado pelos países imperialistas.
É nesse
sentido que interessa iniciar aqui um debate sobre a expansão das Big Techs
para setores sensíveis da economia e da sociedade brasileira, particularmente
no setor da saúde digital. Como foi visto anteriormente, dois aspectos parecem
centrais para a questão: 1) por um lado, o subinvestimento ou o desinvestimento
em infraestruturas digitais nacionais próprias implica na contratação das Big
Techs por parte do governo brasileiro, já que apenas essas grandes corporações
monopolistas estariam em condições de oferecer os serviços requeridos. Dessa
maneira, parte do valor gerado no país é utilizada para remunerar essas
corporações. O caso brasileiro é ainda mais notável se for levado em conta que
já existe uma infraestrutura digital nacional que poderia realizar o serviço.
Contudo, as soluções nacionais vêm sendo sucessivamente deixadas em segundo
plano por uma política de privatização que as substitui por serviços e produtos
vendidos pelo capital internacional. 2) Por sua vez, os dados que são
armazenados nas nuvens das Big Techs (e que, em alguns casos, como visto acima,
são hospedados nos países imperialistas) são utilizados para o desenvolvimento
e aperfeiçoamento tecnológico de serviços e produtos dessas próprias
corporações, para o treinamento de inteligência artificial (IA), por exemplo,
que posteriormente serão vendidos para o próprio país onde os dados são
coletados.
No caso
aqui apresentado, esse cenário parece ser ainda mais pernicioso na medida em
que a coleta massiva de dados de cidadãos e profissionais no âmbito da saúde é
feita pelo próprio governo que, por sua vez, investe dinheiro público para o
desenvolvimento de aplicativos e sistemas responsáveis por essa coleta, como é
o caso do Meu SUS Digital e do Gov.br. Nesse sentido, o governo investe
dinheiro público para o desenvolvimento de aplicativos que coletam os dados dos
cidadãos e profissionais brasileiros que, por sua vez, são obrigados a acessar
estes aplicativos para utilizar os serviços do governo. Finalmente, os dados
desses cidadãos são armazenados nos serviços de nuvem das grandes corporações
de tecnologia. As Big Techs, por seu turno, utilizam os dados massivos que são
armazenados em suas infraestruturas para aprimorar suas tecnologias, treinar as
suas Inteligências Artificiais e desenvolver novos produtos e serviços que,
posteriormente, serão vendidos para o Brasil. Essa relação de dependência e subordinação
é levada ao paroxismo na medida em que essas multinacionais não apenas não têm
sequer o trabalho e o custo de coletar os dados, função exercida pelo Estado
brasileiro, como são remuneradas pelo Estado brasileiro por receber de graça
esses dados e armazená-los em seus serviços de computação em nuvem – inclusive
fora do território nacional.
Por outro
lado, o caso brasileiro chama ainda mais a atenção pelo fato de o país já ter
infraestruturas digitais próprias, como por exemplo, a infraestrutura do
Serpro. Ademais, o Brasil conta com grandes pesquisadoras, pesquisadores e
especialistas, com centros de pesquisas em Universidades Federais e Estaduais
de excelência, bem como com Fundações públicas, como a Fundação Osvaldo Cruz
(Fiocruz), que, sob a orientação e com incentivo e investimento público e
estatal, poderiam desenvolver e aprimorar infraestruturas nacionais, utilizando
tecnologias livres e abertas, que seriam responsáveis tanto pelo armazenamento
e segurança dos dados da saúde, quanto pela gestão e operacionalização de todo
o ecossistema de uma saúde digital.
Esta
política econômica expõe a negligência e renúncia do Estado brasileiro ao
desenvolvimento e avanço de tecnologias digitais próprias e da ciência da saúde
brasileira, como enfatizou a pesquisadora Ilara Hammerli.
Como
observou Theotonio dos Santos em Revolução Científico-Técnica e Acumulação de
Capital (1987), a concentração do investimento em Pesquisa e Desenvolvimento
(P&D) se tornou uma das características centrais dos países imperialistas,
tendo sido fundamental para a revolução científico-técnica ocorrida. Aos países
dependentes, pelo que implica a própria relação imperialismo-dependência,
restaria mais uma vez adquirir as tecnologias já acabadas. Com efeito,
renunciar as capacidades científicas e tecnológicas existentes e potenciais é
uma marca do capitalismo dependente. Esse é um dos aspectos da história da
dependência no Brasil, que conta com poucas exceções. Uma delas é a campanha “O
petróleo é nosso”, responsável pela criação da Petrobrás e por derrotar os
interesses da burguesia dependente e subordinada ao capital internacional que
asseverava que, sem realizar parcerias com as multinacionais petroleiras
estrangeiras, o país não conseguiria explorar adequadamente o petróleo. Outra
exceção é a própria criação do Sistema Único de Saúde do Brasil, com a
Constituição de 1988. Na contramão de interesses privados nacionais e
internacionais, que cresceram durante a ditadura militar, a campanha por uma
saúde pública, gratuita e universal cristalizou-se no SUS.
Esta
sugestiva associação entre a campanha pela nacionalização da exploração do
petróleo e a criação do SUS – visto que os dados são considerados por certas
abordagens privatistas e neoliberais como o novo petróleo -, pode dar o tom de
que existe alternativa para além de uma saúde digital neoliberal. Dessa
maneira, na terceira década do século XXI, é fundamental que a sociedade
brasileira adquira consciência crítica sobre essa tendência que parece se
impor. O par “dados e saúde” pode e deve conformar uma saúde digital pública,
nacional, segura, gratuita e universal.
*Este
estudo foi realizado com o apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil.
Fonte: Por
Joyce Souza e Fabio Maldonado, no Le Monde
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