Plano
golpista de Bolsonaro tinha 6 núcleos, diz PF; entenda
O
relatório da Polícia Federal que embasou a operação desta quinta-feira (8)
contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ex-ministros do governo dele e
militares, afirma que o grupo agia em seis núcleos para organizar uma tentativa
de golpe de Estado.
Ao todo,
foram expedidos 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão
preventiva. Há ainda medidas cautelares, como proibição de contatos entre os
investigados, retenção de passaportes e destituição de cargos públicos.
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Segundo a investigação, o grupo se dividia da seguinte forma:
1. Núcleo de desinformação e ataques ao
sistema eleitoral;
2. Núcleo responsável por incitar militares
a aderirem ao golpe de Estado;
3. Núcleo jurídico;
4. Núcleo operacional de apoio às ações
golpistas;
5. Núcleo de inteligência paralela;
6. Núcleo de oficiais de alta patente com
influência e apoio a outros núcleos.
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Entenda os núcleos
• Núcleo de desinformação e ataques ao
sistema eleitoral:
A
investigação afirma que o grupo seria responsável pela produção, divulgação e
amplificação de notícias falsas quanto à lisura das eleições presidenciais de
2022.
A PF
afirma que o objetivo era estimular seguidores a permanecerem na frente de
quarteis e instalações das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente
propício para o Golpe de Estado.
Integrantes,
segundo a PF: Mauro César Barbosa Cid, Anderson Torres, Angelo Martins
Denicoli, Fernando Cerimedo, Eder Lindsay Magalhães Balbino, Hélio Ferreira
Lima, Guilherme Marques Almeida, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Tércio
Arnaud Tomaz.
• Núcleo responsável por incitar militares
a aderirem ao golpe de Estado:
De acordo
com a PF, o grupo escolhia alvos para amplificar ataques pessoais contra
militares em posição de comando que resistiam às investigadas golpistas.
O
relatório afirma que os ataques eram realizados a partir da difusão em
múltiplos canais, e através de influenciadores em posição de autoridade perante
a "audiência" militar.
Integrantes,
segundo a PF: Walter Souza Braga Netto, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo
Filho, Ailton Gonçalves Moraes Barros, Bernardo Romão Corrêa Netto e Mauro
Cesar Barbosa Cid.
• Núcleo jurídico:
As
investigações afirmam que o grupo era responsável por fundamentar juridicamente
e elaborar minutas de decretos que atendessem aos interesses golpistas do grupo
investigado.
Integrantes,
segundo a PF: Filipe Garcia Martins Pereira, Anderson Gustavo Torres, Amauri
Feres Saad, José Eduardo de Oliveira e Silva e Mauro César Barbosa Cid.
• Núcleo operacional de apoio às ações
golpistas:
Segundo a
PF, a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens do
ex-presidente Jair Bolsonaro Mauro Cid, esse núcleo atuava em reuniões de
planejamento e execução de medidas para manter as manifestações em frente aos
quarteis, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das
Forças Especiais em Brasília.
Integrantes,
segundo a PF: Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, Bernardo Romão Corrêa
Netto, Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Alex de Araújo
Rodrigues e Cleverson Ney Magalhães.
• Núcleo de inteligência paralela:
A PF diz
que esse núcleo coletava dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de
decisões do então presidente Jair Bolsonaro na consumação do Golpe de Estado.
Entre as
medidas realizadas, segundo a investigação, estava o monitoramento do
itinerário, deslocamento e localização do ministro do STF Alexandre de Moraes,
e de possíveis outras autoridades da República, com objetivo de capturá-los e
prendê-los quando da assinatura do decreto de golpe de Estado.
Integrantes,
segundo a PF: Augusto Heleno, Marcelo Costa Câmara e Mauro César Barbosa Cid.
• Núcleo de oficiais de alta patente com
influência e apoio a outros núcleos:
O
relatório da PF afirma que o grupo usava da alta patente militar de seus
integrantes para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação,
endossando medidas para consumação do golpe de Estado.
Integrantes,
segundo a PF: Walter Souza Braga Netto, Almir Garnier Santos, Mario Fernandes,
Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, Laércio Vergílio e Paulo Sérgio Nogueira
de Oliveira.
Plano golpista: o que as investigações da
PF revelam sobre a atuação de Bolsonaro, militares e ex-ministros
As
investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de um golpe de estado para
manter Jair Bolsonaro no poder revelaram que o ex-presidente pediu ajustes na
minuta do golpe (como ficou conhecido o documento que tinha como objetivo mudar
o resultado da eleição) e discutiu o seu teor com militares e membros do alto
escalão do seu governo. Também mostraram a atuação de ex-assessores para
articular e financiar atos golpistas e o envolvimento do PL, partido de
Bolsonaro, no plano.
A operação
realizada nesta quinta-feira (8) teve como alvo o próprio Bolsonaro,
ex-ministros e ex-assessores dele e militares de alta patente. Além de
inquéritos em andamento, foram levadas em conta a delação de ex-ajudante de
ordens de Bolsonaro Mauro Cid e mensagens encontradas no celular dele.
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Confira o que as investigações da PF revelaram:
• Bolsonaro discutiu o teor da minuta do
golpe e pediu ajustes. A versão inicial previa a prisão dos ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, além do
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, mas Bolsonaro pediu que os nomes de
Pacheco e Gilmar fossem retirados do documento. Ele também quis que fosse
mantido o trecho que previa a realização de novas eleições.
• Após as mudanças, Bolsonaro convocou
generais e comandantes das Forças Armadas para apresentar a minuta e
pressioná-los a aderir ao golpe.
• O governo Bolsonaro mantinha uma
estrutura de inteligência paralela que monitorava a agenda de autoridades e era
comandada pelo ex-assessor especial de Bolsonaro Marcelo Câmara.
• Uma das agendas acompanhadas em tempo
integral era a de Alexandre de Moraes para, caso fosse dado o golpe militar,
ele pudesse ser preso. Segundo as investigações, Marcelo Câmara já tinha o
"itinerário exato de deslocamento do ministro" nas semanas finais de
dezembro de 2022.
• Militares da ativa pressionaram colegas
contrários ao golpe para tentar fazê-los aderir ao movimento. Em uma das
conversas captadas pela PF, o general Braga Netto, ex-ministro da Defesa,
chegou a chamar o comandante do Exército, general Freire Gomes, de "cagão".
• Bolsonaro convocou uma reunião em julho
de 2022 com a alta cúpula do governo, incluindo o então ministro da Defesa,
Paulo Sérgio Nogueira, para discutir estratégias que assegurassem a sua vitória
nas eleições. Na ocasião, general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de
Segurança Institucional (GSI), defendeu que, se tivesse que "virar a
mesa", que fosse "antes das eleições". A PF encontrou um vídeo
da reunião em um computador apreendido na casa de Mauro Cid.
• Em dezembro de 2022, o então chefe do
Comando de Operações Terrestres do Exército, general Estevam Cals Theóphilo
Gaspar de Oliveira, se reuniu com Bolsonaro no Palácio da Alvorada e disse que
colocaria as tropas especiais nas ruas se ele assinasse a minuta do golpe.
• O grupo agia em seis núcleos para
organizar uma tentativa de golpe de Estado. Entenda aqui como, segundo a PF,
eles estavam articulados.
• A organização tinha cinco eixos de
atuação: 1 - ataques virtuais a opositores; 2 - ataques às instituições (STF e
TSE) e ao sistema eleitoral; 3 - tentativa de golpe de estado; 4 - ataques às
vacinas contra a Covid-19; e 5 - uso da estrutura do estado para obter
vantagens, como desvios de bens, a exemplo do caso das joias.
• Pessoas muito próximas a Bolsonaro, como
Mauro Cid, ajudaram a articular e financiar os atos golpistas que levaram à
invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro. Ele deu
orientações e chegou a receber de um major do Exército pedido de R$ 100 mil
para ajudar na organização dos atos em Brasília.
• Em outra frente, o PL, partido de
Bolsonaro, foi usado para financiar narrativas que atacavam as urnas
eletrônicas. O ápice dessa estratégia foi a apresentação de um estudo
questionando o resultado da eleição.
• Na sede da legenda, os policiais
encontraram um documento com argumentos para decretação do estado de sítio. O
advogado Fábio Wajngarten, que representa Bolsonaro, disse que se o
"padrão do conteúdo não condiz com as tradicionais e reconhecidas falas e
frases do presidente. Afirmou ainda que "não tem limite a vontade de
tentar trazer o Presidente Jair Bolsonaro para um cenário político que ele
jamais concordou".
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Resultados da operação:
• Havia 33 mandados de busca e apreensão e
quatro mandados de prisão preventiva para serem cumpridos na operação Tempus
Veritatis (que significa "hora da verdade", em latim), que foi
autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes. Veja aqui todos os alvos da
operação.
• O passaporte de Jair Bolsonaro foi
apreendido e ele está proibido de falar com os investigados.
• O presidente do PL, Valdemar Costa Neto,
foi alvo de um mandado de busca, mas acabou preso em flagrante por posse
irregular de arma de fogo. Uma pepita de ouro foi apreendida com ele.
• Na sede do PL, foi encontrado na sala de
Bolsonaro um documento que defende e anuncia a decretação de um estado de sítio
e da garantia da lei e da ordem no país.
• O relatório da PF afirma que o grupo
agia em seis núcleos para organizar uma tentativa de golpe de Estado. Veja
detalhes aqui.
• Nomes próximos ao ex-presidente, como
Braga Netto e Augusto Heleno, também foram alvos de busca e apreensão.
• O ex-assessor especial de Bolsonaro
Filipe Martins, que, segundo a PF, foi quem entregou a minuta do golpe a
Bolsonaro, e mais dois militares foram presos. Um quarto mandado de prisão foi
expedido contra um coronel, mas ele não foi detido porque estava nos Estados
Unidos, mas já será trazido ao Brasil. Veja aqui os motivos da Procuradoria
Geral da República para pedir as quatro prisões.
• A operação mirou ainda o ex-ministro da
Justiça Anderson Torres, com quem já havia sido encontrada uma minuta do golpe,
e o ex-assessor de Bolsonaro Tércio Arnaud, apontado como integrante do chamado
"gabinete do ódio". Eles são acusados de integrar um núcleo de
desinformação e ataques ao sistema eleitoral.
• O advogado Amauri Feres Saad, que teria
prestado assessoria jurídica para a elaboração da minuta, também foi alvo da
PF.
• Outro alvo foi um padre católico
conservador de Osasco (SP) que, segundo a PF, assessorava na elaboração de
minutas de decretos golpistas.
Fonte: g1
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