José do
Vale: O lugar da Lava Jato na história brasileira
Uma cena
parece representar muito bem o longo ciclo da história das elites brasileiras.
Qual é? Em
entrevista a um site (Brasil 247) o rico advogado Roberto Bertholdo, com uma
estelar banca em atendimento de políticos, grandes empresas, negócios e outras
formas mais, descreveu uma situação com todos os requisitos de uma novela
barata da classe alta brasileira.
O
advogado, como faz regularmente, almoçava no Gero, restaurante da rede Fasano,
em São Paulo, onde uma refeição por pessoa varia entre R$ 256 e R$ 450.
Na mesa
vizinha, estava a esposa do ainda senador Sergio Moro, Rosângela Moro, que é
deputada federal.
O advogado
descreve aquele momento com os requintes ácidos de um romance de Balzac, onde o
ridículo e o alpinismo social fazem uma dobradinha de encantar os leitores.
Segundo
ele, a senhora deputada, de hábitos caros, e gostaria de bolsa Louis Vuitton,
cujo preço estaria na faixa de R$ 30 mil ou mais.
Daí, a
maledicência do “fetiche da riqueza” e do “alpinismo social”.
A esposa
do senador, após o percurso alimentar na cara mesa do Gero, pediu para encerrar
os sabores da culinária sofisticada uma grappa, como aperitivo.
A grappa é
uma aguardente de origem italiana elaborada a partir da fermentação de uvas.
O
advogado, desafeto da família Moro, numa cena típica da baixa burguesia urbana,
chama o garçom e pergunta o preço do aperitivo que a senhora acabara de pagar,
saindo na sequência.
Bem ao
estilo de fofoca estilizada e politizada, ele conta o valor: R$ 500 por uma
pequena taça de grappa. E fala ainda do
tênis de R$ 8 mil do ex-juiz.
Tudo isso
para criar o estrato sobre o qual a tese do advogado Bertholdo se alicerça.
Em se
tratando do pessoal da Lava Jato, diz ele, nunca se tratou de justiça, controle
de corrupção, melhora da sociedade e punição de malfeitos.
Era o
“Deus Dinheiro”, o poder que resulta dele, a ganância materialista acima de
valores éticos, sociais e políticos de uma sociedade democrática.
Não era a
democracia e o devido processo jurídico. Tampouco o retorno ao bem comum dos
recursos evadidos em “tenebrosas transações”.
Tudo era
um arcabouço da “mani pulite” para justificar a ação sobre alvos específicos
que simbolizavam o “risco” da “revelação” das intenções reais.
A
dignidade do aprisionado pela Lava Jato, que resistisse às pressões por
delação, se tornava objeto de punição.
Uma delas
era o sujeito, um frágil corpo acorrentado, se debatendo solto num camburão da
polícia a toda velocidade e saltando em quebra-molas da autovia.
Ao final
da tortura, retornava à cela e logo vinha um agente do ministério público com
uma sugestão de delação.
Em síntese
a tortura em busca da apreensão e da condenação de outra vítima.
Se isso é
a narrativa fortuita do advogado, ela não era desconhecida de parte do povo
brasileiro por ocasião da ditadura militar.
E qual o
longo ciclo da história da elite nacional?
O Brasil é
uma criação do colonialismo europeu que implantou além-mar uma grei de
capitães-mores para invadir as terras para agricultura e pecuária, transformar
os produtos originais, negociar as mercadorias e embarcá-las em navios do
comércio europeu.
A Colônia
nunca foi uma razão em si, sempre foi objeto da exploração por parte dos povos
nativos, dos africanos e de seus descendentes, inclusive dos pobres camponeses
europeus, degredados ou não, que vieram a estas terras para serem a
descendência explorada e morta enquanto produz.
Por isso,
o longo ciclo histórico do Brasil é sempre de desconfiança com a elite.
A rigor
nunca somos nós mesmos, por exemplo, como são o russos, os chineses e até mesmo
os indianos superando a herança colonialista inglesa.
Até mesmo
a África do Sul, que permitiu a permanência dos brancos racistas em suas
terras, é hoje um país conduzido pelo seu povo original com todos os males de
raiz do predomínio do capital.
O que o
advogado Roberto Bertholdo relata não é um conflito moral, mas uma modo de
operação da elite brasileira, econômica, cultural e política.
Por esta
narrativa, a Lava Jato, a rigor, é uma
tentativa de intrusão de um determinado grupo da Justiça Federal no fluxo do
capital de pessoas e empresas, inclusive estatais.
Percebe-se,
claramente, que um grupo de arrivista teria tentado ir muito além nessa prática
de matriz colonialista: criar um arcabouço jurídico (as tais 10 medidas) que
permitisse o predomínio dos “operadores da justiça” na partilha das riquezas
nacionais.
A máxima
da Lava Jato teria sido, segundo o advogado, a tentativa ou a ação efetiva de
extorsão de desembargadores dos Tribunais Regionais Federais (TRFs) e do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), para atender aos interesses específicos da operação em seu modo de
perseguição e punição.
A intenção
era tornar a Lava Jato tão expansiva e autônoma que ela romperia os interesses
nacionais, associando-se com “operadores da justiça” de países estrangeiros,
para, partilhando resultados, ocupar um nicho seguro no futuro.
Roberto
Bertholdo não se esqueceu da casa luxuosa de Sergio Moro e esposa na cidade de
Washington, nos EUA, quando o ex-juiz prestou serviço a um grupo de advogados
estrangeiros, que tinham como clientes empresas atingidas pela Lava Jato.
Fonte: Viomundo
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