Eliara
Santana: Contra a estupidez criminosa de certos políticos, chamem o Zé Gotinha
Lampeiro,
sorridente e brega, o governador de Minas, Romeu Zema, gravou um vídeo ao lado
do senador Cleitinho e do deputado federal Nikolas Ferreira para anunciar uma
importante medida para as escolas da rede pública de educação do estado.
Errou quem
pensou em investimentos para as escolas – novas unidades, reformas necessárias,
recursos para ciência e tecnologia – ou para professores e alunos – formação
continuada, incremento na merenda escolar, ampliação da escola em tempo
integral.
O que o
Zemané anunciou para os mineiros – e para o Brasil – foi:
“Aqui em
Minas, todo aluno, independente de ter vacinado (sic), terá acesso às escolas”.
A
performance midiática dos agentes públicos do estado de Minas Gerais aposta na
perigosa disseminação do conceito remodelado de liberdade e insere uma falsa
polarização entre liberdade individual (escolha do indivíduo) e a necessidade
da vacinação.
Zema,
Cleitinho e Nikolas, projetos mal ajambrados de fascistas, usam o espaço
midiático para afirmarem que estão ali para garantirem a liberdade de todos os
alunos de Minas Gerais que não quiserem se vacinar – ou cujos pais não quiserem
a vacina, uma vez que se trata de crianças.
O
governador sequer explica a qual vacina se refere, se a de Covid ou todas do
calendário vacinal.
O
calendário de vacinas do PNI – o Programa Nacional de Imunização – é muito
amplo e prevê diversas vacinas para as crianças e os adolescentes.
Tudo
gratuito, basta ir até o “postinho” (como a população se refere aos Postos de
Saúde) e pedir pela vacinação.
Apenas
para dar um exemplo da importância dessa ação pública, há 30 anos o Brasil não
registra casos de poliomielite, conhecida como paralisia infantil, que pode
matar ou deixar sequelas muito graves.
Uma
campanha consistente e sistemática garantiu a conscientização da população e a
vacinação das crianças – um personagem querido entrou em cena no Brasil, o Zé
Gotinha.
Representando
a gotinha da vacina contra pólio, ele animava os postos de saúde em dia de
vacinação, e a criançada adorava tirar foto com ele.
Eu adorava
os dias de campanha e tinha uma alegria enorme ao levar meus filhos ao posto e
ver a multidão de crianças e mães ali se encontrando pela saúde, pela vacina,
pela proteção dos filhos, pela vida.
Hoje, o
que nós estamos vivenciando?
O
questionamento dessa conquista de saúde pública por um discurso mentiroso e
falsamente preocupado com liberdade.
Vocês
conseguem imaginar o tamanho da estupidez desses protótipos de homens públicos?
Primeiro,
eles provocam um caos completo no esquema vacinal, na organização das famílias
e no cuidado com a saúde dos mais vulneráveis economicamente. Não é possível
que os ministérios públicos, a justiça, os movimentos sociais não estejam
atentos a essa barbaridade.
Em segundo
lugar, discursos como o de Zema e Jorginho Mello, governador de Santa Catarina,
a dupla caipira da ignorância, insere a perspectiva de um confronto entre a
Federação e os governos estaduais – algo que Jair, o incomível, já inaugurou na
pandemia.
É uma
violência – mais uma – contra a população. E as famílias de baixa renda serão
ainda mais impactadas, porque quando as crianças ficam doentes, essas mães não
têm toda a assistência que os outras têm.
É uma ação
criminosa, depois de uma pandemia altamente mortal, que governadores
despudorados venham a público para se colocarem contra a vacina.
O Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), em seu Art. 14, Parágrafo 1º, diz que “É
obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas
autoridades sanitárias”.
E a
Constituição brasileira, em seu artigo 227, afirma
que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
à criança e ao adolescente, com prioridade absoluta, um diversidade de
direitos, dentre eles, justamente o direito à saúde.
Portanto,
Zema e Jorginho estão indo em direção contrária ao que determina a Lei.
·
Vacinas que salvam
vidas
O Sistema
Único de Saúde (SUS) garante um amplo esquema vacinal totalmente gratuito para
crianças, adolescentes, adultos e idosos.
O Brasil é
o único país no mundo com mais de 200 milhões de habitantes que tem atendimento
desse tipo de graça – deveríamos estar celebrando isso, e não nos desgastando
em debates ridículos e inúteis.
Atualmente,
o Ministério da Saúde se empenha para ampliar essa cobertura vacinal, com
inclusões importantes, e é em relação a isso que o debate público deveria estar
ocorrendo, e não por uma discussão perigosa e infrutífera.
Em época
de matrícula, desde que eu estudava quando criança, e depois com meus filhos, a
vacina nem era uma questão – todo mundo tinha de estar vacinado, e as mães se
orgulhavam de mostrar a caderneta cheinha de registros de vacina.
A extrema
direita estúpida e canastrona nos leva a retrocessos perigosos, que impactam e
destroem nossa vida.
E muitas
vezes, as pessoas nem se dão conta disso, porque são conquistadas pelo discurso
fácil da “liberdade”.
Liberdade
para quê?
Para ver o
filho sendo tragado pela meningite, urrando de dor e queimando de febre e não
ter o que fazer com a criança?
Essa é a
liberdade de escolha que esses extremistas pregam?
O
calendário do Programa Nacional de Imunização (PNI) para crianças até sete anos
prevê cerca de 20 vacinas, cito as mais importantes:
BCG –
Protege contra formas graves de tuberculose
Hepatite B
– Imuniza contra a hepatite B.
DTP+Hib+HB
(Penta) – Utilizada no combate à difteria, ao tétano, à coqueluche, à
Haemophilus influenzae B e à hepatite B.
Poliomielite
1,2,3 (VIP – inativada) Combate a poliomielite.
Pneumocócica
10 valente (Pncc 10) – Administrada no combate a pneumonias, meningites, otites
e sinusites pelos sorotipos que compõem a vacina.
Rotavírus
humano G1P1 (VRH) – Protege contra a diarreia causada pelo rotavírus.
Meningocócica
C (conjugada) – Protege contra a meningite meningocócica tipo C.
Febre
amarela (atenuada) – Protege contra a febre amarela.
Poliomielite
1 e 3 (VOP – atenuada) – Protege contra o poliovírus tipo 1 e 3
DTP –
Protege contra a difteria, o tétano e a coqueluche
SCR –
Protege contra sarampo, caxumba rubéola.
SCRV –
Protege contra Sarampo, caxumba, rubéola, varicela.
Hepatite A
(HA) – Combate a doença de mesmo nome.
Varicela – Combate a catapora
DT –
Protege contra a difteria e o tétano.
Papilomavírus
humano (HPV) – Responsável por combater o papilomavírus humano 6, 11, 16 e 18
(recombinante).
Pneumocócica
23-valente (PNCC 23) – É indicada no combate a meningites bacterianas,
pneumonias, sinusite, etc.
Influenza
– Protege contra a influenza.
·
A pauta da extrema
direita
Apesar de
soarem ridículos e absurdos, esses discursos têm uma ligadura. Essa é uma pauta
importante conduzida pela extrema direita no mundo. É uma conversa comum, que
apela ao cidadão em nome da “liberdade”.
E nisso, o
necessário investimento em saúde e bem-estar da população fica apagado e
desaparece em meio a essas agendas manipuladas. Por isso, é importante também
observar os alinhavos desse discurso, vendo como tudo se liga.
Um
primeiro ponto sobre o qual devemos olhar: esta pauta da vacina, que é um fio
condutor dos discursos e das mobilizações da extrema direita pelo mundo, se dá
sempre numa suposta oposição à liberdade individual.
Um segundo
aspecto para pensarmos, agora na articulação por aqui.
Lembram-se
que, no passado, houve uma mobilização intensa dos grupos bolsonaristas pela
eleição de conselheiros tutelares?
Campanha,
divulgação, mobilização nas igrejas, tudo contribuiu para a eleição de um
grande numero de conselheiros conservadores, bolsonaristas e extremistas.
Quem nas
escolas é responsável por averiguar e denunciar os casos de negligência contra
crianças (o que inclui a falta de vacina)? Os conselheiros tutelares.
Quem
ganhou a eleição para os Conselhos Tutelares no ano passado no Brasil?
·
Chamem o Zé Gotinha!
É um
grande desafio enfrentar isso tudo. Mas o campo progressista tem capilaridade,
capacidade de mobilização e inteligência para fazê-lo.
Por isso,
acho que o Ministério da Saúde não deveria sequer mencionar os discursos desses
projetos mal ajambrados de fascistas.
Poderia,
em lugar de responder, promover uma megacampanha com o Zé Gotinha, pelo Brasil
inteiro, com música, festa, alegria, representação das doenças e do que elas
provocam, explicação clara, sucinta e popular sobre a vacina.
Uma grande
festa pela vida, contra o fascismo que nos ronda.
Fonte:
Viomundo
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