sábado, 30 de setembro de 2023

ESTUDOS: Até limpar a casa evita a morte precoce por doenças cardiovasculares

Menos de 10 minutos de atividade física moderada a vigorosa já é o suficiente para evitar doenças cardiovasculares e reduzir o risco de morte precoce por essas causas, diz um estudo com mais de 25 mil pessoas de 43 a 78 anos. Os pesquisadores se concentraram não nos exercícios feitos na academia, mas em movimentos da vida diária, como subir escadas, faxinar a casa e passear com o bebê.

Para medir a duração e a intensidade dessas atividades, os participantes usaram dispositivos vestíveis, também conhecidos como wearables, como relógios inteligentes, que monitoram parâmetros de saúde. Os pesquisadores cruzaram os registros médicos dessas pessoas, cujos dados estão no Biobank, do Reino Unido, com o tempo e o vigor com que desempenhavam as tarefas. A inteligência artificial analisou as informações, que foram coletadas ao longo de oito anos.

O estudo é observacional, ou seja, não estabelece uma relação de causa e efeito. Porém, os dados sugerem diversas associações entre as atividades incidentais e os benefícios cardiovasculares. Movimentar-se constantemente por pelo menos um a três minutos em sessões que, juntas, acumulam 10 minutos diários, esteve associado a uma redução de 29% no risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Intervalos muito curtos de baixa intensidade (menos de um minuto) não surtiram esse efeito. Os melhores benefícios foram sentidos por aqueles que registraram intensidade vigorosa, arfando por cerca de 10 segundos a cada minuto de esforço.

O autor do estudo, Emmanuel Stamatakis, da Universidade de Sydney, na Austrália, cunhou um termo para as atividades incidentais: atividade física vigorosa de estilo de vida intermitente (Vilpa, sigla em inglês). "São tarefas que fazemos na rotina, como atividades domésticas vigorosas, fazer compras pesadas no mercado, caminhar com intensidade ou brincar com as crianças", explica. "A Vilpa é como aplicar os princípios do treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) à vida cotidiana", compara. Antes do estudo atual, publicado na revista The Lancet Public Health, Stamatakis realizou uma pesquisa com 22 mil pessoas associando a Vilpa à redução de risco de câncer.

•        Sedentarismo

O pesquisador, que copresidiu, em 2020, as Diretrizes Globais da Organização Mundial da Saúde sobre Atividade Física e Comportamento Sedentário, afirma que menos de um em cada cinco adultos de meia-idade pratica exercícios regularmente, por motivos que vão de falta de dinheiro e tempo a estado de saúde. Embora reconheça que o ideal é ter uma atividade estruturada, ele afirma que é preciso pensar em estratégias que reduzam riscos entre sedentários.

"Algumas sessões muito curtas de atividades podem ajudar muito, e há muitas tarefas diárias que podem ser ajustadas para aumentar sua frequência cardíaca por um minuto ou mais. Elevar a intensidade das atividades diárias não requer compromisso de tempo, preparação, associação a clubes ou habilidades especiais. Trata-se simplesmente de acelerar o ritmo enquanto caminha ou fazer as tarefas domésticas com um pouco mais de energia", defende.

"Esse estudo sugere que as pessoas poderiam reduzir potencialmente o risco de eventos cardíacos graves ao se envolverem em atividades de vida diária de intensidade pelo menos moderada, onde idealmente se movem continuamente durante pelo menos um a três minutos de cada vez", disse, em nota, o coautor do artigo Matthews Ahmadi, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Sydney. "Na verdade, parece que isso pode ter benefícios de saúde comparáveis a sessões mais longas", observa.

Stamatakis complementa que a mensagem do estudo é que "qualquer tipo de atividade é boa para a saúde, mas quanto mais esforço você colocar nessas tarefas diárias e quanto mais tempo você mantiver essa energia, mais benefícios você provavelmente colherá".

•        Novas diretrizes

Segundo os pesquisadores, o artigo traz algumas das primeiras evidências diretas para apoiar a ideia de que o movimento não precisa ser concluído em sessões contínuas de, pelo menos, 10 minutos, para ser benéfico. A crença era amplamente difundida até que a OMS removeu essa orientação de suas diretrizes, destacando, no lugar, que "cada movimento conta para a saúde melhor".

No artigo, autores escrevem que, se as descobertas forem verificadas em pesquisas futuras, poderão ser traduzidas em diretrizes de saúde pública. "Elas poderão levar mensagens de saúde pública à população em geral, aumentando a sensibilização para os potenciais benefícios de períodos curtos de atividade física na vida cotidiana, especialmente para adultos que não praticam ou não podem praticar exercício".

Stamatakis observa que esse tipo de pesquisa é possível, agora, graças à tecnologia dos dispositivos vestíveis. "Nosso conhecimento anterior sobre os benefícios da atividade física vigorosa para a saúde vem de estudos baseados em questionários, mas eles não podem medir sessões curtas de qualquer intensidade", diz. "A capacidade da tecnologia wearable de revelar 'micropadrões' de atividade física, como a Vilpa, tem um enorme potencial para demonstrar as formas mais viáveis e eficientes em termos de tempo para as pessoas se beneficiarem da atividade física."

 

       Sedentarismo pode ter mais impacto na obesidade do que má alimentação

 

Na contramão do senso comum, a falta de atividade física está mais relacionada à obesidade no Brasil do que a alimentação. A conclusão é de um novo estudo da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgado na semana passada. O trabalho foi feito a partir do cruzamento de dados da Pesquisa Nacional em Saúde (PNS) e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), ambas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Pelo menos seis em cada 10 brasileiros estão com sobrepeso ou são obesos. A sobreposição dos dados revela, no entanto, que não há diferença estatisticamente relevante entre o tipo de alimentação consumida nas casas de pessoas obesas e nas de pessoas magras. Por outro lado, a frequência na prática de atividade física é significativamente superior nas casas onde as pessoas são mais magras.

•        IMC

O indivíduo é considerado obeso quando o seu Índice de Massa Corporal (peso/altura X altura) é igual ou maior que 30 quilos por metro quadrado. Um IMC acima de 25 já é indicativo de sobrepeso.

O objetivo do trabalho é apoiar a criação de políticas públicas em saúde, aprofundando o conhecimento acerca do tema e fazendo um mapeamento sobre as medidas mais efetivas no combate ao excesso de peso (leia mais informações nesta página). A taxa de obesidade hoje no País é de 20,1%, e a de sobrepeso, de 56%.

O número de homens com sobrepeso é maior que o de mulheres. No entanto, elas são prevalentes nas taxas de obesidade. Segundo os dados da PNS, a prevalência de obesidade entre mulheres é de 22%, contra 18% entre os homens. Por outro lado, a taxa de sobrepeso dos homens é de 39%, contra 34% das mulheres.

O cruzamento de dados das diferentes pesquisas do IBGE revelou que a alimentação semanal nas populações com peso normal e nas populações com sobrepeso ou obesidade não apresenta diferenças estatisticamente relevantes.

Por exemplo, a frequência semanal com que as pessoas consomem peixe, feijão ou suco natural de frutas é bastante semelhante quando os grupos comparados são definidos por seu IMC. O mesmo acontece com a ingestão de alimentos ultraprocessados.

"Quando olhamos para os hábitos de consumo da família brasileira, eles são muito similares, independentemente do peso dos indivíduos; o consumo de feijão, verduras e frutas é bem parecido", explicou o economista Márcio Holland, principal autor do estudo. "O consumo de ultraprocessados também é similar, fica entre 9% e 10%."

•        Pouco exercício

O mesmo não ocorre quando o IMC da população é sobreposto ao nível de sedentarismo. Segundo os números, 36% dos obesos se exercitam com frequência, contra 40% entre os que apresentam peso normal.

De forma geral, o brasileiro se exercita pouco. Em média, apenas um dia por semana. Outros números do IBGE também são preocupantes. É o caso do tempo médio que o brasileiro passa em frente a uma tela diariamente: cerca de três horas.

"Isso é muito preocupante", afirma Holland. "Sobretudo porque estamos no início do processo de envelhecimento da população. Hoje, 13% da população tem mais de 65 anos; em 2060, esse porcentual será de 26%. E a tendência é que o IMC aumente ao longo da vida."

O endocrinologista Clayton Macedo, coordenador do Departamento de Atividade Física da Associação Brasileira de Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), pondera que esse tipo de cruzamento de dados pode apresentar alguns vieses e que a alimentação pode ter uma influência maior do que a observada. Mas ele afirma que já está comprovado, por meio de outros estudos, que a prática de exercício físico regular é o principal fator na manutenção de um peso mais baixo ao longo da vida.

"O exercício impede o que chamamos de adaptação metabólica, que é o aumento do apetite, a redução da sensação de saciedade e a queda da taxa metabólica conforme envelhecemos", disse o endocrinologista.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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