Como Temer e Bolsonaro contribuíram para
atual cenário de pandemia de apostas no Brasil
O ministro da Fazenda,
Fernando Haddad (PT), afirmou na sexta-feira (27) que o governo de Jair
Bolsonaro (PL) falhou ao não regulamentar o mercado de apostas esportivas, como
exigido pela legislação da época, e classificou o atual cenário das apostas no Brasil
como uma verdadeira pandemia nacional.
Nos últimos cinco
anos, o país viu um crescimento acelerado e descontrolado das chamadas
"bets" – plataformas de apostas esportivas online. De acordo com
Haddad, o aumento da prática tem gerado um impacto preocupante, com
consequências significativas para as famílias e a economia do país.
“A lei previa que,
durante o governo Bolsonaro, o assunto tinha que ser regulamentado. O Bolsonaro
não fez isso. O governo Bolsonaro simplesmente sentou em cima do problema como
se ele não existisse”, declarou o ministro.
Haddad se refere à
legalização das apostas esportivas no Brasil teve início em 2018, quando o
então presidente Michel Temer (MDB) sancionou a Lei 13.756, derivada de uma
Medida Provisória originalmente voltada para o financiamento do esporte através
de loterias. Durante sua tramitação no Congresso, a proposta foi alterada e
acabou abrindo espaço para o funcionamento legal das "bets", que
antes eram proibidas.
A lei também
estabelecia um prazo para a regulamentação do setor: dois anos, com
possibilidade de prorrogação por mais dois. No total, o governo teria até
dezembro de 2022 para implementar as regras necessárias para controlar o
mercado de apostas. Após a saída de Michel Temer, Jair Bolsonaro assumiu a
presidência. No entanto, em 2022, com a proximidade das eleições, Bolsonaro
concentrou todos os seus esforços em tentar garantir a reeleição, e ignorou a
regulamentação.
"O governo
federal não cumpriu o prazo para regulamentar as apostas esportivas de cota
fixa. Com as eleições presidenciais no período, o timing se mostrou crítico.
Com isso, a disposição para aprovar o regulamento diminuiu
substancialmente", destacou a pesquisa realizada pela consultoria
Strategy& sobre o setor de apostas no Brasil.
Haddad explicou que a
regulamentação das apostas no Brasil só entrou em vigor seis meses após sua
aprovação, com a promulgação da Lei 14.790/2023. Segundo o ministro, o governo
aproveitou um outro projeto de lei no final de 2022 para incluir o texto da medida
provisória (MP) que havia perdido a validade, e fez uma ressalva.
"Inseriram no projeto de lei um dispositivo dizendo que a regulamentação
só passaria a valer seis meses depois de publicado", afirmou.
"No primeiro
semestre do atual governo, nós mandamos uma Medida Provisória para o Congresso
Nacional regulamentar e pra botar ordem no caos que se instalou no país com
essa verdadeira pandemia. A medida provisória infelizmente não foi votada e
caducou", disse, referindo-se à MP 1.1182/2023, editada em julho.
Com a nova lei em
vigor, as empresas que desejam operar com apostas esportivas no Brasil precisam
se cadastrar e obter autorização do Ministério da Fazenda. Essa licença, válida
por cinco anos, tem um custo de R$ 30 milhões. Além disso, as empresas pagarão
12% de imposto sobre o valor total das apostas, e os apostadores, 15% de
Imposto de Renda sobre os prêmios.
A nova legislação
também impõe restrições à publicidade, proíbe a participação de menores,
inadimplentes e pessoas que possam influenciar nos resultados dos jogos, e
obriga as empresas a adotar medidas para desestimular as apostas.
O estudo da
Strategy& revelou um dado alarmante: as apostas já consomem 76% do que as
classes D e E gastam com lazer e cultura. Em outras palavras, muitas pessoas
dessas classes estão trocando o cinema e o teatro por jogos de azar. A situação
é ainda mais grave entre as famílias mais pobres, onde as apostas consomem 5%
do orçamento destinado à alimentação. O levantamento do Instituto Locomotiva
mostra que a situação é ainda mais preocupante: 37% dos apostadores já
desviaram dinheiro de outras necessidades para apostar, e 45% já tiveram
prejuízos com os jogos.
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Insanidade: Brasileiros gastarão R$ 216 bilhões com bets em 2024, indica BC
Dados divulgados
recentemente pelo Banco Central revelam o que pode ser uma crise de ordem
socioeconômica, e de saúde pública, sem precedentes no Brasil: o vício em jogos
de azar. Depois que o Congresso aprovou a lei que autorizou a operação das
empresas de apostas no país, em dezembro do ano passado, os brasileiros das
mais diversas classes sociais estão gastando uma fortuna com esse tipo de
“diversão”, mas o torra-torra de dinheiro já traz impactos em vários setores da
vida nacional e pode transforma-se, em pouquíssimo tempo, num problema difícil
de se resolver.
Segundo os números, só
de janeiro a agosto deste ano, a população já gastou R$ 168 bilhões com as tais
bets, isso levando em consideração apenas as transações realizadas por Pix.
Pelos valores, é possível projetar que os brasileiros deixarão com essas empresas
a insana quantia de R$ 216 bilhões até o fim de 2024. As projeções mais
“otimistas” dos entusiastas do processo de legalização das bets era de um gasto
em torno de R$ 150 bilhões para todo o ano, ou seja, pelo menos 44% acima do
que era previsto.
Diversas pesquisas têm
mostrado que muita gente está deixando de gastar com itens e serviços
essenciais, como alimentação, educação, transporte, lazer e turismo, por
exemplo, para destinar o dinheiro à jogatina digital. Um dado também revelado
pelo BC assusta: de todo o montante usado pelo Tesouro Nacional às famílias
beneficiárias do programa Bolsa Família, que representa R$ 14 bilhões, 20%, ou
seja, R$ 3 bilhões, foram gastos com apostas.
O BC também constatou
o que as associações ligadas ao comércio e ao varejo já tinha identificado. A
inadimplência e o endividamento entre as famílias explodiram no país e a
resposta dos cidadãos nesta situação é sempre a mesma: estão gastando com bets.
• Fusões e aquisições de bets movimentam
bilhões de reais no Brasil
A maior movimentação
do mercado de apostas on-line está acontecendo bem longe dos olhos do público.
A poucos meses de entrar em vigor, a regulamentação das chamadas bets acelerou
o processo de fusões e aquisições e, segundo estimativas das grandes bancas
envolvidas nas negociações, algo entre 15 a 20 marcas devem mudar de mãos até
janeiro de 2025, a partir de quando apenas empresas credenciadas pelo governo
federal poderão operar no mercado brasileiro.
Uma mostra dessa
movimentação aconteceu na semana passada, quando a americana Flutter pagou
quase R$ 2 bilhões por uma fatia de 56% da brasileira NSX, dona da marca
Betnacional.
Mas é pouco provável
que algum novo negócio repita soma tão astronômica. Até porque, há poucas
empresas de grande porte disponíveis no mercado. "Diria que encerramos
este ano com algo entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões em fusões e aquisições
neste setor", calcula André Santa Ritta, associado ao escritório Pinheiro
Neto Advogados, numa conta que não considera o negócio bilionário. Só neste
ano, o advogado assessorou quatro operações de fusão nesta área. E há mais duas
ou três em andamento, segundo ele.
Santa Ritta informa
que essa movimentação começou no fim de 2023, quando a lei que regulamenta as
bets no Brasil foi aprovada. "E esse processo de consolidação deve se
intensificar no próximo ano, com a imposição de uma série de requisitos para
quem quiser operar no país".
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"O mercado
brasileiro é bastante pulverizado. Fala-se em até 2 mil bets operando por todo
o país. Com a nova regulamentação, haverá uma elevação nos custos de operação
pois há uma série de políticas de governança que precisam ser atendidas".
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Aquisição de marcas e jogadores
A Flutter não é a
única gringa a buscar parceiros brasileiros. A britânica Playtech, listada na
bolsa de Londres, é uma das maiores fornecedoras de tecnologia para jogos
online no mundo - opera em 19 países, tem mais de 7 mil funcionários - e também
atua no B2C. Por isso que a companhia desembolsou US$ 5 milhões para comprar
40% do brasileiro Ocean 88 Holdings, dono da marca Galerabet.
Como dinheiro não
parece ser um problema para a Playtec - no ano passado a receita na divisão B2B
foi de 684 milhões de euros e EBITDA ajustado de 182 milhões de euros, enquanto
na divisão B2C a receita da Playtech somou 1,037 bilhão de euros e EBITDA ajustado
de 250 milhões de euros -, logo após a compra da Galerabet, a companhia
britânica financiou a compra de duas outras marcas: a F12, do ex-jogador de
futsal Falcão, e a Inovabet, do influenciador Luva de Pedreiro. Ambas operam no
mercado pernambucano. Comprar operadoras locais é importante não só para entrar
em mercados regionais, como também para ampliar a base de clientes.
Os negócios vão além
de marcar território com marcas no mercado nacional. Débora Sejtman Gartner,
sócia da área de M&A do Demarest, informa que há uma grande movimentação no
mercado financeiro. A corrida é para ver quem responde pelos recebimentos e pagamentos
das apostas.
Pela lei aprovada no
Brasil, apenas entidades autorizadas pelo Banco Central podem fazer essas
operações. "Antes da regulamentação, essas transações eram feitas a partir
de qualquer país - o mais comum é Malta e Curaçau - uma vez que há vários
operadores de jogos online com operações fora do Brasil", explica Gartner.
• A proposta da Febraban que pode conter
epidemia das bets
A epidemia das bets -
jogos de apostas online - chegou ao Palácio do Planalto após o Banco Central
(BC) divulgar relatório que aponta que as bets consumiram R$ 3 bilhões dos
beneficiários do Bolsa Família.
O relatório do BC
também revela que 5 milhões de beneficiários destinaram parte de sua renda para
as apostas. O valor total corresponde a 21% dos R$ 14,1 bilhões desembolsados
pelo governo federal ao programa – ou seja, a cada R$ 5 pagos, R$ 1 foi gasto em
bets.
Diante de tal cenário,
em que se observa uma verdadeira epidemia das bets atingindo pessoas de todas
as classes sociais, o presidente da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban),
Isac Sidney, defendeu que, enquanto não houver regulamentação das apostas
online, o pagamento via Pix para apostas online seja suspenso.
O presidente da
Febraban, durante entrevista à Folha de S. Paulo, também alertou para a
possibilidade do surgimento de uma "bolha de inadimplência" com o
avanço das bets.
"Se não for
possível proibir de imediato o pagamento com Pix, ao menos que se estabeleçam
limites de valores máximos para apostas com Pix, tal como o BC já limita
transações à noite", declarou o presidente da Febraban.
<><> Lula
quer urgência na regulamentação das bets
Após tomar
conhecimento dos dados levantados pelo Banco Central sobre as bets, o
presidente Lula (PT) pediu urgência para que alguns ministros preparem um
pacote para conter a epidemia dos jogos de apostas online.
A missão deve envolver
os Ministérios da Fazenda, Saúde, Desenvolvimento e Assistência Social e
Combate à Fome, e a Casa Civil.
De acordo com
informações do jornal O Globo, nesta quarta-feira (2), o governo federal deve
anunciar um grande pacote de medidas em torno dos caça-níqueis digitais.
Entre as ações do
governo Lula, o pacote deve propor restrições às propagandas das bets, entre
elas a proibição de citar a chance de ficar milionário com os jogos.
Segundo dados do BC,
foram gastos via Pix entre R$ 18 bilhões e R$ 21 bilhões por mês desde janeiro.
Os dados revelados
pelo BC causaram espanto no governo federal, que se preocupa com o
endividamento, o vício nas apostas online e o risco crescente de inadimplência
nas famílias.
O governo federal
também afirmou que, a partir da desta terça-feira (1), apenas as 113 empresas
que pediram ao governo autorização para funcionar e que estão seguindo as
regras definidas pela Fazenda poderão continuar operando. O Palácio do Planalto
estima que existam outras 500 plataformas de apostas online que não possuem
autorização e que terão suas atividades encerradas.
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Confederação do Comércio pede fim das casas de apostas online ao STF
Preocupada com as
apostas esportivas no comércio, a
Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC)
ingressou no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação para questionar a
constitucionalidade da Lei das Bets (Lei 14.790/2023) por meio de uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade (ADI). A confederação teme que a nova
legislação cause um desvio ainda maior do consumo das famílias, prejudicando o
setor varejista.
A CNC argumenta que a
proliferação das apostas online está gerando um ciclo vicioso de dependência,
especialmente entre os mais vulneráveis, o que resulta na redução do consumo de
bens essenciais e impacta diretamente o setor varejista. Essa situação levou a
CNC a revisar para baixo sua projeção de crescimento do comércio em 2024, de
2,2% para 2,1%.
A confederação estima
que as apostas online possam causar um prejuízo anual de até R$ 117 bilhões ao
setor. Além disso, a ADI destaca a crescente preocupação com o envolvimento de
menores de idade nessas atividades, facilitado pelo acesso fácil a plataformas
de apostas por meio de celulares e aplicativos.
A ação ressalta a
ausência, na legislação em questão, de mecanismos efetivos para prevenir e
tratar o vício em jogos, o que tem acarretado um aumento significativo no
endividamento familiar e na incidência de transtornos psicológicos relacionados
ao jogo compulsivo. Essa omissão, segundo a CNC, viola o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana, uma vez que expõe parcela
considerável da população a riscos à saúde mental e financeira, comprometendo
sua qualidade de vida. Além disso, a proliferação do jogo patológico tem
impacto direto na ordem econômica, ao desviar recursos do consumo de bens e
serviços essenciais.
Um estudo inédito da
Confederação revelou um cenário alarmante: os brasileiros gastaram cerca de R$
68 bilhões a apostas online no último ano, o equivalente a 22% da renda
disponível das famílias nesse período. Esse montante expressivo, além de
comprometer o orçamento familiar, gerou uma onda de inadimplência, com mais de
1,3 milhão de brasileiros inadimplentes em decorrência do vício em jogos de
azar.
Fonte: Fórum/Agencia
Estado
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