quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Novo sistema de relações internacionais está se formando no Sahel após golpes de Estado, diz analista

Um novo sistema sub-regional de relações internacionais começou a se formar no Sahel após os golpes de Estado em Burkina Faso, Níger e Mali, disse Nikita Panin, especialista do Centro de Estudos Africanos da Escola Superior de Economia russa, à Sputnik.

De acordo com ele, os países do Sahel desenvolveram em pouco tempo um modelo de cooperação coletiva baseado em abordagens diferentes das europeias.

"Elas diferem dos fundamentos neofuncionais que foram ideologicamente formados nos países ocidentais e aperfeiçoados nos exemplos da integração europeia, sobre os quais a maioria das integrações africanas também é construída. Portanto, estamos vendo agora ali um novo modelo sub-regional de relações internacionais tomando forma gradualmente", disse.

Em sua opinião, a principal conclusão é que os novos regimes militares nos países do Sahel acabaram conseguindo provar sua sustentabilidade, e até mesmo ter um amplo apoio popular.

"Além disso, isso foi feito com uma revisão radical dos fundamentos da política externa desses países e, ainda mais importante, das prioridades do desenvolvimento nacional e das abordagens para atingir essas metas", acrescentou, sublinhando a virada desses países das antigas metrópoles para a Rússia.

Isso se deve, entre outras razões, ao fato de esses países precisarem de fortalecer sua soberania, segurança e desenvolver o setor social.

"Esses países viram a Rússia como um parceiro compreensivo e pragmático", disse.

Assim, em 2019 pela primeira vez foi realizada uma cúpula Rússia-África em Sochi, reunindo quase todos os líderes de um dos maiores continentes para discutir a cooperação econômica com a Rússia. A segunda cúpula ocorreu em julho de 2023, em São Petersburgo.

Ao mesmo tempo, o Ocidente perdeu muito durante os últimos anos por causa desses processos, mas "isso não é motivo para descartá-lo completamente, nem anula suas relações com os países do continente".

O especialista atribuiu a redução da presença do Ocidente na África ao fato de o antigo modelo de interação, quando os países ocidentais exportavam recursos brutos da África e, assim, alimentavam suas economias, não estar mais funcionando.

Os países africanos estão adaptando sua legislação de acordo com as exigências da época e levando em conta as ofertas mais favoráveis apresentadas por novos parceiros, razão pela qual a concorrência no continente está se intensificando e assumindo novas formas.

"Não se pode descartar outros atores que, na verdade, não são menos importantes: seja o Japão ou a Coreia do Sul, a Turquia ou o Brasil. Cada país tem seu próprio paradigma de relações com a África, seus próprios pontos de vista e suas próprias abordagens. E isso, é claro, cria um vórtice bastante complexo de relações internacionais com os países do continente, no qual é preciso ser capaz de se encaixar corretamente", concluiu.

De 2021 até 2023 os militares chegaram ao poder em três países do Sahel: o Mali, Burkina Faso e o Níger. Os novos governos começaram a repensar a política externa e suas relações com as antigas metrópoles e os Estados Unidos.

As novas autoridades exigiram que os contingentes militares estrangeiros dos EUA e da França saíssem de seus países.

¨      Mali, Níger e Burkina Faso pedem à ONU medidas contra Kiev por apoiar terrorismo na região do Sahel

As missões permanentes de Mali, Níger e Burkina Faso conclamaram o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para tomar medidas contra a Ucrânia por seu apoio ao terrorismo no Sahel.

É o que sinaliza a carta conjunta elaborada pelas nações nesta terça-feira (20).

"Através desta carta conjunta, os ministros das Relações Exteriores de Burkina Faso, do Mali e do Níger apelam ao Conselho de Segurança da ONU para que assuma a sua responsabilidade relativamente à escolha deliberada da Ucrânia de apoiar o terrorismo em África, em particular na região do Sahel", indicaram os três países no documento ao qual a Sputnik teve acesso.

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Em meio a um conflito armado que já dura mais de 12 anos no Mali e que deixou cerca de 8,8 milhões de pessoas em situação de fome, a Ucrânia é acusada de apoiar grupos terroristas no Sahel que trazem ainda mais instabilidade para a região. Enquanto países rompem relações com Kiev em retaliação, o Ocidente seguirá calado frente à situação?

Desde o fim do último mês, autoridades do Mali e da Mauritânia, na região do Sahel africano, investigam o envolvimento de instrutores militares e da inteligência ucraniana com rebeldes separatistas apoiados por grupos como o Daesh (também conhecido como Estado Islâmico, organização terrorista proibida na Rússia e em outros países), o que gera uma situação constante de insegurança, deslocamento em massa e situação humanitária caótica.

Em retaliação às intervenções, o Mali e o Níger, em solidariedade, decidiram romper relações diplomáticas com Kiev. Enquanto isso, a Rússia, que está em conflito com a Ucrânia e conta com amplo apoio dos países africanos em meio à histórica cooperação no continente, declarou por meio da representante oficial do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, que o apoio ucraniano aos terroristas não surpreende, e pediu a atenção da comunidade internacional à atuação de Kiev.

¨      Especialista: proibição ucraniana à Igreja Ortodoxa se encaixa na 'agenda globalista' do Ocidente

A nova legislação ucraniana que proíbe a igreja Ortodoxa está em conformidade com a "agenda globalista" perseguida pelo Ocidente, disse o ex-oficial do Exército dos EUA, Scott Bennett, à Sputnik.

A Suprema Rada (parlamento da Ucrânia) aprovou a leitura final de um projeto de lei que proíbe a Igreja Ortodoxa Ucraniana canônica na terça-feira (20). A lei deve entrar em vigor em 30 dias.

A estratégia depende da proibição de instituições religiosas para impedir que as pessoas pratiquem o culto religioso, além de mirar em igrejas, disse o ex-analista de contraterrorismo do Departamento de Estado dos EUA e ex-oficial de guerra psicológica, Scott Bennett.

"A liderança ucraniana está usando a tática de uma caça às bruxas política e tentando rotular a ortodoxia religiosa como uma operação militar secreta da inteligência russa", observou Bennett.

A aprovação da lei confirma a "corrupção absoluta do parlamento ucraniano", disse ele, lembrando que o mandato presidencial de Vladimir Zelensky expirou em maio e, portanto, ele não pode mais ratificar atos do parlamento.

"A Ucrânia adotando um projeto de lei que proíbe a igreja ortodoxa ucraniana abre a porta para a Rússia ser a defensora da salvação religiosa", disse Bennett, acrescentando que isso poderia redefinir a Rússia como um país "se levantando para preservar o direito do povo ucraniano de adorar a Deus da maneira religiosa ortodoxa que eles praticam há centenas de anos".

 

¨      Castells: por que o Ocidente não deve bulir com a China

Hangzhou continua balançando às margens de seu belo lago, que se tornou um destino preferido para luas de mel. Antigo centro do comércio de seda facilitado pelo majestoso rio que a atravessa, tem uma significativa história cultural e política, que continua se renovando. Mas a cidade que conheci em 1987 desapareceu. Em seu lugar surgiu uma metrópole de 12 milhões de pessoas, um nó global do setor de comércio pela internet. Ali está a Alibaba, a maior empresa de e-commerce do mundo em número de usuários, maior que a Amazon, com 220 mil trabalhadores e tecnologia de ponta, baseada na nuvem e desenvolvida por seus engenheiros.

Em torno dessa companhia proliferaram empresas auxiliares e de serviços. Juntas, formam um complexo industrial altamente competitivo, com modelo de negócio próprio, baseado em combinar plataformas de entrega a domicílio com a conexão entre fornecedores, seus clientes e empresas financeiras que investiram em todos os mercados.

O fundador da Alibaba, o lendário inovador Jack Ma, tentou criar um império financeiro mediante oferta de ações no mercado internacional sem permissão de Pequim. Foi aí que percebeu que o capitalismo chinês não é como os outros; então, aposentou-se e vive em Tóquio.

Mas onde parece haver ser restrições ao crescimento empresarial está, na verdade, um fator de solidez da economia chinesa. Pois, após várias crises bancárias devidas a operações especulativas, o governo vigia de perto os movimentos do mercado para evitar que sejam ultrapassados limites razoáveis na ambição de expandir o capital sobre bases pouco sólidas.

De fato a China, indiscutivelmente o milagre econômico do século XXI, não é capitalista, mas desenvolveu um híbrido entre a competitividade de suas empresas no mercado global – necessariamente capitalista – e um sistema financeiro interno e serviços públicos geridos pelo Estado. A isso se acrescenta uma visão estratégica sobre onde devem estar os investimentos e os desenvolvimentos tecnológicos em um mundo em plena digitalização, que tem sua máxima expressão na China com o celular como gestor absoluto de toda a vida cotidiana e robôs, desenhados por estudantes, que entregam a comida.

No entanto, a verdadeira força da China reside na coesão social de sua sociedade, ancorada na família, que resiste aos impactos do desemprego juvenil e das aposentadorias insuficientes. Junto à estabilidade proporcionada por um Partido Comunista onipresente, legitimado por uma ideologia nacionalista frente ao estrangeiro e que estrutura a sociedade. De democracia, nem sinal, mas nunca existiu na China, e a grande maioria das pessoas valoriza, acima de tudo, seu bem-estar material e sua estabilidade.

A sombra inquietante é que a China se sinta ameaçada pelos Estados Unidos e se prepare para a guerra comercial e para a outra. Enfrentar essa China, coesa, desenvolvida e tecnologicamente avançada, seria um gravíssimo erro histórico.

¨      Biden aprova nova estratégia nuclear para os EUA com foco em contenção sino-russa

O presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou em março uma estratégia nuclear secreta para os Estados Unidos. Pela primeira vez, um plano é descrito para conter a China à medida que o seu arsenal nuclear cresce, relata o The New York Times.

Além disso, a doutrina norte-americana foca na preparação para um embate contra uma aliança entre Pequim, Pyongyang e Moscou.

"A Casa Branca não anunciou a aprovação da estratégia revista, chamada Orientação de Postura Nuclear, que também descreve pela primeira vez os preparativos dos EUA para possíveis desafios nucleares coordenados da China, Rússia e Coreia do Norte", disse a reportagem.

Segundo a publicação, o documento é tão secreto que não está disponível em formato digital, mas apenas impresso e acessível a um pequeno número de líderes militares do Pentágono e de responsáveis ​​pela Segurança Nacional.

O jornal informa que o arquivo menciona pela primeira vez a reorientação da estratégia de contenção, focada na rápida expansão dos seus arsenais nucleares pela China.

¨      China diz que EUA são fonte de maior ameaça nuclear em resposta a nova estratégia secreta de Biden

A China expressa séria preocupação com as informações sobre a aprovação de uma estratégia nuclear secreta pelo presidente dos EUA, Joe Biden, sublinhando que os EUA são a maior fonte de risco estratégico de ameaça nuclear do mundo, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, na quarta-feira (21).

Recentemente, o The New York Times informou que o presidente dos EUA, Joe Biden, aprovou em março uma estratégia nuclear secreta que, pela primeira vez, fala de um plano para conter a China em meio ao crescente arsenal nuclear chinês, além de referir as alegadas ameaças conjuntas de Pequim, Pyongyang e Moscou.

"A China está seriamente preocupada com essas informações", afirmou a diplomata em uma coletiva de imprensa.

Nos últimos anos, disse ela, os Estados Unidos têm promovido continuamente a chamada teoria da "ameaça nuclear chinesa", que na realidade é apenas "um pretexto para fugir de suas próprias obrigações de desarmamento nuclear".

A diplomata observou que, atualmente, os Estados Unidos são "o maior criador de riscos de ameaça nuclear estratégica do mundo".

Ning enfatizou que a escala do arsenal nuclear da China é bem diferente da dos EUA.

Além disso, a China defende a política de não usar as armas nucleares primeiro, defende estritamente uma estratégia de autodefesa nuclear e mantém suas capacidades nucleares no nível mínimo necessário para garantir a segurança nacional.

¨      Força Aérea dos EUA realizará exercício no Pacífico para treinar conflito com China, relata mídia

A Força Aérea dos EUA vai realizar exercícios no Pacífico no próximo verão europeu para testar sua capacidade de mobilização no caso de um possível conflito com a China, informou a revista Defence One, citando o chefe do Estado-Maior da Força Aérea dos EUA, general David Allvin.

Segundo o artigo, o próximo exercício vai ser chamado 25 REFORPAC e será parte do exercício conjunto Talisman Sabre entre a Austrália e os EUA.

"Chamamos nosso exercício de verão de 25 REFORPAC, ou seja, voltando ao Pacífico em uma escala maior. Estamos o integrando aos planos de campanha do INDOPACOM [Comando Indo-Pacífico dos Estados Unidos] e à abordagem das Forças Aéreas do Pacífico para apoiá-los e, portanto, estamos o integrando à atividade do comando, mas estamos fazendo isso de uma forma mais robusta", afirmou o general, citado pela Defence One.

O exercício vai durar 14 dias e vai reunir unidades do Alasca, Havaí, Guam e do território continental dos EUA para "praticar a operação em um ambiente complexo e apoiar operações em grandes distâncias".

O artigo nota que o 25 REFORPAC faz recordar os exercícios da época da Guerra Fria REFORGER, Return of Forces to Germany (Retorno das Forças à Alemanha), que foram realizados pelos Estados Unidos e Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Alemanha Ocidental em oposição aos países do bloco comunista liderados pela União Soviética.

No final de abril, o The New York Times, citando vários estrategistas militares chineses não identificados, informou que os EUA estavam construindo ativamente bases militares perto da China para manter as forças navais chinesas atrás da "primeira cadeia de ilhas" perto do continente asiático no caso de um conflito na região.

¨      Pequim critica comportamento 'não profissional' de navio das Filipinas no mar do Sul da China

A Guarda Costeira chinesa noticiou incidentes com três embarcações das Filipinas no mar do Sul da China, que acusou de causar "problemas repetidamente".

A Guarda Costeira chinesa disse na segunda-feira (19) que uma embarcação das Filipinas ignorou seus repetidos avisos e "colidiu deliberadamente" com um navio seu de maneira "não profissional e perigosa" no disputado mar do Sul da China.

Pequim disse que a embarcação filipina entrou em águas próximas ao atol Second Thomas depois que ela foi impedida de entrar nas águas do atol Sabina.

A colisão teria acontecido na segunda-feira (19) por volta das 03h24, horário local (15h24 de domingo (18), no horário de Brasília).

Além disso, duas embarcações da Guarda Costeira das Filipinas "invadiram ilegalmente" as águas adjacentes ao atol Sabina sem permissão na madrugada de segunda-feira (19), anunciou Gan Yu, porta-voz da Guarda Costeira da China.

"As Filipinas provocaram e causaram problemas repetidamente, violando os acordos temporários entre a China e as Filipinas", disse Gan, em referência às missões de suprimentos das Filipinas para um navio encalhado no atol Second Thomas.

A Guarda Costeira da China revelou ter tomado medidas apropriadas em resposta aos incidentes, e advertiu as Filipinas a "parar imediatamente com as infrações e provocações" ou "arcar com todas as consequências".

A China e as Filipinas chegaram a um "acordo provisório" em julho, após repetidos conflitos perto do atol Second Thomas.

 

Fonte: Sputnik Brasil/Outras Palavras

 

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