Governo de Manágua fecha 1.500 ONG e mais
de 25 organizações católicas
O Governo nicaraguense
extinguiu o estatuto legal de mais de 25 organizações católicas, incluindo
ordens religiosas como os franciscanos, as carmelitas e agostinianos, um outro
capítulo diocesano da Cáritas e grupos católicos leigos, como parte de um ataque
à sociedade civil com o encerramento de 1.500 organizações não governamentais
(ONG), noticiam o portal de notícias do Vaticano e a America The Jesuit Review.
Estas decisões,
aprovadas pela ministra do Interior, María Amelia Coronel — e divulgadas na
segunda-feira, dia 19, e publicadas no La Gaceta, o jornal oficial da Nicarágua
— decorrem, alegadamente, do facto de as ONG não terem cumprido determinadas
obrigações.
Estas obrigações
incluem a apresentação das suas demonstrações financeiras para períodos que vão
de um a 35 anos, com uma discriminação detalhada de receitas e despesas,
registos de pagamentos, detalhes de donativos e os seus conselhos de
administração.
De acordo com algumas
páginas independentes, como a 100% Noticias e a La Prensa, as ONG não foram
avisadas com antecedência, tendo o Governo acusado essas organizações de
obstruir a fiscalização do Ministério do Interior.
Uma fonte
familiarizada com a Nicarágua descreveu estas ações como “um esforço
extraordinário do Estado nicaraguense para esmagar as organizações não
governamentais em toda a sociedade nicaraguense”.
O ataque do regime
cada vez mais totalitário do Presidente Daniel Ortega e da sua mulher, a
vice-presidente Rosario Murillo, eliminou ainda mais os espaços cívicos fora do
seu controlo, ao mesmo tempo que atacou ainda mais a liberdade de culto.
O regime fechou pelo
menos 5.000 organizações não governamentais e silenciou os meios de comunicação
independentes desde 2018, quando os manifestantes saíram às ruas para exigir a
expulsão do presidente. Os encerramentos de 19 de agosto visaram especialmente
as congregações evangélicas, muitas das quais foram descritas como modestas
pelos meios de comunicação independentes.
A ofensiva estatal
também prosseguiu contra as organizações católicas, incluindo entre as ordens
religiosas encerradas: os Frades Menores Capuchinhos, as Irmãs Carmelitas do
Divino Coração de Jesus, os monges e freiras agostinianos, as Missionárias
Mercedárias de Berriz, a Ordem dos Cistercienses da Estrita Observância (também
conhecidas como Irmãs “Trapistas”) e os Irmãos da Caridade.
Dois ministérios
salesianos foram, de igual modo, encerrados: a Associação dos Cooperadores
Salesianos e a Associação das Mulheres Salesianas. Outras organizações
católicas que perderam a sua legitimidade legal foram os Missionários
Catequistas Lumen Christi, a Fundação São Pio e a Associação das Comunidades
Cristãs de Base.
A Cáritas da Diocese
de Granada também foi encerrada. O encerramento segue-se ao fecho, a 12 de
agosto, do capítulo da Cáritas na Diocese de Matagalpa — dirigido pelo bispo
exilado Rolando Álvarez. A fonte que falou com a OSV News descreveu o ataque às
Cáritas como um ataque porque o regime “não quer que ninguém, a não ser o
Estado ou alguém que considere fiável, preste serviços aos cidadãos”.
Uma declaração de 19
de agosto do Centro de Assistência Legal Interamericano em Direitos Humanos
descreveu as igrejas evangélicas como “os últimos lugares onde os nicaraguenses
podem reunir-se livremente”. Por conseguinte, as restantes ONG ainda exercem a
liberdade de associação de forma mínima”. O Coletivo “Nicaragua Nunca Más”,
grupo de defesa dos direitos humanos, informou que pelo menos 21 pastores
evangélicos foram exilados e a três foi negada a reentrada no país. A
organização contabilizou o encerramento legal de cerca de 420 organizações
cristãs.
De acordo com várias
fontes, as igrejas católicas na Nicarágua têm sido espiadas desde há muito
tempo, sendo os padres obrigados a ter cuidado com as suas palavras, mesmo
durante as homilias. O regime também proibiu as expressões de fé, encerrando
meios de comunicação católicos, cancelando projetos de caridade da Igreja e
suspendendo procissões e celebrações de santos padroeiros fora de propriedades
da Igreja.
Martha Patricia
Molina, uma advogada exilada que acompanha as agressões contra a Igreja
Católica nicaraguense, contabilizou 9.688 tentativas de impedir procissões e
atividades religiosas desde abril de 2018. O seu último relatório sobre a
perseguição da Igreja foi publicado a 15 de agosto e documentou 154 bispos,
padres, diáconos, seminaristas e 91 freiras impedidos de trabalhar na
Nicarágua, por terem fugido do país, por terem sido exilados à força ou por
lhes ter sido simplesmente negada a reentrada depois de viajarem para o
estrangeiro.
• “Leigos a celebrar a palavra”
Desde 2018, cerca de
250 padres, freiras, bispos e outros membros da Igreja Católica foram forçados
a sair do país, de acordo com o relatório de Molina — com três bispos e 136
padres a serem expulsos e a chegarem aos Estados Unidos ou ao Vaticano.
Pelo menos 14 leigos
católicos estão atualmente presos por motivos religiosos, disse Molina à
agência noticiosa Confidencial. A escassez de pessoal dizimou dioceses como
Matagalpa e Estelí — ambas tituladas pelo bispo Álvarez — e a diocese de Siuna,
de onde o bispo Isidoro Mora foi exilado. Os bispos Álvarez e Mora saíram do
país em janeiro para o Vaticano, juntamente com outros 17 membros da Igreja.
A Diocese de Matagalpa
perdeu mais de 80% dos seus sacerdotes, segundo Molina, enquanto as dioceses de
Estelí e Siuna sofreram perdas significativas de membros do clero. “Como não há
padres na região, são os leigos que estão a assumir certas funções, como
celebrar a palavra ou visitar os doentes para lhes levar a comunhão”, disse
Molina.
O fecho compulsivo de
1.500 ONG ocorreu numa altura em que mais dois padres foram exilados no
Vaticano. Leonel Balmaceda e Denis Martínez foram enviados para Roma em 17 de
agosto, conforme noticiou o 7MARGENS.
A Companhia de Jesus,
que foi expulsa da Nicarágua em 2023, divulgou uma declaração no aniversário de
um ano em que a sua prestigiada Universidade Centro-Americana foi confiscada e
posteriormente reaberta como uma instituição alinhada aos sandinistas, pedindo
ao Governo que “pare a repressão, pare de cometer violações sistémicas dos
direitos humanos e liberte os presos políticos”.
A declaração de 15 de
agosto da província centro-americana dos jesuítas continuava a exortar o
Governo de Manágua a “aceitar a procura de uma solução racional, em que
prevaleçam a verdade, a justiça, o diálogo, a liberdade académica e o Estado de
direito”.
• Cristãos constituem o maior grupo de
migrantes a nível mundial
Quase metade dos
migrantes internacionais a nível mundial identificam-se como cristãos. É o que
demonstra um novo relatório do Pew Research Center. Os dados revelados pelo Pew
apontam os cristãos como o maior grupo religioso em movimento, cerca de 47%, influenciando
significativamente a demografia religiosa nos países de origem e de destino.
A migração de regiões
de maioria cristã como a América Latina, a Europa e a África subsariana
contribuiu para esta tendência.
Fatores económicos,
instabilidade política e conflitos têm levado milhões de cristãos a procurar
novas oportunidades e segurança no estrangeiro. “As pessoas deslocam-se para o
estrangeiro por muitas razões, como encontrar emprego, estudar ou juntar-se a familiares.
Mas a religião e a migração estão muitas vezes intimamente ligadas”, menciona o
estudo, citado pelo portal de notícias do Vaticano, que republica um artigo
originalmente publicado pelo LiCAS News.
Os muçulmanos são o
segundo maior grupo religioso entre os migrantes a nível mundial, representando
29% do total. A migração dos muçulmanos, especialmente de regiões em conflito
como o Médio Oriente, é em grande parte motivada pela procura de estabilidade e
de melhores perspetivas económicas.
Os judeus, embora
sejam um grupo mais pequeno em números absolutos, são os que têm maior
probabilidade de migrar, com cerca de 20% da população judaica mundial a viver
fora do seu país de nascimento.
“Muitos migrantes
deslocaram-se para escapar a perseguições religiosas ou para viver entre
pessoas com crenças religiosas semelhantes. Muitas vezes, as pessoas mudam-se e
levam consigo a sua religião, contribuindo para mudanças graduais na composição
religiosa do seu novo país”, refere o relatório.
Por vezes, os
migrantes abandonam a religião com que cresceram e adotam a religião
maioritária do seu novo país de acolhimento, uma outra religião ou nenhuma
religião”, pode ainda ler-se no documento.
O estudo conclui
também que a migração conduziu à diversificação religiosa em muitos países de
destino, introduzindo frequentemente novas comunidades religiosas em zonas que
anteriormente tinham uma diversidade religiosa limitada.
Fonte: 7Margens
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