Carlos
Wagner: ‘Tentativa de golpe de 8 de janeiro não pode cair no esquecimento da
imprensa’
Por
conta do rolo armado pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, 61 anos,
durante as eleições presidenciais de 26 de julho, vi nascer uma oportunidade de
conversar com os meus colegas repórteres e os leitores sobre episódios recentes
da história política brasileira que não podem cair no esquecimento,
principalmente da imprensa. O Brasil que emergiu das eleições presidenciais de
2022 e que se consolidou com o fracasso da tentativa de golpe de estado em 8 de
janeiro de 2023 é um país diferente daquele erguido em 1985, quando foi
negociada a volta da democracia, colocando fim à ditadura militar implantada
pelo golpe de estado de 1964. O preço pago pela volta da liberdade foi a
anistia aos torturadores, responsáveis pelas prisões ilegais e os outros absurdos
cometidos contra a população civil. Não vou discutir a Lei de Anistia. Há um
vasto material disponível sobre isso na Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Vamos conversar sobre as mudanças que trouxeram ao nosso modo de vida os
acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, quando seguidores do ex-presidente da
República Jair Bolsonaro (PL), 69 anos, invadiram e quebraram tudo que
encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo
Tribunal Federal (STF), na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF).
No
Brasil pós tentativa de golpe, os brasileiros voltaram a valorizar a sua
democracia, a liberdade de imprensa e as instituições. O resultado do 8 de
janeiro de 2023 foi mais de 1,5 mil pessoas presas. Destas, pelo menos duas
centenas já foram condenadas e cumprem pena, outras estão em liberdade vigiada
ou sendo processadas. Os articuladores da tentativa de golpe (generais,
policiais federais, civis, militares e penitenciários) estão presos e correm o
risco de perder os seus empregos. Vários financiadores das pessoas que
participaram da quebradeira na Praça dos Três Poderes também foram presos. E
oficiais militares, incluindo generais das Forças Armadas, estão respondendo a
processos. Esta foi uma das raras vezes na história política do Brasil que
atentar contra as instituições deu cadeia. Tenho escrito que o ex-presidente
Bolsonaro, durante as três décadas em que foi deputado federal pelo Rio de
Janeiro, nunca escondeu a sua intenção de dar um golpe de estado. Muito pelo
contrário. Ganhou muitas manchetes dos jornais reclamando que os militares
golpistas de 1964 deveriam ter matado muito mais gente. E também dizendo que o
seu ídolo era o coronel Carlos Brilhante Ustra (1932-2015), que usava o
codinome de Doutor Tibiriçá nas sessões de tortura dos presos políticos. O seu
projeto político era chegar ao poder e começar a infiltrar na máquina
administrativa federal aqueles que fossem fiéis a suas ideias de extrema
direita. Lembro que quando começou a sua campanha pela Presidência da
República, em 2018, nem ele acreditava que teria chances de ganhar. O somatório
de uma série de fatores acabou o elegendo, como foi o caso do atentado que
sofreu em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora (MG), quando foi esfaqueado
pelo pedreiro Adélio Bispo de Oliveira, 46 anos. Eleito, Bolsonaro viu crescer
ao seu redor um contingente significativo de generais, empresários,
parlamentares, influenciadores de redes sociais e funcionários públicos
federais. A ideia inicial de uma boa parte dessas pessoas era controlar
Bolsonaro, dizendo-lhe o que podia e não podia fazer. Quebraram a cara e foram
arrastados pelo ex-presidente a uma situação jurídica muito complicada.
Nos
dias atuais, o ex-presidente responde a mais de 300 processos, inquéritos e
outros procedimentos na Justiça. E foi sentenciado pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) a oito anos de inelegibilidade. Seja qual for o futuro político
do ex-presidente, ele continua apostando no golpe de estado. Não tem essa
atitude por ser capitão reformado do Exército. É por crença política. É a
opinião de muitos especialistas. Bolsonaro concorreu à reeleição em 2022 contra
uma frente ampla formada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 78 anos. Se
tivesse ganho, o Brasil corria o risco real de se tornar uma “república de
bananas”. Lula ganhou e conseguiu consolidar o seu governo derrotando os
golpistas de 8 de janeiro. Maduro e o seu grupo político, formado por juízes,
ministros, generais e oportunistas de todos os calibres, não entenderam as
mudanças que aconteceram no Brasil depois de 8 de janeiro de 2023. Acreditaram
que tudo continuava como antes e que o Brasil se alinharia automaticamente aos
países que fecharam os olhos para as fraudes praticadas nas eleições
presidenciais venezuelanas, quando Maduro concorreu à reeleição contra Edmundo
González, 74 anos. Apoiados pelos seus aliados espalhados pela máquina
administrativa do país, Maduro se declarou vencedor. González também se
declarou vencedor.
Esta
situação está sendo negociada pelo presidente Lula e o seu colega da Colômbia,
Gustavo Petro, 64 anos. Os dois exigem a apresentação das atas das urnas para
serem periciadas. Por uma das zombarias da história vou citar dois fatos. O
ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), 78 anos, durante
do seu mandato (2017 a 2021) tentou aparelhar com os seus seguidores o governo
federal. Em 6 de janeiro de 2021, incentivou-os a invadir o Capitólio
(Congresso) para impedir que o legislativo americano ratificasse a vitória nas
eleições do atual presidente, Joe Biden, 81 anos. Cinco pessoas morreram
durante o ataque e dezenas foram presas. Atualmente, Trump concorre à
presidência contra a vice-presidente Kamala Harris (democrata), 59 anos. Tanto Bolsonaro
quanto Trump tentaram ganhar o governo na mão grande. Exatamente como está
fazendo Maduro, que, ao contrário dos outros dois, teve tempo para aparelhar o
governo e pode se manter no poder pelo tempo que bem entender. Em nome da
exatidão jornalística, nós repórteres precisamos nos dar conta que a disputa
política está enveredando para o lado de que não é mais uma competição entre a
direita e a esquerda, ou conservadores e liberais. O jogo mudou. Agora é entre
golpistas e legalistas.
• Do
esconderijo às redes: fugitivos do 8/1 reaparecem em vídeo e convocam
manifestação contra Moraes
Militantes
bolsonaristas que se autodenominam "exilados políticos" na Argentina
identificaram-se em um vídeo convocando protestos contra o ministro Alexandre
de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para o dia 7 de setembro. Segundo
o UOL, diversos desses militantes de extrema direita que fugiram para a
Argentina foram condenados ou são investigados pelos ataques aos Três Poderes,
ocorridos em 8 de janeiro do ano passado. Entre eles, há foragidos que deixaram
o Brasil após quebrar as tornozeleiras eletrônicas,
Esta
é a primeira vez que muitos deles aparecem em vídeo, revelando seus nomes e
sobrenomes. Segundo relatos, esses foragidos também planejam um ato contra
Moraes em Buenos Aires na mesma data. Moraes é o relator dos processos que
investigam a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro.
O
vídeo, que circula em aplicativos de mensagens usados por militantes
bolsonaristas e de extrema direita no Brasil e na Argentina, mostra 30
militantes adultos, dos quais a identidade de 26 era desconhecida até então.
Dois deles, Luiz Venâncio e Daniel Bressan, já haviam concedido entrevistas ao
UOL, na Casa Rosada, onde exibiram suas solicitações de refúgio ao governo de
Javier Milei e narraram sua fuga do Brasil. Ainda segundo a reportagem, menores
de idade também aparecem no vídeo e são apresentados como “filhos de exilados”.
A
convocação dos protestos ocorre após a Folha de S.Paulo divulgar trocas de
mensagens entre um juiz e um perito judicial que auxiliavam o ministro no STF e
no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). As mensagens sugerem que Moraes teria
agido fora dos procedimentos habituais para investigar bolsonaristas. O
gabinete do ministro, porém, afirmou que todas as ações foram oficiais e
documentadas.
• 48
golpistas presos no 8 de janeiro estarão nas urnas das eleições municipais
Um
levantamento feito pela Folha de S. Paulo revelou que 48 dos mais de 1.400
presos nos atos golpistas de 8 de janeiro estarão concorrendo nas eleições
municipais de 2024.
Os
bolsonaristas disputam cargos de prefeito, vice-prefeito e também de vereador.
Como ainda não foram condenados por seus crimes e, portanto, não houve trânsito
em julgado, eles podem concorrer livremente.
Somente
após o trânsito em julgado é que seriam penalizados e perderiam seus direitos
políticos.
Dezesseis
concorrem pelo partido de Bolsonaro, e os outros estão distribuídos entre
Republicanos, PP, Novo, Mobiliza, União Brasil e MDB. Entre os candidatos, 14
colocaram em seu nome de urna a palavra "patriota", e um deles se
identificou como "patriota preso".
Caso
sejam eleitos e condenados, os golpistas enfrentarão um imbróglio. As câmaras
de vereadores é que decidirão sobre a cassação dos mandatos dos que vencerem as
eleições.
Ainda
de acordo com a Folha de S. Paulo, a maior parte dos candidatos se concentra no
estado de São Paulo, como Sheila Mantovanni, do partido Mobiliza, que concorre
à Prefeitura de Mogi das Cruzes. Ela enfrentará, inclusive, uma candidata do PL
de Bolsonaro.
Fabiano
Silva (DC) concorre à Prefeitura de Itajaí e é outro postulante ao cargo
majoritário nestas eleições. Os demais disputarão os cargos de vice-prefeito ou
vereador em dezenas de cidades ao redor do país.
• Bolsonaristas
definem estratégia para atacar Moraes e o STF em ato do 7 de Setembro
O
grupo político de Jair Bolsonaro (PL) já definiu a estratégia que será
utilizada nas manifestações de 7 de Setembro na Avenida Paulista, onde o
ex-mandatário estará presente para fortalecer sua base de apoio. Assim como em
anos anteriores, o evento terá o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes como alvo principal, com a militância focada na tentativa
de impeachment do ministro do STF. No entanto, Bolsonaro não deverá fazer
ataques diretos ao ministro e ao Judiciário..
Segundo
o jornalista Lauro Jardim, de O Globo, aliados de Bolsonaro acreditam que, por
estar envolvido em inquéritos sob a jurisdição de Moraes, como o caso das joias
sauditas e os atos antidemocráticos, Bolsonaro deve evitar confrontos diretos
com o magistrado. Esse papel será desempenhado pelos deputados e senadores
presentes, que poderão intensificar as críticas ao STF e a Moraes,
aproveitando-se da imunidade parlamentar.
Ainda
conforme a reportagem, a estratégia não é vista como uma mera bravata. Segundo
o grupo, caso haja apoio popular, Moraes poderia sentir a pressão,
especialmente após as recentes revelações de mensagens de seus auxiliares
divulgadas pela "Folha de S.Paulo". apontando que ele, supostamente,
teria atuado “fora do rito” em investigações envolvendo o ex-mandatário e seus
aliados Até agora, contudo, os impactos sobre o ministro têm sido limitados.
Além
de Bolsonaro, estarão presentes seus filhos, a ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro, e outros aliados, como Nikolas Ferreira, Magno Malta, Bia Kicis,
Júlia Zanatta, Silas Malafaia e Gustavo Gayer. Candidatos a prefeito e vereador
pelo PL também são esperados, já que o ato será uma oportunidade para angariar
apoio entre o eleitorado bolsonarista.
• Malafaia
ameaça Moraes: 'o pau vai torar em cima desse cara'
Durante
o anúncio de um ato marcado para 7 de setembro na Avenida Paulista, o
empresários da fé Silas Malafaia, um dos organizadores, revelou que o
ex-presidente Jair Bolsonaro estará presente e ajudará na convocação do evento.
A informação foi divulgada pela colunista Mônica Bergamo. Segundo Malafaia, a
manifestação desta vez terá um tom mais agressivo em comparação com eventos
anteriores e focará críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF),
Alexandre de Moraes.
Malafaia
prometeu que o discurso durante o ato será contundente. "Agora o pau vai
torar em cima desse cara", disse ele, referindo-se a Moraes. Além do
pastor, outras lideranças políticas de extrema-direita, como Nikolas Ferreira e
Magno Malta, estão programadas para discursar no evento. Malafaia enfatizou que
não pretende caluniar ou injuriar ninguém, criticando aqueles que pedem o fim
do STF e classificando-os como "tolos".
A
presença de Bolsonaro também levanta questões sobre o conteúdo de seu discurso.
Malafaia comentou que não pode controlar as falas do ex-presidente, mas,
baseado em seu conhecimento sobre Bolsonaro, não espera que ele entre em
conflito direto com Moraes.
• Justiça
determina apreensão de bens de Jair Renan Bolsonaro por dívida de R$ 360 mil
A
Justiça do Distrito Federal mandou apreender, nesta sexta-feira (23), R$ 360
mil em bens de Jair Renan Bolsonaro por dívida com o banco Santander, que
entrou com uma ação contra o filho ex-presidente Jair Bolsonaro.
De
acordo com o juiz João Batista da Silva, da 1ª Vara de Execução de Títulos
Extrajudiciais e Conflitos Arbitrais, a apreensão é necessária porque Jair
Renan não pôde ser localizado para intimação. A decisão da Justiça atende a um
pedido protocolado pelo banco na última segunda-feira (20), pedindo a
realização de ativos financeiros (conversão de bens do devedor em dinheiro)
para pagamento da dívida.
O
processo movido pelo Santander é antigo. Desde dezembro de 2023, o banco tenta
localizar Jair Renan para que a dívida seja paga. Segundo informações do
processo, uma carta precatória para um endereço onde ele mora em Camboriú,
expedida em julho, ainda não foi cumprida.
Em
abril, após Jair Renan se tornar réu por lavagem de dinheiro, uso de documento
falso e falsidade ideológica pelo Ministério Público do Distrito Federal
(MPDFT), o banco pediu o confisco de bens pela primeira vez. Ele é acusado de
ter usado uma declaração de faturamento com informações falsas de sua empresa
para obter o empréstimo que ainda não foi pago.
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"Vítima de golpe"
Sua
defesa afirmou anteriormente que ele "foi vítima de um golpe montado por
pessoa, que apenas depois se soube ser conhecida pela polícia e pela
Justiça". A nota diz ainda que "tudo ficará esclarecido no curso do
processo".
O
alvo da suspeita, segundo a investigação, é uma declaração de faturamento de R$
4,6 milhões da Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia. Os números teriam sido
superestimados para que Jair Renan e seu sócio Maciel Alves apresentassem
lastro para conseguir um empréstimo bancário.
"Não
há dúvidas de que as duas declarações de faturamento apresentadas ao banco são
falsas, por diversos aspectos, tanto material, em razão das falsas assinaturas
do Técnico em Contabilidade [...], que foi reinquirido e negou veementemente
ter feito as rubricas, quanto ideológico, na medida em que o representante
legal da empresa RB Eventos e Mídia fez inserir nos documentos particulares
informações inverídicas consistentes nos falaciosos faturamentos anuais",
escreveram os investigadores no relatório do caso.
Em
depoimento, ele afirmou não reconhecer suas assinaturas nas declarações de
faturamento e negou ter pedido empréstimos. Peritos, testemunhas e até imagens
de seu login no aplicativo bancário, até o momento, concordam com ele.
Fonte:
Observatório da Imprensa/Brasil 247/Fórum
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