quinta-feira, 2 de maio de 2024

Liszt Vieira: O que fará o PT?

A extrema direita avança no Brasil e em quase todo o mundo. Nos EUA, o governo de Joe Biden passou de dominador à posição de vítima de sua dominação em relação ao governo de Israel que hoje pauta o governo norte-americano. Os protestos e manifestações contra o genocídio em Gaza nas principais Universidades norte-americanas, bem como as manifestações em toda a Europa, são um sinal forte da perda de apoio eleitoral de Joe Biden. O apoio militar e político ao massacre dos palestinos por Israel tende a favorecer Donald Trump, no plano interno, e Vladimir Putin, no plano internacional. Donald Trump apoia a extrema direita em toda a parte, e Vladimir Putin apoia a extrema direita na Europa.

No Brasil, para garantir a governabilidade, o governo Lula fez concessões à direita. O atual governo reúne a centro esquerda, sem poder, e a centro direita e a direita, com poder. É um governo fraco, conseguiu algumas poucas vitórias a preço de fortes concessões ao mercado, aos militares e aos parlamentares de direita do baixo clero, o chamado “Centrão”.

Como afirmou Frei Betto em seu excelente artigo de maio de 2023 “Políticas sociais mudam a cabeça do povo?”, a resposta a essa pergunta é não. Os avanços alcançados com uma política social progressista não se traduzem necessariamente em votos. Em seu artigo, ele lembra que ”o Brasil conheceu 13 anos de governos do PT que asseguraram à população de baixa renda vários benefícios: Bolsa Família; salário mínimo corrigido anualmente acima da inflação; Luz para Todos; Minha casa, Minha vida; FIES; cota nas universidades; redução drástica da miséria, da pobreza e do desemprego; aumento da escolaridade etc. No entanto, Dilma Rousseff foi derrubada sem que o povo fosse às ruas defender o governo. E Jair Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. Em 2022, perdeu para Lula pela diferença de apenas dois milhões de votos, de um total de 156 milhões de eleitores”.

Depois desse artigo de Frei Betto, a novidade é que, como ocorre no governo Lula e no governo Biden, os avanços econômicos, assim como os sociais, também não se traduzem em votos. As variáveis macro econômicas – PIB, renda, emprego etc. – têm pouca ou nenhuma influência sobre o comportamento do eleitorado, mais influenciado pelo preço dos alimentos do que por qualquer outro fator econômico. E principalmente influenciado pela rejeição ao mundo político institucional, pela crítica ao “sistema”, típica do discurso reducionista da extrema direita. E Lula, agora, é o “sistema”.

Assim, os benefícios econômicos e sociais trazidos pelo atual governo, em troca de concessões aos empresários, militares e parlamentares de direita, não geram necessariamente apoio eleitoral. Na eleição de 2022, Lula teve uma vitória eleitoral, mas não uma vitória política. O governo Lula implementa uma política econômica conservadora e uma política social progressista, embora reprimindo algumas reivindicações populares.

Respeitando os dogmas do neoliberalismo, como déficit zero e austeridade fiscal, o ministro Fernando Haddad, com seu perfil de PSDB clássico, cumpre hoje um papel igual ao dos ministros conservadores do passado. Fernando Haddad defende principalmente os interesses do mercado financeiro e do agronegócio, e nega aumento de salário para funcionários públicos e diversas categorias como, por exemplo, os professores. E o PT segue atrás, em nome do combate à extrema direita.

Nesse quadro que vem se consolidando, o PT tende a se transformar naquele PSDB do passado que se dizia social democrata, mas apoiava o neoliberalismo? Saberemos provavelmente depois das próximas eleições municipais com a previsível superioridade eleitoral da direita em todo o país. Isso vai pressionar o governo Lula mais à direita, em busca de apoio.

Assustados com o avanço da extrema direita, tende a se fortalecer na esquerda a posição de apoio incondicional ao governo Lula contra a ameaça da extrema direita, já que a direita tradicional foi engolida pelo bolsonarismo. Nas eleições presidenciais de 2026, a tendência é a polarização entre uma candidatura liberal de centro, representada por Lula ou Fernando Haddad, com apoio da centro esquerda e centro direita, e uma candidatura fascista, com apoio da direita e da extrema direita, representada por Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado ou quem vier.

Uma contratendência importante é o que ocorre na eleição municipal de São Paulo, onde o PT apoia Guilherme Boulos, candidato do PSol. Esse é o grande dilema do PT daqui para a frente: fazer aliança com a esquerda ou acompanhar Lula em sua busca de ganhar a direita liberal?

Diante disso, a esquerda não vai desaparecer, mas vai se enfraquecer, dividida em duas posições principais que já são visíveis no horizonte: (a) o apoio crítico ao Governo Lula com medo da extrema direita, mesmo com críticas às vezes maiores do que o apoio, e (b) a coerência com sua agenda tradicional, ensaiando os primeiros passos para uma alternativa de esquerda que, pelo menos no princípio, seria mais ideológica do que política.

O caminho para a esquerda superar esse impasse já foi apontado inúmeras vezes por muitos analistas: a esquerda em geral, principalmente os partidos, os movimentos sociais, os sindicatos e associações profissionais devem sair de suas respectivas bolhas e ir para a base, conversar e politizar suas tradicionais áreas de apoio, com frequência abandonadas. O mesmo vale para a base das igrejas evangélicas, onde estão pobres e oprimidos, vítimas fáceis dos pastores de direita.

Eis o dilema: Decifra-me ou te devoro! O que fará o PT? Vai acompanhar a liderança de Lula, que tem muito mais prestígio do que o seu partido, ou vai permanecer fiel aos valores de seu programa histórico? O PT vai se transformar num partido social democrata com políticas liberais repressivas no econômico e progressistas no social ou, coerente com sua história política, vai se afastar da caminhada de Lula para o centro e centro direita?

O presente texto não tem a intenção de ser afirmativo, muito menos de esgotar o assunto. O objetivo foi analisar algumas contradições e explorar tendências. Alguns traços importantes da conjuntura política já apontam em certas direções. Mas nada é pré-determinado, tudo depende da ação política e do confronto dos atores políticos em defesa de seus interesses. No caso do PT, há vozes discordantes no partido. A polifonia é benvinda.

¨      Governador do PT imita Tarcísio e anuncia privatização de empresa pública de água

A empresa pública Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa) está prestes a ser transferida para a iniciativa privada, conforme anunciado pelo governador Rafael Fonteles (PT).

A medida, que busca angariar pelo menos R$ 1 bilhão, foi revelada durante a primeira audiência pública sobre a privatização, realizada virtualmente e transmitida pelo YouTube.

Apesar dos mais de 60 anos de história da Agespisa, a empresa enfrenta uma crise prolongada, acumulando dívidas superiores a R$ 200 milhões, conforme informações do Marco Zero.

A audiência pública, ocorrida em 10 de abril, atraiu apenas 13 participantes, levantando preocupações entre entidades da sociedade civil sobre a transparência e o diálogo com a população.

O presidente do Sindicato dos Engenheiros do Piauí, Florentino Filho, destacou a falta de representatividade no evento e criticou a limitação das intervenções dos representantes sindicais.

Ele ressaltou que o processo não respeitou a consulta pública adequada, oferecendo apenas 14 dias para contestação de um relatório extenso de nove mil páginas.

“Não se pode considerar a legitimidade da audiência que não respeitou a consulta pública, que disponibilizou apenas 14 dias para contestação de um processo que tem nove mil páginas”, explicou.

Florentino Filho também expressou preocupação com os planos da empresa privada de aumentar as tarifas de água e esgoto.

Além disso, destacou a irregularidade da proposta de atribuir à Agrespi, agência reguladora do Estado, a responsabilidade pelo saneamento básico na zona rural.

“É inadmissível que a agência que regula e fiscaliza seja a mesma que vai executar os serviços de saneamento básico. Isso não existe, é ilegal”, disse.

O engenheiro também afirmou que vai “à Justiça questionar a ilegalidade observada na audiência pública por não cumprir seu papel. Faremos o que for possível para que a água continue sendo tratada como um bem público de todos piauienses e não como commodities”. 

A representante do Conselho de Direitos Humanos do Piauí, Carla Mata, questionou a metodologia da audiência virtual e criticou a falta de tempo para análise adequada do extenso relatório apresentado.

“É impossível se ler nove mil páginas do relatório que foi apresentado, quando se teve menos de uma semana para conhecer um estudo complexo como deve ser. Ou seja, ficou visível que a audiência foi meramente para cumprir formalidades que justifique juridicamente o processo”.

O Sindicato de Trabalhadores nas Indústrias Urbanas também enfatizou a necessidade de debates mais amplos e inclusivos sobre a privatização.

O secretário de Administração do Estado, Samuel Nascimento, presidiu a audiência e forneceu informações sobre o processo de leilão, agendado para agosto, com um lance mínimo de R$ 1 bilhão. Ele revelou que oito empresas já manifestaram interesse na privatização da Agespisa.

 

¨      Parlamentares brasileiros reúnem-se com Bernie Sanders no EUA: ‘Por uma Internacional Democrática Anti Facista’

 

A Frente Parlamentar pela Defesa da Democracia, comitiva formada por senadores e deputados brasileiros em missão nos Estados Unidos, se encontrou nesta quarta-feira (1º) com o senador Bernie Sanders, do Partido Democrata.

O político norte-americano é um dos nomes mais aclamados pela esquerda estadunidense.

O encontro foi compartilhado nas redes sociais pelo deputado federal Rogério Correia (PT-MG). “Com o senador Bernie Sanders no Capitólio, defendendo uma INTERNACIONAL DEMOCRÁTICA E ANTIFASCISTA, a partir dos atos violentos de 6 e 8 de janeiro e a experiência das investigações da CPI e CPMI das tentativas de golpe”, escreveu o petista no X (antigo Twitter).

Além de discutir os atos golpistas no Brasil, em 8 de janeiro de 2023, e no Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, o grupo também deve abordar a criação de canais para a troca de informações com parlamentares norte-americanos e uma frente internacional pela defesa da democracia.

A comitiva é liderada pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que foi relatora da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) de 8 de janeiro.

Outros membros da CPMI também integram a comitiva, como o senador Humberto Costa (PT-PE) e os deputados Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Rafael Brito (MDB-AL). O diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili, também está presente.

A viagem ocorre em meio à articulação internacional de lideranças e grupos de extrema direita.

Marcada para a próxima terça-feira (7), o Congresso norte-americano realizará uma audiência para discutir uma suposta crise da democracia no Brasil. A iniciativa faz parte de uma ofensiva internacional coordenada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para obter apoio às alegações de perseguição e censura no país.

¨      AMEAÇA À DEMOCRACIA: Eduardo Bolsonaro ostenta foto com neta de ministro de Hitler

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está em tour pela Europa para se reunir com figuras da extrema direita da região, publicou em seu perfil no Instagram uma foto com a deputada Beatrix von Storch, neta do ministro de Finanças de Adolf Hitler.

No texto que acompanha a foto, Eduardo Bolsonaro classifica Beatrix como "excelente deputada" e ainda compara a ascensão nazista com o atual momento histórico do Brasil.

"Reuni-me no Bundestag, o Congresso alemão, em Berlin com a excelente Deputada Beatrix von Storch e seu marido Sven. Os tempos estranhos atuais no Brasil lembram o incêndio do Congresso alemão em 1933, que foi a desculpa usada por HtL!€r para perseguir seus opositores", escreveu Eduardo Bolsonaro.

Além de ser neta de Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler, Beatrix é uma das lideranças do partido de Alternativa Para a Alemanha (AfD), que possui quadros neonazistas em suas fileiras.

Recentemente, o AfD foi alvo de manifestações na Alemanha que pediram o banimento da legenda. O motivo? A descoberta de reunião secreta entre nomes da extrema-direita e do neonazismo na Alemanha e na Europa, empresários, advogados, médicos e membros do partido ultradireitista AfD, em que foi discutido um plano para expulsar imigrantes e refugiados em massa do país.

O encontro em questão foi realizado em um hotel na cidade de Podstam, em novembro de 2023, e veio à tona na última semana a partir de reportagem do site de jornalismo investigativo Correctiv.

Ao menos 3 membros do AfD estiveram na reunião: Roland Hartwig, assessor de Alice Weidel, uma das líderes da legenda; o deputado Gerrit Huy e Ulrich Siegmund, presidente do grupo parlamentar regional do partido da Saxônia Anhalt.

 

¨      Noblat: O que é “bolsonarismo moderado” e quem melhor o representa hoje

 

A resposta é não. Não é possível contarmos com um “bolsonarismo moderado” que respeite os direitos humanos e seja devoto confesso da democracia tal como ela foi concebida, não necessariamente como se apresenta em grande parte do mundo. É possível, sim, contarmos com a direita, o centro e a esquerda não extremistas.

O bolsonarismo, como vimos nos últimos quatro anos de um presidente acidental, alimenta-se do ódio e da violência, não ama a vida a não ser dos que se identificam com ele, despreza os pobres, aprofunda as desigualdades e defende a derrubada do que chama de “sistema” para pôr no lugar o que de fato lhe interessa – um regime autoritário.

Sem mais, Bolsonaro sempre defendeu a tortura e a ditadura militar de 64 da qual se sente órfão. Os ditos liberais que o serviram no governo e no Congresso podem não ter tido a coragem de defender a tortura e a ditadura com o desassombro que ele fez, mas sabiam perfeitamente a quem serviam, e para o quê.

Uma pequena amostra disso foi dada em julho de 2022, a menos de três meses do primeiro turno das eleições daquele ano, quando Bolsonaro reuniu seus ministros no Palácio do Planalto para dizer que seria derrotado se nada de extraordinário acontecesse antes. Era a proposta de golpe oferecida sem nenhum disfarce.

Quantos ali descartaram a proposta sem hesitar? Quantos se levantaram de suas cadeiras, foram embora e em seguida pediram demissão? Nenhum. Passado o susto inicial, todos concordaram ou não ousaram discordar. A reunião foi adiante como se nada de anormal estivesse em pauta. Quem ali não estava, ficou sabendo depois.

Ocorre que a direita dita civilizada e democrática há muito tempo carece de votos para eleger seus representantes. Votou em Bolsonaro porque quis acreditar que poderia cavalgá-lo, e que mais tarde o domaria. Não lhe restava outro caminho para impedir mais uma vitória das forças da esquerda, apesar de Lula estar preso.

Resultado: não o cavalgou, muito menos domou. E por muito pouco, Bolsonaro não se reelegeu. Sem votos, outra vez a direita precisa dele para colapsar o atual governo e barrar sua continuidade em 2026. Bolsonaro está inelegível por oito anos. Certamente será condenado e preso. Mas, dentro da prisão, poderá ainda ser muito útil.

Daí a construção do “bolsonarismo moderado”, uma contradição em termos para enganar os mais desatentos ou os que votam em quem seu senhorio manda. Bolsonaro está para essa direita como os militares, no passado, estiveram para a velha UDN; ela, também sem votos, apelava sucessivamente para golpes.

Apoiou o golpe militar que acabou em 1945 com a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, que chegara ao poder em 1930 na crista de um golpe militar. Apoiou em 1954 o golpe que só não derrubou Getúlio eleito pelo voto popular porque Getúlio matou-se. Tudo fez para que Juscelino Kubitschek não tomasse posse em 1956.

Jânio Quadros, um populista de porre, foi invenção da direita que se elegeu em 1960, mas que renunciou seis meses depois pensando em voltar nos braços do povo e com um Congresso enfraquecido. João Goulart, o vice que assumiu o lugar de Jânio, era indigesto para a direita que, para livrar-se dele, apoiou o golpe de 64.

A direita, sob a democracia, só voltou a provar o gostinho da vitória em 1989, ao eleger presidente um falso brilhante, Fernando Collor. Acusado de corrupção, Collor terminou cassado. Os arautos do bolsonarismo moderado sonham com outro falso brilhante, Tarcísio de Freitas, descrito por Bolsonaro como “uma pessoa fantástica”.

Sim, é o mesmo Tarcísio, governador de São Paulo, que descreve o padrinho como um estadista que “garantiu a segurança do campo”; o mesmo que loteou o governo entre militares, entregou o comando das polícias para a bancada da bala e cunhou a frase que marcará para sempre sua administração:

“O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que eu não tô nem aí”.

Sem máscara, o “bolsonarismo moderado” é isso aí.

 

Fonte: A Terra é Redonda/O Cafezinho/DCM/Fórum/Metrópoles

 

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