Liszt Vieira: O que fará o PT?
A extrema direita
avança no Brasil e em quase todo o mundo. Nos EUA, o governo de Joe Biden
passou de dominador à posição de vítima de sua dominação em relação ao governo
de Israel que hoje pauta o governo norte-americano. Os protestos e
manifestações contra o genocídio em Gaza nas principais Universidades
norte-americanas, bem como as manifestações em toda a Europa, são um sinal
forte da perda de apoio eleitoral de Joe Biden. O apoio militar e político ao
massacre dos palestinos por Israel tende a favorecer Donald Trump, no plano
interno, e Vladimir Putin, no plano internacional. Donald Trump apoia a extrema
direita em toda a parte, e Vladimir Putin apoia a extrema direita na Europa.
No Brasil, para
garantir a governabilidade, o governo Lula fez concessões à direita. O atual
governo reúne a centro esquerda, sem poder, e a centro direita e a direita, com
poder. É um governo fraco, conseguiu algumas poucas vitórias a preço de fortes
concessões ao mercado, aos militares e aos parlamentares de direita do baixo
clero, o chamado “Centrão”.
Como afirmou Frei
Betto em seu excelente artigo de maio de 2023 “Políticas sociais mudam a cabeça
do povo?”, a resposta a essa pergunta é não. Os avanços alcançados com uma
política social progressista não se traduzem necessariamente em votos. Em seu
artigo, ele lembra que ”o Brasil conheceu 13 anos de governos do PT que
asseguraram à população de baixa renda vários benefícios: Bolsa Família;
salário mínimo corrigido anualmente acima da inflação; Luz para Todos; Minha
casa, Minha vida; FIES; cota nas universidades; redução drástica da miséria, da
pobreza e do desemprego; aumento da escolaridade etc. No entanto, Dilma
Rousseff foi derrubada sem que o povo fosse às ruas defender o governo. E Jair
Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. Em 2022, perdeu para Lula pela
diferença de apenas dois milhões de votos, de um total de 156 milhões de
eleitores”.
Depois desse artigo de
Frei Betto, a novidade é que, como ocorre no governo Lula e no governo Biden,
os avanços econômicos, assim como os sociais, também não se traduzem em votos.
As variáveis macro econômicas – PIB, renda, emprego etc. – têm pouca ou nenhuma
influência sobre o comportamento do eleitorado, mais influenciado pelo preço
dos alimentos do que por qualquer outro fator econômico. E principalmente
influenciado pela rejeição ao mundo político institucional, pela crítica ao
“sistema”, típica do discurso reducionista da extrema direita. E Lula, agora, é
o “sistema”.
Assim, os benefícios
econômicos e sociais trazidos pelo atual governo, em troca de concessões aos
empresários, militares e parlamentares de direita, não geram necessariamente
apoio eleitoral. Na eleição de 2022, Lula teve uma vitória eleitoral, mas não uma
vitória política. O governo Lula implementa uma política econômica conservadora
e uma política social progressista, embora reprimindo algumas reivindicações
populares.
Respeitando os dogmas
do neoliberalismo, como déficit zero e austeridade fiscal, o ministro Fernando
Haddad, com seu perfil de PSDB clássico, cumpre hoje um papel igual ao dos
ministros conservadores do passado. Fernando Haddad defende principalmente os interesses
do mercado financeiro e do agronegócio, e nega aumento de salário para
funcionários públicos e diversas categorias como, por exemplo, os professores.
E o PT segue atrás, em nome do combate à extrema direita.
Nesse quadro que vem
se consolidando, o PT tende a se transformar naquele PSDB do passado que se
dizia social democrata, mas apoiava o neoliberalismo? Saberemos provavelmente
depois das próximas eleições municipais com a previsível superioridade eleitoral
da direita em todo o país. Isso vai pressionar o governo Lula mais à direita,
em busca de apoio.
Assustados com o
avanço da extrema direita, tende a se fortalecer na esquerda a posição de apoio
incondicional ao governo Lula contra a ameaça da extrema direita, já que a
direita tradicional foi engolida pelo bolsonarismo. Nas eleições presidenciais
de 2026, a tendência é a polarização entre uma candidatura liberal de centro,
representada por Lula ou Fernando Haddad, com apoio da centro esquerda e centro
direita, e uma candidatura fascista, com apoio da direita e da extrema direita,
representada por Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado ou quem vier.
Uma contratendência
importante é o que ocorre na eleição municipal de São Paulo, onde o PT apoia
Guilherme Boulos, candidato do PSol. Esse é o grande dilema do PT daqui para a
frente: fazer aliança com a esquerda ou acompanhar Lula em sua busca de ganhar
a direita liberal?
Diante disso, a
esquerda não vai desaparecer, mas vai se enfraquecer, dividida em duas posições
principais que já são visíveis no horizonte: (a) o apoio crítico ao Governo
Lula com medo da extrema direita, mesmo com críticas às vezes maiores do que o
apoio, e (b) a coerência com sua agenda tradicional, ensaiando os primeiros
passos para uma alternativa de esquerda que, pelo menos no princípio, seria
mais ideológica do que política.
O caminho para a
esquerda superar esse impasse já foi apontado inúmeras vezes por muitos
analistas: a esquerda em geral, principalmente os partidos, os movimentos
sociais, os sindicatos e associações profissionais devem sair de suas
respectivas bolhas e ir para a base, conversar e politizar suas tradicionais
áreas de apoio, com frequência abandonadas. O mesmo vale para a base das
igrejas evangélicas, onde estão pobres e oprimidos, vítimas fáceis dos pastores
de direita.
Eis o dilema:
Decifra-me ou te devoro! O que fará o PT? Vai acompanhar a liderança de Lula,
que tem muito mais prestígio do que o seu partido, ou vai permanecer fiel aos
valores de seu programa histórico? O PT vai se transformar num partido social
democrata com políticas liberais repressivas no econômico e progressistas no
social ou, coerente com sua história política, vai se afastar da caminhada de
Lula para o centro e centro direita?
O presente texto não
tem a intenção de ser afirmativo, muito menos de esgotar o assunto. O objetivo
foi analisar algumas contradições e explorar tendências. Alguns traços
importantes da conjuntura política já apontam em certas direções. Mas nada é
pré-determinado, tudo depende da ação política e do confronto dos atores
políticos em defesa de seus interesses. No caso do PT, há vozes discordantes no
partido. A polifonia é benvinda.
¨ Governador do PT imita Tarcísio e anuncia privatização de
empresa pública de água
A empresa
pública Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa) está prestes a ser
transferida para a iniciativa privada, conforme anunciado pelo governador Rafael
Fonteles (PT).
A medida, que busca
angariar pelo menos R$ 1 bilhão, foi revelada durante a primeira audiência
pública sobre a privatização, realizada virtualmente e transmitida
pelo YouTube.
Apesar dos mais de 60
anos de história da Agespisa, a empresa enfrenta uma crise prolongada,
acumulando dívidas superiores a R$ 200 milhões, conforme informações
do Marco Zero.
A audiência pública,
ocorrida em 10 de abril, atraiu apenas 13 participantes, levantando
preocupações entre entidades da sociedade civil sobre a transparência e o
diálogo com a população.
O presidente do
Sindicato dos Engenheiros do Piauí, Florentino Filho, destacou a falta de
representatividade no evento e criticou a limitação das intervenções dos
representantes sindicais.
Ele ressaltou que o
processo não respeitou a consulta pública adequada, oferecendo apenas 14 dias
para contestação de um relatório extenso de nove mil páginas.
“Não se pode
considerar a legitimidade da audiência que não respeitou a consulta
pública, que disponibilizou apenas 14 dias para contestação de um processo que
tem nove mil páginas”, explicou.
Florentino Filho
também expressou preocupação com os planos da empresa privada de aumentar as
tarifas de água e esgoto.
Além disso, destacou a
irregularidade da proposta de atribuir à Agrespi, agência reguladora do Estado,
a responsabilidade pelo saneamento básico na zona rural.
“É inadmissível que a
agência que regula e fiscaliza seja a mesma que vai executar os serviços de
saneamento básico. Isso não existe, é ilegal”, disse.
O engenheiro também
afirmou que vai “à Justiça questionar a ilegalidade observada na audiência
pública por não cumprir seu papel. Faremos o que for possível para que a água
continue sendo tratada como um bem público de todos piauienses e não como
commodities”.
A representante do
Conselho de Direitos Humanos do Piauí, Carla Mata, questionou a metodologia da
audiência virtual e criticou a falta de tempo para análise adequada do extenso
relatório apresentado.
“É impossível se
ler nove mil páginas do relatório que foi apresentado, quando se teve
menos de uma semana para conhecer um estudo complexo como deve ser. Ou seja,
ficou visível que a audiência foi meramente para cumprir formalidades que
justifique juridicamente o processo”.
O Sindicato de
Trabalhadores nas Indústrias Urbanas também enfatizou a necessidade de
debates mais amplos e inclusivos sobre a privatização.
O secretário de
Administração do Estado, Samuel Nascimento, presidiu a audiência e forneceu
informações sobre o processo de leilão, agendado para agosto, com um lance
mínimo de R$ 1 bilhão. Ele revelou que oito empresas já manifestaram
interesse na privatização da Agespisa.
¨ Parlamentares brasileiros reúnem-se com Bernie Sanders no EUA:
‘Por uma Internacional Democrática Anti Facista’
A Frente Parlamentar
pela Defesa da Democracia, comitiva formada por senadores e deputados
brasileiros em missão nos Estados Unidos, se encontrou nesta quarta-feira (1º)
com o senador Bernie Sanders, do Partido Democrata.
O político
norte-americano é um dos nomes mais aclamados pela esquerda estadunidense.
O encontro foi
compartilhado nas redes sociais pelo deputado federal Rogério Correia (PT-MG).
“Com o senador Bernie Sanders no Capitólio, defendendo uma INTERNACIONAL
DEMOCRÁTICA E ANTIFASCISTA, a partir dos atos violentos de 6 e 8 de janeiro e a
experiência das investigações da CPI e CPMI das tentativas de golpe”, escreveu
o petista no X (antigo Twitter).
Além de discutir os
atos golpistas no Brasil, em 8 de janeiro de 2023, e no Capitólio, em 6 de
janeiro de 2021, o grupo também deve abordar a criação de canais para a troca
de informações com parlamentares norte-americanos e uma frente internacional
pela defesa da democracia.
A comitiva é liderada
pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que foi relatora da CPMI (Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito) de 8 de janeiro.
Outros membros da CPMI
também integram a comitiva, como o senador Humberto Costa (PT-PE) e os
deputados Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Rafael
Brito (MDB-AL). O diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério
Sottili, também está presente.
A viagem ocorre em
meio à articulação internacional de lideranças e grupos de extrema direita.
Marcada para a próxima
terça-feira (7), o Congresso norte-americano realizará uma audiência para discutir uma suposta crise da democracia no
Brasil. A iniciativa faz parte de uma ofensiva
internacional coordenada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) para
obter apoio às alegações de perseguição e censura no país.
¨ AMEAÇA À DEMOCRACIA: Eduardo Bolsonaro ostenta foto com neta de
ministro de Hitler
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está em tour pela Europa para se reunir com
figuras da extrema direita da região, publicou em seu perfil no Instagram uma
foto com a deputada Beatrix von Storch, neta do ministro de Finanças de Adolf Hitler.
No texto que acompanha
a foto, Eduardo Bolsonaro classifica Beatrix como "excelente
deputada" e ainda compara a ascensão nazista com o atual momento histórico
do Brasil.
"Reuni-me no
Bundestag, o Congresso alemão, em Berlin com a excelente Deputada Beatrix von
Storch e seu marido Sven. Os tempos estranhos atuais no Brasil lembram o
incêndio do Congresso alemão em 1933, que foi a desculpa usada por HtL!€r para
perseguir seus opositores", escreveu Eduardo Bolsonaro.
Além de ser neta de
Lutz Graf Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Hitler, Beatrix é uma
das lideranças do partido de Alternativa Para a Alemanha (AfD), que possui quadros neonazistas em suas fileiras.
Recentemente, o AfD foi alvo de
manifestações na Alemanha que pediram o banimento da legenda. O motivo? A descoberta de reunião secreta entre nomes da
extrema-direita e do neonazismo na Alemanha e na Europa, empresários,
advogados, médicos e membros do partido ultradireitista AfD, em que foi
discutido um plano para expulsar imigrantes e refugiados em massa do país.
O encontro em questão
foi realizado em um hotel na cidade de Podstam, em novembro de 2023, e veio à
tona na última semana a partir de reportagem do site de jornalismo
investigativo Correctiv.
Ao menos 3 membros do
AfD estiveram na reunião: Roland Hartwig, assessor de Alice Weidel, uma das
líderes da legenda; o deputado Gerrit Huy e Ulrich Siegmund, presidente do
grupo parlamentar regional do partido da Saxônia Anhalt.
¨ Noblat: O que é “bolsonarismo moderado” e quem melhor o
representa hoje
A resposta é não. Não
é possível contarmos com um “bolsonarismo moderado” que respeite os direitos
humanos e seja devoto confesso da democracia tal como ela foi concebida, não necessariamente
como se apresenta em grande parte do mundo. É possível, sim, contarmos com a
direita, o centro e a esquerda não extremistas.
O bolsonarismo, como
vimos nos últimos quatro anos de um presidente acidental, alimenta-se do ódio e
da violência, não ama a vida a não ser dos que se identificam com ele, despreza
os pobres, aprofunda as desigualdades e defende a derrubada do que chama de
“sistema” para pôr no lugar o que de fato lhe interessa – um regime
autoritário.
Sem mais, Bolsonaro
sempre defendeu a tortura e a ditadura militar de 64 da qual se sente órfão. Os
ditos liberais que o serviram no governo e no Congresso podem não ter tido a
coragem de defender a tortura e a ditadura com o desassombro que ele fez, mas
sabiam perfeitamente a quem serviam, e para o quê.
Uma pequena amostra
disso foi dada em julho de 2022, a menos de três meses do primeiro turno das
eleições daquele ano, quando Bolsonaro reuniu seus ministros no Palácio do
Planalto para dizer que seria derrotado se nada de extraordinário acontecesse
antes. Era a proposta de golpe oferecida sem nenhum disfarce.
Quantos ali
descartaram a proposta sem hesitar? Quantos se levantaram de suas cadeiras,
foram embora e em seguida pediram demissão? Nenhum. Passado o susto inicial,
todos concordaram ou não ousaram discordar. A reunião foi adiante como se nada
de anormal estivesse em pauta. Quem ali não estava, ficou sabendo depois.
Ocorre que a direita
dita civilizada e democrática há muito tempo carece de votos para eleger seus
representantes. Votou em Bolsonaro porque quis acreditar que poderia
cavalgá-lo, e que mais tarde o domaria. Não lhe restava outro caminho para
impedir mais uma vitória das forças da esquerda, apesar de Lula estar preso.
Resultado: não o
cavalgou, muito menos domou. E por muito pouco, Bolsonaro não se reelegeu. Sem
votos, outra vez a direita precisa dele para colapsar o atual governo e barrar
sua continuidade em 2026. Bolsonaro está inelegível por oito anos. Certamente será
condenado e preso. Mas, dentro da prisão, poderá ainda ser muito útil.
Daí a construção do
“bolsonarismo moderado”, uma contradição em termos para enganar os mais
desatentos ou os que votam em quem seu senhorio manda. Bolsonaro está para essa
direita como os militares, no passado, estiveram para a velha UDN; ela, também
sem votos, apelava sucessivamente para golpes.
Apoiou o golpe militar
que acabou em 1945 com a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas, que chegara
ao poder em 1930 na crista de um golpe militar. Apoiou em 1954 o golpe que só
não derrubou Getúlio eleito pelo voto popular porque Getúlio matou-se. Tudo fez
para que Juscelino Kubitschek não tomasse posse em 1956.
Jânio Quadros, um
populista de porre, foi invenção da direita que se elegeu em 1960, mas que
renunciou seis meses depois pensando em voltar nos braços do povo e com um
Congresso enfraquecido. João Goulart, o vice que assumiu o lugar de Jânio, era
indigesto para a direita que, para livrar-se dele, apoiou o golpe de 64.
A direita, sob a
democracia, só voltou a provar o gostinho da vitória em 1989, ao eleger
presidente um falso brilhante, Fernando Collor. Acusado de corrupção, Collor
terminou cassado. Os arautos do bolsonarismo moderado sonham com outro falso
brilhante, Tarcísio de Freitas, descrito por Bolsonaro como “uma pessoa
fantástica”.
Sim, é o mesmo
Tarcísio, governador de São Paulo, que descreve o padrinho como um estadista
que “garantiu a segurança do campo”; o mesmo que loteou o governo entre
militares, entregou o comando das polícias para a bancada da bala e cunhou a
frase que marcará para sempre sua administração:
“O pessoal
pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que eu não tô nem
aí”.
Sem máscara, o
“bolsonarismo moderado” é isso aí.
Fonte: A Terra é
Redonda/O Cafezinho/DCM/Fórum/Metrópoles
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