Reencarnação
no mundo: uma ideia disseminada
Onde estão
as pessoas que acreditam em reencarnação hoje em dia? O quadro a seguir,
baseado em texto de Jim Tucker (o pesquisador que tem dado sequência ao
trabalho de Ian Stevenson na Universidade de Virgínia), fornece uma panorâmica
a respeito dessas comunidades e das principais semelhanças e diferenças que
seus conceitos de reencarnação apresentam.
• Hinduísmo
Para os
hinduístas, a alma é imortal; após a morte, passa um tempo variável em outro
plano de existência e depois retorna, associada a outro corpo. As condições nas
quais o ser nasce são derivadas de seu carma, ou o resultado de sua conduta nas
suas vidas anteriores. Por isso, é possível reencarnar como vegetal ou animal,
ou com sexo diferente do experimentado na encarnação anterior. A vida na Terra
é considerada indesejável, e para não voltar a este plano o ser deve seguir
determinados preceitos religiosos. Quando atinge o grau evolutivo em que suas
ações só resultam em conseqüências positivas, o indivíduo interrompe o ciclo de
renascimentos e se une em definitivo ao mundo espiritual (nirvana).
• Budismo
O conceito
de reencarnação budista é derivado do hinduísmo, com algumas diferenças. O
budismo theravada (mais comum no sul da Ásia) propõe a doutrina de anatta, pela
qual a morte encerra a existência de um ser, mas serve de base para o
nascimento de um outro, primeiramente em um plano não-material e depois no
reino terrestre. A lei de ação e reação, ou carma, também interfere nesse
ciclo, motivo pelo qual os budistas preferem falar em renascimento, em vez de
reencarnação. As vidas podem se suceder por vastos períodos de tempo, e nelas
também pode haver nascimento com troca de sexo ou em forma não humana
(inclusive como deuses, que para Buda têm existência transitória). A ruptura
desse ciclo e a conseqüente chegada ao nirvana só vêm quando todos os vícios são
dominados.
• Xiismo muçulmano
Alguns
grupos de muçulmanos da Ásia ocidental, como os drusos (Líbano) e os alevitas
(Turquia), adotam um conceito de reencarnação que não envolve carma nem a
possibilidade de renascimento como um ser do outro sexo. Para essas correntes,
Deus estabelece que as almas viverão uma série de existências em circunstâncias
diversas, as quais não têm relação de causa e efeito entre si; no dia do
Julgamento Final, Deus analisa as ações realizadas nessas diferentes
encarnações e destina então o indivíduo para o céu ou o inferno. Para os
drusos, não há estado intermediário entre uma vida e outra; a reencarnação
ocorre logo depois da morte do corpo anterior, e sempre no seio da comunidade
drusa. Os alevitas aceitam a possibilidade de o indivíduo reencarnar em forma
não humana.
• Judaísmo e cristianismo
A
reencarnação não é aceita nas correntes majoritárias judaicas e cristãs. Mas a
cabala (conjunto de ensinamentos baseados na interpretação esotérica dos textos
sagrados hebraicos) abrange esse conceito, partilhado pelos judeus hassídicos.
Seitas cristãs primitivas, como os gnósticos, também adotavam a ideia de
reencarnação, baseadas em passagens dos Evangelhos de Mateus e de Marcos nos
quais Jesus diria que João Batista era a reencarnação do profeta Elias e no
trecho do Evangelho de João em que Jesus conversa com Nicodemos sobre a
necessidade de “nascer de novo”. Banida do cristianismo no Concílio de
Constantinopla, em 553 d.C., a reencarnação só voltaria aos domínios cristãos
pelo espiritismo, no século 19.
• Espiritismo
Essa
corrente nascida no século 19 do trabalho de codificação do educador e escritor
francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) mostra forte influência
oriental e da filosofia grega em seu conceito de reencarnação. Também aqui a
alma é imortal e faz sua jornada da ignorância à perfeição espiritual por meio
de inúmeras vidas no plano material. A reencarnação não é necessariamente
imediata; há um período entre vidas, denominado intermissão, com duração
variável. As condições da existência atual são explicadas pelo carma produzido
em vidas anteriores. Uma vez atingido o estágio humano, não se volta mais à
matéria como animal ou vegetal; a troca de sexos, porém, é possível.
• África Ocidental
Diversos
povos do oeste da África acreditam em reencarnação e, ao contrário dos hindus e
budistas, consideram que a vida na matéria é preferível àquela em outro plano
de existência. Para esses grupos, os indivíduos geralmente renascem na mesma
família e suas almas podem se dividir simultaneamente em vários seres que
renascem. Muitos desses povos adotam a ideia de “crianças repetidoras”, pela
qual uma alma perturbaria uma família reencarnando e morrendo sempre como um
bebê ou uma criança pequena. Alguns desses grupos aceitam a noção de
reencarnações não humanas.
• Índios norte-americanos e inuits
Os inuits
(antes chamados de esquimós) e outras tribos norte-americanas situadas no norte
e no noroeste do continente americano também adotam a reencarnação, embora haja
numerosas diferenças de crença entre esses povos. Alguns, por exemplo, aceitam
a mudança de sexo; outros, as reencarnações em forma não humana; um terceiro
grupo, tal como os africanos ocidentais, acredita que a mesma alma pode
reencarnar simultaneamente em diversos corpos. Muitos não consideram que todos
os indivíduos têm de renascer; nesse sentido, sua atenção está mais voltada
para pessoas que têm morte prematura, como crianças que renascem na mesma
família ou guerreiros que reencarnam com marcas de nascença associadas a seus
ferimentos.
Fonte:
Planeta
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