quarta-feira, 23 de abril de 2025

Peixe morre pela boca: Bolsonaro confessa que "por estranha coincidência" será beneficiado pelo PL da Anistia

Cerca de um ano após negociar os votos da bancada do PL para eleição de Hugo Motta na Presidência da Câmara em troca de colocar na pauta o PL da Anistia e convocar atos para aprovação da proposta, Jair Bolsonaro (PL) confessou na noite desta segunda-feira (22), em entrevista ao SBT, que "por coincidência" será beneficiado pela projeto de Lei.

Para ludibriar apoiadores, o ex-presidente e seus aliados no Congresso pregam que o PL da Anistia é para tirar da prisão "pobres coitados" que participaram da destruição do Congresso, do Palácio do Planalto e do edifício sede do Supremo Tribunal Federal (STF) em 8 de Janeiro de 2023.

"O que interessa para mim é colocar na rua, dar liberdade a esses pobres coitados. Dezenas deles estão presos apenas até 17 anos de cadeia. Outros estão foragidos pelo mundo e outros estão aguardando julgamento pelo Brasil", reiterou Bolsonaro em entrevista a Cesar Filho, no Jornal do SBT, de dentro da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital DF Star, em Brasília.

No entanto, o ex-presidente acabou escorregando nas palavras, lembrou que foi incluído no processo dos atos do 8 de Janeiro e confessou que, "por coincidência", poderá pegar carona na anistia e se livrar da prisão.

"Porque lá atrás queriam colocar no projeto da anistia do 8 de janeiro a questão da inelegibilidade. Eu fechei com a gestão do meu partido, tivemos 90 e poucos deputados na época, para eu não entrar nesse projeto da anistia. E assim foi feito. E agora, por coincidência, eu estou dentro desse processo da anistia também", confessou Bolsonaro, usando a condenação de inelegibilidade, decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para disfarçar a declaração.

Antes, Bolsonaro dramatizou a situação dizendo que responde também por "deterioração do patrimônio tombado", mas que estava nos EUA na data do quebra-quebra. O que o ex-presidente não diz é que, como líder da organização golpista, ele era responsável por incitar os acampamentos em frente aos quartéis-generais, bloqueios de estradas, que desencadearam no 8 de janeiro.

•        Bolsonaro deliria em entrevista no hospital: "Sou o maior líder da direita mundial"

Mesmo internado na UTI do Hospital DF Star, em Brasília, Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista, nesta segunda-feira (21), na qual afirmou ser "o maior líder da direita na América do Sul, quem sabe... mundial".

O vídeo, transmitido pelo SBT, mostra Bolsonaro visivelmente abatido, mas insistindo em narrativas já conhecidas de sua base de apoio. “Eu sempre deixo um espaço reservado àquela pessoa que eu devo muita gratidão, que é o Donald Trump", declarou ainda.

Na mesma fala, Bolsonaro disparou contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e reforçou a teoria de que sofre perseguição judicial. Segundo ele, o "lawfare" — termo que se refere ao uso da justiça para fins políticos — estaria sendo usado para afastar lideranças de direita no mundo: “O mundo todo está marchando para a direita. E quando não consegue, como na França com Marine Le Pen, usam o ativismo judicial para afastar nomes da direita".

A entrevista ocorre em meio ao agravamento de seu estado de saúde. Internado desde 11 de abril, Bolsonaro passou por uma cirurgia de 12 horas no intestino, consequência da facada sofrida em 2018. Segundo o boletim médico mais recente, ele permanece em jejum oral, se alimenta por via intravenosa e não há previsão de alta.

Apesar do quadro clínico delicado, Bolsonaro tratou de política e voltou a se apresentar como candidato nas eleições de 2026, apesar de estar inelegível: “Eleições em 26, sem a presença de Jair Bolsonaro, é uma negação à democracia".

Ele também atacou o processo de inelegibilidade que enfrenta: “Estou inelegível porque me reuni com embaixadores e subi num carro de som do pastor Silvio Malafaia. Um absurdo dos absurdos".

<><> Delírio

A entrevista foi marcada por declarações que chamaram atenção nas redes sociais. Em tom quase messiânico, Bolsonaro declarou que a direita brasileira aprendeu “o que é política, o que é família, o que temos que defender: a propriedade privada, o legítimo direito à defesa”. E concluiu: “Até o pessoal da esquerda, reservadamente, concorda com isso.”

Na conversa, também descartou temer ser preso: “Não tenho medo. Que dano é esse que causei se estava fora do Brasil? Golpe de Estado sem liderança, sem tropas, sem armas, em um domingo e sem presidente para destituí-lo?”

•        Bolsonaro não entende e usa crítica de Antonio Fagundes como elogio

Da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital DF Star, Jair Bolsonaro (PL) segue na sua cruzada nas redes sociais para propagar fake news e discursos de ódio para incitar a horda de apoiadores.

Neste domingo (21), no entanto, o ex-presidente mostrou certa confusão ao interpretar um print compartilhado do site Pleno News, da bancada evangélica, sobre entrevista do ator Antônio Fagundes.

A imagem mostra apenas a chamada: "Antônio Fagundes sobre Bolsonaro: 'eleito para destruir a tolerância". Rapidamente, o ex-presidente compartilhou nas redes e, de forma confusa, elogiou o ator, dando a entender que seria um elogio. "Um bom ator! Um forte abraço!"

No entanto, a própria reportagem da Pleno News, que utilizou uma entrevista de Fagundes à Folha de S.Paulo, diz que o ator "fez críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos seus apoiadores".

"Sobre a eleição do ex-presidente, o ator disse que ela representa o paradoxo da tolerância, conceito do filósofo Karl Popper. 'Você é tão tolerante que você permite que um cara seja eleito para destruir a tolerância'", diz o texto no site, mostrando a crítica do ator.

<><> Críticas a Bolsonaro e à Globo

Aos 76 anos, 44 deles vivido na Globo, o ator Antonio Fagundes diz ver com preocupação o momento atual, com líderes extremistas como Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, ao afirmar que "artista não pode ter carteirinha" para não se assemelhar a uma torcida de futebol ou uma seita.

"Mesmo quando a pessoa está dizendo [o que vai fazer], ele [o cidadão] não ouve mais. É só 'é o mito, é o mito'. O que quer dizer isso? Quer dizer que ele pode falar o que quiser, que eu não estou ouvindo. Estou seguindo palavras de ordem. Isso é ruim para qualquer ideologia", disse em entrevista divulgada neste domingo (20) pela Folha de S.Paulo.

Fagundes justifica a tese alegando que ao participar de uma seita ou de torcida "você deixa de pensar". "Acho que a gente está vivendo um período em que temos que trazer a inteligência de volta", emenda, ressaltando que vê Bolsonaro e Trump como pessoas infelizes "e quem é triste, espalha essa tristeza, né".

O ator, que estreou a peça Dois de Nós, em que divide o palco com esposa, Alexandra Martins, e os amigos Christiane Torloni e Thiago Fragoso, acredita que o recrudescimento do neofascismo está relacionado ao destaque que o movimento progressista teve nos últimos anos.

"O que aconteceu é que parte da população, da cultura se voltou para as coisas boas que estavam aparecendo, para a igualdade, para resolver os problemas sociais, para acabar com a desigualdade econômica, para criar amparos, para fortalecer a educação", diz.

"É que agora eles estão com o poder da palavra. Como diz o Umberto Eco, a internet deu voz aos imbecis. Eles estão aí de novo aparecendo, mas não acredito que sejam a maioria não. Acho que, como está tendo o refluxo para eles, vai ter o refluxo para gente [os progressistas] depois", emenda, aos risos.

O ator ainda tece críticas sobre sua saída da Globo. Ele rompeu o contrato quando a emissora da família Marinho não deu espaço para que ele fizesse suas peças - gravando as produções apenas às segundas, terças e quartas-feiras.

"Eu levei 44 anos para me especializar. Quando atingi o auge da minha especialização, eles mudaram o processo de produção. Perderam o investimento deles. Perderam o patrimônio deles", diz Fagundes, que afirma que atuava como "máquina" na emissora.

"Alguns colegas de teatro reclamavam sobre a TV, dizendo 'eu não sou máquina'. Eu não. Eu queria ser máquina, queria ser a máquina mais perfeita daquele processo".

Ele afirma que isso se deu justamente por se especializar, o que lhe permitiu decorar textos na hora.

"Vivi o melhor dos mundos, porque não levava trabalho para casa. Enquanto meus colegas estavam todos trancados, decorando [as falas], eu ia passear, ficava com a minha família, tinha fim de semana, podia fazer meu teatro, cinema", conta.

•        Os tempos sombrios e o bolsonarismo em Santa Catarina

O estado de Santa Catarina parece ser uma espécie de local privilegiado para os experimentos políticos da extrema-direita. Em poucos dias, foram divulgadas duas de suas ações de perseguição e coerção, tanto atacando os movimentos sociais como a autonomia das universidades.

A primeira dessas ações foi a lei em torno do chamado “Abril Amarelo”, por parte do governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). Essa iniciativa, em oposição à campanha Abril Vermelho organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em defesa da reforma agrária, coloca em foco “ações de conscientização sobre a importância da defesa da propriedade privada”.

A lei, oriunda de um projeto de lei apresentado pelo deputado Oscar Gutz (PL), vai além da mera propaganda ideológica de defesa da propriedade privada. Em um de seus artigos, fala da “importância da união de proprietários de terra, produtores vizinhos, amigos e família para montar acampamento permanente para evitar a invasão”. A lei também indica a “conscientização quanto a comunicação das autoridades policiais no caso de avistar movimentações de invasão de propriedades privadas”.

Concretamente, travestido de uma efeméride, sugere-se à população agir no sentido de combater eventuais ações que atentem contra a propriedade privada, seja comunicando a polícia, seja estabelecendo locais de vigília por contra própria. O decreto apenas não fala em armamento dessas milícias, mas, por certo, deixa subentendido que as pessoas têm direito a proteger, da forma que for, sua propriedade.

O outro experimento autoritário passa pela perseguição franca e aberta à liberdade de cátedra das universidades. Em evento de formatura dos cursos do Centro Educação da Udesc, o paraninfo, professor Reinaldo Lohn, fez alusão em seu discurso aos “tempos sombrios” que se tem vivido nos últimos anos e chamou de golpe a intentona bolsonarista de 8 de janeiro de 2023.

Essa fala levou a que fosse enviada para a Udesc, por iniciativa do deputado Alex Brasil (PL), uma correspondência da Assembleia Legislativa questionado sobre medidas a serem adotadas “em virtude da conduta do professor”. O documento ainda fala em respeito à “pluralidade de opiniões e o caráter apartidário da instituição”, o que soa no mínimo hipócrita vindo do representante de um partido que não respeita o resultado das urnas da eleição de 2022.

Essa ação do parlamentar busca atentar contra a autonomia da universidade, um espaço plural em que as posições divergentes são expostas e discutidas aberta e respeitosamente e na qual nenhuma das opiniões pode ser tolhida. O professor em questão, reconhecido pesquisador do tema a que fez alusão, em seu discurso não emitiu opiniões sobre o assunto, mas expôs conclusões de suas pesquisas realizadas há décadas. Essas pesquisas são respeitadas e reconhecidas em âmbito nacional e internacional, mesmo que talvez o deputado ignore esse fato e se limite a emitir falácias oriundas do senso comum.

Reinaldo não fez outra coisa que não ser um historiador que, vivendo seu tempo, analisa os processos em curso, como parte do campo da chamada do Tempo Presente. Não há nenhuma dúvida sobre o uso do termo golpe para se remeter à articulação bolsonarista que visava manter no poder o então presidente Jair Bolsonaro. As provas levantadas na investigação dão mostras de uma evidente tentativa de criar instabilidade nas instituições. O termo golpe está correto para a articulação bolsonarista, tanto no que se refere à conspiração do ex-presidente quanto ao ataque da turba descontrolada em 8 de janeiro.

O bolsonarismo vem mostrando suas garras contra os trabalhadores, construindo atos em defesa da anistia dos golpista, do qual participou inclusive Jorginho Mello, ou tentando aplicar sua pauta reacionária no parlamento. Os trabalhadores, por meio de suas organizações, precisam se mobilizar, seja para derrotar em definitivo a extrema-direita, seja para construir alternativas que vão para além das eleições.

 

Fonte: Fórum/A Terra é Redonda

 

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