Peixe morre pela boca: Bolsonaro confessa que
"por estranha coincidência" será beneficiado pelo PL da Anistia
Cerca de um ano após negociar os votos da
bancada do PL para eleição de Hugo Motta na Presidência da Câmara em troca de
colocar na pauta o PL da Anistia e convocar atos para aprovação da proposta,
Jair Bolsonaro (PL) confessou na noite desta segunda-feira (22), em entrevista
ao SBT, que "por coincidência" será beneficiado pela projeto de Lei.
Para ludibriar apoiadores, o ex-presidente e
seus aliados no Congresso pregam que o PL da Anistia é para tirar da prisão
"pobres coitados" que participaram da destruição do Congresso, do
Palácio do Planalto e do edifício sede do Supremo Tribunal Federal (STF) em 8
de Janeiro de 2023.
"O que interessa para mim é colocar na
rua, dar liberdade a esses pobres coitados. Dezenas deles estão presos apenas
até 17 anos de cadeia. Outros estão foragidos pelo mundo e outros estão
aguardando julgamento pelo Brasil", reiterou Bolsonaro em entrevista a
Cesar Filho, no Jornal do SBT, de dentro da Unidade de Tratamento Intensivo
(UTI) do Hospital DF Star, em Brasília.
No entanto, o ex-presidente acabou
escorregando nas palavras, lembrou que foi incluído no processo dos atos do 8
de Janeiro e confessou que, "por coincidência", poderá pegar carona
na anistia e se livrar da prisão.
"Porque lá atrás queriam colocar no
projeto da anistia do 8 de janeiro a questão da inelegibilidade. Eu fechei com
a gestão do meu partido, tivemos 90 e poucos deputados na época, para eu não
entrar nesse projeto da anistia. E assim foi feito. E agora, por coincidência,
eu estou dentro desse processo da anistia também", confessou Bolsonaro,
usando a condenação de inelegibilidade, decretada pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), para disfarçar a declaração.
Antes, Bolsonaro dramatizou a situação
dizendo que responde também por "deterioração do patrimônio tombado",
mas que estava nos EUA na data do quebra-quebra. O que o ex-presidente não diz
é que, como líder da organização golpista, ele era responsável por incitar os
acampamentos em frente aos quartéis-generais, bloqueios de estradas, que
desencadearam no 8 de janeiro.
• Bolsonaro
deliria em entrevista no hospital: "Sou o maior líder da direita
mundial"
Mesmo internado na UTI do Hospital DF Star,
em Brasília, Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista, nesta segunda-feira (21),
na qual afirmou ser "o maior líder da direita na América do Sul, quem
sabe... mundial".
O vídeo, transmitido pelo SBT, mostra
Bolsonaro visivelmente abatido, mas insistindo em narrativas já conhecidas de
sua base de apoio. “Eu sempre deixo um espaço reservado àquela pessoa que eu
devo muita gratidão, que é o Donald Trump", declarou ainda.
Na mesma fala, Bolsonaro disparou contra o
Supremo Tribunal Federal (STF) e reforçou a teoria de que sofre perseguição
judicial. Segundo ele, o "lawfare" — termo que se refere ao uso da
justiça para fins políticos — estaria sendo usado para afastar lideranças de
direita no mundo: “O mundo todo está marchando para a direita. E quando não
consegue, como na França com Marine Le Pen, usam o ativismo judicial para
afastar nomes da direita".
A entrevista ocorre em meio ao agravamento de
seu estado de saúde. Internado desde 11 de abril, Bolsonaro passou por uma
cirurgia de 12 horas no intestino, consequência da facada sofrida em 2018.
Segundo o boletim médico mais recente, ele permanece em jejum oral, se alimenta
por via intravenosa e não há previsão de alta.
Apesar do quadro clínico delicado, Bolsonaro
tratou de política e voltou a se apresentar como candidato nas eleições de
2026, apesar de estar inelegível: “Eleições em 26, sem a presença de Jair
Bolsonaro, é uma negação à democracia".
Ele também atacou o processo de
inelegibilidade que enfrenta: “Estou inelegível porque me reuni com
embaixadores e subi num carro de som do pastor Silvio Malafaia. Um absurdo dos
absurdos".
<><> Delírio
A entrevista foi marcada por declarações que
chamaram atenção nas redes sociais. Em tom quase messiânico, Bolsonaro declarou
que a direita brasileira aprendeu “o que é política, o que é família, o que
temos que defender: a propriedade privada, o legítimo direito à defesa”. E
concluiu: “Até o pessoal da esquerda, reservadamente, concorda com isso.”
Na conversa, também descartou temer ser
preso: “Não tenho medo. Que dano é esse que causei se estava fora do Brasil?
Golpe de Estado sem liderança, sem tropas, sem armas, em um domingo e sem
presidente para destituí-lo?”
• Bolsonaro
não entende e usa crítica de Antonio Fagundes como elogio
Da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do
Hospital DF Star, Jair Bolsonaro (PL) segue na sua cruzada nas redes sociais
para propagar fake news e discursos de ódio para incitar a horda de apoiadores.
Neste domingo (21), no entanto, o
ex-presidente mostrou certa confusão ao interpretar um print compartilhado do
site Pleno News, da bancada evangélica, sobre entrevista do ator Antônio
Fagundes.
A imagem mostra apenas a chamada:
"Antônio Fagundes sobre Bolsonaro: 'eleito para destruir a
tolerância". Rapidamente, o ex-presidente compartilhou nas redes e, de
forma confusa, elogiou o ator, dando a entender que seria um elogio. "Um
bom ator! Um forte abraço!"
No entanto, a própria reportagem da Pleno
News, que utilizou uma entrevista de Fagundes à Folha de S.Paulo, diz que o
ator "fez críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aos seus
apoiadores".
"Sobre a eleição do ex-presidente, o
ator disse que ela representa o paradoxo da tolerância, conceito do filósofo
Karl Popper. 'Você é tão tolerante que você permite que um cara seja eleito
para destruir a tolerância'", diz o texto no site, mostrando a crítica do
ator.
<><> Críticas a Bolsonaro e à
Globo
Aos 76 anos, 44 deles vivido na Globo, o ator
Antonio Fagundes diz ver com preocupação o momento atual, com líderes
extremistas como Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump, ao afirmar que
"artista não pode ter carteirinha" para não se assemelhar a uma
torcida de futebol ou uma seita.
"Mesmo quando a pessoa está dizendo [o
que vai fazer], ele [o cidadão] não ouve mais. É só 'é o mito, é o mito'. O que
quer dizer isso? Quer dizer que ele pode falar o que quiser, que eu não estou
ouvindo. Estou seguindo palavras de ordem. Isso é ruim para qualquer
ideologia", disse em entrevista divulgada neste domingo (20) pela Folha de
S.Paulo.
Fagundes justifica a tese alegando que ao
participar de uma seita ou de torcida "você deixa de pensar".
"Acho que a gente está vivendo um período em que temos que trazer a
inteligência de volta", emenda, ressaltando que vê Bolsonaro e Trump como
pessoas infelizes "e quem é triste, espalha essa tristeza, né".
O ator, que estreou a peça Dois de Nós, em
que divide o palco com esposa, Alexandra Martins, e os amigos Christiane
Torloni e Thiago Fragoso, acredita que o recrudescimento do neofascismo está
relacionado ao destaque que o movimento progressista teve nos últimos anos.
"O que aconteceu é que parte da
população, da cultura se voltou para as coisas boas que estavam aparecendo,
para a igualdade, para resolver os problemas sociais, para acabar com a
desigualdade econômica, para criar amparos, para fortalecer a educação",
diz.
"É que agora eles estão com o poder da
palavra. Como diz o Umberto Eco, a internet deu voz aos imbecis. Eles estão aí
de novo aparecendo, mas não acredito que sejam a maioria não. Acho que, como
está tendo o refluxo para eles, vai ter o refluxo para gente [os progressistas]
depois", emenda, aos risos.
O ator ainda tece críticas sobre sua saída da
Globo. Ele rompeu o contrato quando a emissora da família Marinho não deu
espaço para que ele fizesse suas peças - gravando as produções apenas às
segundas, terças e quartas-feiras.
"Eu levei 44 anos para me especializar.
Quando atingi o auge da minha especialização, eles mudaram o processo de
produção. Perderam o investimento deles. Perderam o patrimônio deles", diz
Fagundes, que afirma que atuava como "máquina" na emissora.
"Alguns colegas de teatro reclamavam
sobre a TV, dizendo 'eu não sou máquina'. Eu não. Eu queria ser máquina, queria
ser a máquina mais perfeita daquele processo".
Ele afirma que isso se deu justamente por se
especializar, o que lhe permitiu decorar textos na hora.
"Vivi o melhor dos mundos, porque não
levava trabalho para casa. Enquanto meus colegas estavam todos trancados,
decorando [as falas], eu ia passear, ficava com a minha família, tinha fim de
semana, podia fazer meu teatro, cinema", conta.
• Os
tempos sombrios e o bolsonarismo em Santa Catarina
O estado de Santa Catarina parece ser uma
espécie de local privilegiado para os experimentos políticos da
extrema-direita. Em poucos dias, foram divulgadas duas de suas ações de
perseguição e coerção, tanto atacando os movimentos sociais como a autonomia
das universidades.
A primeira dessas ações foi a lei em torno do
chamado “Abril Amarelo”, por parte do governador de Santa Catarina, Jorginho
Mello (PL). Essa iniciativa, em oposição à campanha Abril Vermelho organizada
pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em defesa da reforma agrária,
coloca em foco “ações de conscientização sobre a importância da defesa da
propriedade privada”.
A lei, oriunda de um projeto de lei
apresentado pelo deputado Oscar Gutz (PL), vai além da mera propaganda
ideológica de defesa da propriedade privada. Em um de seus artigos, fala da
“importância da união de proprietários de terra, produtores vizinhos, amigos e
família para montar acampamento permanente para evitar a invasão”. A lei também
indica a “conscientização quanto a comunicação das autoridades policiais no
caso de avistar movimentações de invasão de propriedades privadas”.
Concretamente, travestido de uma efeméride,
sugere-se à população agir no sentido de combater eventuais ações que atentem
contra a propriedade privada, seja comunicando a polícia, seja estabelecendo
locais de vigília por contra própria. O decreto apenas não fala em armamento
dessas milícias, mas, por certo, deixa subentendido que as pessoas têm direito
a proteger, da forma que for, sua propriedade.
O outro experimento autoritário passa pela
perseguição franca e aberta à liberdade de cátedra das universidades. Em evento
de formatura dos cursos do Centro Educação da Udesc, o paraninfo, professor
Reinaldo Lohn, fez alusão em seu discurso aos “tempos sombrios” que se tem
vivido nos últimos anos e chamou de golpe a intentona bolsonarista de 8 de
janeiro de 2023.
Essa fala levou a que fosse enviada para a
Udesc, por iniciativa do deputado Alex Brasil (PL), uma correspondência da
Assembleia Legislativa questionado sobre medidas a serem adotadas “em virtude
da conduta do professor”. O documento ainda fala em respeito à “pluralidade de
opiniões e o caráter apartidário da instituição”, o que soa no mínimo hipócrita
vindo do representante de um partido que não respeita o resultado das urnas da
eleição de 2022.
Essa ação do parlamentar busca atentar contra
a autonomia da universidade, um espaço plural em que as posições divergentes
são expostas e discutidas aberta e respeitosamente e na qual nenhuma das
opiniões pode ser tolhida. O professor em questão, reconhecido pesquisador do
tema a que fez alusão, em seu discurso não emitiu opiniões sobre o assunto, mas
expôs conclusões de suas pesquisas realizadas há décadas. Essas pesquisas são
respeitadas e reconhecidas em âmbito nacional e internacional, mesmo que talvez
o deputado ignore esse fato e se limite a emitir falácias oriundas do senso
comum.
Reinaldo não fez outra coisa que não ser um
historiador que, vivendo seu tempo, analisa os processos em curso, como parte
do campo da chamada do Tempo Presente. Não há nenhuma dúvida sobre o uso do
termo golpe para se remeter à articulação bolsonarista que visava manter no
poder o então presidente Jair Bolsonaro. As provas levantadas na investigação
dão mostras de uma evidente tentativa de criar instabilidade nas instituições.
O termo golpe está correto para a articulação bolsonarista, tanto no que se refere
à conspiração do ex-presidente quanto ao ataque da turba descontrolada em 8 de
janeiro.
O bolsonarismo vem mostrando suas garras
contra os trabalhadores, construindo atos em defesa da anistia dos golpista, do
qual participou inclusive Jorginho Mello, ou tentando aplicar sua pauta
reacionária no parlamento. Os trabalhadores, por meio de suas organizações,
precisam se mobilizar, seja para derrotar em definitivo a extrema-direita, seja
para construir alternativas que vão para além das eleições.
Fonte: Fórum/A Terra é Redonda

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