quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Jhonata Emerick: Bets ameaçam solidez do sistema financeiro

As apostas esportivas se tornaram a nova febre brasileira, infelizmente, no sentido negativo do termo. Hoje, segundo dados de mercado, praticamente um quarto da população aderiu às chamadas Bets, e o crescimento é exponencial. Já a estimativa do Banco Central projeta que cerca de 24 milhões de pessoas físicas participaram de jogos de azar e apostas. Seja 20, 30, 50 milhões ou mais, o cenário existe e precisa ser encarado de frente: essa dinâmica tem comprometido a renda das famílias e vai ter consequências diretas na saúde das instituições financeiras. Para se ter uma ideia, o número de apostadores cresce mais rápido do que o número de pessoas contaminadas no pico da pandemia.

O Banco Central tem alertado sobre o impacto das apostas esportivas na economia. De acordo com o relatório da autoridade monetária, o valor médio mensal transferido para apostas chega a R$ 3.000,00 entre pessoas com mais de 20 anos, um dado preocupante considerando que a renda média do brasileiro é de apenas R$ 3.200,00, conforme levantamento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Apesar de o Banco Central ainda indicar um cenário relativamente estável em termos de inadimplência e empréstimos problemáticos, um estudo da CNC revelou que, no primeiro semestre de 2024, 1,3 milhão de pessoas entraram em inadimplência devido ao jogo online. Esse comportamento reflete diretamente nas decisões de consumo: muitos apostadores estão priorizando as apostas em detrimento de compras essenciais, como acessórios, vestuário, lazer, alimentos (tanto em supermercados quanto fora de casa), internet, contas de serviços públicos, produtos de beleza, itens de higiene e até medicamentos.

A pesquisa “Bets e inadimplentes: A relação dos inadimplentes com apostas no Brasil”, conduzida pela Serasa em parceria com o instituto Opinion Box, revela que 46% dos inadimplentes já realizaram apostas pelo menos uma vez. Dentre eles, 44% apostaram com o objetivo de quitar dívidas. Além disso, 13% dos inadimplentes admitiram ter deixado de pagar contas para poder apostar.

Estatísticas obtidas pela Datarisk durante o processo de criação de suas análises destacam a influência da convivência com apostadores no mesmo núcleo familiar. Quando uma pessoa possui um parente que aposta, a probabilidade de também adotar esse comportamento aumenta em cerca de 77%. Esse efeito é ainda mais pronunciado quando os pais são apostadores, elevando a probabilidade para aproximadamente 216%.

Neste momento, para quem atua no sistema financeiro, torna-se imprescindível utilizar os insights gerados por dados e inteligência artificial (IA) para apoiar a tomada de decisão em todo o ciclo de crédito. A aplicação da IA busca mitigar possíveis dificuldades de pagamento, especialmente em situações como concessão de crédito ou vendas parceladas. Para ilustrar, algumas análises indicam que as apostas são mais comuns entre homens (70,8%), com idade média de 34 anos. Quase metade dos apostadores (47,8%) está na faixa etária de 25 a 40 anos. Além disso, o score revelou que 63,9% dos apostadores possuem vínculo empregatício em regime CLT, com uma média salarial de 4,7 salários-mínimos.

Segundo Isaac Sidney, presidente da Febraban, caso o ritmo atual de desgaste do orçamento familiar devido às apostas permaneça, haverá um impacto abrangente na economia brasileira, prejudicando desde pequenos negócios até grandes corporações. Ele alertou que essa situação pode desencadear uma crescente onda de endividamento, excluindo milhões de brasileiros do mercado de crédito e acarretando sérias repercussões nas taxas de inadimplência, nos riscos financeiros e nos custos de crédito.

Os dados são fundamentais como direcionadores, mas, isoladamente, não resolvem o problema. É necessário criar uma camada adicional de inteligência, onde todas essas informações sejam integradas em uma decisão (score) que seja prática e fácil de aplicar em processos dinâmicos, como o de concessão de crédito.

O estudo de caso das apostas nos EUA revela que, mesmo após a regulamentação, os consumidores tendem a aumentar seus gastos e níveis de endividamento. Acreditamos que as apostas esportivas já se consolidaram como uma realidade no Brasil e vieram para ficar, não sendo um fenômeno passageiro. O monitoramento contínuo de variáveis, modelos e do mercado será essencial nesse processo.

 

¨      Bets: saiba as tendências e impactos em meios de pagamento a partir de 2025

Desde quinta-feira passada, os operadores de apostas de quota fixa (bets) autorizados a operar no Brasil pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda (SPA/MF) terão que cumprir diversas exigências para funcionar e consumidores devem ficar atentos às novidades.

Entre elas, a operação dos sites deverá ser feita exclusivamente por domínios “bet.br” - durante certo período os domínios "com.br" ainda funcionarão, mas sem poder ofertar apostas. Outro ponto é quanto à necessidade de se haver a sede e sócios no Brasil, possibilitando a fiscalização pela SPA/MF, além de garantir o cumprimento da regulamentação, caso seja necessária a aplicação de penalidades.

Políticas para prevenir lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, incentivo ao jogo responsável e combate à manipulação de resultados também estão entre as novas regras. Campanhas publicitárias não poderão incentivar apostas excessivas e devem trazer alertas sobre riscos e restrições etárias, além de restrições significativas para pessoas em risco de vício, como indivíduos diagnosticados com transtornos relacionados ao jogo (ludopatia).

Com a nova regulamentação, o Brasil adota um sistema detalhado e abrangente para apostas esportivas, equilibrando a atuação dos operadores com a proteção dos consumidores. “Se bem implementada, a regulação pode transformar o país em referência no setor, atraindo investidores e aumentando a arrecadação tributária, além de promover um ambiente mais seguro e responsável”, afirma Thiago do Amaral Santos, sócio do Barcellos Tucunduva Advogados (BTLaw) e especialista em Meios de Pagamento e em Bets.

Vale lembrar que o descumprimento das regras pode acarretar multas de até R$ 2 bilhões, suspensão parcial ou total do exercício das atividades, cassação da autorização, dentre outras. “Porém, deve-se aguardar a adaptação dos operadores e consumidores. As plataformas precisarão investir em compliance e práticas responsáveis, enquanto os apostadores devem se familiarizar com o ambiente regulado. O futuro do mercado dependerá da capacidade de todos em se ajustar a essa nova realidade”, pondera o advogado.

A seguir, saiba as tendências e impactos tanto para operadores de bets quanto para apostadores a partir deste novo ano.

1) Processo de transações e tipos de contas

De acordo com o especialista em meios de pagamento, Thiago do Amaral Santos, a nova legislação exige que apenas instituições financeiras e de pagamento autorizadas pelo Banco Central possam processar as transações, o que vai facilitar o monitoramento das apostas, com a possibilidade de identificação de fraudes e adoção de medidas para a prevenção da lavagem de dinheiro.

Os operadores terão três tipos de contas: (i) transacional, utilizada exclusivamente para depósitos e saques pelos jogadores, vinculada a cada instituição contratada; (ii) proprietária, para a gestão financeira da empresa; e (iii) de reserva, com R$ 5 milhões obrigatórios em títulos públicos, destinada a garantir o pagamento das apostas em caso de insolvência ou falta de liquidez (aberta exclusivamente em instituição financeira).

2) Saldo das contas e restrições de meios de pagamento

O saldo das contas transacionais deve corresponder ao valor devido aos usuários. Excedentes podem ser transferidos para a conta proprietária. “Se o saldo for insuficiente, a casa de apostas deve transferir recursos da conta proprietária para a transacional”, explica Amaral.

Haverá restrição de meios de pagamento, sendo permitidos apenas Pix, TED e cartões de débito e pré-pago, sendo proibida a utilização de cartão de crédito, boleto bancário, dinheiro em espécie, cheque e criptomoedas. Também estão vedadas as transferências provenientes de contas de terceiros ou que não tenham sido previamente cadastradas na plataforma (site ou aplicativo) pelo próprio apostador.

“Isso implica numa restrição quanto à utilização do Pix. Por exemplo, caso uma instituição receba o recurso de uma conta não cadastrada, ainda que seja de titularidade do apostador, o operador de aposta deverá providenciar a restituição do recurso imediatamente para essa conta”, explica o advogado. “Com relação à vedação da utilização dos demais meios de pagamento, o objetivo é adotar medidas que coíbam a prática de fraudes e outros atos ilícitos, inclusive a lavagem de dinheiro”.

3) Proibição para concessões de crédito e maior segurança aos apostadores

A partir de 2025, as empresas não poderão mais oferecer crédito para apostas e bônus de entrada. “Isso evita problemas com apostas excessivas e superendividamento. Também é vedado ao operador firmar qualquer tipo de acordo para facilitar o acesso a crédito ao apostador”, acrescenta Amaral.

O pagamento das apostas deve ocorrer em até 120 minutos, podendo o apostador optar, a seu exclusivo critério, manter os recursos em sua conta para a realização de novas apostas e o apostador terá acesso ao histórico das transações de pagamento realizadas nos últimos 36 meses.

Com essas restrições, o advogado ressalta que se evita o superendividamento pelos apostadores. Além disso, “os apostadores passam a ter maior segurança de que receberão os recursos relacionados com as apostas, além de ter acesso ao histórico das transações realizadas”, conclui.

 

¨      "Muitas são utilizadas para lavar dinheiro do narcotráfico", afirma Marcelo Werner sobre bets

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Marcelo Werner, reforçou, nesta terça-feira (7) em entrevista à Rádio Metropole, a preocupação do crescente uso das bets, as famosas casas de apostas online, e a necessidade da regulação do Governo Federal, para garantir o controle fiscal e a divisão das informações de quando houver indicativo de lavagem de dinheiro na atividade. 

“Muitas dessas atividades é feita para lavar dinheiro, inclusive do narcotráfico. Tivemos uma operação aqui grande no estado da Bahia, em 2024, com a Polícia Civil, cuja origem foi exatamente a investigação em cima de uma liderança criminosa do tráfico de drogas, e a partir dali houve desdobramento para se chegar a pessoas que estavam fazendo lavando o dinheiro do grupo criminoso a partir de rifas”, afirmou o secretário. 

Além disso, Marcelo Werner destacou a importância de alertar a população dos perigos de realizar apostas. “ A gente já viu também, em outras ocasiões, muita gente perder tudo em razão da jogatina, perder casa, perder família. Então fica o alerta para essas duas vertentes: a questão pessoal, que a pessoa pode viver o drama pelo uso abusivo das apostas, mas também das investigações que apontam que algumas empresas estão utilizando dessa nova modalidade para lavagem de dinheiro”, completou.

 

Fonte: Compliance Comunicação/M2 Comunicação/Metro 1

 

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