quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Gaza vive "inferno" à espera de um cessar-fogo

Antes de chegar à Cidade de Gaza, em dezembro do ano passado, a família de Zahra passou 14 meses se mudando de um lugar para o outro, entre Jabalia e Beit Lahia, no norte da Faixa de Gaza – uma região sob cerco militar praticamente deserta e reduzida a escombros, segundo relatos.

"A guerra tem sido dura desde o dia um, mas agora parece um inferno", relata Zahra à DW por telefone. "Não sabemos se vamos sobreviver ou morrer antes que a guerra acabe."

Ela, que se abrigou com o marido e cinco filhos em uma casa parcialmente destruída por bombas no campo de refugiados de Shati, na Cidade de Gaza, pediu para não ter seu nome completo revelado.

Apesar de o Exército israelense ter ordenado diversas vezes à população que vá para o sul da Faixa de Gaza, a família de Zahra decidiu ficar no norte, em parte porque eles temiam do contrário não poder voltar para casa.

"Não saímos antes do norte porque sabíamos que havia bombardeios em todos os lugares, e tínhamos esperança que a operação militar no norte terminaria logo. Mas, em vez disso, tornou-se ainda mais insuportável", diz ela. "Nossa casa em Jabalia foi completamente destruída há alguns meses, e agora nos vemos em uma situação de deslocamentos constantes."

Agências internacionais e governos pressionam Israel e Hamas a aceitarem um acordo que levaria à soltura dos 96 reféns ainda mantidos em Gaza em troca do fim da guerra e da assistência humanitária a civis. Mas não há sinais de paz à vista: no fim de semana, forças israelenses disseram ter atacado mais de cem alvos ao longo da Faixa de Gaza em retaliação a foguetes disparados pelo Hamas.

Por toda a Faixa de Gaza, o tempo frio e chuvoso do inverno tem alagado barracos e outros abrigos improvisados. Organizações humanitárias alertaram repetidamente nas últimas semanas que a ajuda não está chegando em quantidade suficiente às pessoas, em parte devido ao bloqueio de ajuda por Israel e, em parte, devido a saques.

No domingo (05/01), a Defesa Civil em Gaza informou que ataques israelenses mataram agentes de segurança que protegiam comboios de ajuda humanitária no sul do território. Também foram relatados bombardeios israelenses em bairros e destruição de prédios residenciais no norte de Gaza, com várias pessoas mortas e feridas.

O Ministério da Saúde de Gaza contabiliza mais de 45,8 mil palestinos mortos desde o início da guerra em Gaza, desencadeada após os ataques terroristas liderados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.

Jabalia e a área ao norte da Cidade de Gaza voltaram de novo a ser o foco de uma nova ofensiva israelense. As Forças de Defesa de Israel (FDI) alegam que o Hamas e outros grupos militantes estão se reorganizando na área e que as ordens de evacuação para os civis visam mantê-los fora de perigo. No entanto, palestinos e organizações humanitárias afirmam que não há lugar seguro em Gaza e que os deslocamentos constantes estão agravando a situação.

No final de dezembro, uma delegação da ONU conseguiu viajar para o norte da Faixa de Gaza. "As pessoas aqui não têm comida, água, saneamento, nada... Precisamos poder fornecer o básico para a sobrevivência", afirmou Jonathan Whittall, chefe interino do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários em Jerusalém Oriental, em vídeo publicado no X.

Segundo Whittall, a ONU apelou às FDI 140 vezes nos dois meses que antecederam a visita para tentar levar ajuda à região, sem sucesso.

A Coordenação de Atividades Governamentais nos Territórios, órgão isralense da administração civil-militar responsável pelo acesso a Gaza e ajuda humanitária à região, respondeu via X que "alegações recentes sobre pedidos negados de coordenação humanitária são enganosas".

·        Sobraram poucas pessoas no norte de Gaza

A ONU estima que entre 10 mil e 15 mil pessoas permaneçam no norte de Gaza, área sob cerco militar que inclui Beit Lahia, Jabalia e Beit Hanoun, embora os números exatos sejam desconhecidos. Há relatos de que boa parte da região foi evacuada e reduzida a escombros, o que alimenta especulações de que Israel pretende transformar a área em uma zona tampão após o fim da guerra.

As FDI negam a implementação do chamado "Plano do General", que prevê a expulsão da população do norte de Gaza, rotulando todos os civis restantes como alvos militares e bloqueando o fornecimento de alimentos e suprimentos médicos.

Na semana passada, membros do Comitê de Relações Exteriores e Defesa do Knesset (o  Parlamento israelense) pediram ao ministro da Defesa, Israel Katz, que ordenasse a destruição de todas as fontes de água, alimentos e energia na área, criticando as FDI por ainda não terem derrotado o Hamas.

Moradores relataram já enfrentar uma escassez extrema de alimentos e água, enquanto os constantes bombardeios e tiroteios tornavam qualquer movimento quase impossível, incluindo o acesso aos corredores humanitários para se dirigir ao sul da Faixa de Gaza.

Zahra diz ter conseguido sair de lá com a família e alcançado o campo de refugiados de Shati, no noroeste da Cidade de Gaza. Durante o trajeto, tiveram que passar por um posto de controle israelense. "Fui autorizada a passar com minhas três filhas, enquanto meu marido e dois filhos tiveram que esperar cinco horas antes de também serem liberados", relata.

·        Luta por sobrevivência

Matar Zomlot e sua família sobreviveram em Jabalia por um tempo ao longo da guerra, mas eventualmente também tiveram que fugir.

"Havia artilharia e explosões o tempo inteiro, e medo constante", diz à DW por telefone. "Eu costumava pegar comida das casas [abandonadas] no entorno após falar com os donos, que me contavam onde haviam deixado alimentos e enlatados."

Em dezembro, sob fogo cruzado intenso, Zomlot e sua família conseguiram chegar à vizinha Cidade de Gaza.

"Tínhamos medo de ser alvejados", diz Zomlot. "No dia que decidimos ir embora, saímos à tarde e andamos em direção à Rua Salah al-Din. Havia um tanque, e soldados e que nos pararam. Após conferirem nossos documentos, nos deixaram passar."

Em vez de seguir para o sul, a família escolheu ficar no norte da Faixa de Gaza. Eles têm parentes na Cidade de Gaza, que lhes deram abrigo.

·        Mortos ao tentar voltar para o norte, segundo jornal israelense

A Faixa de Gaza agora é dividida pelo Corredor Netzarim, uma estrada com postos de controle militares que atravessa o território de leste a oeste. Palestinos que cruzarem essa via em direção ao sul não podem voltar para o norte.

Segundo relatos de soldados a serviço na região, publicados em reportagem investigativa do jornal israelense Haaretz, vários palestinos desarmados foram alvejados e mortos ao se aproximarem da área para tentar voltar ao norte.

A ONU estima que cerca de 90% dos 2,1 milhões de habitantes de Gaza tenham sido deslocados pela guerra, muitos deles várias vezes. Uma das muitas incertezas que os aflige é se Israel permitirá que voltem para suas casas.

"Não sabemos nosso destino", afirma Zahra. "Não sabemos o que acontecerá a seguir. Mas estamos rezando para que esta guerra acabe logo, e que possamos retornar aos nossos bairros e casas, mesmo que estejam reduzidos a escombros."

¨      Teerã: ataque a instalações nucleares do Irã pelos EUA seria 'violação grosseira' da Carta da ONU

Ameaças dos EUA de atacar instalações nucleares do Irã são uma violação grosseira das normas internacionais, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) deve responsabilizar os EUA internacionalmente, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Ismail Baghaei.

Três dias antes, a mídia dos EUA relatou, citando três fontes informadas, que o atual presidente dos EUA, Joe Biden, havia discutido com sua equipe, em particular com o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, planos para atacar instalações nucleares do Irã. Biden não tomou nenhuma decisão final sobre o assunto. A discussão não foi motivada por novas informações, mas teve como objetivo elaborar cenários possíveis, observaram as fontes da publicação.

"Esta questão foi levantada repetidamente. Do ponto de vista do direito internacional, ameaças de uso da força por qualquer país são uma violação grosseira do direito internacional e da Carta da ONU. Essa questão é duplamente uma violação de acordos internacionais", disse Baghaei.

Essa ameaça dos EUA é uma ameaça contra a infraestrutura nuclear pacífica do país, enfatizou ele.

"O Conselho de Segurança da ONU deve intervir e responsabilizar os Estados Unidos internacionalmente por essas declarações", acrescentou Baghaei.

No último sábado (4), o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, disse que as autoridades iranianas estavam prontas para entrar imediatamente em negociações construtivas com os países ocidentais sobre seu programa nuclear se elas levassem a um novo acordo.

Segundo o vice-ministro das Relações Exteriores iraniano para Assuntos Internacionais, Kazem Gharibabadi, uma nova rodada de consultas entre o Irã e a Europa sobre o acordo nuclear vai ocorrer em 13 de janeiro.

¨      Emirados Árabes Unidos negociam governo provisório de Gaza com EUA e Israel no pós-guerra

De acordo com a Reuters, é possível que os Emirados Árabes Unidos (EAU) e os Estados Unidos, juntamente com outras nações, supervisionem temporariamente a governança, a segurança e a reconstrução de Gaza após a retirada militar israelense.

Parceiros de segurança dos EUA e com laços diplomáticos com Israel, os Emirados Árabes Unidos estariam discutindo o pós-guerra em Gaza, mas ainda sem muitos detalhes sobre que medidas estariam na mesa.

Segundo fontes que falaram à apuração, nos bastidores Abu Dhabi estaria defendendo uma Autoridade Palestina reformada para governar Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental sob um Estado palestino independente, apesar da oposição pública de Tel Aviv a esta solução.

Em meio às inúmeras tentativas de articular um cessar-fogo definitivo no enclave palestino, que tem sofrido enormemente com bombardeios e vive uma intensa crise humanitária, fontes diplomáticas dos EUA confirmaram as conversas com alguns parceiros, entre eles os EAU, embora Abu Dhabi negue querer participar de qualquer "plano que deixe de incluir uma reforma significativa da Autoridade Palestina, seu fortalecimento e o estabelecimento de um roteiro confiável para um Estado palestino".

Apesar da falta de comentários por parte de Israel, o Departamento de Estado dos EUA afirmou ter discutido com inúmeros parceiros, e fontes próximas às negociações disseram que, em algumas ocasiões, foi sugerido o uso de contratados militares privados como parte de uma força de manutenção da paz pós-guerra em Gaza.

No entanto, tal afirmação seria controversa porque a medida enfrentaria profunda resistência da comunidade internacional, já que contratados militares privados usados pelos Estados Unidos e outros governos enfrentaram acusações de tortura, abusos de direitos humanos e uso de força excessiva, entre outras alegações, incluindo no Iraque e no Afeganistão.

"Estas foram discussões deliberativas que continuam, enquanto buscamos o melhor caminho a seguir", disse um porta-voz do departamento norte-americano se recusando a tecer novos comentários à Reuters.

A Autoridade Palestina foi criada há três décadas sob os Acordos de Oslo de 1993-1995, assinados por Israel e palestinos, e recebeu autoridade limitada sobre a Cisjordânia e Gaza.

¨      Houthis anunciam novo ataque massivo contra porta-aviões dos EUA no mar Vermelho

O movimento iemenita Ansar Allah, também conhecido como houthis, declarou nesta segunda-feira (6) que realizou um ataque ao porta-aviões estadunidense USS Harry S. Truman enquanto se preparava para um "grande ataque aéreo" no Iêmen.

"As forças de mísseis e UAVs das Forças Armadas do Iêmen realizaram uma operação militar específica e conjunta visando o porta-aviões americano USS Harry S. Truman usando dois mísseis alados e quatro drones ao norte do mar Vermelho, enquanto o inimigo norte-americano se preparava para lançar um grande ataque aéreo contra nosso país, e a operação levou ao fracasso do ataque", disse o porta-voz militar houthi, Yahya Saria, em um comunicado.

Em novembro de 2023, os houthis, que contam com o apoio do Irã, iniciaram uma campanha de ataques a navios mercantes relacionados a Israel para impedir que transitem pelos mares Árabe e Vermelho enquanto a Faixa de Gaza não recebe os alimentos e medicamentos de que necessita.

Diante do perigo de ataques em uma área-chave para o comércio mundial, particularmente para o petróleo, várias companhias de navegação optaram por enviar seus navios ao redor da África, o que desacelera e encarece o transporte.

Desde meados de dezembro passado, os EUA e seus aliados têm conduzido uma operação nessa região, que inclui bombardeios em território iemenita para dissuadir os houthis de atacar navios mercantes e garantir a liberdade de navegação.

Altos responsáveis do Ansar Allah afirmaram em mais de uma ocasião que continuarão a realizar operações militares até que Israel cesse a agressão contra a Faixa de Gaza.

¨      Na ONU, Israel ameaça Houthis de compartilhar mesmo destino do Hamas e Hezbollah

O embaixador de Israel nas Nações Unidas emitiu o que chamou de um aviso final aos militantes Houthi do Iêmen para interromper os ataques com mísseis contra Israel, dizendo que eles correm o risco de ter o mesmo "destino miserável" do Hamas, Hezbollah e Bashar al-Assad da Síria.

O embaixador, Danny Danon, também alertou Teerã que Israel tem a capacidade de atacar qualquer alvo no Oriente Médio, incluindo o Irã. Ele acrescentou que Israel não toleraria ataques de representantes iranianos.

Horas depois, o exército israelense anunciou que havia interceptado um míssil disparado do Iêmen, fazendo com que sirenes soassem em todo o país.

Os Houthis alvejaram o Aeroporto Ben Gurion perto de Tel Aviv e uma estação de energia ao sul de Jerusalém usando um míssil balístico hipersônico e um míssil balístico Zulfiqar, respectivamente, disse o porta-voz militar do grupo, Yahya Saree, na terça-feira.

Os Houthis não encerrarão os ataques a Israel, disse Mohamed Ali al-Houthi, chefe do comitê revolucionário supremo dos Houthis, depois que os militares israelenses anunciaram a interceptação do míssil.

"O ataque à entidade (Israel) continua e o apoio a Gaza continua", ele postou no X.

Os Houthis dispararam drones e mísseis repetidamente em direção a Israel no que eles descrevem como atos de solidariedade aos palestinos sob fogo israelense em Gaza.

Danon, ao se dirigir ao Conselho de Segurança da ONU, disse que Israel não toleraria mais ataques Houthis.

"Para os Houthis, talvez vocês não tenham prestado atenção ao que aconteceu com o Oriente Médio no ano passado", ele disse.

"Bem, deixe-me lembrá-lo do que aconteceu com o Hamas, com o Hezbollah, com Assad, com todos aqueles que tentaram nos destruir. Que este seja seu aviso final. Isto não é uma ameaça. É uma promessa. Vocês compartilharão o mesmo destino miserável", disse Danon.

 

Fonte: DW Brasil/Sputnik Brasil/Brasil 247

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário