quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

MSF alerta para a falta de acesso à assistência médica em bairro ocupado pelas forças israelenses na Cisjordânia

Os palestinos que residem na área H2 de Hebron, um dos lugares com as maiores restrições da Cisjordânia, estão sufocando sob a ocupação israelense, principalmente desde o início da guerra em Gaza. Médicos Sem Fronteiras (MSF) alerta que o acesso à assistência médica está seriamente comprometido na região e que a saúde mental e física da população está em risco e se deteriorando. A organização já foi forçada a suspender as atividades por vários meses dentro de H2, deixando um vácuo na assistência humanitária.

Desde o início da guerra em Gaza, as restrições das forças israelenses aumentaram drasticamente na Cisjordânia, incluindo em Hebron. Em dezembro de 2023, alegando preocupações de segurança, as autoridades israelenses forçaram as equipes de MSF a suspenderem suas atividades por mais de cinco meses no bairro de Jaber, dentro de H2. Como alternativa, as equipes da organização abriram uma clínica móvel perto do local, mas fora do posto de controle e em Tel Rumeida. A clínica móvel é acessível a pessoas que podem sair do H2, mas apenas algumas conseguem deixar o bairro.

"Embora agora possamos fornecer cuidados na clínica de MSF no bairro de Jaber, o acesso continua desafiador, pois nossa equipe pode ser revistada e atrasada nos postos de controle para entrar na área do H2", diz a coordenadora do projeto da MSF, Chloe Janssen. "O acesso a cuidados médicos nunca deve ser negado, impedido ou bloqueado arbitrariamente."

MSF frequentemente enfrenta interrupções em seus serviços de clínica móvel, sendo impedida de entrar na área ou encontrando restrições de movimento durante feriados públicos israelenses. Normalmente, a organização disponibiliza clínicas móveis no H2 duas vezes por semana, mas de setembro a novembro de 2024, MSF foi forçada a cancelar as atividades sete vezes – quase dois meses. As clínicas móveis tratam de 60 a 70 pacientes, oferecendo cuidados físicos juntamente com suporte de saúde mental para ajudar os residentes a lidar com o trauma contínuo provocado pela violência.

Essas interrupções no atendimento têm efeitos profundos na comunidade, cortando o acesso a serviços vitais de saúde. Devido às restrições prolongadas, violência, assédio e incitação ao medo, as equipes de MSF estão vendo um declínio dramático na saúde mental das crianças. Os psicólogos relatam sintomas de trauma, incluindo hiperatividade, enurese noturna, pesadelos e dificuldades acadêmicas.
MSF pede às forças israelenses que parem de implementar medidas restritivas que impedem a capacidade dos palestinos de acessar serviços básicos, incluindo cuidados médicos. Israel deve tomar todas as medidas viáveis para garantir que o atendimento médico permaneça desobstruído e acessível. O acesso ao atendimento médico nunca deve ser negado, impedido ou bloqueado arbitrariamente.
A área H2 de Hebron, um dos locais mais restritos da Cisjordânia, compreende cerca de 20% da cidade e é emblemática dos desafios enfrentados pelos palestinos que vivem sob controle israelense. Lar de aproximadamente 7 mil palestinos e várias centenas de colonos israelenses (esse é o único lugar na Cisjordânia onde colonos israelenses se estabeleceram dentro de uma cidade palestina), este bairro é governado por rígidas regulamentações de movimento, fechamentos sistêmicos e violência contínua.

As equipes de Médicos Sem Fronteiras têm fornecido assistência médica e suporte de saúde mental em duas clínicas para palestinos cujo acesso à saúde foi diretamente obstruído. "As pessoas na Palestina não sofrem com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) porque o trauma nunca termina. Aqui, estamos falando de trauma contínuo e complexo. Toda a população é afetada", diz Lucia Uscategui, gerente de atividades de saúde mental de MSF. “Mesmo que o conflito e a ocupação terminassem amanhã, as consequências persistiriam por anos. Mas nosso trabalho é mostrar às pessoas que elas não estão sozinhas — que ainda há alguma esperança, mesmo nos momentos mais sombrios.”

 

¨      Médicos Sem Fronteiras trata quase 160 feridos após confrontos armados na República Democrática do Congo

Nos últimos dias, o Território de Masisi, na província de Kivu do Norte, tem sido afetado por intensos confrontos entre o grupo armado M23/AFC e o exército congolês, apoiado por forças aliadas, na República Democrática do Congo (RDC).

Os conflitos levaram a deslocamentos populacionais em massa na região – cerca de 102 mil pessoas em menos de uma semana, de acordo com o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA). “Entre os dias 3 e 6 de janeiro, as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) e do Ministério da Saúde do país trataram 75 feridos no Hospital Geral de Referência de Masisi e no Centro de Saúde de Referência de Nyabiondo”, declarou Stephane Goetghebuer, coordenador-geral de MSF em Kivu do Norte.

“Além de fornecer esses cuidados, essas duas instalações de saúde também abrigaram centenas de civis por vários dias, que buscaram refúgio e proteção”, acrescentou Goetghebuer.

<><> M23 assume controle de Masisi

Após os confrontos, o grupo M23/AFC assumiu o controle da cidade de Masisi e áreas adjacentes no fim de semana. Como resultado, as equipes de MSF no Hospital Geral de Referência de Minova e no Hospital Numbi, ambos em Kivu do Sul, também estão ajudando a tratar muitos dos feridos.

“Foram registrados confrontos nas terras montanhosas de Numbi, em Minova, Kivu do Sul. As pessoas fugiram e 84 feridos estão sendo tratados no Hospital Numbi e no Hospital Geral de Referência de Minova”, explica Julien Gircour, coordenador-geral de MSF em Kivu do Sul. As equipes de MSF em Masisi, Nyabiondo, Minova e Numbi continuam a oferecer assistência médica às populações impactadas pelo conflito.

Esses confrontos são os mais recentes aos quais as equipes de MSF responderam na crise armada do M23 contra o exército congolês e grupos aliados, que já dura três anos, no leste da RDC. O conflito deslocou centenas de milhares de pessoas e afetou seriamente a já crítica situação humanitária e de saúde na região.

 

Fonte: MSF

 

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