quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Eduardo Vasco: Venezuela - a realidade se impõe à fantasia

A oposição golpista vai chiar, mas Maduro tomará posse como presidente reeleito da Venezuela no próximo dia 10. Tentou-se criar um clima de instabilidade no país, com os boatos de que o derrotado Edmundo González Urrutia, “exilado” em Madri, voltaria triunfante e seria investido no lugar de Maduro.

“Eles estão mais fracos do que nunca”, gritou María Corina Machado, agente dos EUA, ao repetir sua eterna previsão de um colapso iminente do governo chavista. Mas eles mesmos sabem que, ao menos neste momento, não há nenhum clima para uma segunda fase da ofensiva golpista, após dias de intensa violência opositora no final de julho, em resposta à derrota nas urnas.

Urrutia, um fantoche de Corina, não sabe nem mesmo quem seriam os seus ministros, a poucos dias da sua posse de brincadeirinha. “Não pensei nisso ainda”, disse ele no final de dezembro à CNN.

Acreditava-se que se conseguiria repetir com Urrutia o que a direita, orientada pelos EUA, fez com Juan Guaidó poucos anos atrás. Naquela vez, a oposição criou uma Assembleia Nacional paralela e conseguiu desviar para ela o dinheiro do governo que havia sido roubado pelos Estados Unidos. Mas a oposição agora está extremamente enfraquecida.

Durante as últimas eleições, a oposição gastou muito dinheiro produzindo e disseminando propaganda barata contra o governo. Os recursos se esgotaram e não há mais nenhuma coesão entre as lideranças.

Ao menos por ora, o governo tem conseguido um sucesso maior do que no combate às desestabilizações anteriores. De fato, como era previsto, a hegemonia política e institucional e as alianças do chavismo neutralizaram o impacto mais agressivo vindo da direita e do governo dos Estados Unidos.

Agora os recursos energéticos da Venezuela poderão ser destinados a investimentos sociais (77,6%, conforme o orçamento de 2025) e não às matrizes das empresas petrolíferas estrangeiras. China, Rússia e o BRICS elevarão o nível das parcerias com o país, contribuindo para a diversificação da economia venezuelana.

Isso não é o que o imperialismo gostaria. Foi assim que a nova (e já velha) campanha de “fraude” foi montada. Passou o mesmo na maioria das 30 eleições (municipais, estaduais e nacionais) anteriores. O discurso de “fraude” só não se disseminou quando a direita venceu, porque obviamente não convinha.

Na Geórgia acontece o mesmo. O partido Sonho Georgiano – que sempre teve uma política favorável à União Europeia e aos EUA – se tornou mais pragmático e agora propõe uma neutralidade no conflito Ocidente vs. Rússia. Foi o suficiente para todo o aparato da propaganda imperialista rotulá-lo como “pró-russo” e que sua vitória nas eleições parlamentares teria sido fraudada. Uma revolução colorida foi tentada (aos moldes do Maidan ucraniano e das guarimbas venezuelanas), mas com pouca força.

Salomé Zurabishvili, presidenta da Geórgia de cidadania francesa, cumpriu o mesmo papel de María Corina. Não reconheceu a vitória dos seus rivais nas eleições parlamentares nem presidenciais e não quis deixar a presidência após o término de seu mandato. Saiu pela porta dos fundos do palácio presidencial, sem o apoio popular que pensou que teria.

A Romênia não teve a mesma sorte. Calin Georgescu, um candidato independente que também buscava uma neutralidade na relação Ocidente-Rússia, venceu o primeiro turno. Dizia-se que ele havia impulsionado sua campanha no Tik Tok de maneira suspeita, mas de repente a grande desculpa para anular sua vitória foi uma “interferência russa” a seu favor. Pura propaganda e nenhuma evidência. Resultado: não apenas a vitória de Georgescu foi anulada, como a eleição inteira. O então presidente, Marcel Ciolacu, foi então declarado o vencedor, mesmo sob os protestos dos outros candidatos.

Na posse, Ciolacu anunciou um novo arrocho fiscal: “neste mandato, não tenho a intenção de ser popular, mas sim extremamente eficiente.”

Claro que as autoridades eleitorais da Romênia foram aplaudidas pela União Europeia e os EUA, os mesmos que consideram Maduro um ditador ilegítimo.

Os venezuelanos, apesar de mais uma vitória, devem abrir o olho. O secretário de Estado de Donald Trump, Marco Rubio, é um antocomunista ferrenho e há anos vem trabalhando, desde quando era senador, pela derrubada do regime chavista. Agora terá mais poder do que nunca para concretizar os seus anseios – que são os mesmos de todo o aparato imperialista, e os do próprio Trump.

¨      Parlamento da Venezuela pedirá prisão imediata Edmundo González caso ele retorne ao país

A Assembleia Nacional da Venezuela, Parlamento unicameral do país, solicitará a prisão imediata de Edmundo González se ele entrar no país, anunciou o presidente do órgão legislativo, Jorge Rodríguez, neste domingo (5).

Asilado na Espanha desde que se recusou a reconhecer o resultado eleitoral da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), González iniciou no sábado (4) um tour por países americanos em busca de apoio a sua autoproclamação como presidente da Venezuela.

Em falas, Edmundo González Urrutia reforçou que retornará ao país tomar posse no lugar de Nicolás Maduro. As falas foram classificadas como "uma série de bobagens" pelo líder do Parlamento venezuelano Jorge Rodríguez.

"Ele vem dizendo uma série de bobagens, inclusive dizendo que retornará à República Bolivariana da Venezuela. Somos obrigados a contribuir com a Procuradoria Geral da República [...] solicitaremos, se ele tocar em um único centímetro de terra na República Bolivariana da Venezuela, sua prisão imediata por violar a Lei Orgânica Simón Bolívar", disse Rodríguez.

Em seu tour, González já se encontrou com o presidente da Argentina, Javier Milei, e com o uruguaio, Luis Lacalle Pou. Ele ainda se encontrará com o presidente norte-americano Joe Biden e visitará o Panamá e a República Dominicana antes de, supostamente, prosseguir para a posse na Venezuela.

posse presidencial venezuelana está marcada para acontecer na próxima sexta-feira (10). Segundo os dados do CNE, Maduro foi reeleito com 51,20% dos votos contra 44,2% de González.

O opositor clamou vitória ao apresentar atas paralelas de votação. Para entender o caso, o Ministério Público convocou todos os dez candidatos para prestar depoimento, mas González se recusou a comparecer.

Desde então ele foi acusado de usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência de leis, formação de quadrilha, sabotagem para danificar sistemas, associação criminosa, traição à pátria e lavagem de dinheiro.

González recebeu um salvo-conduto para se exilar na Espanha e, antes de sair do país, assinou um documento em que reconhecia sua derrota eleitoral. Assim que chegou ao país europeu, no entanto, começou a discursar contra o governo venezuelano e se autoproclamou vencedor do pleito.

O ministro das Relações Interiores, Justiça e Paz, Diosdado Cabello, garantiu que não há possibilidade de González regressar ao país sem responder à justiça pelos crimes imputados.

Da mesma forma, Rodríguez afirmou ex-líderes latino-americanos que entrarem ilegalmente no país serão considerados "persona non grata" e serão tratados como "invasores" em solo venezuelano.

O líder do Parlamento fez referência aos ex-presidentes membros do Grupo IDEA (Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas), que pretendem acompanhar González em sua tentativa de entrar na Venezuela no dia 10 para ser empossado.

Antes, os ex-presidentes se encontrarão com o opositor no Panamá em 8 de janeiro. São eles: Felipe Calderón e Vicente Fox, do México; Mario Abdo Benítez, do Paraguai; Jorge Quiroga, da Bolívia; Jamil Mahuad, do Equador, e Mireya Moscoso e Ernesto Pérez-Balladares, do Panamá.

"Virão sem ter qualquer tipo de autorização das autoridades legítimas da Venezuela para entrar no território, portanto, na primeira sessão da Assembleia Nacional de terça-feira (7) solicitarei que esse bando de traidores seja declarado persona non grata [...] isso não pode ser considerado nada além de um ato de invasão e eles serão tratados como invasores."

¨      Generais do golpe militar de 2009 em Honduras são presos e acusados ​​de assassinato

O Ministério Público de Honduras apresentou neste domingo (5) acusações contra os generais envolvidos no golpe de estado que derrubou o então presidente Manuel Zelaya em 28 de junho de 2009.

Em uma declaração, o MP especificou que os acusados ​​são o ex-chefe do Estado-Maior Conjunto na época do golpe, Romeo Vásquez Velásquez, o vice-chefe, Venancio Cervantes Suazo, e o ex-chefe do Comando de Operações Especiais, Carlos Roberto Puerto.

O advogado de Vázquez Velázquez, Fernando González, anunciou que o oficial militar aposentado foi preso na manhã de domingo (5), assim como seu segundo em comando na época, Venancio Cervantes.

Ele acrescentou que a ação legal se baseia "na presunção de que eles são responsáveis ​​pelo crime de homicídio e ferimentos graves contra os cidadãos Isis Obed Murillo Mencías e Alex Roberto Zavala, ocorridos em 5 de julho de 2009."

Murillo Mencía perdeu a vida após receber um tiro na cabeça enquanto participava de uma manifestação pacífica perto do aeroporto, enquanto Alex Zavala morreu devido a ferimentos graves em consequência de tiros disparados por membros das Forças Armadas.

Naquele dia, centenas de milhares de pessoas marcharam em Tegucigalpa em direção ao aeroporto internacional para dar as boas-vindas a Manuel Zelaya, que havia anunciado seu retorno ao país para retomar sua posição como presidente constitucional, mas os militares bloquearam a pista e impediram que o avião em que ele viajava pousasse.

O avião sobrevoou o aeroporto e a multidão antes de ser forçado a se retirar, após o que a polícia de choque e os militares dispersaram os manifestantes com gás lacrimogêneo e tiros, segundo nota correspondente o correspondente da Sputnik que estava relatando os eventos no local.

"De acordo com as investigações do Ministério Público, as ações dos militares foram brutalmente desproporcionais, pois dispararam indiscriminadamente com rifles de alta potência e alto calibre (M-16) contra cidadãos que estavam exercendo seu direito de se manifestar pacificamente", disse o MP no comunicado.

O MP afirmou que essas ações que resultaram em mortes e ferimentos graves não foram atos isolados, mas crimes cometidos por membros das forças armadas sob ordens diretas do chefe do Estado-Maior Conjunto, do vice-chefe e do diretor de Operações Especiais.

Os altos escalões do Exército são "diretamente responsáveis ​​por comandar e planejar a operação". disse o MP.

"Eles não apenas falharam em seu dever de supervisionar e controlar seus subordinados, mas com pleno conhecimento dos fatos, permitiram e facilitaram essas atrocidades."

"Sua negligência e inação constituíram graves violações dos direitos humanos, deixando os manifestantes à mercê de uma força militar que agiu com violência desumana e excessiva", disse o Ministério Público em sua declaração.

Enquanto isso, o ex-general Vázquez Velázquez, que liderou o golpe contra Zelaya, confirmou sua prisão na rede social X e disse que foi injustamente capturado "pelo governo comunista", pelo qual se declarou vítima de perseguição política.

Vásquez Velásquez foi candidato a presidente de Honduras na eleição de 2021, ficando na quinta posição com 0,2% dos votos. Na mesma eleição, Xiomara Castro, esposa de Manuel Zelaya, venceu o pleito com 51,12%.

 

¨      A ofensiva americana contra o México: muito além de Trump. Por Hugo Albuquerque

O presidente mexicano López Obrador, do progressista Movimento de Regeneração Nacional (Morena), consagrou um novo método de comunicação das massas no seu mandato (2018-2024): a Mañanera, uma coletiva de imprensa na qual ele se dedicava a tratar dos problemas do país no cara-a-cara. Isso foi mantido pela sua sucessora, Claudia Sheinbaum, que agora se viu obrigada a responder uma reportagem sensacionalista do New York Times.

Nesse caso, o jornal americano, conhecido por se opor a Donald Trump, resolveu fazer uma reportagem na qual seus jornalistas teriam testemunhado a produção de fentanil, um opioide sintético, em caráter clandestino numa cozinha de uma cidade mexicana. O relato espetaculoso ignorou que a produção da droga exige laboratórios profissionais, uma vez que a manipulação do princípio ativo da substância é letal.

Toda a história, além da provável fake news de um renomado periódico no qual se produziria “jornalismo profissional”, mostra um realinhamento do campo liberal americano, que favorece ao trumpismo – cuja nova encarnação tem abusado da retórica de bravatas contra vizinhos, sobretudo o México, a quem é atribuída a responsabilidade seja pela imigração ilegal ou pela epidemia de vício em fentanil nos Estados Unidos.

<>< Sheinbaum contra-ataca com estilo

Cientista de formação, Claudia Sheinbaum é filha da classe média imigrante europeia e ilustrada que viu no México um porto seguro durante o século 20. Além de construtora do partido Morena com López Obrador, ela se transformou em sua sucessora e mantém os mesmos métodos de comunicação com as massas de seu antecessor, embora imprimindo seu estilo próprio.

Essa forma de comunicação direta, associada às políticas sociais e populares do partido, foi chave para a construção de uma estável hegemonia, inédita no país desde a fragmentação do Partido Revolucionário Institucional (PRI) nos anos 1980, quando a cúpula dele se moveu à direita. O périplo até a fundação do Morena foi uma longa marcha, cheia de acidentes e lições importantes.

No meio do caminho, houve ainda a fundação do Partido Revolucionário Democrático (PRD) em 1989, hoje vergado ao liberalismo, até que se chegasse ao momento atual, com sua ala esquerda transformada em movimento e depois partido em 2011. A comunicação direta do presidente com as massas – e agora, da presidenta – foi um ponto central para solidificar o partido, que desde 2018 é a maior força política do México.

Voltando à vaca fria, Sheinbaum preferiu tratar diretamente de uma narrativa – em um meio supostamente sério – que corrobora com os ataques da extrema direita americana ao seu país, e ela demonstra estar disposta a um antagonismo que López Obrador resolveu evitar, inclusive no primeiro mandato de Trump. Hoje, a situação entre os dois países escala vertiginosamente, em um verdadeiro terremoto geopolítico.

Enquanto ataca o Canadá, que passará por eleições antecipadas que devem eleger a direita radical, o caso mexicano é diferente: Trump fustiga, mas com cuidado, uma vez que a liderança de esquerda é extremamente popular, ao contrário do liberal Justin Trudeau, longevo premiê canadense e seu desafeto, que se tornou um pato manco. E ambos os países são alvo da política mais geral de Trump, mas também importantes bodes expiatórios.

<>< A epidemia de fentanil: a praga do ópio chega à América

Opioide sintético dezenas de vezes mais potente que a morfina, o fentanil se tornou uma verdadeira praga nos Estados Unidos nos últimos anos. A conjunção da falta de um sistema público de saúde e o crescimento da desigualdade social e da miséria empurra as massas para a automedicação ou a drogadição pura e simples. Isso se tornou, neste exato instante, um dos maiores problemas americanos.

Chega a ser profundamente irônico que em tempos de rivalidade americana com a China, que se livrou de uma praga de opioides induzida pelos ingleses entre o século 19 e 20, que os Estados Unidos estejam de um problema dessa ordem. As causas, obviamente, são outras, apesar da narrativa construída pelos próprios democratas de que a China teria algo a ver com isso – em uma outra elucubração sobre as causas desse mesmo mal.

É claro que o histórico chinês, de que uma praga de vício em ópio criada tanto como comércio espúrio quanto como arma de guerra, ocorre a anglo-saxões em geral, posto que em geral se mede as coisas tendo a si mesmo como régua. Faltam evidências mais gerais, muito embora o fentanil, ora como arma da rival China se torne, rapidamente, também, uma ameaça trazida pelo México, uma espécie de Estado-pária e origem de todos os males.

Deixando um recorde de moradores de rua, muitos ex-veteranos com sequelas graves e militares sem tratamento médico adequado, além das intercorrências causadas pela falta de uma saúde pública, Joe Biden foi o presidente sob o qual a praga do fentanil explodiu como a grande causa de morte de jovens no seu país – e isso, sem dúvida, foi uma das principais (ou pelo menos uma das mais visíveis) causas para o retorno curioso de Trump à Casa Branca.

Como é mais fácil culpar um inimigo externo, e assim se desobrigar ainda usando isso de subterfúgio com outros objetivos: nesse sentido, Trump, flexionando o “fentanil que vem da China” para o “fentanil mexicano”, chega a uma superstição que se volta aos planos, mas encontra o New York Times, seu rival que chegou a dizer recentemente que ele seria “incapaz para liderar”.

<><> O que querem os americanos?

Desde o antigo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, em inglês) de 1994, substituído pelo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (Umsca, em inglês) em 2020, não só a dependência comercial de México e Canadá cresceu em relação aos Estados Unidos como, ainda, a qualidade de vida desses países caiu consideravelmente – o México, até a volta do Morena, bateu na lona.

Em termos comerciais, no entanto, os Estados Unidos se tornaram deficitários em relação ao México, porque o Nafta significou o deslocamento do capital americano para produzir sob custos menores – principalmente pelos salários precarizados – do outro lado da fronteira. Não à toa, Trump transformou o Nafta em um alvo preferencial da sua retórica demagógica de recuperação de empregos – enquanto aludia à questão dos imigrantes.

Para além da retórica, o que os números apontam é que Trump pretendeu aumentar a exploração dos trabalhadores imigrantes ilegais – muitos deles mexicanos – em vez de, propriamente, expulsá-los do país. Do outro lado, a mudança nos marcos de comércio entre Estados Unidos e México não mudaram a dinâmica de crescimento do déficit do lado americano, o que tem um elemento interessante: a guerra comercial contra a China.

Se por um lado Trump buscou criar dificuldades para as importações vindas do México, para estimular a produção em território americano – embora isso seja menos relevante do que parece –, por outro a guerra comercial contra a China provocou um boom das exportações do país asiático para o México, com a própria economia americana estimulando o país latino como um meio de contornar a política sancionatória de Washington.

Isso sugere que o fentanil pode ser um problema causado por China e México, nesse contexto, contra os Estados Unidos? Nada nos permite dizer isso, inclusive porque a própria retórica trumpista sempre alterna entre um país e outro, e não creditando a ambos a causa da epidemia, o que só parece dizer que trata-se um bode expiatório para a guerra comercial, a qual não é verdadeira nos termos que ela é realizada.

Colocar os déficits comerciais americanos como um “problema”, por sinal, parte da premissa de que os Estados Unidos podem suprir, a preços adequados, grande parte da oferta externa – e, assim, atender a própria e gigantesca demanda. Possivelmente, nem Trump acredita plenamente nisso, mas sim que tarifas localizadas parecem ter razões estratégicas e, ainda, ajudam a alavancar setores da economia americana no mercado de capitais.

fantasma do fentanil aparece como dupla mentira, em si mesma e na finalidade do que ela pretende como instrumento, uma vez que a guerra comercial é tanto mais sobre a bolsa de valores e as ações das corporações americanas do que sobre “substituição de importações”. Mas é uma bandeira para inflamar sua base, construir uma cultura de exploração pelo medo, ainda maior contra trabalhadores mexicanos, e manter o domínio estratégico sobre o vizinho.

A novidade da história é o New York Times coincidir com Trump em algo, o que mostra uma sinalização curiosa. Claudia Sheinbaum faz bem em confrontar o movimento, uma vez que a dependência comercial do seu país aparece como dependência para controle da inflação do outro lado. O Livro do Êxodo nos ensina que o faraó depende mais dos escravos do que o contrário. Desmontar esse ilusionismo do poder é central para o México – e para o mundo.

 

Fonte: Brasil 247/Sputnik Brasil/Opera Mundi

 

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