O que marca fim de
ciclo político global em 2024 e o que esperar em 2025?
Da ascensão do Sul
Global à vanguarda do cenário mundial com suas associações internacionais até a
esperança em novos líderes mundiais na resolução de tensões no mundo,
especialistas do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia analisam para a
Sputnik os acontecimentos de 2024 e os prognósticos para 2025.
Principais conclusões
de 2024 nas relações internacionais
De acordo com os
especialistas entrevistados, um dos principais resultados de 2024 pode ser
considerado o término de um certo ciclo político no mundo.
Como observou o
diretor científico do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, Andrei
Kortunov, 2024 é um ano recorde de várias décadas em termos de número de
eleições realizadas por todo o mundo, com mais de 1,6 bilhão de
pessoas tomando parte nelas.
"É muito
marcante o fato de que, com exceções raras, em todas essas eleições [no mundo]
os partidos no poder foram derrotados, perderam posições", notou ele.
A mais marcante
eleição ocorreu nos Estados Unidos, onde não só o ex-presidente Donald
Trump chegou ao poder, mas ambas as câmaras do Congresso, Senado e Câmara dos
Representantes, ficaram sob o controle do Partido Republicano dele.
O Reino Unido, a
França, a Alemanha, a Coreia do Sul, o Japão – Kortunov citou esses países como
exemplo da transição do poder dos partidos tradicionalmente governistas para os
da oposição.
"A chegada
de novos
líderes [no
poder] é uma demonstração de que as antigas instituições, incluindo os antigos
partidos políticos, não funcionam mais com a mesma eficácia de décadas
atrás", acrescentou.
<><> Sul
Global e BRICS na mudança da ordem mundial
Um dos maiores
resultados do ano 2024 se considera a ascensão de países do Sul Global no cenário
mundial.
Nos últimos anos, o
Sul Global fez muito para desenvolver os laços entre si, com a elevação da
importância do BRICS e a cúpula em Kazan sendo exemplos deste processo.
Destaca-se que
a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36
países e seis organizações internacionais, realizada de 22 a 24 de outubro
de 2024, na Rússia, pela primeira vez, deu tanta ou mais atenção às questões de
segurança do que às questões de desenvolvimento.
"O que
realmente está sendo construído aqui é uma visão
compartilhada de uma
ordem mundial desejável que poderia substituir a atual ordem mundial
ineficaz e, em muitos aspectos, em colapso", disse o diretor-geral do
conselho, Ivan Timofeev.
Crises mundiais e
regionais
Kortunov lembrou
que nenhum dos conflitos que 2024 herdou de 2023 foi resolvido:
# conflito na
Ucrânia;
# conflito
israelo-palestino;
# série de
conflitos no Chifre da África.
O ano também foi
marcado pela escalada de alguns deles, tendo início na Faixa de Gaza,
as operações
de Israel se
expandiram para o Líbano e a Síria.
Por outro lado,
como observou o especialista, o mundo evitou uma escalada que teria saído
do controle: não houve um confronto militar direto entre a Rússia e a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), nem uma grande guerra no
Oriente Médio.
<><> O
que 2025 nos trará?
Falando sobre o
Oriente Médio, Kortunov observou as trocas de ataques entre o Irã e
Israel, mas, no entanto, em sua opinião, uma grande guerra no Oriente Médio não
aconteceu e é pouco provável que aconteça em 2025.
Também é pouco
provável que a situação incerta na Síria seja resolvida sem o envolvimento de
grandes países.
Como uma das
questões mais importantes de 2025 ele nomeou o possível fim do conflito
na Ucrânia.
Timofeev, por sua
vez, especificou que há premissas para uma mudança nas relações entre Moscou e
o Ocidente, mas disse que não se deve ter grandes
ilusões em
relação ao novo governo dos EUA.
"É bem
provável que o governo Trump defenda um cessar-fogo [na Ucrânia], algum tipo de
trégua, talvez com o objetivo de usá-la para reconstruir a Ucrânia e
enfraquecer a Rússia de alguma outra forma", enfatizou.
Se falarmos sobre
previsões em outras áreas, Andrei Kortunov acredita que em 2025 também haverá
mais cooperação
entre o Sul Global e
a maioria mundial, mas será preciso lutar pela preservação das conquistas de
2024.
No que diz respeito
às relações entre as maiores potências econômicas do mundo, Kortunov
opinou que a concorrência tecnológica e confronto comercial entre a China e os
EUA continuará.
O especialista
enfatizou que, se os dois países chegarem a algum acordo, será tático, já que
as posições de Pequim e Washington em relação ao futuro
do sistema internacional divergem muito profundamente.
¨ Especialista espera maior impulso na cooperação do
BRICS da presidência brasileira em 2025
O BRICS, que tem
realizado vários avanços neste ano, tem muitas oportunidades para um
desenvolvimento ainda mais avançado sob a presidência do Brasil da associação,
segundo especialistas do jornal Global Times.
O BRICS é uma
associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS
em 1º de janeiro de 2024.
O ano começou com a
entrada de novos
membros na
associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora
inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
A 16ª Cúpula do
BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis
organizações internacionais, foi realizada de 22 a 24 de outubro deste ano.
"Ao fazer uma
retrospectiva do final do ano, o BRICS registrou vários avanços e conquistas
importantes em
2024. Em um cenário de conflitos geopolíticos contínuos, a ascensão e o
crescimento do BRICS, que podem mudar o cenário mundial, são frequentemente
subestimados e ignorados", opina um
especialista do Instituto de Estudos Internacionais da China, Wang Youming.
Em 2025, a
presidência vai passar para o Brasil. O lema de sua presidência
será "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança
mais Inclusiva e Sustentável".
Segundo o jornal,
Wang espera mais destaques em 2025 na cooperação do BRICS com maior impulso.
Ele acredita que
a agenda do mecanismo BRICS sob a presidência do Brasil vai incluir,
entre outras coisas:
Construção de um
sistema diversificado de finanças internacionais;
Esforços globais
para reduzir a pobreza
Eliminação da
polarização entre o Norte e o Sul Global;
"O mecanismo
do BRICS será melhor construído e mais enriquecido em seu conteúdo",
enfatizou Wang Youming.
¨ Rússia pede para evitar politização na COP30, que
acontecerá no 2025 no Brasil
A Rússia espera que
a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança
Climática (COP30), prevista para 2025 no Brasil, evite a politização, afirmou
Serguei Kononuchenko, enviado especial do Ministro das Relações Exteriores da
Rússia para questões climáticas, em entrevista à Sputnik.
O diplomata
destacou que o tema central
da agenda da conferência de 2025 deve ser a contribuição para a resposta
às mudanças climáticas.
“Esperamos que esse
processo seja conduzido de forma construtiva e não politizada, e que a
parte brasileira, com sua impressionante experiência na realização de
conferências sobre desenvolvimento sustentável e seu potencial técnico, garanta
a adoção de decisões equilibradas e eficazes sob os auspícios da Convenção da ONU
sobre Mudança Climática e do Acordo de Paris”, afirmou.
A cidade
brasileira de Belém foi
previamente escolhida como sede da conferência.
O Acordo Climático
de Paris foi aprovado em 12 de dezembro de 2015, durante a 21ª Conferência
das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada em Paris. O documento foi
assinado por 175 países, incluindo China,
EUA e Rússia.
¨ Reino Unido está atrás da Rússia e China em gastos com
defesa em meio à redução do Exército
Enquanto as Forças
Armadas do Reino Unido já estão no limite, de acordo com estatísticas oficiais,
os soldados têm recentemente abandonando o Exército "a um ritmo
alarmante", apesar dos esforços do governo para lidar com a crise
aumentando os salários dos militares, aponta um relatório.
O Reino Unido ficou
atrás de Moscou, Pequim e Teerã em termos de financiamento da defesa, segundo
um artigo do The Times.
Ao longo da última
década, o orçamento
de defesa do
Reino Unido cresceu apenas 14% (em termos de dinheiro de 2022), enquanto a
Rússia, o Irã e a China tiveram aumentos significativamente maiores de 34%, 57%
e 60%, respectivamente, segundo destaca uma pesquisa da Biblioteca da
Câmara dos Comuns.
Este
subinvestimento tem levado a uma constante redução do Exército, uma frota
de submarinos envelhecida e sistemas de defesa antiaérea não confiáveis,
enfatizou a publicação.
Os dois
porta-aviões da Marinha Real britânica, HMS Prince of Wales e HMS Queen
Elizabeth, têm sido marcados por problemas técnicos.
Além disso, o
Exército tem tido dificuldades para assegurar o número necessário de aeronaves
F-35 para os porta-aviões, bem como navios de escolta e embarcações de apoio.
Os soldados do
Reino Unido estão abandonando as Forças Armadas "a um ritmo
alarmante", apesar de um aumento recorde no salário neste ano, relatou o The
Telegraph.
O artigo destaca
que agora, pela primeira vez na história, havia apenas duas pessoas no serviço
militar por cada mil pessoas no Reino Unido. Nos últimos 12 meses, mais de
15 mil soldados teriam deixado as Forças Armadas apesar do governo aumentar os
salários em 6%, o que é o maior aumento nos últimos 22 anos.
<><>
Europa não ouviu sinal da Rússia após testes do míssil Oreshnik, diz
ex-chanceler austríaca
Os países europeus
não compreenderam o sinal enviado pela Rússia ao testar em condições de combate
um dos mais novos sistemas de mísseis, o Oreshnik, afirmou Karin Kneissl,
ex-ministra das Relações Exteriores da Áustria, nesta terça-feira (24).
Durante o dia,
Kneissl lançou o novo livro "Réquiem para a Europa", na biblioteca
Maiakovski, em São Petersburgo.
"Infelizmente,
posso dizer que eles [os países europeus] não entenderam essa mensagem. Eles
não compreenderam o recado do presidente
Vladimir Putin,
que afirmou que não deseja incentivar uma transição para uma guerra nuclear.
Ele quis enfatizar que existem muitas outras opções no arsenal [militar]
com capacidades comparáveis às das armas nucleares. Ainda assim, esse
sinal não foi ouvido", disse Kneissl a jornalistas ao responder a uma
pergunta sobre o tema.
Em resposta
ao uso
de armamentos norte-americanos e britânicos pelas Forças Armadas da
Ucrânia no fim de novembro, a Rússia realizou um ataque combinado a uma
instalação da indústria de defesa do país vizinho.
Um complexo em
Dniepre, que produzia tecnologia de mísseis e armamentos, foi atingido. Entre
as ações, ocorreu o teste em condições de combate de um dos mais
novos sistemas russos de mísseis de médio alcance, o Oreshnik, equipado com
um míssil
balístico de propulsão hipersônica sem ogiva nuclear.
¨ Ucrânia pode obter garantias de segurança sem aderir à
OTAN, diz mídia
Os EUA e os
parceiros europeus da Ucrânia têm a oportunidade de fornecer ao país garantias
de apoio militar e segurança semelhantes ao artigo da Carta da OTAN sobre
defesa coletiva, mas sem que Kiev se junte à aliança, afirmou a revista Foreign
Affairs.
"Kiev busca
garantias de segurança na forma de adesão à OTAN. No entanto, nem o
governo Biden, nem o novo governo Trump, estão dispostos a oferecer essa
possibilidade, tanto durante a guerra quanto imediatamente depois", ressalta a revista.
Note-se que a
administração futura do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, terá
que levar em conta a posição da Rússia, porque Moscou tem sido contra a
adesão da Ucrânia ao bloco militar.
De acordo com a
avaliação da revista, em vez de expandir a aliança, os EUA
têm "maneiras mais eficazes" de fornecer à Ucrânia
garantias de segurança para futuras negociações de paz para encerrar o
conflito.
Em particular,
Washington e Kiev podem concluir um tratado bilateral sobre segurança
mútua, como o que está em vigor entre os EUA e a Coreia do Sul. De acordo
com ele, as autoridades dos EUA se comprometem a fornecer apoio a Seul no
caso de um ataque externo.
Os
Estados Unidos também
poderiam seguir o caminho do acordo com Israel, que prevê uma "ação
corretiva" por parte de Washington se seu aliado no Oriente
Médio for atacado.
"Essas
abordagens, que ajudaram a criar períodos prolongados de relativa
estabilidade e paz, poderiam se tornar modelos para o que poderia ser oferecido
à Ucrânia em negociações futuras", aponta a Foreign Affairs.
Outro cenário
possível poderia ser a adesão de Kiev à UE. Um artigo do Tratado da União
Europeia contém uma disposição sobre assistência mútua, segundo a qual, se
"um Estado for vítima de agressão armada em seu território, os outros
Estados-membros são obrigados a prestar ajuda e assistência por todos os
meios à sua disposição".
Junto com as
garantias de segurança, a Ucrânia poderia receber apoio militar adicional
de seus aliados ocidentais.
"Isso
permitiria que eles ajudassem a Ucrânia a desenvolver forças
otimizadas para defender o território controlado por Kiev quando os combates
terminarem, em vez de fornecer treinamento com o objetivo de melhorar a
capacidade de retomar o território controlado pela Rússia", finalizou a
mídia.
O presidente russo,
Vladimir Putin, disse
anteriormente que a possível adesão da Ucrânia à OTAN é uma ameaça à
segurança da Federação da Rússia. Ele enfatizou que os riscos da adesão de Kiev
à aliança foram um dos motivos para o lançamento da operação militar
especial na Ucrânia.
¨ Israel e Hamas trocam acusações por atraso em
cessar-fogo enquanto FDI assassinam ao menos 23
Hamas e Israel
trocaram acusações sobre o fracasso em concluir um acordo de cessar-fogo,
apesar do progresso relatado por ambos os lados nos últimos dias.
Segundo
informações veiculadas pela Al
Jazeera nesta quarta-feira (24), enquanto a discussão acontece as Forças de
Defesa de Israel (FDI) assassinaram pelo menos 23 palestinos e feriu outros 39
em Gaza nas últimas 24 horas.
A artilharia
israelense bombardeou
na terça-feira (24) o
terceiro andar do hospital Al-Awda, no campo de refugiados sitiado de Jabalia,
no norte da Faixa de Gaza, forçando a evacuação de pacientes.
<><> Situação
em Gaza
Em 7 de outubro de
2023, militantes do grupo palestino Hamas abriram
fogo contra
militares e civis israelenses e fizeram mais de 200 reféns. Segundo as
autoridades, cerca de 1,2 mil pessoas morreram do lado israelense.
Em resposta, as
Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram ataques a alvos civis e anunciaram um
bloqueio total da Faixa de Gaza, impedindo o fornecimento de água,
eletricidade, combustível, alimentos e medicamentos. Mais de 45 mil pessoas
já morreram
do lado palestino.
O Ministério das
Relações Exteriores da Rússia apelou às partes para que cessem as hostilidades.
Moscou acredita que um acordo só é possível com base na fórmula aprovada pelo
Conselho de Segurança das Nações Unidas que prevê a solução de dois
Estados.
Fonte: Sputnik
Brasil
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