quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

O que marca fim de ciclo político global em 2024 e o que esperar em 2025?

Da ascensão do Sul Global à vanguarda do cenário mundial com suas associações internacionais até a esperança em novos líderes mundiais na resolução de tensões no mundo, especialistas do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia analisam para a Sputnik os acontecimentos de 2024 e os prognósticos para 2025.

Principais conclusões de 2024 nas relações internacionais

De acordo com os especialistas entrevistados, um dos principais resultados de 2024 pode ser considerado o término de um certo ciclo político no mundo.

Como observou o diretor científico do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, Andrei Kortunov, 2024 é um ano recorde de várias décadas em termos de número de eleições realizadas por todo o mundo, com mais de 1,6 bilhão de pessoas tomando parte nelas.

"É muito marcante o fato de que, com exceções raras, em todas essas eleições [no mundo] os partidos no poder foram derrotados, perderam posições", notou ele.

A mais marcante eleição ocorreu nos Estados Unidos, onde não só o ex-presidente Donald Trump chegou ao poder, mas ambas as câmaras do Congresso, Senado e Câmara dos Representantes, ficaram sob o controle do Partido Republicano dele.

O Reino Unido, a França, a Alemanha, a Coreia do Sul, o Japão – Kortunov citou esses países como exemplo da transição do poder dos partidos tradicionalmente governistas para os da oposição.

"A chegada de novos líderes [no poder] é uma demonstração de que as antigas instituições, incluindo os antigos partidos políticos, não funcionam mais com a mesma eficácia de décadas atrás", acrescentou.

<><> Sul Global e BRICS na mudança da ordem mundial

Um dos maiores resultados do ano 2024 se considera a ascensão de países do Sul Global no cenário mundial.

Nos últimos anos, o Sul Global fez muito para desenvolver os laços entre si, com a elevação da importância do BRICS e a cúpula em Kazan sendo exemplos deste processo.

Destaca-se que a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, realizada de 22 a 24 de outubro de 2024, na Rússia, pela primeira vez, deu tanta ou mais atenção às questões de segurança do que às questões de desenvolvimento.

"O que realmente está sendo construído aqui é uma visão compartilhada de uma ordem mundial desejável que poderia substituir a atual ordem mundial ineficaz e, em muitos aspectos, em colapso", disse o diretor-geral do conselho, Ivan Timofeev.

Crises mundiais e regionais

Kortunov lembrou que nenhum dos conflitos que 2024 herdou de 2023 foi resolvido:

# conflito na Ucrânia;

# conflito israelo-palestino;

# série de conflitos no Chifre da África.

O ano também foi marcado pela escalada de alguns deles, tendo início na Faixa de Gaza, as operações de Israel se expandiram para o Líbano e a Síria.

Por outro lado, como observou o especialista, o mundo evitou uma escalada que teria saído do controle: não houve um confronto militar direto entre a Rússia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), nem uma grande guerra no Oriente Médio.

<><> O que 2025 nos trará?

Falando sobre o Oriente Médio, Kortunov observou as trocas de ataques entre o Irã e Israel, mas, no entanto, em sua opinião, uma grande guerra no Oriente Médio não aconteceu e é pouco provável que aconteça em 2025.

Também é pouco provável que a situação incerta na Síria seja resolvida sem o envolvimento de grandes países.

Como uma das questões mais importantes de 2025 ele nomeou o possível fim do conflito na Ucrânia.

Timofeev, por sua vez, especificou que há premissas para uma mudança nas relações entre Moscou e o Ocidente, mas disse que não se deve ter grandes ilusões em relação ao novo governo dos EUA.

"É bem provável que o governo Trump defenda um cessar-fogo [na Ucrânia], algum tipo de trégua, talvez com o objetivo de usá-la para reconstruir a Ucrânia e enfraquecer a Rússia de alguma outra forma", enfatizou.

Se falarmos sobre previsões em outras áreas, Andrei Kortunov acredita que em 2025 também haverá mais cooperação entre o Sul Global e a maioria mundial, mas será preciso lutar pela preservação das conquistas de 2024.

No que diz respeito às relações entre as maiores potências econômicas do mundo, Kortunov opinou que a concorrência tecnológica e confronto comercial entre a China e os EUA continuará.

O especialista enfatizou que, se os dois países chegarem a algum acordo, será tático, já que as posições de Pequim e Washington em relação ao futuro do sistema internacional divergem muito profundamente.

¨      Especialista espera maior impulso na cooperação do BRICS da presidência brasileira em 2025

O BRICS, que tem realizado vários avanços neste ano, tem muitas oportunidades para um desenvolvimento ainda mais avançado sob a presidência do Brasil da associação, segundo especialistas do jornal Global Times.

O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro de 2024.

O ano começou com a entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, foi realizada de 22 a 24 de outubro deste ano.

"Ao fazer uma retrospectiva do final do ano, o BRICS registrou vários avanços e conquistas importantes em 2024. Em um cenário de conflitos geopolíticos contínuos, a ascensão e o crescimento do BRICS, que podem mudar o cenário mundial, são frequentemente subestimados e ignorados", opina um especialista do Instituto de Estudos Internacionais da China, Wang Youming.

Em 2025, a presidência vai passar para o Brasil. O lema de sua presidência será "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável".

Segundo o jornal, Wang espera mais destaques em 2025 na cooperação do BRICS com maior impulso.

Ele acredita que a agenda do mecanismo BRICS sob a presidência do Brasil vai incluir, entre outras coisas:

Construção de um sistema diversificado de finanças internacionais;

Esforços globais para reduzir a pobreza

Eliminação da polarização entre o Norte e o Sul Global;

Mudanças climáticas.

"O mecanismo do BRICS será melhor construído e mais enriquecido em seu conteúdo", enfatizou Wang Youming.

¨      Rússia pede para evitar politização na COP30, que acontecerá no 2025 no Brasil

A Rússia espera que a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP30), prevista para 2025 no Brasil, evite a politização, afirmou Serguei Kononuchenko, enviado especial do Ministro das Relações Exteriores da Rússia para questões climáticas, em entrevista à Sputnik.

O diplomata destacou que o tema central da agenda da conferência de 2025 deve ser a contribuição para a resposta às mudanças climáticas.

“Esperamos que esse processo seja conduzido de forma construtiva e não politizada, e que a parte brasileira, com sua impressionante experiência na realização de conferências sobre desenvolvimento sustentável e seu potencial técnico, garanta a adoção de decisões equilibradas e eficazes sob os auspícios da Convenção da ONU sobre Mudança Climática e do Acordo de Paris”, afirmou.

cidade brasileira de Belém foi previamente escolhida como sede da conferência.

O Acordo Climático de Paris foi aprovado em 12 de dezembro de 2015, durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada em Paris. O documento foi assinado por 175 países, incluindo China, EUA e Rússia.

¨      Reino Unido está atrás da Rússia e China em gastos com defesa em meio à redução do Exército

Enquanto as Forças Armadas do Reino Unido já estão no limite, de acordo com estatísticas oficiais, os soldados têm recentemente abandonando o Exército "a um ritmo alarmante", apesar dos esforços do governo para lidar com a crise aumentando os salários dos militares, aponta um relatório.

O Reino Unido ficou atrás de Moscou, Pequim e Teerã em termos de financiamento da defesa, segundo um artigo do The Times.

Ao longo da última década, o orçamento de defesa do Reino Unido cresceu apenas 14% (em termos de dinheiro de 2022), enquanto a Rússia, o Irã e a China tiveram aumentos significativamente maiores de 34%, 57% e 60%, respectivamente, segundo destaca uma pesquisa da Biblioteca da Câmara dos Comuns.

Este subinvestimento tem levado a uma constante redução do Exército, uma frota de submarinos envelhecida e sistemas de defesa antiaérea não confiáveis, enfatizou a publicação.

Os dois porta-aviões da Marinha Real britânica, HMS Prince of Wales e HMS Queen Elizabeth, têm sido marcados por problemas técnicos.

Além disso, o Exército tem tido dificuldades para assegurar o número necessário de aeronaves F-35 para os porta-aviões, bem como navios de escolta e embarcações de apoio.

Os soldados do Reino Unido estão abandonando as Forças Armadas "a um ritmo alarmante", apesar de um aumento recorde no salário neste ano, relatou o The Telegraph.

O artigo destaca que agora, pela primeira vez na história, havia apenas duas pessoas no serviço militar por cada mil pessoas no Reino Unido. Nos últimos 12 meses, mais de 15 mil soldados teriam deixado as Forças Armadas apesar do governo aumentar os salários em 6%, o que é o maior aumento nos últimos 22 anos.

<><> Europa não ouviu sinal da Rússia após testes do míssil Oreshnik, diz ex-chanceler austríaca

Os países europeus não compreenderam o sinal enviado pela Rússia ao testar em condições de combate um dos mais novos sistemas de mísseis, o Oreshnik, afirmou Karin Kneissl, ex-ministra das Relações Exteriores da Áustria, nesta terça-feira (24).

Durante o dia, Kneissl lançou o novo livro "Réquiem para a Europa", na biblioteca Maiakovski, em São Petersburgo.

"Infelizmente, posso dizer que eles [os países europeus] não entenderam essa mensagem. Eles não compreenderam o recado do presidente Vladimir Putin, que afirmou que não deseja incentivar uma transição para uma guerra nuclear. Ele quis enfatizar que existem muitas outras opções no arsenal [militar] com capacidades comparáveis às das armas nucleares. Ainda assim, esse sinal não foi ouvido", disse Kneissl a jornalistas ao responder a uma pergunta sobre o tema.

Em resposta ao uso de armamentos norte-americanos e britânicos pelas Forças Armadas da Ucrânia no fim de novembro, a Rússia realizou um ataque combinado a uma instalação da indústria de defesa do país vizinho.

Um complexo em Dniepre, que produzia tecnologia de mísseis e armamentos, foi atingido. Entre as ações, ocorreu o teste em condições de combate de um dos mais novos sistemas russos de mísseis de médio alcance, o Oreshnik, equipado com um míssil balístico de propulsão hipersônica sem ogiva nuclear.

¨      Ucrânia pode obter garantias de segurança sem aderir à OTAN, diz mídia

Os EUA e os parceiros europeus da Ucrânia têm a oportunidade de fornecer ao país garantias de apoio militar e segurança semelhantes ao artigo da Carta da OTAN sobre defesa coletiva, mas sem que Kiev se junte à aliança, afirmou a revista Foreign Affairs.

"Kiev busca garantias de segurança na forma de adesão à OTAN. No entanto, nem o governo Biden, nem o novo governo Trump, estão dispostos a oferecer essa possibilidade, tanto durante a guerra quanto imediatamente depois", ressalta a revista.

Note-se que a administração futura do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, terá que levar em conta a posição da Rússia, porque Moscou tem sido contra a adesão da Ucrânia ao bloco militar.

De acordo com a avaliação da revista, em vez de expandir a aliança, os EUA têm "maneiras mais eficazes" de fornecer à Ucrânia garantias de segurança para futuras negociações de paz para encerrar o conflito.

Em particular, Washington e Kiev podem concluir um tratado bilateral sobre segurança mútua, como o que está em vigor entre os EUA e a Coreia do Sul. De acordo com ele, as autoridades dos EUA se comprometem a fornecer apoio a Seul no caso de um ataque externo.

Os Estados Unidos também poderiam seguir o caminho do acordo com Israel, que prevê uma "ação corretiva" por parte de Washington se seu aliado no Oriente Médio for atacado.

"Essas abordagens, que ajudaram a criar períodos prolongados de relativa estabilidade e paz, poderiam se tornar modelos para o que poderia ser oferecido à Ucrânia em negociações futuras", aponta a Foreign Affairs.

Outro cenário possível poderia ser a adesão de Kiev à UE. Um artigo do Tratado da União Europeia contém uma disposição sobre assistência mútua, segundo a qual, se "um Estado for vítima de agressão armada em seu território, os outros Estados-membros são obrigados a prestar ajuda e assistência por todos os meios à sua disposição".

Junto com as garantias de segurança, a Ucrânia poderia receber apoio militar adicional de seus aliados ocidentais.

"Isso permitiria que eles ajudassem a Ucrânia a desenvolver forças otimizadas para defender o território controlado por Kiev quando os combates terminarem, em vez de fornecer treinamento com o objetivo de melhorar a capacidade de retomar o território controlado pela Rússia", finalizou a mídia.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse anteriormente que a possível adesão da Ucrânia à OTAN é uma ameaça à segurança da Federação da Rússia. Ele enfatizou que os riscos da adesão de Kiev à aliança foram um dos motivos para o lançamento da operação militar especial na Ucrânia.

¨      Israel e Hamas trocam acusações por atraso em cessar-fogo enquanto FDI assassinam ao menos 23

Hamas e Israel trocaram acusações sobre o fracasso em concluir um acordo de cessar-fogo, apesar do progresso relatado por ambos os lados nos últimos dias.

Segundo informações veiculadas pela Al Jazeera nesta quarta-feira (24), enquanto a discussão acontece as Forças de Defesa de Israel (FDI) assassinaram pelo menos 23 palestinos e feriu outros 39 em Gaza nas últimas 24 horas.

A artilharia israelense bombardeou na terça-feira (24) o terceiro andar do hospital Al-Awda, no campo de refugiados sitiado de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, forçando a evacuação de pacientes.

<><> Situação em Gaza

Em 7 de outubro de 2023, militantes do grupo palestino Hamas abriram fogo contra militares e civis israelenses e fizeram mais de 200 reféns. Segundo as autoridades, cerca de 1,2 mil pessoas morreram do lado israelense.

Em resposta, as Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram ataques a alvos civis e anunciaram um bloqueio total da Faixa de Gaza, impedindo o fornecimento de água, eletricidade, combustível, alimentos e medicamentos. Mais de 45 mil pessoas já morreram do lado palestino.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia apelou às partes para que cessem as hostilidades. Moscou acredita que um acordo só é possível com base na fórmula aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas que prevê a solução de dois Estados.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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