quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Jejum intermitente pode estar associado a maior risco de morte, diz estudo

Um novo estudo mostrou que pessoas adeptas um tipo de jejum intermitente tinham um risco 91% maior de morte por doença cardiovascular. Os achados foram apresentados na Epidemiology and Prevention | Lifestyle and Cardiometabolic Scientific Sessions 2024, da American Heart Association.

O jejum intermitente é uma estratégia baseada em consumir todas as refeições do dia dentro de uma janela de horário e passar a maior parte do dia em jejum. O estudo em questão analisou 20 mil adultos dos Estados Unidos e descobriu que as pessoas que limitavam a sua alimentação a menos de 8 horas por dia (ou seja, comiam apenas nesse período) tinham maior probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares em comparação com as pessoas que comiam em intervalos regulares (12 a 16 horas por dia).

No jejum intermitente, muitas pessoas seguem uma dieta alimentar com cronograma 16:8, onde comem todos os alimentos em uma janela de 8 horas e fazem jejum pelas 16 horas restantes, todos os dias. Alguns estudos anteriores mostraram que esse tipo de alimentação poderia trazer benefícios para a saúde, como melhorar a pressão arterial, reduzir a glicose no sangue e o colesterol.

“Restringir o tempo de alimentação diária a um curto período, como 8 horas por dia, ganhou popularidade nos últimos anos como uma forma de perder peso e melhorar a saúde do coração”, disse o autor sênior do estudo, Victor Wenze Zhong, professor e presidente do departamento de epidemiologia e bioestatística da Escola de Medicina da Universidade Jiao Tong de Xangai, em Xangai, China.

“No entanto, os efeitos a longo prazo para a saúde da alimentação com restrição de tempo, incluindo o risco de morte por qualquer causa ou doença cardiovascular, são desconhecidos”, completa.

<><> Como o estudo foi feito e quais resultados foram encontrados?

Para o estudo, os pesquisadores investigaram o potencial impacto na saúde a longo prazo de seguir jejum intermitente com uma janela para refeições de 8 horas. Para isso, eles revisaram informações sobre padrões alimentares para participantes das Pesquisas Nacionais de Exame de Saúde e Nutrição (NHANES) anuais de 2003-2018, dos Estados Unidos, e compararam com dados sobre pessoas que faleceram nos EUA entre 2003 e 2019, disponíveis no banco de dados do Índice de Morte do CDC (Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças).

Os participantes do estudo foram acompanhados por um período médio de 8 anos, com um período máximo de 17 anos de acompanhamento. Os adultos tinham, pelo menos, 20 anos no momento da inscrição na NHANES e preencheram dois questionários sobre a alimentação no primeiro ano de inscrição. Aproximadamente metade dos participantes se identificaram como homens e metade se identificaram como mulheres.

<><> Entre os resultados da análise, estão:

  • Pessoas que seguiram uma dieta com restrição para realizar refeições em menos de 8 horas do dia tiveram um risco 91% maior de morte devido a doenças cardiovasculares;
  • O risco aumentado de morte cardiovascular também foi observado em pessoas que vivem com doenças cardíacas ou câncer;
  • Em pessoas com doenças cardiovasculares, uma alimentação feita em um período superior a 8 horas, mas inferior a 10 horas diárias, também foi associada a um risco 66% maior de morte por doença cardíaca ou AVC (acidente vascular cerebral);
  • A alimentação com restrição de tempo não reduziu o risco geral de morte por qualquer causa;
  • Uma duração de alimentação superior a 16 horas por dia foi associada a um menor risco de mortalidade por câncer entre pessoas com câncer.

“Ficamos surpresos ao descobrir que as pessoas que seguiam um horário alimentar de 8 horas com restrição de tempo tinham maior probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares. Embora esse tipo de dieta tenha sido popular devido aos seus potenciais benefícios a curto prazo, a nossa investigação mostra claramente que, em comparação com um intervalo de tempo de alimentação típico de 12-16 horas por dia, uma menor duração da alimentação não estava associada a uma vida mais longa”, diz Zhong.

O autor do estudo também acredita que as descobertas incentivam uma abordagem mais cautelosa e personalizada em relação às recomendações alimentares, levando em consideração o estado de saúde do paciente e as evidências científicas mais recentes.

<><> Estudo aponta apenas relação e não causa

No entanto, o pesquisador ressalta que os resultados do estudo mostram apenas uma relação entre jejum intermitente e morte por doença cardiovascular. “Embora o estudo tenha identificado uma associação entre uma janela alimentar de 8 horas e morte cardiovascular, isso não significa que a alimentação com restrição de tempo tenha causado morte cardiovascular”, afirma.

Pesquisas futuras poderão examinar os mecanismos biológicos por trás das associações entre uma alimentação com restrição de tempo e resultados cardiovasculares adversos. Além disso, também é necessário entender quais outros fatores poderiam estar relacionados à morte por doença cardiovascular, como peso, estresse e outros fatores de risco.

“Um desses detalhes envolve a qualidade dos nutrientes das dietas típicas dos diferentes subconjuntos de participantes [do estudo]. Sem esta informação, não pode ser determinado se a densidade de nutrientes pode ser uma explicação alternativa às descobertas que atualmente se concentram na janela de tempo para comer”, afirma Christopher D. Gardner, professor de Medicina Rehnborg Farquhar da Universidade de Stanford e presidente do comitê de redação da declaração científica do evento em que o estudo foi apresentado.

¨      Jejum intermitente aumenta compulsão alimentar, comprova estudo brasileiro

O jejum intermitente é uma “dieta” amplamente difundida nas redes sociais como algo simples de se reproduzir, apesar da falta de evidências científicas sólidas sobre sua eficácia e segurança. Diversos estudos, na realidade, mostram os problemas dela, incluindo um mais recente, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, mostram os riscos desse comportamento alimentar.

Feita com estudantes da própria universidade, a pesquisa mostrou como pessoas que relataram jejuns nos últimos três meses antes da entrevista apresentaram um aumento de compulsão alimentar e desejo por comida. “Aqueles com episódios severos de compulsão tiveram uma taxa 140% maior de horas de jejum em comparação aos não compulsivos. Além disso, a cada aumento na escala de desejo por comida, houve aumento também nas horas de jejum”, detalha Jônatas de Oliveira, autor do estudo, em entrevista ao Jornal da USP.

Para chegar a esta conclusão, Oliveira e sua equipe avaliaram 458 estudantes da USP, incluindo pessoas que praticaram e não jejum nos três meses anteriores. Foi realizada uma entrevista online que comparou comparou níveis de restrição cognitiva, compulsão alimentar, desejos por comida e consumo de alimentos “proibidos”. Então, um modelo foi utilizado para examinar a associação entre horas de jejum e traços de alimentação desordenada. Eles chegaram aos seguintes resultados:

  • A taxa de horas de jejum praticadas é 115% maior entre os comedores compulsivos em comparação com aqueles que não comiam compulsivamente;
  • A taxa de horas de jejum é 29% maior em participantes com compulsão alimentar moderada, aumentando para 140% em pessoas com compulsão alimentar grave;
  • Já ao verificar desejos por comida, a taxa de horas foi 2% maior para cada aumento na unidade da escala.

É importante reforçar que o estudo não realizou diagnósticos de transtorno alimentar, já que isso deve ser feito com uma entrevista clínica. Mas foi possível entender o nível de compulsividade. “Dentro do espectro da compulsividade, existe a compulsão com baixo peso, a compulsão junto com a purgação e há ainda a compulsão isolada. É como se fossem categorias de um possível diagnóstico de transtorno alimentar”, diferencia Oliveira.

¨      Estudo aponta contraindicação para a prática de jejum intermitente

jejum intermitente e a restrição calórica têm sido apontados como benéficos para a saúde e a longevidade. Experimentos com animais divulgados na revista Nature, no entanto, sugerem que, a depender do que se come logo após jejuar e da predisposição genética do indivíduo, a prática pode aumentar o risco de desenvolvimento de tumores no intestino.

Conduzido por cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, o estudo é o primeiro a analisar as alterações de células intestinais não apenas durante a interrupção alimentar, mas no período pós-jejum. Os pesquisadores identificaram que, nesse momento específico, quando ocorre a realimentação, há uma proliferação intensa de células-tronco intestinais, o que traz benefícios, mas também riscos ao organismo, incluindo maior suscetibilidade ao surgimento de tumores.

“Isso quer dizer que o jejum intermitente causa câncer no intestinoNão. Vários estudos já demonstraram os benefícios dessa prática, inclusive para a prevenção da doença. Verificamos no nosso estudo que, por aumentar a proliferação de células-tronco no intestino, dependendo da predisposição genética e, possivelmente, do que se come após o jejumpode ocorrer um aumento do risco de desenvolvimento de tumores só pelo fato de se fazer jejum”, afirma Renan Oliveira Corrêa, coautor do artigo. Ele participou da investigação durante estágio de pesquisa no MIT, com apoio da FAPESP.

Os resultados sugerem que a prática de jejum intermitente, portanto, não seria recomendável para indivíduos com histórico de câncer de intestino na família. O achado também joga luz sobre o que comer após a realização do jejum. Dessa forma, alimentos carcinogênicos – como carne processada, produtos ricos em açúcar e bebidas alcoólicas – não seriam indicados, visto que poderiam influenciar a ocorrência de mutações genéticas nesse período mais crítico de proliferação celular.

“Embora o experimento tenha sido feito com camundongos, em condições artificiais, é possível sugerir maior cuidado para a realização de jejum intermitente”, afirma Corrêa, ressaltando que mais estudos sobre o tema precisam ser realizados.

<><> Renovação

Como explica o pesquisador, o epitélio, tecido que reveste internamente o intestino, se renova em uma frequência muito alta. Em humanos, a renovação total do epitélio ocorre de três a cinco dias, por exemplo. O processo se dá de modo natural, por meio de células-tronco que, ao se multiplicarem e se diferenciarem, são capazes de gerar todos os tipos celulares presentes no epitélio.

Mais recentemente, pesquisadores entenderam que a proliferação das células-tronco pode ser modulada por diferentes fatores. Em trabalho anterior, o grupo de Corrêa no Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) havia mostrado que a alimentação – mais especificamente o consumo de fibras solúveis – favorece a renovação do epitélio.

“Além da regulação por nutrientes ingeridos, agora conseguimos demonstrar que essa proliferação pode também ser modulada pela frequência alimentar, como no caso do período pós-jejum”, explica Marco Aurélio Ramirez Vinolo, professor do IB-Unicamp e coautor dos dois estudos.

“Isso acontece porque as células se adaptam à condição de interrupção alimentar e respondem proliferando de modo mais intenso quando os animais foram alimentados novamente após o jejum. Isso tem um aspecto positivo, pois faz com que o epitélio seja mantido e recuperado [de um dano ou estresse, por exemplo] mais rapidamente. No entanto, verificamos um potencial risco para o desenvolvimento de mais tumores caso as mutações cancerígenas ocorram nesse exato momento de maior proliferação”, destaca Vinolo, que foi orientador de Corrêa no doutorado.

No trabalho recentemente publicado na Nature, os pesquisadores analisaram a proliferação das células-tronco em três situações distintas: quando os animais estavam em jejum, quando eles se alimentavam após serem submetidos ao jejum e ao seguir dieta normal sem pausas prolongadas de alimentação. A comparação mostrou que as células-tronco do epitélio se proliferam mais intensamente no período de realimentação (após 24 horas de jejum).

“Analisando o mecanismo envolvido, descobrimos que a proliferação mais intensa das células-tronco se dá por causa da ativação de uma via celular denominada mTORC – associada ao metabolismo celular e à síntese de proteínas. Basicamente, com a ativação dessa via, passa-se a produzir mais proteínas por meio do metabolismo das poliaminas, moléculas importantes para que ocorra a divisão celular, o que resulta na maior proliferação das células-tronco nesse período de realimentação”, explica Corrêa.

No estudo, quando os pesquisadores ativaram mutações genéticas no período pós-jejum, os camundongos apresentaram maior probabilidade de desenvolver tumores intestinais em estágio inicial.

“Nosso achado mostra, portanto, que é o caso de não dar sorte para o azar. O jejum intermitente pode ser muito eficiente, pois de fato reduz o consumo de calorias. Algumas pesquisas mostraram que, além de favorecer a perda de peso, a prática reduz o risco de diabetes e pode trazer melhorias ao sistema imune, protegendo o organismo contra alguns tipos de câncer. No entanto, identificamos que ele não deve ser indicado para todo mundo, já que o momento de realimentação é de grande proliferação celular e pode tornar as células mais suscetíveis à formação de tumores”, pontua Corrêa.

¨      Jejum intermitente emagrece, mas leva à queda de cabelo, mostra estudo

jejum intermitente é uma das estratégias mais populares para quem deseja perder peso. Um novo estudo mostrou que, de fato, a dieta pode levar ao emagrecimento. Porém, ao mesmo tempo, pode desencadear uma resposta de estresse que leva à queda de cabelo.

O trabalho, publicado na sexta-feira (13) na revista científica Cell, sugere que, embora o jejum intermitente possa proporcionar benefícios à saúde, nem todos os tipos de tecidos e células são beneficiados.

O jejum intermitente é uma estratégia alimentar que consiste em alternar períodos de jejum prolongados (entre 16 e 24 horas) com períodos de alimentação sem restrições. O objetivo principal é o emagrecimento por meio da aceleração do metabolismo, fazendo com que o corpo utilize as reservas de gordura como principal fonte de energia.

Para o novo estudo, os pesquisadores rasparam o pelo de camundongos e os submeteram a um dos dois regimes de jejum intermitente: alimentação com restrição de tempo e jejum em dias alternados, no qual os animais jejuaram por 24 horas e então comeram sua dieta normal pelas 24 horas seguintes.

Ao final de três meses, os animais que fizeram dieta não tinham regenerado tanto cabelo quanto os animais de controle que comeram um número similar de calorias, segundo os autores.

Diante disso, os pesquisadores rastrearam esse efeito até a morte de células-tronco do folículo capilar. Experimentos anteriores mostraram que o jejum intermitente iniciou a comunicação entre as glândulas suprarrenais, órgãos que produzem hormônios do estresse, e as células de gordura na pele.

Essa interferência fez com que as células de gordura da pele liberassem ácidos graxos, que interromperam o metabolismo das células-tronco e causaram danos que, em alguns casos, levaram à morte dessas células.

Para saber se esse efeito acontece com os humanos, os pesquisadores designaram 49 pessoas para um regime de jejum intermitente ou para alimentação sem restrição de tempo, de forma aleatória. O crescimento do cabelo em pessoas que fizeram o jejum foi 18% mais lento do que no grupo controle, segundo os autores.

Testes moleculares realizados nesses participantes sugerem que o fator por trás disso pode ser um mecanismo semelhante ao observado nos camundongos.

Na opinião dos pesquisadores, as descobertas do estudo podem levar a mais investigações sobre os efeitos do jejum nas células do cérebro.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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