segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

João Filho: Faria Lima - pessimista na economia, otimista na morte de Lula

“Faria Lima lança bet para apostar na morte de Lula”, manchetou o site humorístico Sensacionalista. O lançamento da bet é mentira, mas a aposta da Faria Lima na morte de Lula é uma verdade absoluta. Depois de passar as duas últimas semanas abanando o rabinho para o ultraliberalismo de Milei, a cachorrada da Faria Lima começou a salivar com a recente complicação de saúde do presidente. 

Mesmo sabendo que os procedimentos cirúrgicos pelos quais ele passou eram de baixo risco e que em breve voltará normalmente ao expediente em Brasília, os agentes do mercado não pensaram duas vezes antes de colocar um preço na vida do presidente e passaram a especular cenários após a sua morte. 

A internação de Lula para a cirurgia melhorou — e muito —  o humor do mercado financeiro. Numa tacada só, a Bolsa disparou e o dólar despencou. A Faria Lima deu início ao terrorismo eleitoral para 2026. Nas mesas de negociações de corretoras, os urubus de sapatênis apostam que Lula pode morrer ou se afastar do cargo por não ter mais condições de saúde. 

Parte do otimismo se deve à possibilidade de Geraldo Alckmin comandar o país e as negociações em torno do pacote de corte de gastos com o Congresso.”A visão é de que Alckmin faria um governo mais parecido do que o de Temer, mais assertivo na organização das contas públicas e mais preocupado em entregar o mandato com controle da dívida pública”, disse abertamente Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Como se vê, os grandes agentes financeiros não fazem a mínima questão de esconder o otimismo com um cenário futuro sem Lula. 

Não é só o mercado financeiro que sonha com Lula morto. Lembremos que o governo Bolsonaro planejou matá-lo. Se o golpe tivesse sido bem sucedido, seria um dia de grande festa na Faria Lima.

Não é à toa que, segundo pesquisa Quaest, se a eleição fosse hoje, 80% dos agentes do mercado votariam em Bolsonaro contra Lula. A pesquisa foi feita logo após a revelação da Polícia Federal de que o governo Bolsonaro tinha um plano para matar o petista.

Ou seja, os faria limers preferem ter na presidência um golpista sanguinário que conduza a economia a reboque do mercado financeiro. E daí que Bolsonaro quis matar Lula? 

A opinião desta entidade sem cara e sem coração chamada mercado é historicamente usada como meio para chantagear governos e manipular a opinião pública. Por enquanto, a opinião da Faria Lima é quase diametralmente oposta ao da população.

Se a eleição fosse hoje e o inelegível Bolsonaro pudesse concorrer, Lula lhe daria uma sova no segundo turno de 51% a 35%, segundo pesquisa Quaest desta semana. Como Bolsonaro está mais próximo da cadeia do que das urnas, simulou-se também a disputa de Lula com os possíveis candidatos da direita e da extrema direita.

O petista venceria em todos os cenários. Tanto Tarcísio de Freitas quanto Pablo Marçal e Ronaldo Caiado perderiam para Lula em um segundo turno. Isso significa que, para a tristeza dos urubus de sapatênis, Lula está mais próximo da reeleição do que do caixão. 

Apesar de governar com o mercado colocando a faca em seu pescoço, Lula chega à metade do mandato com uma boa avaliação. 52% dos brasileiros aprovam o seu governo contra 47% que desaprovam. Não há grande folga nos números, mas eles seriam suficientes para garantir a reeleição em 2026.

A pesquisa avaliou também a hipótese de Haddad disputar a eleição no lugar de Lula. Ele venceria todos os candidatos bolsonaristas em um eventual segundo turno, ainda que de maneira mais apertada. Bolsonaro, o candidato queridinho do mercado, é hoje o líder político mais rejeitado do país, com 57% dos brasileiros afirmando que não votam nele de jeito nenhum. 

É claro que ainda é muito cedo para qualquer previsão e o Brasil segue bem dividido, mas os números indicam que há uma discrepância enorme entre o que pensa a Faria Lima e o que pensa o povo.

Segundo a pesquisa feita com a turminha do mercado, todos os candidatos bolsonaristas venceriam Lula com folga. O inelegível venceria por 80% a 12%;  Tarcísio, por 93% a 5%; Caiado, por 91% a 7%; e Marçal, por 65% a 17%. Pela vontade da Faria Lima o golpismo venceria Lula com folga em qualquer cenário. 

Não é preciso ser de esquerda ou fã do Lula para constatar a chantagem que o mercado financeiro faz de modo permanente contra o governo.

Nesta semana, o deputado da bancada ruralista Luiz Carlos Hauly, do Podemos, um antipetista histórico do Paraná, deixou os incautos confusos com uma fala em plenário na semana passada.

Segundo ele, “dizer que o Brasil está quebrado” é “irresponsabilidade e politicagem de mau gosto contra o nosso povo. O que o mercado financeiro vem fazendo com a economia chama-se crime de lesa-pátria”. 

Hauly acusou ainda a existência de um “conluio” entre o Banco Central e o mercado financeiro: “se ele [Banco Central] é independente, não deveria ouvir a opinião do mercado financeiro e não deveria aumentar a taxa do dólar, porque não há nenhum motivo. Somos superavitários na balança comercial. Não sou governo, não defendo o governo, mas sou brasileiro patriota e defendo a economia brasileira”.

Em entrevista à Folha, o deputado afirmou que parte da oposição tem “interesses econômicos por trás, para manipular o mercado”. “Todo dia falam que a economia vai quebrar, que está indo mal. E eu, como estudioso da matéria, sei que os dados não são estes”, arrematou o deputado. 

Não é necessário ser lulista para fazer as mesmas constatações de Hauly. Basta ser honesto com os fatos. O desemprego teve queda recorde, o pib cresceu além das expectativas, a renda do trabalhador melhorou, a pobreza diminuiu e os programas sociais foram retomados. O mercado aposta na morte do presidente que conquistou tudo isso, enquanto o povo, neste momento, aposta na sua reeleição.

 

¨      Lula morto, sonho de consumo da Faria Lima. Por Cesar Fonseca

O mercado vibra com a enfermidade do presidente Lula.

Há até especuladores radicais que recomendam aos médicos que o assistem que completem o serviço: liquidem-no, fisicamente.

O risco, para Faria Lima, não é técnico, o que, aparentemente, chama de desajuste fiscal, a gastança primária - receitas menos despesas, exclusive juros.

Não.

O verdadeiro risco, para os especuladores, é político, enfrentar a expectativa de ter pela frente Lula vivo.

Lula morto seria o ideal para os pescadores em águas turvas.

As declarações deles não deixam dúvidas: com o presidente petista imobilizado no hospital pelo maior tempo possível, se preferível para sempre, ocorre o que mais desejam, isto é, a permanente e segura valorização dos ativos, os aumentos crescentes dos lucros especulativos.

Lula morto é lucro certo para o mercado.

Já o contrário, Lula vivo, o que a Faria Lima enxerga com ampla nitidez e receio é a incerteza para seus lucros especulativos, instabilidade perigosa.

Lula vivo representa o que não querem: crescimento econômico, redução da taxa de desemprego, valorização dos salários, aumento do consumo e dos investimentos, avanço da arrecadação e maiores gastos sociais, responsáveis pelo crescimento da demanda global.

A valorização dos salários é sinônimo de Lula vivo, maior expectativa de vida para os pobres e aposentados, perto de 50 milhões de pessoas comendo e bebendo, feliz, socialmente incluídas, elevando a renda média nacional.

O mercado vê essa realidade se materializando, fruto da melhor distribuição da renda nacional, como ameaça aos lucros exorbitantes que está auferindo, enquanto persiste o juro elevado, razão principal da desigualdade social.

Os economistas neoliberais, tipo o megaespeculador Armínio Fraga, vê tal situação como ameaça, porque sinaliza combate à desigualdade por meio da redução da lucratividade proporcionada pelos juros extorsivos.

Juros extorsivos, que matam os mais pobres de fome, é a estabilidade permanente que faz a felicidade da Faria Lima.

<><> Mercado teme democracia

Sobretudo, Lula vivo e saudável no comando do governo aponta para democratização e aumento de oportunidades para realização de reformas sociais e políticas capazes de mudar o panorama neoliberal que leva o Brasil ao impasse histórico, ao perigo de golpes políticos, como o organizado pelo general Braga Neto e cia ltda.

Significa, enfim, rompimento da democracia, anarquia econômica e crise social.

É esse o ambiente anárquico que deseja a direita de modo que possa bater às portas dos quartéis, a fim de concretizar seus planos sinistros.

Lula vivo é perigo de resistência contra os ataques à democracia que a política recessiva pró-especulacão proporciona.

O mercado, portanto, conseguiu, como diz o Brazil Journal, porta-voz da Faria Lima, furar a bolha do pessimismo, matando, simbolicamente, o presidente Lula.

Alcançou, dessa forma, seu nirvana: valorização especulativa dos ativos, sem medo de ser feliz.

Foi o momento em que o BC neoliberal, sob comando do bolsonarista fascista Campos Neto, aproveitou para dar sua tacada mais certeira, o da enfermidade do presidente, para garantir a Selic mais alta possível, com unanimidade dos integrantes do Copom, sob aplauso dos abutres da Faria Lima.

O problema, porém, é que a especulação monetária ganha autonomia, como monstro que saiu da garrafa, assustando os próprios banqueiros, temerosos de perder controle da situação.

A estratégia dos especuladores, agora, é secar as reservas cambiais nacionais, intervindo reiteradamente no mercado, para deixar o governo de muletas.

Fazendo isso, não lhe resta alternativa senão acelerar privatizações na bacia das almas, entregando o resto de ativos que sobrarão.

Com Lula morto, essa tarefa ficaria bem mais fácil.

Seria mamão com açúcar.

Mas, o carcará, para desgosto dos abutres, mostra-se vivo e forte.

·        Faria Lima - BC puxa violentamente juro e mostra que é governo de fato

Pelo menos até agora, desde a posse do presidente Lula em 2023, quem está dando as coordenadas da política econômica é o mercado financeiro, é a sua expressão simbólica, a Faria Lima, como acaba de ficar provado com mais uma puxada de 1 ponto percentual na taxa Selic que inviabiliza crescimento econômico sustentável.

Até parece que os especuladores aproveitaram o momento em que o presidente passa pelo desconforto e perigo de um sangramento no cérebro, devido ao tombo que levou em 19 de julho último, motivador de cogitações extemporâneas, para dar uma última tacada de juro, em nome do combate à inflação.

A propósito, é a inflação, que escapole da meta de 3,5%, a responsável pelo juro alto ou, ao contrário, é o juro alto que produz a inflação?

O fato é que a expectativa da alta de juro rege os repasses dos empresários dos custos aos preços das mercadorias, desde sempre.

A racionalidade que preside a economia é a irracionalidade de que o juro futuro é trazido a valor presente para comandar as decisões do Copom.

O BC Independente neoliberal já canta dois novos aumentos das taxas nas próximas reuniões, porque estariam precificados, fazendo coro com a Faria Lima.

A restrição monetária presidida pelo juro alto é a receita à qual os bancos centrais da periferia capitalista estão atados, mecanicamente, segundo a tese ideológica de que a inflação é fenômeno monetário cujo combate se faz puxando o juro para equilibrar relação dívida-PIB.

Esse equilíbrio jamais é alcançado porque o mercado-Faria Lima cuida previamente de antecipar que os gastos sociais do governo são os provocadores da inflação e não os gastos financeiros que suplantam aqueles em escala exponencial, graças ao bordão neoliberal repetido insistentemente pela mídia corporativa porta-voz da Faria Lima.

<><> PRESIDENTE DOENTE MOTIVA JURO ALTO

A doença do presidente, portanto, entrou no rol dos argumentos que impulsionam o comportamento futuro instável cuja estabilidade somente é alcançada mediante juro alto.

O juro alto é, para a Faria Lima, a medida de todas as coisas.

A instabilidade induzida pelo mercado tem preço à vista: privatização total da economia a custo irrisório para investidor internacional e seus aliados internos, a elite antinacionalista, favorecidos pela alta do dólar como sinal indutor do status quo privatista, puxado pelo juro alto.

O BC Independente é a arma da governabilidade especulativa que impulsiona desarticulação produtiva capaz de inviabilizar compromisso desenvolvimentista do presidente Lula prometido em campanha eleitoral para vencer o fascismo ultraneoliberal.

<><> JÁ A CHINA...

Enquanto isso, o governo chinês, locomotiva econômica e financeira internacional, vai na contramão do neoliberalismo tupiniquim.

O presidente Xi Jinping anunciou essa semana duas providências desenvolvimentistas que sinalizam como a China vencerá o neoliberalismo financista ultra-especulativo que domina a economia brasileira.

Primeiro, Jinping anunciou que reduzirá a zero tarifas de importação de produtos fabricados pelos países menos desenvolvidos.

Eles poderão aproveitar as vantagens comparativas oferecidas pelo amplo mercado interno chinês.

E como complemento dessa ampla abertura comercial, Jinping adiantou que a China promoverá afrouxamento monetário para reduzir juros, elevar competitividade de preços e salários, diminuir dívida pública e perdoar dívida contratada a prazo para investidores que aplicarem na China.

O resultado prático dessa alavancagem econômico-financeira chinesa anti neoliberal é o que os empresários de todo mundo mais desejam: aumento da eficiência marginal do capital, ou seja, dos lucros.

Eis, portanto, a estratégia chinesa para combater o protecionismo americano prometido pelo futuro presidente Donald Trump.

<><> ANTIPROTECIONISMO MONETÁRIO E FISCAL

É previsível que diante da redução geral de preços decorrente do afrouxamento monetário, que diminui inflação, como demonstrou a experiência americana para combater o crash de 2008, os investidores americanos, mais uma vez, corram para a China, a fim de produzirem barato, a fim de colocar seus produtos no próprio mercado americano, mesmo sob ameaças do protecionismo trompista.

Xi Jinping enterra, com essa estratégia chinesa, o modelo monetário de Bretton Woods, substituindo-o pelo método das finanças funcionais - nova política monetária - imune à inflação, desde que governos emitam moedas nacionais para promover desenvolvimento, salvo se se endividarem em moeda estrangeira.

Serão ampliadas globalmente as trocas comerciais por meio de moedas nacionais.

Pode estar à vista, com a nova tacada monetária chinesa, processo de aceleração da desdolarização, tão temida por Trump como arma de guerra para enfraquecer a moeda americana, na sua tarefa histórica de valorizar ativos americanos no mundo em prejuízo das moedas concorrentes, graças à hegemonia do dólar.

A providência chinesa será, portanto, motivo impulsionador para o Brasil e demais países latino-americanos se filiarem à rota da seda a fim de fugir da tirania monetária americana, que se traduz em juros altos impostos pelo Banco Central Independente, totalmente, dependente do monetarismo ultraneoliberal de Washington, que não deixa o Brasil crescer sustentavelmente.

 

Fonte: The Intercept/Brasil 247

 

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