João Filho: Faria Lima - pessimista na economia, otimista na
morte de Lula
“Faria Lima lança bet para apostar na morte de
Lula”, manchetou o site
humorístico Sensacionalista. O lançamento da bet é mentira, mas a aposta da
Faria Lima na morte de Lula é uma verdade absoluta. Depois de passar as duas
últimas semanas abanando o rabinho para o
ultraliberalismo de Milei, a cachorrada da Faria Lima começou a salivar com a
recente complicação de saúde do presidente.
Mesmo sabendo que os procedimentos cirúrgicos pelos
quais ele passou eram de baixo risco e que em breve voltará normalmente ao
expediente em Brasília, os agentes do mercado não pensaram duas vezes antes de
colocar um preço na vida do presidente e passaram a especular cenários após a
sua morte.
A internação de Lula para a cirurgia melhorou — e muito
— o humor do mercado financeiro. Numa tacada só, a Bolsa disparou e o
dólar despencou. A Faria Lima deu início ao terrorismo eleitoral para 2026. Nas
mesas de negociações de corretoras, os urubus de sapatênis apostam que Lula pode
morrer ou se afastar do cargo por não ter mais condições de saúde.
Parte do otimismo se deve à possibilidade de Geraldo
Alckmin comandar o país e as negociações em torno do pacote de corte de gastos
com o Congresso.”A visão é de que Alckmin faria um governo mais parecido do que
o de Temer, mais assertivo na organização das contas públicas e mais preocupado
em entregar o mandato com controle da dívida pública”, disse abertamente Gustavo Cruz,
estrategista-chefe da RB Investimentos.
Como se vê, os grandes agentes financeiros não fazem a
mínima questão de esconder o otimismo com um cenário futuro sem Lula.
Não é só o mercado financeiro que sonha com Lula morto.
Lembremos que o governo Bolsonaro planejou matá-lo. Se o golpe
tivesse sido bem sucedido, seria um dia de grande festa na Faria Lima.
Não é à toa que, segundo pesquisa Quaest, se a eleição
fosse hoje, 80% dos agentes do mercado votariam em Bolsonaro contra Lula. A
pesquisa foi feita logo após a revelação da Polícia Federal de que o governo
Bolsonaro tinha um plano para matar o petista.
Ou seja, os faria limers preferem ter na presidência um
golpista sanguinário que conduza a economia a reboque do mercado financeiro. E
daí que Bolsonaro quis matar Lula?
A opinião desta entidade sem cara e sem coração chamada
mercado é historicamente usada como meio para chantagear governos e manipular a
opinião pública. Por enquanto, a opinião da Faria Lima é quase diametralmente
oposta ao da população.
Se a eleição fosse hoje e o inelegível Bolsonaro
pudesse concorrer, Lula lhe daria uma sova no segundo turno de 51% a 35%, segundo pesquisa Quaest desta semana.
Como Bolsonaro está mais próximo da cadeia do que das urnas, simulou-se também
a disputa de Lula com os possíveis candidatos da direita e da extrema direita.
O petista venceria em todos os cenários. Tanto Tarcísio
de Freitas quanto Pablo Marçal e Ronaldo Caiado perderiam para Lula em um
segundo turno. Isso significa que, para a tristeza dos urubus de sapatênis, Lula
está mais próximo da reeleição do que do caixão.
Apesar de governar com o mercado colocando a faca em
seu pescoço, Lula chega à metade do mandato com uma boa avaliação. 52% dos
brasileiros aprovam o seu governo contra 47% que desaprovam. Não há grande
folga nos números, mas eles seriam suficientes para garantir a reeleição em
2026.
A pesquisa avaliou também a hipótese de Haddad disputar
a eleição no lugar de Lula. Ele venceria todos os candidatos bolsonaristas em
um eventual segundo turno, ainda que de maneira mais apertada. Bolsonaro, o
candidato queridinho do mercado, é hoje o líder político mais rejeitado do
país, com 57% dos brasileiros afirmando que não votam nele de jeito
nenhum.
É claro que ainda é muito cedo para qualquer previsão e
o Brasil segue bem dividido, mas os números indicam que há uma discrepância
enorme entre o que pensa a Faria Lima e o que pensa o povo.
Segundo a pesquisa feita com a turminha do mercado,
todos os candidatos bolsonaristas venceriam Lula com folga. O inelegível venceria
por 80% a 12%; Tarcísio, por 93% a 5%; Caiado, por 91% a 7%; e Marçal,
por 65% a 17%. Pela vontade da Faria Lima o golpismo venceria Lula com folga em
qualquer cenário.
Não é preciso ser de esquerda ou fã do Lula para
constatar a chantagem que o mercado financeiro faz de modo permanente contra o
governo.
Nesta semana, o deputado da bancada ruralista Luiz
Carlos Hauly, do Podemos, um antipetista histórico do Paraná, deixou os
incautos confusos com uma fala em plenário na semana passada.
Segundo ele, “dizer que o
Brasil está quebrado” é “irresponsabilidade e politicagem de mau gosto contra o
nosso povo. O que o mercado financeiro vem fazendo com a economia chama-se
crime de lesa-pátria”.
Hauly acusou ainda a existência de um “conluio” entre o
Banco Central e o mercado financeiro: “se ele [Banco Central] é independente,
não deveria ouvir a opinião do mercado financeiro e não deveria aumentar a taxa
do dólar, porque não há nenhum motivo. Somos superavitários na balança
comercial. Não sou governo, não defendo o governo, mas sou brasileiro patriota
e defendo a economia brasileira”.
Em entrevista à Folha, o deputado afirmou que parte da
oposição tem “interesses econômicos por trás, para manipular o mercado”. “Todo
dia falam que a economia vai quebrar, que está indo mal. E eu, como estudioso
da matéria, sei que os dados não são estes”, arrematou o deputado.
Não é necessário ser lulista para fazer as mesmas
constatações de Hauly. Basta ser honesto com os fatos. O desemprego teve queda
recorde, o pib cresceu além das expectativas, a renda do trabalhador melhorou,
a pobreza diminuiu e os programas sociais foram retomados. O mercado aposta na
morte do presidente que conquistou tudo isso, enquanto o povo, neste momento,
aposta na sua reeleição.
¨ Lula morto, sonho de consumo da Faria Lima. Por Cesar
Fonseca
O mercado vibra com a
enfermidade do presidente Lula.
Há até especuladores
radicais que recomendam aos médicos que o assistem que completem o serviço:
liquidem-no, fisicamente.
O risco, para Faria Lima,
não é técnico, o que, aparentemente, chama de desajuste fiscal, a gastança
primária - receitas menos despesas, exclusive juros.
Não.
O verdadeiro risco, para os
especuladores, é político, enfrentar a expectativa de ter pela frente Lula
vivo.
Lula morto seria o ideal
para os pescadores em águas turvas.
As declarações deles não
deixam dúvidas: com o presidente petista imobilizado no hospital pelo maior
tempo possível, se preferível para sempre, ocorre o que mais desejam, isto é, a
permanente e segura valorização dos ativos, os aumentos crescentes dos lucros
especulativos.
Lula morto é lucro certo
para o mercado.
Já o contrário, Lula vivo, o
que a Faria Lima enxerga com ampla nitidez e receio é a incerteza para seus
lucros especulativos, instabilidade perigosa.
Lula vivo representa o que
não querem: crescimento econômico, redução da taxa de desemprego, valorização
dos salários, aumento do consumo e dos investimentos, avanço da arrecadação e
maiores gastos sociais, responsáveis pelo crescimento da demanda global.
A valorização dos salários é
sinônimo de Lula vivo, maior expectativa de vida para os pobres e aposentados,
perto de 50 milhões de pessoas comendo e bebendo, feliz, socialmente incluídas,
elevando a renda média nacional.
O mercado vê essa realidade
se materializando, fruto da melhor distribuição da renda nacional, como ameaça
aos lucros exorbitantes que está auferindo, enquanto persiste o juro elevado,
razão principal da desigualdade social.
Os economistas neoliberais,
tipo o megaespeculador Armínio Fraga, vê tal situação como ameaça, porque
sinaliza combate à desigualdade por meio da redução da lucratividade proporcionada
pelos juros extorsivos.
Juros extorsivos, que matam
os mais pobres de fome, é a estabilidade permanente que faz a felicidade da
Faria Lima.
<><>
Mercado teme democracia
Sobretudo, Lula vivo e
saudável no comando do governo aponta para democratização e aumento de
oportunidades para realização de reformas sociais e políticas capazes de mudar
o panorama neoliberal que leva o Brasil ao impasse histórico, ao perigo de
golpes políticos, como o organizado pelo general Braga Neto e cia ltda.
Significa, enfim, rompimento
da democracia, anarquia econômica e crise social.
É esse o ambiente anárquico
que deseja a direita de modo que possa bater às portas dos quartéis, a fim de
concretizar seus planos sinistros.
Lula vivo é perigo de
resistência contra os ataques à democracia que a política recessiva
pró-especulacão proporciona.
O mercado, portanto,
conseguiu, como diz o Brazil Journal, porta-voz da Faria Lima, furar a bolha do
pessimismo, matando, simbolicamente, o presidente Lula.
Alcançou, dessa forma, seu
nirvana: valorização especulativa dos ativos, sem medo de ser feliz.
Foi o momento em que o BC
neoliberal, sob comando do bolsonarista fascista Campos Neto, aproveitou para
dar sua tacada mais certeira, o da enfermidade do presidente, para garantir a
Selic mais alta possível, com unanimidade dos integrantes do Copom, sob aplauso
dos abutres da Faria Lima.
O problema, porém, é que a
especulação monetária ganha autonomia, como monstro que saiu da garrafa,
assustando os próprios banqueiros, temerosos de perder controle da situação.
A estratégia dos
especuladores, agora, é secar as reservas cambiais nacionais, intervindo
reiteradamente no mercado, para deixar o governo de muletas.
Fazendo isso, não lhe resta
alternativa senão acelerar privatizações na bacia das almas, entregando o resto
de ativos que sobrarão.
Com Lula morto, essa tarefa
ficaria bem mais fácil.
Seria mamão com açúcar.
Mas, o carcará, para
desgosto dos abutres, mostra-se vivo e forte.
·
Faria Lima - BC puxa violentamente
juro e mostra que é governo de fato
Pelo menos até agora, desde
a posse do presidente Lula em 2023, quem está dando as coordenadas da política
econômica é o mercado financeiro, é a sua expressão simbólica, a Faria Lima,
como acaba de ficar provado com mais uma puxada de 1 ponto percentual na taxa
Selic que inviabiliza crescimento econômico sustentável.
Até parece que os
especuladores aproveitaram o momento em que o presidente passa pelo desconforto
e perigo de um sangramento no cérebro, devido ao tombo que levou em 19 de julho
último, motivador de cogitações extemporâneas, para dar uma última tacada de
juro, em nome do combate à inflação.
A propósito, é a inflação,
que escapole da meta de 3,5%, a responsável pelo juro alto ou, ao contrário, é
o juro alto que produz a inflação?
O fato é que a expectativa
da alta de juro rege os repasses dos empresários dos custos aos preços das
mercadorias, desde sempre.
A racionalidade que preside
a economia é a irracionalidade de que o juro futuro é trazido a valor presente
para comandar as decisões do Copom.
O BC Independente neoliberal
já canta dois novos aumentos das taxas nas próximas reuniões, porque estariam
precificados, fazendo coro com a Faria Lima.
A restrição monetária
presidida pelo juro alto é a receita à qual os bancos centrais da periferia capitalista
estão atados, mecanicamente, segundo a tese ideológica de que a inflação é
fenômeno monetário cujo combate se faz puxando o juro para equilibrar relação
dívida-PIB.
Esse equilíbrio jamais é
alcançado porque o mercado-Faria Lima cuida previamente de antecipar que os
gastos sociais do governo são os provocadores da inflação e não os gastos
financeiros que suplantam aqueles em escala exponencial, graças ao bordão
neoliberal repetido insistentemente pela mídia corporativa porta-voz da Faria
Lima.
<><> PRESIDENTE
DOENTE MOTIVA JURO ALTO
A doença do presidente,
portanto, entrou no rol dos argumentos que impulsionam o comportamento futuro
instável cuja estabilidade somente é alcançada mediante juro alto.
O juro alto é, para a Faria
Lima, a medida de todas as coisas.
A instabilidade induzida
pelo mercado tem preço à vista: privatização total da economia a custo
irrisório para investidor internacional e seus aliados internos, a elite
antinacionalista, favorecidos pela alta do dólar como sinal indutor do status
quo privatista, puxado pelo juro alto.
O BC Independente é a arma
da governabilidade especulativa que impulsiona desarticulação produtiva capaz
de inviabilizar compromisso desenvolvimentista do presidente Lula prometido em
campanha eleitoral para vencer o fascismo ultraneoliberal.
<><> JÁ A
CHINA...
Enquanto isso, o governo
chinês, locomotiva econômica e financeira internacional, vai na contramão do
neoliberalismo tupiniquim.
O presidente Xi Jinping
anunciou essa semana duas providências desenvolvimentistas que sinalizam como a
China vencerá o neoliberalismo financista ultra-especulativo que domina a
economia brasileira.
Primeiro, Jinping anunciou
que reduzirá a zero tarifas de importação de produtos fabricados pelos países
menos desenvolvidos.
Eles poderão aproveitar as
vantagens comparativas oferecidas pelo amplo mercado interno chinês.
E como complemento dessa
ampla abertura comercial, Jinping adiantou que a China promoverá afrouxamento
monetário para reduzir juros, elevar competitividade de preços e salários,
diminuir dívida pública e perdoar dívida contratada a prazo para investidores
que aplicarem na China.
O resultado prático dessa
alavancagem econômico-financeira chinesa anti neoliberal é o que os empresários
de todo mundo mais desejam: aumento da eficiência marginal do capital, ou seja,
dos lucros.
Eis, portanto, a estratégia
chinesa para combater o protecionismo americano prometido pelo futuro
presidente Donald Trump.
<><>
ANTIPROTECIONISMO MONETÁRIO E FISCAL
É previsível que diante da
redução geral de preços decorrente do afrouxamento monetário, que diminui
inflação, como demonstrou a experiência americana para combater o crash de
2008, os investidores americanos, mais uma vez, corram para a China, a fim de
produzirem barato, a fim de colocar seus produtos no próprio mercado americano,
mesmo sob ameaças do protecionismo trompista.
Xi Jinping enterra, com essa
estratégia chinesa, o modelo monetário de Bretton Woods, substituindo-o pelo
método das finanças funcionais - nova política monetária - imune à inflação,
desde que governos emitam moedas nacionais para promover desenvolvimento, salvo
se se endividarem em moeda estrangeira.
Serão ampliadas globalmente
as trocas comerciais por meio de moedas nacionais.
Pode estar à vista, com a
nova tacada monetária chinesa, processo de aceleração da desdolarização, tão
temida por Trump como arma de guerra para enfraquecer a moeda americana, na sua
tarefa histórica de valorizar ativos americanos no mundo em prejuízo das moedas
concorrentes, graças à hegemonia do dólar.
A providência chinesa será,
portanto, motivo impulsionador para o Brasil e demais países latino-americanos
se filiarem à rota da seda a fim de fugir da tirania monetária americana, que
se traduz em juros altos impostos pelo Banco Central Independente, totalmente,
dependente do monetarismo ultraneoliberal de Washington, que não deixa o Brasil
crescer sustentavelmente.
Fonte: The
Intercept/Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário