Paulo Chagas:
"É pouco provável que Bolsonaro tenha passado batido"
Em
2021, bem antes de Walter Braga
Netto se
envolver na trama que pretendia tomar de assalto a democracia brasileira, o
general da reserva Paulo Chagas já alertava para os riscos de uma radicalização
protagonizada por militares no governo Bolsonaro. Em entrevista ao
CB.Poder,
o ex-bolsonarista alertou para a conduta do então ministro da Defesa. “Embora
não seja um político, está exercendo a função politicamente. Isso não é bom.
Até porque dá a impressão de que ele (Braga Netto) tem poder de mobilizar o
emprego das Forças Armadas para fins políticos, como deseja o presidente”,
advertiu Chagas.
Em
relação à prisão dos envolvidos na tentativa de golpe, Chagas segue a linha do
atual ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, de que é preciso separar os maus
militares das instituições. O militar reformado não pretende mais disputar
eleições – concorreu em 2018 e 2022 –, mas se mantém atento aos acontecimentos
como cidadão.
Leia
a entrevista:
·
Como avalia a prisão de Braga Netto assinada pelo ministro do STF
Alexandre de Moraes? A medida pode causar instabilidade política?
Como
cidadão avalio com a serenidade de quem sabe que ordem judicial tem que ser
cumprida antes de ser contestada com os argumentos da defesa ou, até mesmo, com
os da indignação. Como militar lamento pelo constrangimento pessoal do general
Braga Netto e institucional de todo o Exército Brasileiro até que o motivo da
ordem seja esclarecido e julgado. O fato de a ordem ter sido assinada pelo
Ministro Alexandre de Moraes não me surpreende nem espanta, já que ele é o
operador de todas as formas do direito no âmbito da Suprema Justiça Federal.
·
O senador Hamilton Mourão disse que a prisão é ‘atropelo das normas
legais’. Houve excessos?
Não
tenho condições de tomar a iniciativa de fazer este julgamento, mas, se
tivesse que fazê-lo, não hesitaria em acompanhar a opinião do general Mourão.
·
Braga Netto foi preso sob a acusação de interferir na produção de provas
no inquérito que apura uma suposta tentativa de golpe. Isso causa mal-estar na
caserna?
Depende
do adjetivo que for agregado à palavra "golpe". Se for
"militar", sim, causa mal-estar porquanto é uma inverdade. Se for
"de militares", nem tanto porque diz respeito a alguns
companheiros de farda, o que mesmo sendo lamentável, não envolve o Exército. De
qualquer forma, é uma acusação que precisa ser esclarecida e contextualizada.
·
O senhor concorda com a declaração da deputada Bia Kicis (PL/DF) ao
Correio de que “estão vindo com tudo para cima dos conservadores”?
Esta
é uma visão política que, como tal, tem que ser debatida no âmbito do Congresso
Nacional, hoje cada vez mais encolhido diante do exacerbado protagonismo da Suprema
Corte. Sou liberal e conservador e nunca vi, em nenhuma das doutrinas, qualquer
alusão a golpes militares ou de militares.
·
Na sua avaliação, qual o envolvimento de Bolsonaro na trama golpista?
Minha
fonte tem sido a imprensa e, do que pude saber a respeito, julgo muito pouco
provável que o ex-presidente tenha passado batido pela proposta, mesmo que
sendo ridícula e infantil como me parece que foi.
·
O que já está evidente e o que falta esclarecer no plano para assaltar a
democracia?
O
que está evidente é que a "ideia" percorreu a imaginação dos
envolvidos. O que falta esclarecer é se a profundidade e o alcance da
"proposta" chegaram a ameaçar a democracia e o Estado de Direito.
Entendo que o pensamento, a imaginação, o planejamento e até o ódio não podem
ser considerados crimes até que se transformem em ações.
·
O que pensa da anistia aos
golpistas?
A
anistia é uma tradição da cultura política brasileira, mas a que golpistas se
refere à pergunta? Aos assim chamados pela participação do evento de 8 de
janeiro, ou aos pensadores do suposto golpe de dezembro de 2022? Dos primeiros
há que separar a plateia (massa de manobra, multidão) dos vândalos infiltrados,
os quais não julgo merecedores de indulto. Dos segundos, há que ver terminado
todo o processo judicial para poder formar opinião.
·
Como as Forças Armadas deveriam agir nesse contexto?
Entendo
que, em se tratando de militares, todo o processo tem que ser acompanhado de
muito perto para que a lei e os direitos individuais sejam respeitados e para
que a justiça seja aplicada sem preconceitos.
·
Qual será o reflexo dessa investigação em 2026?
Só
haverá repercussão se Jair Bolsonaro puder participar. Como ele está
inelegível, não vejo como repercutir.
·
O bolsonarismo sobreviverá a esse inquérito?
Sou
contra o maniqueismo e o culto à personalidade, portanto torço pelo
desaparecimento do todo e qualquer "ismo", aí incluídos o
bolsonarismo e o lulismo.
·
O senhor pretende se candidatar ao GDF ou a outro cargo em 2026?
Não!
Fiz duas incursões fracassadas nesta área, em 2018 e em 2022, que me fizeram
ver que não tenho o perfil exigido pelo eleitorado brasiliense. Estou feliz e
contente com o meu protagonismo de cidadão atento e engajado.
¨ Lula defende
presunção de inocência para Braga Netto: 'O que eu não tive quero que eles
tenham'
Durante
a coletiva de atualização do quadro de saúde de Lula (PT), o presidente fez uma
declaração sobre a prisão do general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro
da Defesa do governo Jair Bolsonaro (PL). Lula defendeu o direito de defesa do
militar, mas afirmou que, caso as investigações confirmem a atuação de Braga
Netto em uma tentativa de golpe, as punições devem ser severas.
Lula
não respondeu às perguntas dos jornalistas, e tratou do caso por meio de uma
declaração. “O que aconteceu essa semana com a decretação da prisão do general
Braga Netto, eu vou demonstrar para vocês que eu tenho paciência e que sou
democrata. Eu acho que ele tem todo direito à presunção de inocência. O que eu
não tive eu quero que eles tenham. Todo o direito e todo o respeito para que a
lei seja cumprida. Mas se esses caras fizeram o que tentaram fazer, eles terão
que ser punidos severamente. Esse país teve gente que fez 10% do que eles
fizeram e morreu na cadeia", afirmou o presidente da República.
“Não
é possível a gente aceitar o desrespeito à democracia, não é possível a gente
aceitar o desrespeito à Constituição e não é possível a gente admitir que, em
um país generoso como o Brasil, a gente tenha gente de alta gradação militar
tramando a morte de um presidente da República; tramando a morte de seu vice;
tramando a morte de um juiz que era presidente da Suprema Corte
Eleitoral", completou.
Lula
finalizou a declaração dizendo que está pronto para voltar
ao trabalho e
agradecendo à equipe médica que o atendeu. “Eu quero deixar a presidência da
República como deixei em 2010, com a cabeça erguida e consciente de que esse
país estará muito melhor", disse.
Fonte: Correio
Braziliense
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