sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Telma Monteiro: A “colonização dourada” idealizada pela China

Houve ainda quem mencionasse que esses acordos ajudariam o Brasil a diversificar suas atuais fontes de tecnologias com origem em outros países e reduziriam sua dependência. Me parece mais uma troca de “dependências”, só que no caso da China seria muito mais abrangente e sem retorno. A China não transfere tecnologia em troca de nada. Geralmente Xi Jinping condiciona a investimentos disfarçados em parcerias comerciais. Empresas brasileiras teriam que participar de joint ventures, assimilar e depender da transferência de tecnologia como parte do acordo.

Mais de 100 países já aderiram à Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) (1). Dos 100 países, 22 são da América Latina. Durante a visita de Lula à China, em abril de 2023, já haviam sido assinados vários acordos para reforçar a cooperação econômica entre os dois países. A China tem pressionado o Brasil para que se junte formalmente à BRI o que, segundo ela, poderia gerar investimentos significativos em infraestrutura, como portos, ferrovias e rodovias, além de projetos de energia “verde “e saúde.

Durante o encontro entre Lula e Xi Jinping, neste novembro de 2024, em Brasília, foram assinados 37 acordos de “cooperação” abrangendo diversas áreas estratégicas, sem, no entanto, formalizar a entrada do Brasil no projeto chinês da Rota da Seda. Entre os acordos assinados estão:

1) agronegócio: que prevê a abertura do mercado para alguns produtos brasileiros como sorgo, gergelim e uva fresca;

2) tecnologia: de inteligência artificial e economia digital;

3) infraestrutura: projetos de infraestrutura e transição energética (?);

4) energia: opção por energia nuclear para uma transição energética de matriz limpa (?);

5) saúde e educação: intercâmbio e cooperação (?);

6) turismo e cultura: promoção de intercâmbio (?).

As interrogações no texto acima se referem às propostas de cooperação que mais parecem uma forma de sossegar o mercado e o governo dividido, sobre entrar ou não no projeto de “colonização dourada” que a China propõe e dissimula as verdadeiras intenções nas entrelinhas do acordo. A verdade é que esses itens podem representar uma preparação do ambiente político/econômico sobre uma possível adesão formal do Brasil à Rota da Seda. O gato subiu no telhado? Biden criticou a possível adesão, se sentindo traído, mas Trump vem aí e não dá a mínima para o Brasil.

Os especialistas enfatizam que esses acordos já firmados reforçam a parceria estratégica entre Brasil e China, promovendo o desenvolvimento econômico e a inovação tecnológica em ambos os países. Mas qual seria a real necessidade do Brasil em promover acordos de renovação ou inovação tecnológica com a China? Muitos responderão que afinal a China é o maior parceiro comercial do Brasil e que uma cooperação em tecnologia fortaleceria esse laço. Será? Afirmar que a China avançou em tecnologia nuclear enquadrada como “renovável” é no mínimo um dissenso, principalmente se considerarmos os fantasmas de Angra.

Houve ainda quem mencionasse que esses acordos ajudariam o Brasil a diversificar suas atuais fontes de tecnologias com origem em outros países e reduziriam sua dependência. Me parece mais uma troca de “dependências”, só que no caso da China seria muito mais abrangente e sem retorno. A China não transfere tecnologia em troca de nada. Geralmente Xi Jinping condiciona a investimentos disfarçados em parcerias comerciais. Empresas brasileiras teriam de participar de joint venture, assimilar e depender da transferência de tecnologia como parte do acordo.

Dentro da Rota da Seda, os países que aderiram já começam a questionar essas negociações e temer a vantagem competitiva da China. Os principais impasses poderiam estar na colaboração tecnológica que pode levar a inovações para beneficiar setores estratégicos como agricultura, saúde e manufatura.

Se o Brasil vier a aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), é preciso questionar muitos fatores que criam um risco potencial à sua soberania:

1) a expansão econômica facilitaria e favoreceria principalmente a China a ampliar o acesso aos mercados de exportação com países da Ásia, Europa, África e América Latina, usando o Brasil como hub e trampolim. A China precisa alicerçar seu crescimento econômico a qualquer custo;

2) ampliação da infraestrutura global em que a China aplica sua expertise na infraestrutura calcada em ferrovias, portos, estradas e telecomunicações. Um objetivo bastante estratégico da China para melhorar a conectividade global e, mais uma vez, promover o que eu reputo ser a principal ambição, pois fortaleceria sua influência econômica e política. É preciso mencionar, ainda, os custos ambientais e sociais para países como o Brasil que têm riquezas minerais e terras para serem exploradas em regiões e biomas importantes para manter o equilíbrio do clima do planeta;

3) segurança energética para a China seria uma estratégia muito forte, considerando o fato de poder contar com uma grande diversidade de fontes de energia no Brasil para garantir sua hegemonia, aliada à segurança para operar rotas de transporte para a logística de distribuição;

4) exploração da cooperação focada em alta tecnologia, diretamente ligada à 5G, inteligência artificial, cidades inteligentes, transformariam a China em líder tecnológica, mesmo usando, inclusive, avanços de outros parceiros já adiantados e criando dependência tecnológica;

5) o aumento da influência geopolítica a partir dos investimentos em outros países em desenvolvimento, minando sua soberania, criaria a possibilidade de consolidar a China como potência global;

6) dívidas – deve-se levar em conta os recursos financeiros a serem investidos pela China, no Brasil. Quanto seria, na verdade, empréstimo para viabilizar a infraestrutura e energia do Brasil para o escoamento de commodities extraídas dos biomas brasileiros que mais beneficiariam a China?

Então, nesse panorama de neocolonialismo, o Brasil poderia ser protagonista com maiores vantagens? A resposta é não. Pois, apesar de uma possibilidade de modernização na infraestrutura, busca quase fanática do presidente Lula – ferrovias, aeroportos, portos, rotas de integração incluindo hidrovias – haveria um grande risco de, ao modernizar alguns setores estratégicos como energia, telecomunicações ou manufatura, de perder sua autonomia. Os investimentos ou empréstimos chineses atrairiam novos mercados para os produtos brasileiros ou aumentariam as exportações de commodities para e pelos chineses? Outra questão seria se, com a participação do Brasil na Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), resultaria realmente em acesso a novos mercados.

Do ponto de vista tecnológico, a parceria seria capaz de transferir tecnologia e inovação, para beneficiar a agricultura, indústria e serviços? É uma incógnita e talvez as considerações do governo norte-americano sobre essa parceria de Brasil e China e a perda da soberania brasileira possam acrescentar algumas respostas. No entanto, há correntes dentro do governo brasileiro que consideram essa parceria uma forma de fortalecimento das relações bilaterais tanto diplomáticas como comerciais entre os dois países. Uma coisa fica bastante clara: o “triliardário” caminhão de dinheiro chinês para bancar a iniciativa (2) atrai o governo brasileiro.

¨      EUA colocam submarino nuclear em base militar que é mais perto de Pequim do que do Havaí, diz mídia

Em meio às tensões contínuas na Ásia-Pacífico, a Marinha estadunidense envia um submarino nuclear para sua base naval na ilha de Guam, uma das principais no possível teatro de guerra, segundo o jornal South China Morning Post.

O artigo destaca que é o primeiro caso em que um submarino de propulsão nuclear da classe Virginia, que também é capaz de se armar com mísseis nucleares, vem à base sobre a importância da qual o subsecretário interino da Marinha dos EUA Tom Mancinelli disse:

"Guam faz parte da terra natal dos EUA. Ela está fisicamente mais próxima de Pequim do que do Havaí."

Então, ele acrescentou que o objetivo da Marinha é "deter a agressão regional e proteger os interesses dos Estados Unidos", e que Washington está pronta para lutar por Guam.

O submarino USS Minnesota se baseia no novo lugar desde a terça-feira (26) acompanhado por um esquadrão de submarinos de ataque rápido da classe Los Angeles, a classe de submarinos antecessora da Virginia.

Ela é capaz de realizar operações antissubmarino e antinavio, operações de ataque, além de inteligência, vigilância e reconhecimento.

"Sua presença aumentará nossas capacidades operacionais e fortalecerá ainda mais os esforços de dissuasão em todo o Indo-Pacífico", citou o artigo o comandante do Esquadrão de Submarinos 15, Neil Steinhagen.

A ilha de Guam, que "desempenha um papel fundamental de dissuasão" contra a China, fica a 2.900 km da costa chinesa e permite alcançar os maiores objetos militares dela na região.

Guam é um território não incorporado dos Estados Unidos, ou seja, não faz parte dos EUA, mas é uma possessão deles, desde 1898 quando a Espanha cedeu a ilha após a Guerra Hispano-Americana.

¨      Equipe de Trump culpa China por crise de fentanil: 'Bode expiatório não resolve', diz mídia chinesa

A afirmação da equipe do futuro presidente norte-americano Donald Trump sobre a China estar "atacando" os EUA com fentanil enquanto a nova política de tarifas não entra em vigor, fez com que a mídia chinesa chegasse a uma conclusão sobre o problema: uma desculpa absurda.

Na última segunda-feira (25), Trump afirmou que imporia "uma tarifa adicional de 10%, acima de quaisquer tarifas adicionais" sobre as importações da China — que já ficariam na casa dos 60% — uma notícia que tem afetado o complexo industrial de Pequim, que vende produtos no valor de mais de US$ 400 bilhões (cerca de R$ 2,3 trilhões) anualmente para os EUA.

A nova política protecionista norte-americana fez com que economistas projetassem metas de crescimento para China, para 2025 e 2026, inferiores em 0,2% e 0,7% que as anteriores — respectivamente, para 4,1% e 3,8%, segundo a Reuters. Mas enquanto o mundo comenta a austeridade nas medidas de Trump e a promessa de uma guerra comercial acirrada, um novo elemento surgiu nesta equação chamando a atenção da mídia chinesa: o fentanil.

De acordo com o China Daily e o Global Times (GT), Washington está buscando um bode expiatório para seu problema com drogas, justificando de forma infundada que Pequim teria responsabilidade por sua crise interna. Mas o que a mídia faz questão de apontar, é que tentar eleger um culpado não resolve o problema, nem garante qualquer tipo de cooperação com o governo chinês no caminho de uma proposta para uma solução.

Corroborando falas de autoridades em Pequim, o GT citou o porta-voz da embaixada chinesa em Washington sobre a questão. Segundo ele, "não há vencedores em guerras tarifárias. Se os EUA continuarem a politizar questões econômicas e comerciais ao armar tarifas, não deixará nenhuma parte ilesa".

Em resposta à Agência Xinhua sobre a retórica norte-americana, o representante de Comércio Internacional da China e vice-ministro do Comércio, Wang Shouwen, disse na sexta-feira (22) que a história mostrou que aumentar tarifas sobre produtos chineses não pode resolver o déficit comercial do país que impõe tarifas, ao contrário, estimula o aumento de preços e a inflação, que normalmente recai sobre os consumidores.

¨      Putin: cada vez mais países defendem formação de ordem mundial segura, sem racismo e neocolonialismo

Cada vez mais países apóiam o estabelecimento de uma ordem mundial multipolar segura e rejeitam qualquer forma de racismo e neocolonialismo, disse o presidente russo Vladimir Putin em seu discurso de boas-vindas aos participantes do Conselho Mundial do Povo Russo.

"Cada vez mais países e povos são a favor da construção de uma ordem mundial segura e democraticamente multipolar e da remoção de barreiras à cooperação. Eles rejeitam qualquer forma de racismo e neocolonialismo", leu o primeiro-vice-chefe da administração presidencial, Sergei Kirienko, a saudação escrita por Putin.

Segundo ele, a base da visão de mundo dos russos, com sua abertura e respeito por todas as culturas e civilizações, ressoa amplamente no planeta.

O presidente também expressou confiança de que o conselho vai ser realizado em uma atmosfera de discussões livres e criativas e de que as propostas construtivas apresentadas serão bem aceitas.

¨      Sanções dos EUA aos chips podem impactar o impulso de autossuficiência do setor na China

Os EUA se preparam para adicionar vários fornecedores importantes de equipamentos e materiais para chips chineses à sua lista de restrições comerciais, dando um novo golpe no impulso do país para a autossuficiência tecnológica, segundo fontes do South China Morning Post (SCMMP).

De acordo com o SCMP, fábricas de chips e parceiros da Huawei — sob sanções dos EUA desde 2019 — vão estar entre as cerca de 200 empresas chinesas nos controles de exportação de Washington cuja lista atualizada deve ser anunciada no próximo final de semana (30).

Em um grande esforço para brecar o setor de semicondutores chinês, segundo as fontes, os EUA devem sancionar igualmente empresas de capital de risco que estejam relacionadas ao setor, como, por exemplo, fornecedores de gás especial, fundamental em várias etapas da produção das peças.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, condenou as restrições comerciais planejadas por Washington e disse que Pequim tomaria medidas resolutas para defender os interesses comerciais do continente, uma retórica que tem sido adotada em diversos campos da disputa comercial entre eles sob o argumento do direito à reciprocidade e um apelo ao cumprimento das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) por parte dos EUA.

Ainda segundo o SCMP, as novas sanções devem marcar uma grande escalada na rivalidade tecnológica entre os EUA e a China desde outubro de 2023, quando o governo Biden reforçou suas restrições de exportação introduzidas em 2022 visando a indústria de semicondutores do gigante asiático alegando usos de dupla finalidade pelas Forças Armadas chinesas, mas estas restrições visavam principalmente o setor de inteligência artificial (IA).

Mesmo com as sanções, a China tem trabalhado para construir uma cadeia de suprimentos de semicondutores autossuficiente, o único impedimento, no entanto, segue sendo a dependência de ferramentas importadas de tecnologia de ponta, como litografia e sistemas de inspeção por feixe de elétrons.

¨      China chama relatos de suposta investigação contra ministro da Defesa de 'invenção'

Os relatos da mídia de que o ministro da Defesa da China, Dong Jun, estaria sendo investigado são uma invenção pura e simples, a China expressa "profunda insatisfação", disse o porta-voz do Ministério da Defesa da China, Wu Qian, na quinta-feira (28).

Anteriormente, o jornal Financial Times, citando autoridades norte-americanas não identificadas, informou que as autoridades chinesas haviam iniciado uma investigação contra o ministro da Defesa Dong Jun devido a um escândalo de corrupção.

De acordo com as autoridades norte-americanas, o almirante Dong Jun, que assumiu o cargo em dezembro de 2023 depois que seu antecessor foi demitido por corrupção, está sendo investigado como parte de um inquérito mais amplo sobre corrupção no Exército da China.

"As reportagens da mídia são fabricações flagrantes, e os que divulgam esses rumores são movidos por segundas intenções. A China expressa sua profunda insatisfação", disse Wu Qian.

Já a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, chamou anteriormente as notícias sobre uma investigação contra Dong Jun de "perseguição de sombras".

¨      Cazaquistão é convidado para ser 'Estado-sócio' do BRICS, diz Putin

O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira (27) que enviou um convite para que o Cazaquistão se torne um "Estado-sócio" do BRICS.

A declaração do líder russo ocorre em meio a um encontro entre as nações, no qual os dois líderes discutiram o desenvolvimento da parceria estratégica bilateral, especialmente à luz da presidência do Cazaquistão na Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) e da Rússia na Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e no BRICS.

Putin e o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokaev, assinaram uma declaração conjunta nesta quarta, prometendo aprofundar a parceria estratégica no contexto de uma nova ordem global.

Durante o encontro, os governos da Rússia e do Cazaquistão adotaram um protocolo sobre a retomada de um acordo bilateral de cooperação comercial e econômica que renova as exportações russas de petróleo e derivados para o Cazaquistão.

O ministro da Energia do Cazaquistão, Almasadam Satkaliyev, e o ministro da Energia da Rússia, Sergei Tsivilev, trocaram os protocolos durante uma cerimônia de assinatura, informou um correspondente da Sputnik.

Segundo declaração dos governos, Moscou e Astana pretendem expandir os negócios de gás para, em um momento futuro, fornecer aos países que dele necessitam.

 

Fonte: Correio da Cidadania/Sputnik Brasil

 

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