segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Pan-africanista espera que Trump continue a ignorar África, senão continente estará em apuros

A ativista social e pan-africanista Nathalie Yamb expressou à Sputnik sua esperança de que Donald Trump, que venceu a eleição presidencial dos EUA, continue a ignorar a África, porque se os EUA começarem a se concentrar em qualquer continente, isso significa problemas.

Donald Trump venceu as eleições presidenciais em 5 de novembro de 2024. Esse evento evocou diferentes sentimentos e opiniões no mapa político do mundo, da alegria à decepção.

Yamb disse que não considera Trump "um amigo da África". Além disso, ela acredita que Trump não pode mudar a percepção do sistema político norte-americano em relação à África.

"Espero que Trump continue a ignorar a África de agora em diante. Eu apenas saúdo essa decisão. Quando os EUA começam a prestar atenção em você, isso significa que tem grandes problemas", disse Yamb à margem da primeira conferência ministerial do Fórum de Parceria Rússia-África em Sochi.

Ela acrescentou que a África estaria melhor se os EUA se concentrassem em "tornar a América grande novamente", reavaliassem seu relacionamento com a Europa, lidassem com a migração ilegal e não dessem atenção alguma ao continente africano.

Porém, Trump é menos "tóxico" do que os candidatos democratas, segundo a ativista.

Tocando um assunto africano particular, Yamb citou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) como exemplo de uma ferramenta do Ocidente para manipular os chefes de Estado africanos.

"Em vez de ser uma organização que prioriza a unidade econômica e a prosperidade dos países africanos, a CEDEAO está sendo usada como uma arma contra aqueles que estão interessados na soberania de seus Estados. Portanto, eu realmente espero que, mais cedo ou mais tarde, a CEDEAO entre em colapso", disse Yamb.

O comentário deve estar se referindo a uma tentativa do bloco de realizar uma intervenção no Níger em que uma junta militar tinha chegado ao poder.

Então, a intervenção falhou porque outros países africanos, como o Mali e Burkina Faso, ameaçaram entrar no conflito ao lado do Níger.

Por outro lado, Yamb afirmou que a África quer aprender com a experiência da Rússia em inteligência e no treinamento de militares.

Ela considerou que a Rússia e a China estão entre os países com "a inteligência mais eficaz do mundo".

Segundo Yamb, a questão do treinamento de militares profissionais, bem como de especialistas em segurança da informação, é importante para a África.

"Você e eu temos adversários em comum – as mesmas pessoas que se opõem à Rússia durante a operação militar especial estão agora apoiando terroristas nos países do Sahel. A cooperação nessa esfera é mais do que justificada."

O Sahel é a região de savana tropical na África, que é uma espécie de transição entre o deserto do Saara, ao norte, e as terras mais férteis, ao sul.

A ativista africana também espera que essa cooperação possa garantir a paz nos países da África.

¨      Países africanos não precisam da piedade ocidental, diz chanceler do Congo 

Em entrevista à margem do Fórum de Parceria Rússia-África, em Sochi, Jean-Claude Gakosso diz que uma relação mutuamente benéfica "é tudo que os africanos querem hoje".

As populações de países do continente africano não precisam da misericórdia nem da piedade das potências ocidentais, mas sim de cooperação mutuamente benéfica.

É o que declarou o ministro das Relações Exteriores da República do Congo, Jean-Claude Gakosso, em entrevista à Sputnik à margem da primeira conferência ministerial do Fórum de Parceria Rússia-África, que ocorre em Sochi. A conferência teve início neste sábado (9) e vai até domingo (10).

Gakosso concordou com as palavras do presidente russo Vladimir Putin, que afirmou anteriormente que a política ocidental no campo da economia e segurança globais permanece neocolonial.

"O presidente Putin tem toda a razão. E, além disso, no mundo ocidental, muitos líderes políticos pensam da mesma forma. É preciso que haja justiça nas relações entre potências, grandes potências e países africanos, para que as relações sejam mais suscetíveis de serem mutuamente benéficas", disse o ministro.

Ele acrescentou que uma relação mutuamente benéfica "é tudo que os africanos querem hoje".

"Os africanos não precisam da misericórdia do Ocidente, não precisam de autopiedade. Eles são pessoas como todas as outras. Eles não precisam de piedade", disse Gakosso.

¨      Rússia e África vão continuar comercializando apesar dos obstáculos criados pelo Ocidente

A Rússia e os países africanos vão continuar desenvolvendo relações comerciais apesar dos obstáculos criados pelo Ocidente, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, neste domingo (10).

De acordo com o chanceler russo, Serguei Lavrov, a Rússia e os Estados africanos têm desenvolvido novos instrumentos financeiros resilientes na busca de otimizar e viabilizar suas trocas comerciais a despeito dos impedimentos vindos do Ocidente.

"Apesar dos obstáculos artificiais do Ocidente coletivo, continuamos a melhorar os mecanismos de suporte empresarial, encontrar soluções logísticas eficazes e usar novos instrumentos para acordos mútuos que não dependem de interferência externa negativa", disse Lavrov na primeira Conferência Ministerial do Fórum de Parceria Rússia-África.

Lavrov acrescentou que o comércio entre a Rússia e os países africanos atingiu um máximo histórico de US$ 24,5 bilhões (cerca de R$ 140,5 bilhões) em 2023.

"O comércio e a cooperação econômica estão se desenvolvendo. No ano passado, atingimos o máximo histórico de US$ 24,5 bilhões em trocas comerciais, mas está claro que esse número não reflete nosso potencial, que precisa ser maximizado", disse Lavrov.

O chanceler russo acrescentou que o ritmo definido pelas duas cúpulas anteriores está ajudando as relações entre a Rússia e os países africanos a avançar, com progresso registrado em todas as áreas.

"Em particular, no curso de reuniões bilaterais às margens desta conferência, foram alcançados acordos em uma série de projetos específicos, tendo sido assinados convênios e memorandos em várias áreas", disse Lavrov.

A primeira Conferência Ministerial do Fórum de Parceria Rússia-África acontece de 9 a 10 de novembro no Território Federal Sirius da Rússia.

¨      China lança produção de veículos elétricos na África em meio à rivalidade com EUA e Europa

Em busca de mercados alternativos, os principais fabricantes de automóveis da China estão apostando na África e há boas razões para isso, conforme explicado pelo jornal South China Morning Post.

Um dos esquemas padrão de entrada no mercado para uma empresa automobilística é fazer acordos com revendedores oficiais de seus carros em um determinado país, mas as empresas automobilísticas chinesas foram além.

"Os fabricantes de veículos elétricos chineses estão abrindo lojas principais e fábricas de montagem na África, buscando se expandir no continente e contornar as tarifas e outras restrições de importação impostas pelos EUA e pela Europa", diz o artigo.

Em particular, o artigo destaca um acordo entre as empresas BAIC Group e Zeekr a que pertence a marca Geely, e o Egito para a construção de uma montadora de automóveis.

A BAIC planeja montar até 20 mil carros elétricos por ano e vendê-los não só na África, mas também no Oriente Médio, tendo, de um lado, países árabes ricos por perto e, de outro, mão de obra barata.

O mesmo processo está em andamento entre a empresa Chery e o Quênia, enquanto a BYD Auto, Neta Auto EV e Xpeng estão presentes em Marrocos, Ruanda, África do Sul, Zâmbia, Madagascar e outros.

"As últimas ações das empresas de veículos elétricos para se expandir no Egito seguem uma tendência das montadoras chinesas de buscar o mercado africano desde que a rivalidade geopolítica da China se intensificou com os EUA e a Europa", observa.

Segundo os especialistas entrevistados pelo jornal, a China tenta assim evitar as restrições impostas pelos Estados Unidos, México e União Europeia (UE) em forma de tarifas de importação de 100% que, de fato, impediam as vendas de veículos elétricos chineses nestas regiões.

Neste contexto, as empresas produtoras de automóveis estão se dirigindo a outros mercados, como o africano, onde as restrições ocidentais não se aplicam.

¨       Uganda recebe convite da Rússia para se tornar parceiro do BRICS, diz MRE

Uganda recebeu um convite da Rússia para se tornar país parceiro do BRICS e está estudando a proposta, disse o ministro das Relações Exteriores da república africana, Abubaker Jeje Odongo, à Sputnik.

No sábado (9), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou em uma reunião com seu colega ugandense, à margem da primeira Conferência Ministerial do Fórum de Parceria Rússia-África, que a Rússia apoia Uganda como país parceiro do BRICS.

"Uganda foi convidado a se tornar membro-parceiro do BRICS. Recebi o convite há cerca de três dias. Agora estamos passando por todos os procedimentos necessários para determinar se aceitaremos o convite ou não", disse ele.

Nesse sentido, o interlocutor da agência observou que o BRICS abre novas oportunidades para seu país no atual mundo multipolar, onde alguns países da África e América Latina compartilham a visão da Rússia em fóruns internacionais.

Segundo ele, o continente africano está enfrentando desafios que as instituições mundiais tradicionais não podem resolver, o que fez a África se orientar para outros parceiros.

"O BRICS, a China e outros são opções que estamos considerando e analisando agora em termos da profundidade dos resultados necessários", afirmou à Sputnik.

<><> BRICS em 2024

O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar para o Brasil.

O ano começou com a entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.

A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, foi realizada de 22 a 24 de outubro deste ano.

O Brasil foi representado pelo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, pois o presidente Lula da Silva teve que cancelar sua viagem um dia antes devido a um acidente doméstico.

A cúpula foi o evento final da presidência russa da associação, e foi realizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a segurança.

¨      Protestos contra o governo em Moçambique causam 3 mortes e deixam dezenas de feridos

Ao menos três pessoas morreram e dezenas ficaram feridas após protestos ocorridos na quinta-feira (7) em Moçambique contra o governo, após a oposição rejeitar os resultados das eleições, de acordo com o site de notícias Reuters.

De acordo com a matéria divulgada nesta sexta-feira (8), dos 66 feridos, 57 foram possivelmente causados por armas de fogo, quatro foram causados por quedas, três foram feridos por agressões físicas e dois foram feridos por armas cortantes.

O partido Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) está à frente do país africano desde 1975 e foi declarado vencedor das eleições do mês passado.

O candidato presidencial Venâncio Mondlane, ficou em segundo lugar na eleição, trás do candidato Daniel Chapo, mas alega que a disputa foi fraudada.

De acordo com a Comissão Nacional de Eleições de Moçambique o candidato presidencial da Frelimo teve mais de 50% dos votos (4.912.762). Mondlane, apoiado pelo partido extraparlamentar Podemos, chegou em segundo lugar, com 20,32 (1.412.517).

Moçambique vive uma intensa onda de protestos violentos desde a divulgação dos resultados das eleições, em 24 de outubro, resultando em mortes, feridos e na vandalização de bens públicos e privados.

¨      Brasil manifesta preocupação com repressão de protestos em Moçambique

A capital Maputo, em Moçambique, vive uma onda de protestos que culminaram na morte de pelo menos 30 pessoas. As eleições presidenciais, que ocorreram no dia 9 de outubro, levaram centenas de apoiadores do candidato do partido Podemos, Venâncio Mondlane, às ruas para protestar os resultados, que deu vitória a Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), com 70% dos votos. O resultado é questionado pela população e pela oposição do governo, que alega fraude eleitoral.

Neste sábado (9/11), o governo brasileiro emitiu uma nota por meio do Ministério das Relações Exteriores (MRE) informando que tem acompanhado "com preocupação, a escalada de violência nos confrontos entre forças de segurança e manifestantes em Moçambique, desde a divulgação dos resultados eleitorais". O texto defendeu as contestações como parte do exercício da cidadania em um governo democrático e ao direito à liberdade de expressão por meio de protestos.

O resultado das votações foi anunciado pela Comissão Nacional de Eleições de Moçambique em 24 de outubro. Além do Podemos, outros partidos como o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) exigem a recontagem de votos ou a convocação de novas eleições. Nas redes sociais, Venâncio Mondlane incitou a população protestar até que haja "a reposição da verdade eleitoral".

As mortes e os quase 70 feridos ocorreram durante o confronto com as forças armadas moçambicanas, enviadas par aconter os protestos. Segundo o portal de notícias EuroNews, o porta-voz do exército, general Omar Saranga, anunciou em conferência de imprensa, na última quinta, que o exército apoia a polícia e que vão trabalhar para manter a ordem. 

De acordo com a Organização Não-Governamental ONG) Centro de Integridade Pública, as eleições gerais de 9 de Outubro foram as “mais fraudulentas desde 1999”. A Amnistia internacional condenou a repressão do governo e pediu respeito ao direito livre da manifestação popular.

<><> Histórico eleitoral de Moçambique 

Moçambique é governado por Filipe Nyusi, que cumpre seu segundo mandato na presidência, eleito em 2015 e reeleito em 2019, do Frelimo, que, desde a libertação em 1975, permanece no poder, sendo a maior força política moçambicana. Até 1994, era o único partido do país, até que por meio de uma assembleia popular, a criação de outras legendas passou a ser aceita. 

Antes das eleições, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) trabalhou com o governo moçambicano em campanhas gerais para registrar mais eleitores e garantir que as pessoas estivessem melhor informadas sobre onde, quando e como votar, segundo informações da Organização das Nações Unidas (ONU). “O número de eleitores registrados em 2024 aumentou em 4 milhões, atingindo um total de pouco mais de 17 milhões de pessoas”, informou a nota. 

De acordo com dados do Banco Mundial (The World Bank) Moçambique tem quase 33,9 milhões de habitantes, 80% deles tem até 35 anos. A maioria é composta por mulheres (52%), inclusive de eleitores: elas representam 53% dos votos. A África tem a população mais jovem do mundo, com idade média de 19 anos, e 70% está abaixo dos 30.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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