10 atitudes e expressões que são ofensivas
para pessoas com deficiência
A edição do reality
show Big Brother Brasil levantou uma discussão sobre capacitismo – uma forma de
preconceito que coloca as pessoas com deficiência em uma posição de
inferioridade. Durante a primeira prova do líder do programa, o participante
Maycon fez comentários considerados ofensivos sobre o atleta paralímpico
Vinícius Rodrigues. O cozinheiro escolar se referiu à perna amputada de
Vinicius como "cotoco" e "cotinho", expressões consideradas
pejorativas para se referir a membros amputados. Maycon também perguntou ao
velocista se poderia "apelidar" a prótese dele e sugeriu dar o nome
de "cotinho" Vinicius riu das falas do colega, mas segundo a
superintendente de Práticas Assistenciais da AACD, Alice Rosa Ramos, as
expressões podem ser entendidas como ofensivas e capacitistas por outras
pessoas com deficiência. "Algumas pessoas podem considerar comentários
como esse parte de uma brincadeira e não se ofender, mas outras podem rir
apenas para não se sentir excluídas", diz. "A forma mais respeitosa é
perguntar para a pessoa com deficiência se ela se refere à prótese ou à
deficiência de uma forma diferente – e usar o mesmo termo que ela."
Daniel Dias, atleta
paralímpico de natação e embaixador da Ottobock, fabricante das próteses usadas
por Vinícius no programa, também classificou os comentários como capacitistas
em um vídeo publicado em suas redes sociais. "Essa atitude que aconteceu
com o Vinícius no programa acontece no dia-a-dia da nossa vida", disse
Dias ao portal UOL. "Se fosse com qualquer outra pessoa, ele não falaria
daquela maneira. O que nós queremos é que as pessoas nos olhem e não para nossa
deficiência. Antes da deficiência, existe a pessoa."
Para conscientizar e
sugerir que sejam abolidas do cotidiano, o Tribunal Superior do Trabalho (TST)
e o Ministério da Cidadania desenvolveram miniguias com expressões e atitudes
consideradas capacitistas.
<><> A BBC
News Brasil reuniu algumas delas a seguir.
• 1. Tratar pessoas com deficiência de
forma infantilizada
Muitas pessoas com
deficiência apontam que são constantemente infantilizadas, algo que deve ser
evitado ao máximo.
Usar linguagem condescendente
e paternalista em conversas com pessoas com deficiência é capacitismo.
Segundo especialistas,
ao agir dessa maneira, pais, cuidadores e outras pessoas podem acreditar que
estão sendo gentis ou benevolentes quando, na verdade, estão impedindo a pessoa
com deficiência de exercer seu direito à independência.
Além disso,
deficiência não é doença, e uma pessoa com deficiência não tem necessariamente
uma saúde frágil.
Assumir isso ou tratar
a pessoa com deficiência como um doente também é uma forma de preconceito.
O Ministério da
Cidadania também desaconselha, por exemplo, repetir muitas vezes seguidas uma
mesma coisa para pessoas com deficiência, como se elas não estivessem
entendendo, ou falar alto com uma pessoa cega (a não ser que ela tenha
deficiência auditiva também).
Há quem aponte também
a existência de mitos e tabus sobre sexo e pessoas com deficiência.
A atriz Mared Jarman,
que ficou cega do olho direito após ser diagnosticada com a doença de Stargardt
(uma condição degenerativa associada à perda progressiva de visão) aos 10 anos,
escreveu a comédia How This Blind Girl ("Como essa garota cega", em
tradução direta), da BBC, por estar cansada de ver personagens com deficiência
retratados como assexuados ou fetichizados.
“É simplesmente
ridículo acharem que não temos os mesmos instintos e motivação que qualquer
outra pessoa", disse à BBC.
• 2. Considerar as conquistas da pessoa
como um 'milagre'
Dizer que a pessoa com
deficiência “é uma guerreira", "um exemplo de superação" ou que
"faz milagres" pode ser considerado ofensivo.
Segundo o TST, o
capacitismo se reveste muitas vezes de um sentimento ou de um comportamento de
"simpatia" pelas pessoas com deficiência, mas que sustenta uma ideia
de subordinação social e econômica.
"Entenda a
deficiência como uma possibilidade de vida. Desvincule-a da tragédia", diz
o tribunal.
Segundo Ramos, é
sempre bom dar crédito pelo objetivo alcançado, "mas não assumindo que,
por conta da deficiência, aquela pessoa não pode fazer algo".
• 3. Exaltar a deficiência como
justificativa para um tratamento especial
Tratar a pessoa com
deficiência de forma diferente das pessoas sem deficiência pode ser uma forma
de exclusão.
A deficiência não
significa que a pessoa seja menos inteligente ou menos capaz do que qualquer
outra. Alguém também não é inferior só porque tem deficiência.
Segundo a cartilha do
Ministério da Cidadania, a pessoa com deficiência não tem de servir de exemplo
para outras pessoas.
"Claro, você pode
admirá-las, mas não as transforme na sua motivação", recomenda a pasta.
"Se é para ser
exemplo, que seja pelas atitudes que tem, não é mesmo? Mas não por ter uma
deficiência."
Isso vale também para
o ambiente de trabalho: a deficiência não torna a pessoa menos profissional que
as outras.
Não existe uma
atividade específica que seja melhor ou pior para a pessoa com deficiência.
"Com as
adaptações necessárias no ambiente de trabalho, nem o céu é o limite!",
diz a cartilha.
Ramos ressalta que, em
ambientes escolares ou de trabalho, pode ser necessário fazer ajustes para
garantir a inclusão.
Mas isso não significa
que aquela pessoa com deficiência seja menos capaz.
• 4. Oferecer ajuda sem que tenha sido
solicitada
Segundo a cartilha do
TST, este comportamento deve ser evitado.
Qualquer pessoa
precisa de apoio. Por isso, é importante não confundir capacitismo com
necessidade de cuidado e auxílio.
O Ministério da
Cidadania explica que, no caso de uma pessoa com deficiência que está mostrando
dificuldades para atravessar a rua, por exemplo, uma ajuda até pode ser
oferecida, mas sem insistência.
"Se a pessoa com
deficiência precisar do seu apoio, ela irá pedir (ou a cuidadora dela, se for o
caso)", diz a pasta.
"A pessoa com
deficiência não é orgulhosa nem metida se recusar ser ajudada quando você
oferecer apoio. Às vezes, ela não precisa mesmo de ajuda."
• 5. Deficiente, portador de necessidade
especial ou portador de deficiência?
A orientação é usar o
termo "pessoa com deficiência (PcD)" e nunca expressões como
"portador de necessidade especial", "portador de
deficiência" ou "deficiente".
O termo "pessoa
com deficiência" foi definido pela Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito das Pessoas com Deficiência, aprovada em 2006 pela Assembleia Geral da
ONU e ratificado pelo Brasil.
Essa convenção diz que
a deficiência é resultante da combinação entre dois fatores: os impedimentos
clínicos que estão nas pessoas (que podem ser físicos, intelectuais,
sensoriais, etc) e as barreiras que estão ao seu redor (na arquitetura, nos
meios de transporte, na comunicação e, acima de tudo, em nossa atitude).
Segundo especialistas,
o cuidado com as palavras não é preciosismo, mas faz parte da busca por uma
convivência mais civilizada.
• 6. Os termos que devem ser abolidos do
vocabulário
"Retardado",
"mongol", "demente", "imbecil".
Esses termos também
são totalmente inadequados e ofensivos para se referir a pessoas com
deficiência intelectual.
A discriminação é
proibida pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/ 2015) e pela
própria Constituição Federal.
Também não devem ser
usados para pessoas sem deficiências, já que existe um histórico de preconceito
associado a essas palavras.
• 7. 'Deu mancada'
Algumas expressões que
muitas pessoas usam no dia-a-dia também são consideradas fruto de preconceito e
devem ser banidas do vocabulário.
A expressão "deu
mancada", por exemplo, faz referência a pessoas que têm assimetria na
marcha.
Ao associar o ato de
mancar com o de cometer erros ou fazer besteira, o termo é considerado
capacitista e ofensivo.
• 8. 'Não temos braço/perna para isso'
Dizer que "não
possui braço" para realizar uma tarefa é considerada uma forma de insinuar
que uma pessoa que não possui um braço não poderia fazer aquele trabalho ou
cumprir a obrigação com qualidade.
"Quem disse que
uma pessoa amputada, que não tem um braço ou uma perna, não pode fazer aquela
atividade", diz a superintendente da AACD.
• 9. 'Fingir demência'
A demência é um termo
usado para descrever um conjunto de sintomas que afetam a função cerebral, como
problemas de memória, raciocínio, linguagem e comportamento.
Portanto, não é algo
que se escolhe ou se finge ter e nem deve ser associado ao comportamento
negativo de alguém.
• 10. 'Deu uma de João sem braço'
Não ter um braço é uma
condição física, não comportamental.
Não ter um braço,
portanto, não significa que a pessoa é preguiçosa, menos disposta a ajudar os
outros ou apta a assumir responsabilidades.
"Usar essa
expressão é dizer que aquela pessoa que não tem um braço está usando isso como
desculpa para não fazer alguma atividade", explica Ramos.
• As boas práticas
O Ministério da
Cidadania lista algumas dicas práticas de bons comportamentos, como:
• não distrair cães-guia;
• não estacionar na vaga ou usar o
banheiro reservado para pessoas com deficiência;
• não usar uma cadeira de rodas para pendurar
coisas ou se escorar (a não ser que você tenha permissão do dono ou da dona).
"Outras dicas: só
empurre a cadeira de rodas de alguém se a pessoa pedir. E lembre-se que a
cadeira vai onde a cadeirante precisa ir. Simples assim", diz a cartilha
da pasta.
Ficar sentado para
atender ou conversar com alguém que está em uma cadeira de rodas é também uma
boa prática, para que a pessoa que está na cadeira não precise ficar olhando
para cima durante muito tempo.
Mas, de forma geral, a
orientação é sempre respeitar a diversidade humana e compreender as pessoas em
sua totalidade.
"A deficiência é
apenas uma de suas características", diz a cartilha do TST.
Outras dicas do
tribunal são sempre respeitar a lei e procurar fazer a sua parte para garantir
a acessibilidade: "Valorize e conviva com as diferenças."
Fonte: BBC News Mundo
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