quarta-feira, 30 de outubro de 2024

BRICS é o 'movimento não alinhado 2.0' do mundo contemporâneo, calcado no pragmatismo

Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que o grupo lidera a busca pela nova ordem mundial multipolar, mas com a vantagem de ter entre os membros economias pujantes que conferem uma correlação de forças diferente da vivenciada na Guerra Fria, época que também contou com movimentos de constestação anti-hegemônicos.

A tentativa de criar uma frente para contestar a hegemonia dos EUA sobre os demais países é antiga. Em 1961, durante a Guerra Fria, por exemplo, quando o mundo se via dividido entre dois blocos, liderados por EUA e União Soviética (URSS), lideranças nacionalistas fundaram o Movimento dos Não Alinhados, uma tentativa de criar um bloco de autonomia. Porém, embora ainda existente, o movimento perdeu proeminência.

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam se o BRICS pode ser apontado atualmente como o grupo que cumpre o papel de movimento anti-hegemônico e quais os desafios enfrentados hoje que diferem do cenário da Guerra Fria.

Para Diego Pautasso, doutor em relações internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e autor do livro "A China e a Nova Rota da Seda", o BRICS, sobretudo após a ampliação de 2023, "representa o movimento não alinhado 2.0, com capacidade enorme de reorganização do sistema internacional".

Ele acrescenta que Rússia e China atualmente desempenham os principais papéis de líderes anti-hegemônicos.

"[Rússia e China] fazem, portanto, um papel alternativo às estruturas hegemônicas de poder centradas em Washington e que são heranças do final da Segunda Guerra Mundial, como o predomínio, a ascendência sobre o sistema ONU [Organização das Nações Unidas], sistema Bretton Woods, G7, OCDE e demais mecanismos que têm funcionado como uma pavimentação da hegemonia estadunidense", explica.

No entanto, ele enfatiza que o papel do BRICS hoje se dá em um contexto internacional ancorado por economias pujantes, o que não era o caso do Movimento dos Países Não Alinhados nos anos 1960. Nesse contexto, ele afirma que "o grupo tem condição de levar adiante uma reorganização do sistema internacional, porque a correlação de forças é absolutamente diferente".

"Hoje há um nítido processo de transição sistêmica no qual os Estados Unidos e seus aliados não representam mais a maioria econômica, demográfica e política, e há uma crescente aderência e aspiração de mudança dos mecanismos de governança e de integração do sistema internacional."

A opinião é compartilhada por Guilherme Conceição, mestrando em relações internacionais pelo Instituto San Tiago Dantas (Unesp, Unicamp e PUC-SP) e pesquisador do Centro de Investigação em Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE).

No entanto, Conceição afirma não considerar o BRICS uma plataforma anti-Ocidente, mas sim de defesa do multilateralismo.

"É importante a gente ressaltar que essa visão que desafia a estrutura de poder ocidental compartilha muito mais um caráter reformista, ao buscar por uma nova ordem mundial mais multipolar, do que necessariamente disruptiva. Na realidade, ao analisarmos as declarações dos próprios líderes do BRICS, nós vamos perceber que eles enxergam muito mais a organização e o grupo como uma defesa do multilateralismo do que como um agente anti-Ocidente", argumenta.

Ele aponta que entre as diferenças do BRICS, com o Movimento dos Não Alinhados, está a disposição de membros do grupo de fechar acordos e formar alianças militares com grandes potências.

"Em vez de rejeitar alianças, na verdade, cada membro do grupo [BRICS] mantém relações distintas com os próprios Estados Unidos, com a Europa e entre si, que são moldadas por interesses econômicos e geopolíticos específicos. Nesse sentido, a abordagem do BRICS é mais pragmática e busca viabilizar alternativas mais concretas, a reforma do sistema financeiro — enfim, a reforma do sistema internacional conforme conhecemos hoje."

Apesar da diferença, Conceição frisa que é inegável que o BRICS hoje continua a ser um fórum simbólico bastante importante, principalmente para o sul geopolítico e para alavancar a transição de liderança proposta por Pequim.

"De fato, o BRICS evoluiu para algo muito mais amplo do que uma aliança econômica […]. A própria criação do Novo Banco de Desenvolvimento [NBD] está aí para representar um passo significativo na construção de alternativas ao sistema financeiro, que ainda é dominado pela doutrina do Bretton Woods, pelo FMI [Fórum Monetário Internacional] e pelo próprio Banco Mundial. […] Outro exemplo pode ser também encontrado na soma de seu PIB [produto interno bruto], que recentemente ultrapassou o PIB dos membros do G7 e que, evidentemente, atribui ao grupo uma espécie de verniz estratégico, que busca justamente reconfigurar as dinâmicas de poder."

Questionado sobre o que o BRICS pode fazer para evitar a perda de influência vivenciada pelo Movimento dos Não Alinhados, Conceição afirma que o grupo precisa "manter a consistência, mesmo diante do delicado equilíbrio que envolve manter seus objetivos econômicos e políticos".

"E, para isso, eu acho que o BRICS teria que focar em áreas específicas, como no comércio, nas finanças, no desenvolvimento sustentável. Ou seja, sem perder o seu éthos [caráter] econômico, mas também sem abrir mão das suas prerrogativas políticas mais amplas. E aqui, eu acho que cabe mencionar, uma linha interessante que vem sendo adotada pelo Brasil, que tem defendido a pauta necessária da reforma da ONU e de demais instituições multilaterais, ao mesmo tempo que também acena para a desdolarização intrabloco", afirma o especialista.

<><> Formuladores de política alertam: protecionismo ameaça recuperação econômica global

Com o fim da corrida eleitoral norte-americana se aproximando, autoridades de alto escalão responsáveis pela formulação de políticas econômicas em todo o mundo alertaram para virada acentuada em direção ao protecionismo econômico que arrisca ameaçar a recuperação econômica global.

Apesar de especialistas e analistas considerarem que a economia finalmente tem mostrado sinais de que o pior surto de inflação dos últimos tempos está passando, evitando uma recessão aguardada por muitos, à margem das reuniões anuais do FMI com o Banco Mundial em Washington nesta semana, autoridades também alertaram que os crescentes riscos políticos nos EUA e em outros lugares no mundo ameaçavam a perspectiva de recuperação.

"Qualquer nova tentativa de reverter a globalização e recuar para o protecionismo seria alarmante", disse Agustín Carstens, gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais, ao Financial Times (FT). "Isso pode aumentar os preços, aumentar o desemprego e prejudicar o crescimento."

Alguns formuladores de políticas temem que a ordem global baseada em regras incorporada pelas instituições de Bretton Woods — que neste ano marcam seu 80º aniversário — esteja em risco de ser derrubada.

Com Donald Trump e Kamala Harris empatados nas pesquisas, a maior economia do mundo pode passar por uma mudança drástica em sua política em 2025, o que fez com que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tentasse precificar os danos que uma guerra comercial de retaliação envolvendo tarifas impostas pelos EUA, Europa e China causaria.

De acordo com o FMI, a economia global deve se expandir em 3,2% neste ano e no próximo — mas impostos generalizados, isenções fiscais, menos migração e custos de empréstimos mais altos podem atingir a produção em 0,8% em 2025 e outro 1,3% em 2026.

Economistas do Morgan Stanley, no entanto, esperam que o plano tarifário de Trump reduza o crescimento real do produto interno bruto (PIB) em 1,4% para os EUA, enquanto aumenta os preços ao consumidor em 0,9%.

"Se você tem um impacto negativo no crescimento e tem um declínio nos salários reais ou no poder de compra dos consumidores porque os preços estão mais altos para seus bens de consumo diários, isso para mim é como estagflação", disse Mahmood Pradhan, chefe de macroeconomia global da Amundi Asset Management, segundo a apuração.

Mesmo diante das incertezas políticas evidenciadas pelas autoridades, os bancos centrais estão agora envolvidos na fase inicial de seus ciclos de flexibilização depois de terem considerado derrotada a crise inflacionária, debatendo quão rápido reduzir as taxas de juros para um nível que não sufoque mais o crescimento.

No entanto, a dívida pública global deverá ultrapassar US$ 100 trilhões (cerca de R$ 570,8 trilhões) até o final deste ano, estima o FMI, com a dívida se aproximando de 100% do PIB global até o final da década.

Para além disso, alguns participantes temem que os mercados financeiros ainda não tenham percebido o impacto dos níveis assustadores de dívida que confrontam autoridades em economias avançadas e emergentes.

¨      A integração sul-americana. Por Manuel Domingos Neto

Brasil, precisas da América do Sul tanto quanto a América do Sul precisa de ti. Se exiges democracia dos outros, demonstre o valor da tua! Prove ser falso que general brasileiro intimida a Justiça

Brasil, não terás futuro promissor sem a integração sul-americana. Sem contar com teus vizinhos, terás retórica débil. Na arena internacional, vale a força e a tua não basta para endossar tua vontade. Distanciada dos sul-americanos tua Defesa nacional será inconvincente. Parcerias subcontinentais formam condição básica para produzires em escala viável armas e equipamentos próprios.

Somando esforços, a América do Sul poderia fabricar barcos, aeronaves, satélites, radares, mísseis, drones, sistemas cibernéticos e veículos de combate rompendo os grilhões dos que mandam no mundo há quinhentos anos.

Por que não abraças teus vizinhos? No sufoco, eles são fundamentais. Se teus filhos ficam sem energia e oxigênio no Amapá, quem os salvará? Vai que sejas objeto de sanções ou que impiedosos bloqueiem tua navegação… Quem te socorrerá?

Sem parcerias com a vizinhança, teu empenho na proteção ambiental fica inconsistente: biomas, bacias e aquíferos compartilhados não serão efetivamente protegidos. A Amazônia não é só tua!

Será dispendioso e furado o planejamento de tua segurança pública à revelia de países limítrofes. É inexequível a vigilância unilateral de extensas fronteiras terrestres e da costa marítima.

Sem a cooperação dos vizinhos, teus cuidados sanitários serão limitados. Vírus e bactérias ignoram fronteiras arbitradas pelos humanos. A saúde dos teus estará permanentemente exposta.

É doideira imaginar-te industrializado, desenvolvido, democrático e soberano arrodeado de pobres, infelizes e dependentes de potências extracontinentais. Serás percebido com imperialista.

Precisas da América do Sul tanto quanto a América do Sul precisa de ti. O que te digo agora consta do planejamento estratégico de potências ocidentais desde o século XIX. Os hegemônicos contam que para onde penderes, penderá nuestra América. Por que tua cultura política nunca absorveu esta noção?

Por que rejeitastes a inclusão da Venezuela nos BRICS?

Podes não gostar do bolivarianismo, mas deixe nossos irmãos seguirem seu rumo!

Considere a dificuldade de um país carimbado pelos Estados Unidos de integrante do “eixo do mal” existir com sólida institucionalidade democrática.

A Venezuela, fortemente sancionada e permanentemente sabotada, pode viver em plácida tranquilidade?

Se exiges democracia dos outros, demonstre o valor da tua! Prove ser falso que general brasileiro intimida a Justiça. Diga que nenhum tribunal põe na cadeia candidato favorito para que um capitão com maus instintos seja eleito!

Mostre seres capaz de prender genocidas, torturadores e juízes vendidos.

Exiba a respeitabilidade de teu parlamento! Assegure que seus integrantes não se elegem usando o orçamento público; que milicianos, neopentecostais e bandidos não controlem territórios; que tua imprensa não é facciosa e que as mentiras da internet não enganem o povo.

Mostre que teus partidos políticos pulsam com a dinâmica social e ensejam a renovação permanente de quadros, ideais e valores.

E que abominas a concentração da riqueza inviabilizadora da democracia.

Mostre que sempre derrotas os inimigos da liberdade; que promotores do ódio e da violência formam minorias rejeitadas nas urnas!

Por que fragilizas a Venezuela neste momento de reordenamento mundial? Por tabela, debilitas os BRICS. Impedes esse grupo, que desperta esperanças entre os oprimidos, de deter a maior parte da produção mundial de petróleo. Isso te beneficia? O que é bom para Washington é bom para ti?

¨      Amorim diz que Brasil busca 'maior sinergia com a China', mas 'não deve aderir' ao Cinturão e Rota

Há alguns meses, vem sendo ventilado na mídia que o Brasil pode aderir à Iniciativa Cinturão e Rota na visita do presidente Xi Jinping ao país no dia 20 de novembro para cúpula do G20. No entanto, o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse que Brasília não deve assinar a iniciativa.

Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim falou que o Brasil quer elevar a relação com a China a um novo patamar, sem que para isso precise assinar um "contrato de adesão".

Indagado pela mídia sobre a assinatura, o ex-chanceler afirmou que "a palavra-chave é sinergia. Não é assinar embaixo, como uma apólice de seguro. Não estamos entrando em um tratado de adesão. É uma negociação de sinergias", afirmou.

O programa trilionário de investimentos chineses, que existe há mais de uma década e conta com a assinatura de 150 países em desenvolvimento, vem sendo dialogado com o governo brasileiro há um tempo.

"Eles [os chineses] falam sobre Cinturão, mas não é uma questão de aderir. Eles dão os nomes que eles quiserem para o lado deles, mas o que interessa é que são projetos que o Brasil definiu e que serão aceitos ou não", completou Amorim.

Ainda segundo Amorim, os projetos que estão em estudo entre os dois países poderão ser estendidos para outras nações sul-americanas. A expectativa é de que o país asiático ofereça oportunidades não apenas em infraestrutura, mas também em outras áreas, que vão de energia solar a carros híbridos ou elétricos.

"A ideia é passar para outro patamar e isso faz parte de uma visão do Brasil, de ter suas relações diversificadas e não ficar dependendo de um único fornecedor, ou um único parceiro. A parceria não é só comprar e vender, mas investir com insumos feitos no Brasil, por exemplo", afirmou.

Os Estados Unidos sinalizaram na semana passada que eram contra a assinatura entre Brasília e Pequim. A representante de Comércio dos EUA, Katherine Tai, afirmou que o Brasil deveria ter cautela com a possível adesão.

A declaração irritou Pequim que, nesta sexta-feira (25), uma porta-voz da Embaixada da China em Brasília divulgou uma nota dizendo que a recomendação "carece de respeito ao Brasil" e que "o país é soberano" nas suas escolhas, conforme noticiado.

 

Fonte: Sputnik Brasil/A Terra é Redonda

 

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