quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Bifo Berardi: ‘Israel e os assassinatos automáticos’

As guerras do século XXI são cada vez menos combatidas por seres humanos. Os seres humanos são as vítimas, mas quem executa o extermínio são máquinas. Máquinas que, por sua vez, são cada vez menos controladas por seres humanos, pois a tendência implícita nos sistemas de inteligência artificial, dotados de capacidades de autoaprendizagem e de deep learning, é liberar esses organismos, aleatórios e muitas vezes dotados de consciência e sensibilidade, da tarefa de torturar, mutilar, matar e exterminar, e deixar essa função nas mãos de sistemas dotados de inteligência.

A palavra “inteligência” denota a capacidade de realizar uma tarefa, independentemente de sua utilidade social, licitude ética, etc., e, acima de tudo, independentemente das emoções. Inteligência sem sensibilidade, inteligência sem consciência: a máquina inteligente exterminadora é o produto geral do sistema capitalista na era da automação inteligente. O nazismo do século XX teve que considerar os limites da inteligência emocional, como mostra Jonathan Little em seu terrível romance Les bienveillantes (2006; As Benevolentes, 2019). O tecno-nazismo do século XXI, do qual os sionistas são o símbolo e a vanguarda, emancipa-se desses limites.

O trabalho de matar é exaustivo, como aprendemos ao ler este romance sobre a fadiga psíquica de um membro da SS: o organismo humano tem limites físicos e psicológicos dos quais a máquina inteligente se emancipa. Segundo reportagens do Haaretz e da CNN, a fadiga psíquica do extermínio está desgastando os nervos dos exterminadores israelenses: suicídio, transtornos psíquicos pós-traumáticos e autodesprezo afetam os soldados do exército Israel (as “FDI”). Minha previsão é que esses transtornos são apenas o início de um colapso psíquico generalizado da sociedade israelense, que não poderá sobreviver muito tempo após o Holocausto palestino. O genocídio está provocando um processo de desintegração mental do Estado sionista. Netanyahu, Ben Gvir e Smotrich armaram Israel contra si mesmo.

O drone é a figura dominante nesta nova fase do nazismo: a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza são o palco de experimentação dessa nova fase de extermínio, processo que se desenvolverá plenamente no século XXI. O drone é uma aeronave caracterizada pela ausência de um piloto humano a bordo. Seu voo é controlado por computadores que podem ver, ouvir e executar o extermínio. Dos primeiros modelos de grande porte, que apenas alguns exércitos possuíam, a tecnologia evoluiu para a construção de modelos muito pequenos, operados em grupo (enxame de drones ), acessíveis a qualquer um devido ao seu baixo custo.

O genocídio israelense constitui a primeira aplicação em grande escala dessa automação do extermínio. Não devemos pensar que se trata de um episódio isolado, nem que, após este acontecimento excepcional, a guerra retornará aos seus antigos traços desumanamente humanos. A desumanidade finalmente se emancipou do humano e pode, enfim, proceder automaticamente. Na competição tecnomilitar, as máquinas de extermínio estão destinadas a se generalizar. A partir de agora, todos os conflitos armados, sejam guerras nacionais, religiosas ou civis, recorrerão cada vez mais às técnicas do extermínio inteligente.

A revista israelense 972 publicou em abril de 2024 o relatório mais aterrorizante de que tenho lembrança: descreve a estrutura epistêmica e pragmática de um sistema de inteligência artificial projetado para detectar e atacar alvos hipoteticamente hostis. Esses alvos podem ser transeuntes inocentes, crianças voltando da escola, mulheres indo buscar água na fonte. Não importa. O extermínio automático funciona de forma estocástica e a estocasticidade militar não pode ser excessivamente sutil. O sistema de extermínio israelense, que leva o pomposo nome de Lavender, é, como informa o 972:

Uma máquina especial que pode processar enormes quantidades dados, com o objetivo de gerar alvos potenciais para realizar ataques militares durante uma guerra. Essa tecnologia resolve o que pode ser descrito como o gargalo verificado tanto na identificação de novos alvos quanto na decisão de executá-los.

Os seres humanos constituem, portanto, um gargalo, um elemento de incerteza e de lentidão. Por mais impiedosos e fanáticos que sejam, continuam sendo máquinas indeterministas: a emocionalidade, a incerteza e a fadiga podem limitar sua competência para matar. É necessário que a máquina inteligente absorva progressivamente toda a sequência de ações que tornam possível o extermínio: detecção visual e auditiva, catalogação, seleção, eliminação. E, finalmente, autocorreção e aperfeiçoamento em busca do objetivo superior: instaurar a ordem onde os seres humanos representam o caos, eliminando, consequentemente, todo elemento humano.

Lavender desempenhou um papel essencial no bombardeio da população palestina […] sua influência nas operações do exército israelense foi tão grande que os militares trataram as informações da máquina dirigida por inteligência artificial como se fossem decisões humanas […]. O sistema inicialmente identificou 37.000 palestinos como supostos militantes e considerou suas residências como alvos de bombardeios aéreos […]. O exército israelense atacou sistematicamente os indivíduos selecionados pelo Lavender em suas casas, especialmente à noite, quando famílias inteiras estavam com eles […]. Segundo duas fontes que entrevistamos, o exército decidiu que, para cada membro do Hamas indicado por Lavender, seria permitido matar até quinze ou vinte civis […] se o alvo fosse um oficial do Hamas, seria permitido eliminar até cem civis […].

A solução para o problema, acrescenta o oficial, é a inteligência artificial. Temos um guia para construir uma máquina de criação de alvos, baseada em algoritmos de aprendizado de máquina. Neste guia, há muitos exemplos de características que permitem identificar uma pessoa como perigosa, como estar em um determinado grupo de WhatsApp, trocar de celular com frequência ou mudar frequentemente de endereço […].

Na guerra, não há tempo para discriminar cada um dos alvos, então temos que aceitar uma certa margem de erro no uso da inteligência artificial; precisamos correr o risco de provocar danos civis colaterais ou de atacar alguém por engano e temos que aprender a viver após informados sobre isso. (live with it).

Este oficial, cujas declarações são registradas pelo 972, conclui dizendo que, após matar centenas – na verdade, milhares; na verdade, dezenas de milhares – de crianças, mulheres e inocentes, é preciso aprender a “live with it“. Viver com a consciência de ser um exterminador. Uma expressão assustadora que, por si só, nos diz até que ponto chegou a degradação ética e quão profundo é o abismo de cinismo assassino no qual se afundou toda a população de Israel.

“B” (uma fonte do 972) nos disse que era normal que essa automatização gerasse um número maior de alvos a serem atingidos. Se em um dia não houvesse muitos alvos, devido a critérios de definição insuficientes, tínhamos que reduzir o limite de definição. Uma vez após a outra, os soldados nos pressionavam dizendo: “Dê-nos mais alvos”. Na verdade, eles nos diziam isso aos gritos. “Já terminamos com todos os alvos que vocês nos deram ontem […]”. Lavender e sistemas similares, como o chamado Where’s Daddy, combinam-se para obter o efeito de matar famílias inteiras.

Os órgãos oficiais do exército israelense comentam com satisfação esses resultados da máquina de guerra inteligente:

O Estado de Israel é um ator de alta competência tecnológica e utiliza isso como parte de seu leque de ferramentas diplomáticas para se tornar líder no projeto do sistema internacional de governança tecnológica. A necessidade de supremacia tecnológica para Israel deriva das ameaças que enfrenta […].

A eliminação seletiva e a multiplicação de assassinatos colaterais são o resultado de um aperfeiçoamento técnico do qual Israel é vanguarda, mas não devemos pensar que se trata de um fenômeno isolado e pontual. Todo o Ocidente deve se equipar com uma governança tecnológica guiada pela inteligência artificial exterminadora.

·        Inteligência e consciência

Gaza nos revelou a última verdade da história humana: não há saída para a repetição sem fim do ciclo violência-vingança-violência. Então, por que duvidar? É necessário esterilizar a inteligência, é necessário dissociar a inteligência da natureza indeterminista do inconsciente, da emocionalidade. Somente assim podemos entender a inteligência artificial no contexto de uma competição econômica e militar generalizada. A guerra é a continuação lógica da economia liberal, e a guerra requer o uso ilimitado da inteligência. Mas, para poder eliminar os limites da inteligência, precisamos entender o que Yuval Harari destaca em seu livro Homo Deus (2016): a dissociação da inteligência da consciência é a condição para proceder a um uso ilimitado da primeira. A consciência, se é que essa palavra significa algo, é uma limitação da inteligência. Refiro-me à consciência ética, que significa uma consciência sensível, incorporada. O trabalho de matar, que é o trabalho mais importante da atualidade, o investimento mais importante da economia terminal, torna-se tanto mais produtivo quanto mais a inteligência (homicida) se emancipa da consciência (ética).

Desde que o sionismo transformou a população israelense no coração das trevas do supremacismo contemporâneo, Israel se tornou a Endlösung-Machine [máquina da solução final]. Por isso, sabemos que nunca haverá um pós-guerra. Ninguém mais pode acreditar que haverá paz em algum momento no futuro, pois o extermínio foi incorporado a uma máquina que se autocorrige, se aperfeiçoa, se conecta e se expande, uma máquina que ninguém tem a capacidade de desativar. A emergência da inteligência artificial revela-se como a consequência da obsolescência humana e simultaneamente como a condição para a subjugação técnica definitiva dos seres humanos. Esta é a verdade essencial que precisamos apreener sobre a inteligência artificial na era da guerra total assintótica. Todo o resto é pura conversa fiada, concebida para fazer perder tempo.

Aviv Kochavi, chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, declarou que a metodologia bélica israelense se inspira na teoria rizomática de Deleuze e Guattari. A proliferação assimétrica da guerra de micromáquinas é a melhor definição da ideia de transformar objetos cotidianos, como pagers e walkie-talkies, em armas de destruição em massa. Somente leitores ingênuos poderiam acreditar que a metodologia rizomática de Deleuze e Guattari é uma teoria de libertação. Na verdade, trata-se de algo muito mais complexo e articulado: essa metodologia primeiro conceitualiza o modelo econômico baseado na distribuição molecular do controle capitalista. Depois, vem a inscrição molecular da guerra e do terror em cada fragmento da vida cotidiana e das coisas de uso comum. A vida paranoica de Israel, um país permanentemente obcecado pelo ódio das populações ao seu redor e que sempre o será (durante os poucos anos que lhe serão concedidos sobreviver, antes de se autodestruir), é marcada por essa molecularização do terror.

A guerra de extermínio é, se me permitem o macabro trocadilho, o killer application da inteligência artificial. A inteligência artificial pode ter nascido com intenções puramente científicas, ou puramente econômicas, ou até com ingênuas intenções humanitárias. Mas seu uso perfeito, específico e final é o extermínio. Nos últimos anos, ouvimos falar de regulamentação ética da inteligência artificial, ouvimos falar de alinhar a tecnologia com os “valores” humanos. São insubstancialidades desprovidas de qualquer sentido. Em primeiro lugar, o que significam os valores humanos? De que universalidade estamos falando? Da universalidade do lucro, da concorrência econômica, do crescimento ilimitado? Ou da universalidade de outra coisa? Quem é o senhor da universalidade no momento em que toda a humanidade está culturalmente em guerra?

A ideia de alinhar a inteligência artificial com os valores humanos é exatamente o oposto do que tem acontecido e está acontecendo no mundo da pesquisa e aplicação desta tecnologia: nossas faculdades cognitivas se alinharam ao formato digital do mundo, o que vem ocorrendo nos últimos cinquenta anos, um processo que agora chegou à etapa final: alinhar a inteligência artificial com o imperativo do extermínio, que domina o inconsciente e a ferocidade da seleção natural. Em seu todo, os discursos sobre a ética da inteligência artificial são imbecilidades, pois se baseiam na eliminação e no esquecimento do uso militar da mesma, que domina a pesquisa, o financiamento e o uso desta tecnologia: inteligência movida pela demência, pela psicose, pelo horror.

 

¨      Comércio árabe-israelense segue forte, mas até quando?

Líderes da Jordânia, Egito e Emirados Árabes Unidos criticam ações de Israel em Gaza e no Líbano, mas ainda mantêm normalidade nas relações comerciais. Poderia um agravamento do conflito mudar o status atual?

Antes de 7 de outubro de 2023 e do ataque do grupo terrorista Hamas a Israel, o Conselho EAU-Israel postava quase diariamente nas redes sociais. A entidade, sediada na cidade israelense de Tel Aviv, afirmava entusiasticamente ao mundo como eram boas as relações comerciais entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, após a normalização das relações entre os dois países, em 2020, com a assinatura dos chamados Acordos de Abraão.

Isso, porém, mudou há pouco mais de um ano. A última postagem do Conselho foi em 8 de outubro. Desde então, nada mais foi publicado. A entidade não respondeu às perguntas da DW sobre o motivo de não mais celebrar os laços comerciais EAU-Israel, apesar de que, após um ano de conflito, os negócios entre os dois países permanecerem comparativamente robustos.

Líderes de nações que mantêm laços comerciais com Israel, incluindo Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Egito, criticaram a forma como o governo israelense conduz suas campanhas militares na Faixa de Gaza e, mais recentemente, no Líbano.

Desde o início da ofensiva israelense em Gaza em outubro passado, em resposta aos ataques terroristas do do Hamas, mais de 42.000 pessoas foram mortas no enclave palestino, incluindo mais de 3.400 crianças, segundo dados no Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo próprio Hamas.

No Líbano, após Israel dar inicio a uma campanha militar contra o grupo xiita Hezbollah, no mês passado, mais de 1.300 pessoas perderam suas vidas.

Como resultado, a retórica dos líderes árabes contra Israel se torna cada vez mais contundente.

O ministro do Exterior da Jordânia, Ayman Safadi, comentou os eventos recentes no norte de Gaza durante uma reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, esta semana. "Vemos limpeza étnica acontecendo, e isso tem que acabar", afirmou.

Em uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em meados de outubro, o ministro do Exterior do Egito, Badr Abdelatty, disse que as ações israelenses causaram "uma catástrofe humanitária sem precedentes" em Gaza.

Políticos dos Emirados Árabes Unidos reiteram regularmente que apenas a criação de um Estado palestino poderá pôr fim ao conflito atual e garantir uma paz duradoura no Oriente Médio.

·        Laços comerciais ainda fortes

Apesar das críticas, os laços comerciais entre e Israel e essas nações não parecem ter sido abalados.

De todos os países da região, os Emirados Árabes Unidos são os que realizam mais negócios com Israel, seguidos da Jordânia, Egito, Argélia, Marrocos e Bahrein – segundo o valor do comércio bilateral entre Israel e cada um desses países em 2022.

De acordo com estatísticas mensais sobre o comércio exterior de agosto de 2024, coletadas pelo Escritório Central de Estatísticas israelense, a quantidade de comércio – exportações e importações – que esses países realizam com Israel permaneceu majoritariamente positiva este ano.

No caso da Jordânia, o comércio em agosto deste ano foi quase o mesmo do ano passado, diminuindo apenas cerca de 1%. Ao mesmo tempo, no Egito, os negócios com Israel em agosto cresceram mais de 30%. O comércio com o Marrocos e o Bahrein, também signatários dos Acordos de Abraão, também aumentou significativamente este ano, apesar das ameaças feitas anteriormente pelo governo bareinita de romper os laços comerciais.

Em 2023, o comércio total entre Emirados Árabes Unidos e Israel foi estimado em cerca de 2,9 bilhões de dólares (R$ 16,5 bilhões) e a expectativa é que o valor aumente este ano. Nos primeiros sete meses de 2024, on negócios entre os dois países já totalizaram 1,922 bilhão de dólares. Mantendo essa tendência, o comércio total pode chegar a 3,3 bilhões de dólares até o final do ano.

Assinatura dos acordos de Abraão em 2020, com premiê de Israel e Ministro do Exterior do EAU e o então presidente dos EUA, Donald TrumpFoto: SAUL LOEB/AFP

Contudo, segundo especialistas, isso é algo difícil de prever. Embora os laços comerciais tenham se mantido, a taxa de crescimento desencadeada pelos Acordos de Abraão certamente diminuiu. Houve ainda outros impactos, como a queda no turismo e a interrupção da logística, como os ataques dos rebeldes houthis no Iêmen às rotas da navegação comercial no Mar Vermelho.

Ainda assim, segundo empresários israelenses e emiradenses, a maioria das mudanças nas relações comerciais foi superficial, não levando em conta os setores diretamente impactados pelo conflito. Acordos ainda estão sendo feitos, afirmaram empresários israelenses e árabes a jornalistas, ainda que em menor quantidade, embora ninguém queira discuti-los abertamente.

"Em alguns casos, os negócios até se expandiram", afirmou Dina Esfandiary, consultora sênior para o Oriente Médio do think tank Crisis Group, à DW.

·        Acordos de Abraão em xeque

Ela, no entanto, observou que, quando se trata de países como os Emirados Árabes Unidos, é importante olhar mais de perto. "Há, de um lado, os negócios entre empresas estatais israelenses e emiradenses, que é a maior parte do que está acontecendo, e de outro, negócios entre as empresas do setor privado dos dois países", explicou Esfandiary. "Isso quase parou porque o setor privado ficou muito apreensivo em continuar qualquer acordo comercial com Israel."

A consultoria menciona casos de emiradenses ricos que antes estavam entusiasmados em trabalhar com os israelenses, mas que, desde então, abandonaram completamente a ideia. "Para eles, é uma questão de reputação", observou. "Ao mesmo tempo, as empresas estatais não têm preocupações tão grandes com a reputação."

Alguns emiradenses proeminentes que antes apoiavam os Acordos de Abraão não o fazem mais, ela disse. O vice-diretor da polícia de Dubai, Dhahi Khalfan Tamim, disse recentemente a seus 3,1 milhões de seguidores na rede social X que "os árabes realmente queriam paz, mas os líderes de Israel não merecem respeito."

"Os empresários árabes estão usando cálculos diferentes para pesar os riscos e as recompensas associadas ao envolvimento comercial com Israel", confirmou Robert Mogielnicki, um acadêmico sênior do Instituto dos Estados do Golfo Árabe, em Washington. "Os laços econômicos e comerciais podem permanecer bastante tensos em meio a tensões diplomáticas e outras crises regionais", afirmou.

·        Agravamento da crise pode afetar relações?

Em um dado momento, os Emirados Árabes Unidos podem vir a ver a redução dos laços comerciais como uma forma de pressionar Israel, já em crescentes dificuldades econômicas devido ao conflito, a avançar em direção a um cessar-fogo, argumentou Esfandiary.

"No entanto, é improvável que os países que assinaram os Acordos de Abraão mudem completamente seus planos", afirmou. "Quando se lida com as autoridades dos Emirados, elas frequentemente destacam que seu relacionamento com Israel é o que permitiu a EAU enviar muito mais ajuda para Gaza do que qualquer outro país."

Mas, na se trata apenas disso. "Eles também não querem reverter o relacionamento porque têm a ganhar com isso", explicou.

"Os laços econômicos podem servir como uma alavanca [...] para incentivar a tomada de decisões israelenses no futuro", observou Mogielnicki. "Mas, acho que, por enquanto, a probabilidade de os governos árabes tomarem medidas diretas para romper todos os vínculos econômicos existentes com Israel é pequena."

Khaled Elgindy, pesquisador sênior do Middle East Institute e diretor do programa do think tank sediado em Washington sobre assuntos israelenses-palestinos, compartilha dessa avaliação. "Estou cético sobre isso [romper os laços comerciais] porque já se passou mais de um ano. A retórica é muito mais forte, mas acho que se eles fossem fazer isso, já teriam feito", afirmou à DW.

Ele acredita que, mesmo após o fim das ofensivas israelenses, "será socialmente inaceitável que as pessoas simplesmente voltem aos negócios como sempre". "Acho que as atrocidades do ano passado afetaram profundamente a opinião pública. Israel causou danos massivos e irreparáveis ​​à sua imagem no mundo árabe", completou.

 

Fonte: Outras Palavras/DW Brasil

 

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