sábado, 21 de setembro de 2024


 


Ucrânia fora da OTAN? Vice de Trump coloca neutralidade de Kiev na agenda, diz analista

Candidato à vice-presidência pelo Partido Republicano, J.D. Vance quer processo de paz para a Ucrânia com zona desmilitarizada e neutralidade de Kiev. Retomando termos do Comunicado de Istambul de 2022, proposta republicana contrasta com ausência de projeto de paz do Partido Democrata, disseram analistas à Sputnik Brasil.

Na última semana, o plano de paz para a Ucrânia do candidato à presidência dos EUA, Donald Trump, foi detalhado pelo seu candidato a vice, J.D. Vance. Segundo o republicano, a neutralidade ucraniana e a criação de uma zona desmilitarizada seriam os primeiros passos para selar a paz no Leste Europeu.

Anteriormente, o candidato à presidência Donald Trump já havia se comprometido a iniciar os diálogos de paz antes mesmo de assumir um eventual novo mandato. De acordo com Vance, o primeiro passo seria conversar com russos, ucranianos e europeus para estabelecer as linhas gerais do plano de paz.

"E o mais provável é que a atual linha de demarcação entre a Rússia e a Ucrânia se transforme em uma zona desmilitarizada", disse Vance em entrevista ao podcast Shawn Ryan Show.

Segundo ele, a administração republicana teria reservas quanto a lançar ofensiva militar para retirar tropas russas da Crimeia, questionando "quantas vidas norte-americanas isso custaria". "Se a resposta é mais do que zero, então eu estou fora dessa", declarou Vance.

Outro ponto relevante da proposta de Vance é garantir a neutralidade ucraniana, o que significaria a não adesão de Kiev a alianças militares como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

"A Ucrânia manteria a sua soberania independente e a Rússia receberia a garantia de neutralidade da Ucrânia – de que não vai aderir à OTAN, de que não vai aderir a instituições aliadas", disse Vance. "O acordo no final seria algo nessa linha."

A especialista em segurança russa e mestre em Relações Internacionais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Larissa Caroline Silva, notou a importância da neutralidade ucraniana para Moscou, lembrando que a possível entrada de Kiev na OTAN é uma das causas profundas do conflito.

"Recentemente, o [presidente russo Vladimir] Putin voltou a mencionar a neutralidade da Ucrânia, lembrando que ela é imprescindível para a Rússia", disse Silva à Sputnik Brasil. "Uma proposta de paz que traga esse tema para a mesa fará mais sentido para Moscou."

A garantia de neutralidade ucraniana foi um dos grandes trunfos do processo de paz da primavera europeia de 2022, que deixou russos e ucranianos muito próximos de um acordo. De acordo com a revista norte-americana Foreign Affairs, o acordo também previa a desmilitarização de Kiev, aliada a garantias de segurança fornecidas por países do Conselho de Segurança da ONU, Alemanha, Israel, Polônia, Itália e Turquia.

O texto do acordo, chamado Comunicado de Istambul, detalhava o apoio militar que a Ucrânia receberia do Ocidente em caso de agressão externa, incluindo interdição do espaço aéreo, fornecimento de armas e intervenção militar direta.

No entanto, pressões exercidas por líderes ocidentais inviabilizaram a assinatura do acordo, fato corroborado não só pelos próprios negociadores, como pelo então primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett.

Recentemente, a ex-embaixadora dos EUA na OTAN, Victoria Nuland, confirmou durante entrevista a oposição ocidental ao acordo de paz, declarando que "pessoas fora da Ucrânia", como "nós e os britânicos", teriam "questionado se esse era um bom acordo, e nesse ponto ele desmoronou".

Passados mais de dois anos de confronto militar, a retomada do debate sobre a neutralidade ucraniana poderia, de fato, reabrir o processo de negociação entre as partes beligerantes. No entanto, é prematuro prever o nível de aceitação que a proposta do candidato à vice-presidência dos EUA, J.D. Vence, terá entre as autoridades russas e ucranianas, alerta a doutoranda em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (PUC-SP/UNESP/UNICAMP), Nathana Garcez Portugal.

"É difícil de prever se essas condições serão aceitáveis, no entanto elas parecem ser mais interessantes do que as atuais propostas do Partido Democrata [dos EUA]", disse Portugal à Sputnik Brasil. "O governo democrata não realiza nenhum movimento no sentido de uma proposta de resolução do conflito que minimamente aproximaria as partes a um processo de paz."

A especialista Larissa Silva concorda e lembra que, quando o assunto é Ucrânia, a abordagem das candidaturas Trump e Kamala divergem de maneira significativa. Segundo ela, "do lado republicano temos uma possível proposta de paz com neutralidade ucraniana, enquanto do lado democrata temos o reforço do apoio militar e financeiro da OTAN à Ucrânia."

Além disso, existem sinais de que a candidata democrata Kamala Harris poderá modificar a posição da atual administração Biden em relação à Ucrânia não para negociar a paz, mas sim para reforçar o apoio militar ocidental a Kiev.

"A mídia especializada aponta para uma postura mais incisiva de Kamala em relação ao apoio norte-americano a Kiev, já que ela quer manter a influência de Washington na Ucrânia via OTAN", notou Portugal. "Ela poderá inclusive garantir ainda mais apoio militar dos EUA, em áreas nas quais o governo Biden hesitou em alguns momentos."

Segundo Portugal, uma eventual administração Kamala também solicitará que aliados europeus reforcem o apoio fornecido a Kiev, "pressionando ainda mais os participantes da OTAN a se comprometer com ajuda".

<><> Lugar para os EUA no processo de paz?

Apesar do debate em torno da proposta de Vance, o Partido Republicano pode utilizar a pauta ucraniana para fins puramente eleitorais, já que parte do eleitorado norte-americano demonstra certa fadiga quanto a conflitos internacionais, apontam as especialistas. Mas, uma vez no poder, as promessas de campanha nem sempre são cumpridas.

Ademais, a posição de Trump e Vance não impede que congressistas democratas e republicanos coloquem obstáculos contra propostas de paz para o conflito ucraniano. Nesse contexto, outros interlocutores, como China, Índia e Brasil, devem continuar como potenciais mediadores entre Moscou e Ucrânia, acredita Portugal.

"As propostas de China, Índia e Brasil têm impacto muito importante por virem de países do BRICS, que é um sistema que desafia o ordenamento construído pelos EUA", disse Portugal. "Em alguma medida, eles estão mais próximos da Rússia e têm suas propostas recebidas com maior apreço do que as vindas dos EUA."

Por outro lado, a especialista Larissa Silva acredita que "será muito difícil que um processo de paz bem-sucedido para a Ucrânia não passe pelos EUA". Para ela, ainda que Washington não seja o protagonista de um eventual acordo, teria que estar presente na mesa de negociações.

O conflito ucraniano teve destaque entre os temas de política externa no recente debate presidencial norte-americano entre os candidatos Donald Trump e Kamala Harris. A pesquisa eleitoral da ABC News atualizada nesta quarta-feira (18) indica 48,3% das intenções de votos para a candidata democrata, contra 45,3% para seu rival republicano. No entanto, o sistema eleitoral norte-americano conta com a figura do colégio eleitoral e, portanto, o voto popular não necessariamente decide o pleito.

¨      Pentágono teme que Israel esteja prestes a lançar operação terrestre contra o Hezbollah, diz mídia

Pouco depois da onda de detonações mortais de pagers que o governo libanês e o movimento Hezbollah atribuíram a Tel Aviv, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, postou uma mensagem enigmática nas redes sociais indicando que seu país estava passando para uma "nova fase na guerra".

O Departamento de Defesa dos EUA está "muito preocupado" com uma guerra terrestre que irrompe entre Israel e o Hezbollah na esteira da onda de explosões mortais de pagers e outros dispositivos eletrônicos no Líbano, informou o The Wall Street Journal.

O Pentágono está alarmado que a situação esteja perto de "sair do controle", disse um alto funcionário.

"Você faria isso como uma forma de moldar algo antes de fazer outra coisa", disse um ex-oficial da defesa ao veículo, em um aceno ao momento das detonações.

Israel transferiu recentemente uma divisão composta por milhares de soldados de comando e paraquedistas que estavam operando em Gaza para o norte, a publicação citou fontes dizendo. Embora Israel não tenha convocado reservas, pode começar uma operação em menor escala em breve, de acordo com autoridades de defesa dos EUA não identificadas.

Medos de uma iminente operação terrestre israelense no sul do Líbano foram citados em uma reunião do Pentágono pelo secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na segunda-feira (16). A onda de explosões levou o risco de uma guerra regional completa a novos patamares, observou o veículo. Depois de falar com seu colega israelense Yoav Gallant, Austin teve a impressão de que Tel Aviv estava se preparando para novas opções militares em relação ao Líbano, disse uma autoridade de defesa dos EUA.

Austin pediu ao ministro da Defesa israelense para "dar tempo às negociações diplomáticas terem sucesso", de acordo com o porta-voz do Pentágono, major-general Patrick Ryder. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enfatizou na quarta-feira (18) que era "imperativo que todas as partes se abstivessem de quaisquer ações que pudessem agravar o conflito".

Na terça-feira (17), milhares de pagers usados por membros do movimento Hezbollah detonaram em diferentes partes do Líbano. As autoridades libanesas disseram que 12 pessoas morreram e cerca de 3.000 ficaram feridas pela detonação dos dispositivos. O país enfrentou outra onda de explosões na quarta-feira, com rádios portáteis também explodindo. Cerca de 20 pessoas foram mortas e mais de 450 ficaram feridas nos subúrbios de Beirute e no Vale do Bekaa, de acordo com o Ministério da Saúde libanês. O Hezbollah e as autoridades libanesas culparam Israel pelo incidente e prometeram retaliar.

A mídia relatou que os pagers foram usados pelo Hezbollah como um sistema de comunicação fechado menos suscetível a hackers e espionagem. Outros dispositivos detonados, de acordo com várias apurações, incluíram walkie-talkies, telefones e scanner de impressão digital. A Sputnik não conseguiu verificar as informações sobre a lista completa de dispositivos explodidos.

O ministro da Defesa israelense postou uma mensagem em sua conta no X na quarta-feira, anunciando que Israel estava embarcando em "uma nova fase na guerra" ao "alocar recursos e forças para a arena do norte".

Israel não fez nenhuma declaração oficial sobre as explosões.

Enquanto analistas militares especularam em entrevistas para a Sputnik que os serviços de inteligência dos EUA poderiam estar por trás das explosões, Washington se apressou em se distanciar do incidente com os dispositivos. Os EUA não tiveram envolvimento com os ataques eletrônicos contra o Hezbollah, disse a Casa Branca ainda na quarta-feira.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também comentou na quarta-feira que as detonações de pagers no Líbano podem ser uma ação preventiva antes de uma grande operação militar que deve ser evitada a todo custo.

"Obviamente, a lógica de fazer todos esses dispositivos explodirem é fazê-lo como um ataque preventivo antes de uma grande operação militar. Então, tão importante quanto o evento em si é a indicação de que este evento confirma que há um sério risco de uma escalada drástica no Líbano, e tudo deve ser feito para evitar essa escalada", afirmou Guterres a jornalistas em uma coletiva de imprensa.

¨      EUA dizem que não vão apoiar operações ofensivas de Israel, diz Pentágono após ataques no Líbano

Os Estados Unidos apoiarão operações defensivas, mas não ofensivas de Israel, disse a vice-porta-voz do Pentágono, Sabrina Singh, nesta quinta-feira (19). A declaração acontece em meio às escaladas das tensões no Líbano após diversos ataques israelenses.

"Estamos lá na defesa de Israel, caso precisemos intervir em sua defesa. Não vamos apoiar operações ofensivas em solo, seja no norte ou em Gaza", afirmou Singh durante uma coletiva de imprensa, ao ser questionada se os EUA apoiariam uma ofensiva israelense no território libanês.

Desde o início da guerra de Israel contra a Faixa de Gaza, onde mais de 41 mil palestinos já morreram, as tensões também aumentaram na fronteira do país com o Líbano. Segundo o Ministério das Relações Exteriores libanês, cerca de 100 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas no sul do Líbano devido aos bombardeios de Israel. O lado israelense relatou que 80 mil residentes do norte de Israel também foram evacuadas.

Após combates quase diários com o Hezbollah na região, a situação piorou nesta semana por conta de detonações de dispositivos de comunicação, incluindo pagers e rádios, que deixaram 32 pessoas mortas e mais de três mil feridas.

Até o momento, não se sabe o que causou a explosão simultânea. Hezbollah e as autoridades libanesas responsabilizaram Israel pelo ocorrido. As autoridades de Tel Aviv ainda não confirmaram nem negaram sua participação.

Em julho, Israel chegou a atacar um prédio residencial no sul de Beirute, quando sete pessoas morreram, incluindo o alto comandante do movimento Hezbollah, Fouad Shukra.

Na ocasião, o líder da resistência xiita, Hassan Nasrallah, afirmou que as ações de Israel "ultrapassaram todas as linhas vermelhas" e que uma resposta a tal ataque seria realizada em breve. Tel Aviv, por sua vez, alertou que qualquer ato de agressão contra Israel poderia resultar em consequências destrutivas em grande escala para o Líbano.

¨      Israel teria criado empresa de fachada para produzir pagers entregues depois ao Líbano

Israel criou uma empresa de fachada para produzir pagers explosivos que foram fornecidos ao Líbano, informou o jornal norte-americano The New York Times, citando suas fontes informadas sobre a operação.

Anteriormente, a agência de notícias Reuters relatou que a agência de inteligência israelense Mossad colocou explosivos em pagers fabricados pela empresa taiwanesa Gold Apollo.

Por sua vez, a empresa alegou que o modelo particular dos pagers detonados foi fabricado e projetado pela BAC Consulting sediada em Budapeste, Hungria.

A Sputnik conseguiu entrar em contato com um representante da empresa húngara, que desejou permanecer anônimo, declarando que a BAC Consulting não fabrica pagers, mas presta serviços de consultoria empresarial.

"Nunca estivemos envolvidos na produção de pagers, a empresa presta consultoria a empresas. Absolutamente não entendo o que está acontecendo", afirmou.

Agora, fontes do The New York Times da inteligência israelense dizem que Israel teve planos de criar uma empresa fantasma para produzir pagers porque o movimento Hezbollah vê os celulares comuns como uma ferramenta de inteligência.

"Ao que tudo indica, a BAC Consulting era uma empresa sediada na Hungria que tinha contrato para produzir os dispositivos em nome de uma empresa taiwanesa, a Gold Apollo. Na verdade, ela fazia parte de uma fachada israelense", confirmaram três funcionários da inteligência de Israel ao jornal norte-americano.

Segundo as fontes, pelo menos duas outras empresas de fachada foram criadas para ocultar as identidades reais das pessoas que fabricaram os pagers, funcionários da inteligência israelense.

Como a publicação aponta, a BAC também tinha clientes regulares para os quais produzia pagers sem explosivos.

<><> Explosões de aparelhos no Líbano

Pagers detonaram em diferentes partes do Líbano na terça-feira (17), ferindo mais de 2.800 pessoas e matando 12.

As explosões continuaram no dia seguinte (18). De acordo com notícias, desta vez foram os walkie-talkies, que o movimento libanês Hezbollah havia comprado quase simultaneamente com os pagers há cerca de cinco meses.

De acordo com os últimos relatórios, 20 pessoas foram mortas e outras 450 ficaram feridas nesse ataque.

O Hezbollah usa pagers como um sistema de comunicação fechado que é menos suscetível a hackers e escutas.

O movimento e as autoridades libanesas consideraram Israel responsável pelo incidente, e o primeiro prometeu a Tel Aviv uma resposta dura.

¨      Ministro japonês apela aos EUA para criar uma 'OTAN asiática' unindo rede de alianças na Ásia

Um alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA disse que é "muito cedo" para falar sobre a criação de um bloco semelhante à OTAN na Ásia, depois que o ministro da Defesa japonês Shigeru Ishiba apelou a Washington a discutir o assunto com mais profundidade.

Shigeru Ishiba, que é um dos principais candidatos à sucessão do primeiro-ministro Fumio Kishida, apelou na semana passada para a criação de uma "versão asiática da OTAN" através da união das várias iniciativas de segurança na região em um pacto formal de defesa. "Pelo menos devemos aprofundar nossas discussões sobre este tema", disse ele.

Falando em uma conferência em Washington na terça-feira (17), o secretário de Estado dos EUA para a Ásia Oriental e o Pacífico, Daniel Kritenbrink, rejeitou a sugestão de Ishiba.

"É muito cedo para falar sobre segurança coletiva nesse contexto, e [a criação de] instituições mais formais", disse Kritenbrink, segundo o jornal japonês Nikkei. "No que estamos nos focando é em investir na arquitetura formal existente na região e continuar construindo essa rede de relações formais e informais. E então veremos onde isso vai", acrescentou ele.

Uma OTAN asiática "não é o que estamos procurando na região", disse um funcionário anônimo dos EUA ao jornal japonês.

Não obstante o alto funcionário ter afirmado que os EUA não desejam a criação de uma "aliança de estilo bloco" na região da Ásia-Pacífico, na verdade Washington passou décadas construindo uma rede de parcerias e acordos multilaterais na região que seus rivais, particularmente a China – veem como passos em direção a uma "OTAN asiática" de fato.

 

Fonte: Sputnik Brasil


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