sábado, 21 de setembro de 2024

Em meio à campanha, EUA não podem tomar nenhuma medida drástica na arena internacional, afirma analista

O governo atual dos EUA não vai deixar de apoiar Israel se começar uma operação terrestre no Líbano, mas vai expressar preocupação com suas ações, embora a retórica dos candidatos à presidência dos EUA sobre esse tópico possa ser diferente, disse o cientista político russo Vladimir Batyuk à Sputnik.

O jornal The Wall Street Journal citou recentemente autoridades norte-americanas dizendo que o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, preocupa-se com o início de uma operação militar israelense no Líbano contra o movimento xiita Hezbollah após uma série de explosões de aparelhos.

De acordo com o jornal, os militares israelenses já enviaram uma divisão de combatentes de forças especiais e paraquedistas do sul do país para o norte.

Ao mesmo tempo, as autoridades norte-americanas disseram ao jornal que não veem sinais de que a ofensiva vá ocorrer em um futuro próximo, apontando especialmente para a ausência de ordens para mobilizar os reservistas israelenses.

"Não se trata de acabar com o apoio a Israel. No máximo, Washington oficialmente vai expressar sua preocupação, mas agora, quando a corrida eleitoral nos Estados Unidos entrou em sua fase final, os Estados Unidos simplesmente não estão em posição de tomar nenhuma medida drástica na arena internacional", disse Batyuk, chefe do Centro de Estudos Político-Militares do Instituto dos Estados Unidos e Canadá da Academia de Ciências russa.

Ao mesmo tempo, ele sugeriu que haveria uma diferença entre a retórica dos candidatos Kamala Harris e Donald Trump no caso de uma operação israelense no Líbano.

De acordo com o interlocutor, se o candidato republicano e seus partidários mantiverem a posição de apoio incondicional a Israel, Harris poderá se permitir criticar as ações de Tel Aviv, já que terá de contar com a opinião da ala esquerda pró-palestina do Partido Democrata.

"É possível que o governo Biden também faça algumas declarações críticas em relação a Israel, mas não se trata de nenhuma medida real, como o fim do apoio militar e econômico a Israel", enfatizou o especialista.

<><> Explosões de aparelhos no Líbano

Pagers detonaram em diferentes partes do Líbano na terça-feira (17), ferindo mais de 2.800 pessoas e matando 12.

As explosões continuaram no dia seguinte (18). De acordo com notícias, desta vez foram os walkie-talkies, que o movimento libanês Hezbollah havia comprado quase simultaneamente com os pagers há cerca de cinco meses.

De acordo com os últimos relatórios, 20 pessoas foram mortas e outras 450 ficaram feridas nesse ataque.

O Hezbollah usa pagers como um sistema de comunicação fechado que é menos suscetível a hackers e escutas.

O movimento e as autoridades libanesas consideraram Israel responsável pelo incidente, e o primeiro prometeu a Tel Aviv uma resposta dura.

¨      EUA poderão ficar presos em um estado de conflito sem fim, diz especialista

Os círculos dominantes nos EUA não têm senso de proporção em questões de política externa e ela permanece imatura e pouco perceptiva sob seu domínio, o que faz com que Washington possa emperrar em um estado de conflito sem fim, disse o ex-conselheiro da Comissão Presidencial Bilateral EUA-Rússia James Carden.

Em seu artigo para a revista The American Conservative, Carden cita como exemplo de uma política ponderada o período da presidência do líder da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial e presidente francês no momento mais pungente da Guerra Fria (1959-1969) Charles de Gaulle.

Segundo o autor, a combinação pragmática de "previsão, agilidade e equilíbrio" que possuía de Gaulle agora não está em cima da mesa dos políticos norte-americanos atuais.

"Nas mãos do establishment atual, a política externa norte-americana carece de discernimento, maturidade e capacidade de distinguir entre interesses nacionais fundamentais e periféricos. [...] Enquanto a comunidade que toma decisões políticas não aprender a distinguir entre eles, continuaremos presos nesse ciclo pouco virtuoso e perigoso de inflação de ameaças e, por fim, de conflitos intermináveis", escreveu.

Em sua opinião, os Estados Unidos abandonaram seu senso de proporção na política externa quando o ex-presidente George W. Bush disse, durante a "guerra contra o terrorismo", que os países estão divididos entre aqueles que apoiam os EUA e aqueles que se opõem a eles.

O ex-presidente dos EUA Barack Obama herdou a falta de senso de proporção, o que se manifestou em suas declarações de que um determinado chefe de Estado "deve ir embora", uma característica também adotada pelo ex-líder dos EUA Donald Trump e pelo atual presidente Joe Biden.

Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que o curso de Washington para manter a hegemonia no mundo está fadado ao fracasso, embora os Estados Unidos provavelmente continuem sendo um dos centros mundiais.

¨      EUA não conseguiram introduzir sanções que fossem eficazes contra Rússia, reconhece congressista

Washington, durante a administração do presidente Joe Biden, não conseguiu introduzir quaisquer sanções que fossem eficazes contra a Rússia, reconheceu Darrell Issa, membro da Comissão de Assuntos Internacionais da Câmara dos Representantes.

"Nos últimos três anos e meio não impusemos quaisquer sanções eficazes, porque as sanções mais eficazes não são o sistema de transferências financeiras SWIFT, mas o petróleo, que precisamos parar", declarou o político americano em uma audiência no Congresso dos EUA.

De acordo com o congressista, as restrições ao fornecimento de recursos energéticos russos para o mercado mundial são o único tipo de sanções que funciona contra Moscou, mas as autoridades dos EUA não foram capazes de lidar com essa tarefa.

"A Rússia está sob sanções, mas aumentou as exportações [de petróleo] novamente até o volume máximo de sua produção."

A Rússia tem repetidamente declarado que o país vai lidar com a pressão das sanções que o Ocidente começou a aplicar à Rússia há alguns anos e continua aumentando. Moscou observou que o Ocidente não tem coragem de admitir o fracasso das sanções contra a Rússia.

 

¨      Questão da Ucrânia não mobiliza eleitorado dos EUA, mas sim inflação e imigração, notam analistas

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas apontam que o conflito ucraniano, classificado por Donald Trump como "antessala do Armagedon", não atrai votos por ser ofuscado por temas mais próximos do cotidiano da população e pela incursão de Israel na Faixa de Gaza.

A política externa dos EUA é um dos temas centrais das eleições presidenciais do país, com destaque para qual será o posicionamento do governo em relação à questão ucraniana após a ascensão do novo líder a ocupar a Casa Branca.

No último debate, os candidatos Donald Trump, do Partido Republicano, e Kamala Harris, do Partido Democrata, apresentaram visões distintas sobre o tema, sendo Trump a favor de encerrar o conflito o quanto antes e Harris a favor de manter o apoio de Washington a Kiev.

Paralelamente, no cenário externo, cresce o número de líderes que defendem acelerar as negociações de paz. O mais recente deles foi o chanceler alemão Olaf Scholz, que afirmou ser urgente encerrar o conflito "o mais rápido possível".

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam qual o impacto da questão ucraniana nas eleições americanas, qual o potencial do tema em atrair votos e o que esperar da atuação de cada candidato sobre o assunto, caso eleitos.

Pedro Costa Júnior, professor de relações internacionais e economia das Faculdades de Campinas (Facamp), enfatiza que o conflito ucraniano é parte de um conjunto de três pontos do governo Joe Biden-Kamala Harris que a campanha de Trump tem buscado atacar: a economia, mais especificamente a inflação; a imigração e a política externa democrata, que o especialista avalia como um "desastre".

"A política externa Biden-Harris vai ficar marcada pela desastrosa retirada dos EUA na guerra do Afeganistão, aquelas imagens indeléveis daquelas pessoas dependuradas nas asas do avião tentando fugir do país, remetendo às cenas de Saigon, quando os EUA fugiram do Vietnã", afirma o especialista.

Ele acrescenta que não há "uma derrota mais crassa" e clara para os EUA do que a retirada do Afeganistão, após 20 anos de guerra contra o Talibã, "que custaram muitas vidas e centenas de bilhões de dólares", e que culminou na devolução do controle do país ao grupo radical.

"E tem as duas guerras de grandes proporções que foram iniciadas no governo Biden-Harris. A guerra de seu principal aliado no Oriente Médio, a guerra colonial na Palestina, iniciada por [primeiro-ministro israelense] Benjamin Netanyahu, […] que chegou a 40 mil vítimas civis agora, grande parte mulheres e crianças, […] e a guerra na Ucrânia, que não é uma guerra da Rússia contra a Ucrânia, é uma guerra da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], capitaneada pelos EUA contra a Rússia, que acontece na Ucrânia. É disso que se trata, é isso que grande parte da população dos EUA já entendeu, e é isso que Trump, na sua campanha, expõe e coloca como um problema central."

Ele aponta um artigo recente, escrito por Trump em parceria com Robert F. Kennedy Jr., que classifica a questão ucraniana como "um tema de prioridade absoluta e vital dos EUA e do mundo, porque se trata, segundo eles, da possível iminência de uma Terceira Guerra Mundial".

O artigo, aponta o especialista, cita como justificativa para essa conclusão o fato de que os EUA e a OTAN abriram a possibilidade de que armas da aliança sejam usadas por Kiev para ataques em território da Rússia, algo que o presidente russo, Vladimir Putin, já afirmou que será entendido como um ataque direto da OTAN, passível de retaliação não apenas contra a Ucrânia, mas todos os países envolvidos como fornecedores de armas.

"Isso inclui, obviamente, os aliados europeus e os próprios EUA. E Putin fala, claramente, não só ele, como [Dmitry] Peskov, [Sergei] Shoigu, Dmitry Medvedev, todos os seus assessores falam, inclusive, [do uso de] equipamentos nucleares [na retaliação]. Ora, isso é como se expressa nesse artigo de Kennedy Jr. e Donald Trump, uma espécie de antessala do Armagedon."

Costa Júnior ressalta que a crítica do artigo tem como base o "projeto megalomaníaco dos falcões, dos neocons dos EUA", movimento político que defende intervenções militares como base para a política externa americana, que rompeu com o Partido Republicano durante a gestão Trump e atualmente apoia o Partido Democrata em sua campanha pró-Kiev.

"O que eles apontam [no artigo] é que a Rússia não é uma ameaça vital aos EUA. Isso é uma construção desses neocons e dos democratas que se encontraram no governo Biden, que estão juntos no governo Harris, e que têm um projeto de poder, de dominação global. Essas são as palavras [usadas no artigo], e isso pode desencadear quase que inexoravelmente em uma guerra nuclear."

Ele avalia que foi criado em torno da Rússia uma construção imaginária de ameaça, mas que o país não é uma ameaça de fato; apenas exige que a OTAN pare de "marchar para o leste".

"Essa é uma guerra fabricada pelos democratas. A Rússia defende apenas que a Ucrânia seja uma zona neutra, uma zona tampão. Os democratas não respeitam isso, eles querem desestabilizar continuamente o governo russo."

O especialista acrescenta que a estratégia da campanha de Trump no "debate eleitoral, que vale para ganhar votos, é deixar claro para a população americana que Trump tem um projeto de terminar essa guerra, que pelo potencial devastador que tem é a guerra mais importante do mundo desde a Segunda Guerra Mundial".

"É a primeira vez que tem uma guerra na Europa que envolve, de alguma forma, as duas maiores potências nucleares do planeta Terra: a Rússia, diretamente, e os EUA, indiretamente, cada vez mais presentes."

<><> Conflito ucraniano não mobiliza o eleitorado americano

Embora seja um dos temas mais críticos para a política estadunidense, o conflito ucraniano não tem um alto potencial de conquistar votos, como aponta Costa Júnior.

"O problema é que temas de política externa não são tão sensíveis prioritariamente em uma eleição, segundo as pesquisas, não mobilizam tanto o eleitorado, como a questão da inflação, da economia, do bem-estar. Essas são as questões prioritárias. Então Trump tem que levar em conta que este é um tema importante, é um tema que sensibiliza, sim, mas não é o tema crucial das eleições."

A opinião é compartilhada por Denilde Oliveira Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Em entrevista à Sputnik Brasil, ela frisa que "o tema aparece com grande relevância nos debates, mas não está no centro da decisão do eleitor nessa eleição".

"Ela [a questão ucraniana] é muito [usada] para diferenciar posições e visões de cada um dos dois candidatos para os eleitores. Claramente, se Kamala ganha, não vai ter uma grande mudança em termos de política externa do que a gente tem com Biden, mas com Trump, sim", afirma.

Ela destaca que a posição ambígua de Trump no último debate com relação ao apoio a Putin e à visão anti-OTAN do candidato republicano "fez com que os democratas usassem isso para mostrar que a política externa dele levaria a uma mudança drástica que afetaria o interesse nacional americano".

"Então esse é um ponto que tem sido explorado. Mas ele atinge o eleitor mais esclarecido, formadores de opinião, […] temas como imigração, a questão de Gaza, têm mobilizado mais grupos de eleitores e podem ser mais decisivos do que a questão da Ucrânia."

Holzhacker avalia que os posicionamentos de Trump são muito mais de impacto do que concretos, uma vez que ele, caso eleito, necessitaria do Congresso dos EUA para colocar em prática qualquer ação em termos de política externa, o que inclui suas propostas para a Ucrânia.

"Então acho que tem muito da retórica de campanha e pouco que, de fato, ele vai conseguir estabelecer. Mas a posição dele anti-OTAN é, sim, um fator que torna mais fraca a situação da aliança com a Europa e, consequentemente, com a Ucrânia."

<><> Movimento antiguerra nos EUA pode ser decisivo nas eleições?

A pressão contra o apoio dos EUA a Kiev e a Israel cresce a cada dia entre a população norte-americana, principalmente entre o eleitorado jovem. Questionada como esse movimento antiguerra pode afetar as eleições e a gestão do próximo presidente eleito, Holzhacker afirma que "de fato, os jovens americanos têm se posicionado mais com relação a questões de conflitos, mas essa posição está muito atrelada à questão humanitária e menos às questões estratégicas".

"A questão da guerra na Ucrânia tem menos peso do que a questão de Gaza, em função da atuação e do impacto humanitário que os bombardeiros israelenses têm. Então acho que esse é um ponto que vai ser importante para a próxima presidência. Entrar em novas guerras é que vai ser mais custoso, e guerras com impacto humanitário grande, como de Gaza, vão ser mais custosas."

Holzhacker acrescenta que, com relação à Ucrânia, "a questão vai continuar sendo como se chegar a uma solução". Segundo ela, essa será uma questão que "vai passar pela negociação também com os europeus".

Ela também diz concordar com analistas que, em entrevistas anteriores à Sputnik Brasil, apontaram que há grande possibilidade de o conflito ucraniano ser encerrado somente pela exaustão entre as partes, já que as exigências de cada lado tornam quase improvável alcançar um consenso.

"Exatamente porque ela [a questão ucraniana] encontra aí todos os pontos e todas as dificuldades que a gente tem visto em outras áreas de uma busca de consenso. Então se o quadro permanece o mesmo, se os atores continuarem tendo o mesmo tipo de postura, a gente vai ter muita dificuldade em ter um acordo que seja visto como um acordo que as partes entendam como ganhos, tanto do lado ucraniano quanto do lado russo, e do lado europeu e dos americanos. Então é bastante provável que a gente ainda tenha um prolongamento dessa guerra", conclui a especialista.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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