Valéria Guerra Reiter: ‘O imperialismo é um
rolo compressor e o identitarismo tem pressa’
Soberania ou
biopolítica, eis a questão. Príncipes, reis, soberanos, com pátrio poder do direito
romano, o pai tem o direito de vida ou morte sobre os filhos, sobre sua
família, sobre seus escravos, já que a base do poder é do pai.
Do ponto de vista do
direito romano, o soberano tem o poder da morte sobre seus comandados e/ou
súditos. Isto não está mui longe da nossa contemporaneidade, vide o que ocorre
com as guerras estabelecidas, entre o povo faminto e os poderes estabelecidos.
O direito absoluto não
existe mais, fora diluído a partir do século XVII. Causar a morte ou deixar
viver os seus súditos “já não é mais lícito”, porém atualmente é lícito aos
soberanos enviarem seus súditos às guerras; e isto é ter pátrio poder sobre estas
pessoas.
Os trechos citados
abaixo demonstram um pouco do histórico da futura candidata à presidência
estadunidense Kamala Harris.
“Em 2003, Kamala
Harris, de 59 anos, tornou-se a primeira mulher a ser eleita como a principal
promotora de San Francisco, depois de ter feito campanha com base em uma
promessa de não buscar a pena de morte.
Sua posição foi
testada quase que imediatamente, quando o policial Isaac Espinoza foi morto em
2004. Apesar da pressão de vários democratas da Califórnia, incluindo os dois
senadores do Estado, para aplicar a pena de morte ao membro da gangue que matou
Espinoza, Kamala manteve-se firme e garantiu uma sentença de prisão perpétua
sem liberdade condicional”.
“Ela irritou críticos
progressistas com outras medidas, incluindo uma política de processar
criminalmente os pais de crianças que faltavam à escola e rejeitar um pedido de
teste de DNA de um homem negro no corredor da morte que diz ter sido condenado
injustamente por assassinato.
“Por muito
tempo, um dos privilégios característicos do poder soberano fora o direito de
vida e morte. Sem dúvida, ele derivava formalmente da velha pátria protestas
que concedia ao pai de família romano o direito de "dispor" da vida
de seus filhos e de seus escravos; podia retirar-lhes a vida, já que a tinha
"dado".
“Mas ela atraiu
críticas da esquerda por um plano para desencorajar a evasão escolar
processando os pais de crianças cronicamente ausentes - embora ninguém tenha
ido para a cadeia enquanto ela era promotora distrital, e Kamala disse em 2010
que a evasão escolar no ensino fundamental havia caído 33% nos dois anos
anteriores”.
O imperialismo
norte-americano traz em seu histórico demanda por capitanear terras e vidas,
através de atitudes opressoras: O Destino Manifesto com sua sede de
conquista do oeste eliminou índios, e colonizou suas mentes, a Doutrina Monroe,
assim chamada por ter sido criada durante o governo do presidente
norte-americano James Monroe, foi anunciada ao Congresso dos Estados Unidos no
dia 2 de dezembro de 1823. Teve como objetivo a não interferência dos países
europeus nos países americanos e, sob o slogan “América para os Americanos”,
pretendia defender as nações recém tornadas independentes de todo o continente
americano de uma possível recolonização."
Estamos lidando
realmente com um grande big stick, que manda o porrete por sobre a cabeça dos
súditos imperiais: “As fronteiras na América do Norte continuaram a sofrer
mudanças. Os Estados Unidos, além das terras obtidas junto ao México, compraram
e conquistaram ainda outros territórios.
Antes da guerra com os
mexicanos, os EUA haviam comprado o Estado da Louisiana da França e adquirido a
Flórida da Espanha. As duas aquisições aconteceram em 1803. Em 1867, o
território do Alasca foi comprado da Rússia.
Mas a expansão
territorial norte-americana não parou por aí. Em 1898, os EUA anexaram o Havaí
e entraram em guerra contra a Espanha.
O resultado dessa
guerra foi a conquista de Porto Rico, no Caribe, atualmente um Estado-Livre
associado, e, no Oceano Pacífico, das ilhas Guam e das Filipinas. Estas
adquiriram posteriormente sua independência.
Aqui no Brasil, em
1964, já havia uma operação chamada Brother Sam, preparadíssima para invadir o
Brasil, através do Rio de Janeiro, caso o presidente João Goulart não se
rendesse diante de um golpe militar que levou o Brasil a um estado sem direito,
que durou vinte anos.
Bem, o que concluímos
com este resumo aqui delineado, sob forma de artigo é a pressa que o
imperialismo sempre tem em sua sede de conquistar tudo e todos que atravessem
seu caminho. Que Deus abençoe a América, e consequentemente o Brasil.
Corroborando com Foucault: “que cesse o medo, o julgamento e a
destruição".
¨ Efeito Kamala sacode o tabuleiro eleitoral e zera o jogo. Por
Bepe Damasco
A desistência do
presidente Joe Biden de concorrer à reeleição cria um fato político novo com
potencial para barrar o crescimento de Trump, jogar os holofotes sobre o
Partido Democrata e criar as condições favoráveis à vitória da vice-presidente
Kamala Harris, cuja indicação para substituir Biden está praticamente
sacramentada.
Não é exagerada a
afirmação de que estamos diante de uma outra campanha. Desde 27 de junho, dia
do debate desastroso para Biden, Trump nadava de braçada, saboreando o grande
número de lideranças democratas cobrando a desistência de Biden, capitalizando
o atentado sofrido por ele e explorando a exposição midiática da convenção do
Partido Republicano.
Agora o foco da mídia
muda de direção e se volta para as hostes do Partido Democrata.
Resta saber como o
eleitorado dos EUA reagirá à candidatura de uma mulher negra à presidência da
República. A minha expectativa é que essa aposta na diversidade de gênero
(nunca uma mulher presidiu os EUA) e na representatividade da população negra e
imigrante chacoalhe o tabuleiro político de uma forma tal que leve à derrota do
fascismo.
Misógino de
carteirinha, com histórico alentado de declarações públicas ofensivas às
mulheres, Trump certamente dará vazão ao seu machismo quando debater com
Kamala, o que lhe trará desgastes e prejuízos eleitorais.
Vejo como equivocada a
posição de parte da esquerda brasileira, para quem "tanto faz" quem
ocupe a Casa Branca nos próximos quatro anos. É "óbvio ululante",
tomando emprestada uma expressão de Nelson Rodrigues, que o Estado norte-americano,
independentemente de quem o governe, é imperialista.
Também está no DNA do
establishment político e econômico estadunidense o apoio ao sionismo e a
consequente cumplicidade com a atrocidades cometidas por Israel contra o povo
palestino ao longo de sete décadas.
Contudo, o que está em
jogo na eleição de 5 de novembro nos EUA é a defesa da democracia global,
seriamente ameaçada se Trump for eleito. Neste caso, a luta contra o avanço da
extrema-direita em escala mundial, com inevitáveis reflexos no Brasil, sofreria
forte abalo.
São muitas as nuances,
contradições e complexidades presentes na sociedade e na política dos EUA. O
Partido Democrata, por exemplo, apoia a sanha militarista e expansionista do
império ao redor do mundo, mas abriga em suas fileiras importantes segmentos progressistas
formados por negros, mulheres, hispânicos, defensores da causa LGBTQIA+,
intelectuais, sindicalistas e artistas.
A relação entre países
se dá sobre uma rede intrincada de interesses, nem sempre de fácil compreensão.
As diplomacias do Brasil e dos EUA travam embates frequentes nos
organismos internacionais. Mas Biden foi o primeiro líder mundial a se
congratular com Lula por ter derrotado a tentativa de golpe no Brasil, em 8 de
janeiro de 2023.
Imaginar a maior
potência econômica, militar e nuclear do planeta sendo governada, mais uma vez,
por um lunático fascista como Trump é alarmante. Ah, mas ele já governou por
quatro anos e "latiu mais do que mordeu", dirão alguns.
A estes recomendo não
esquecer que o negacionismo de Trump fez dos EUA o país recordista mundial em
mortes por covid-19. Além disso, boa parte de sua obra de destruição
civilizatória estava prevista para um segundo mandato que não aconteceu.
Ele não pode ter outra
chance.
¨ A promotora Kamala enfrenta o criminoso Trump. Por Moisés Mendes
Há vozes nas esquerdas
brasileiras, algumas poderosas, alertando para que ninguém se engane com Kamala
Harris, não acene muito para a democrata e não corra o risco de aparecer em
festas em que ela esteja, mesmo que isso seja improvável.
Saiam de perto de
Kamala, porque ela é mulher, negra, descendente de uma indiana e de um
jamaicano e até já ergueu o dedo para Trump, só não é o que vocês pensam, diz o
alerta.
Mas o jornalista
Jonathan Alter, colunista do The New York Times, socorre os que, diante da
gritaria dos alarmistas, estiverem vacilantes ou assustados com as armadilhas
dos sentimentos despertados pela substituta de Biden.
Alter encerrou seu
artigo nessa segunda-feira no NYT com essas duas frases, depois de divagar
sobre qual será agora a reação dos republicanos: “A promotora contra o
criminoso. Gosto desse confronto”.
É o que pode bastar,
antes do aprofundamento de questões políticas mais complexas, ideologias,
índoles e diferenças e semelhanças entre os protagonistas do que vem aí a
partir da saída de cena do presidente com déficit cognitivo.
O confronto visto por
Alter pode nos servir por enquanto com o clichê de uma mocinha contra o
bandidão. Temos alguém que já foi agente da lei de um lado, com todas as suas
contradições, e temos um bandido do outro.
Um bandido
inquestionável, absoluto. Com a mesma síntese, o NYT de Jonathan Alter publicou
em editorial: "Trump é um criminoso que desrespeita a lei e a
Constituição, um mentiroso inveterado que não se dedica a nenhuma causa maior
do que o seu interesse próprio”.
O colunista escreveu
que o sujeito é um criminoso, repetindo o que o seu jornal havia dito um dia
antes como opinião do grupo: ele é mesmo um criminoso. Algo que Folha, Estadão
e Globo nunca escreveriam sobre Bolsonaro, seu equivalente brasileiro.
Por covardia, nunca
escreverão. Mesmo que Trump e Bolsonaro tenham cometido crimes semelhantes,
principalmente como golpistas. Então, diante dos alertas de parte das esquerdas
de que Kamala também é belicista e imperialista e que apoiou a guerra do Vietnã
quando criança, nos serve a síntese de que teremos uma promotora diante de um
gângster.
Até porque ninguém
enxerga Kamala como de esquerda ou muito fora do padrão do que seja um
democrata. Nem que vá questionar a Otan, ficar amiga do Irã e interromper, logo
depois da posse, o genocídio em Gaza.
Mas é possível pensar
que Kamala seja alguém capaz de mudar o tom das relações com os criminosos do
governo israelense e de vislumbrar novos diálogos com o mundo, em todas as
áreas, das guerras ao ambientalismo.
Se não for bem assim,
já nos basta agora que derrote Trump e a ameaça de permanência da extrema
direita, não durante quatro anos, mas por décadas no poder. Que Kamala nos
salve do que vem dos Estados Unidos como ajuda na ressurreição do bolsonarismo.
Enquanto isso, por
aqui vamos dando um jeito na turma mais depressiva, que só estará satisfeita
quando puder ver um democrata com o perfil de Guilherme Boulos enfrentando quem
suceder Trump como criminoso fascista.
Fonte: Brasil 247
Nenhum comentário:
Postar um comentário