As vítimas de um vício: o tabagismo e seu
efeito arrasador
Uma vez não tem
problema, depois de um dia estressante de trabalho, para aliviar e relaxar um
pouco. Assim, na roda de amigos, em uma balada qualquer ou em um bar para
socializar. Começa de uma forma leve demais para se preocupar, até se tornar um
calvário para aqueles que descobrem na dependência do cigarro uma rua sem
saída. Deixar de lado parece a única opção, mas o desejo pela nicotina costuma
ser maior quando comparado à força para deixá-lo ir.
Arrasador de vidas e
lares, um vício que faz vítimas. Os impactos negativos são inúmeros, e ilustrados pelo relatório da Organização
Pan-Americana da Saúde (Opas), que categoriza o tabaco como uma epidemia, sendo
a principal causa de morte, doença e empobrecimento em nível mundial. Além
disso, inclui a dependência à nicotina como uma das maiores ameaças à saúde
pública do mundo.
O tabaco mata cerca de
8,2 milhões de pessoas por ano, sendo 7 milhões pelo contato direto com o
cigarro e outras 1,2 milhão de mortes de não fumantes expostos ao fumo passivo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o tabagismo uma doença, e a classifica
como a dependência da droga nicotina, presente em qualquer base de tabaco, seja
cigarro, cigarrilha, charuto, cachimbo, cigarro de palha, fumo de rolo ou
narguilé. Na última sexta-feira (31/5), a OMS e seus parceiros comemoram o Dia
Mundial sem Tabaco, destacando os riscos à saúde associados ao uso da
substância e defendendo políticas eficazes para reduzir o consumo.
No Brasil, segundo
dados divulgados pelo Ministério da Saúde, em 2021, 161.853 mortes são
atribuídas ao uso de tabaco. Esse número representa 443 vidas brasileiras
perdidas diariamente para o vício. Em todo o território nacional, o percentual
de fumantes com 18 anos ou mais é de 9,3%, sendo 10,2% homens e 7,2% mulheres,
conforme estudo feito pela Vigitel, no ano passado.
Todavia, os
brasileiros estão fumando cada vez menos. Há um declínio nítido em relação ao
consumo de tabaco. Igor Morbeck, oncologista da Oncoclínicas Brasília,
especialista em tórax, afirma que o Brasil conseguiu um feito muito relevante
mundialmente falando, já que reduziu em 30% o número de fumantes. "Esse
foi o maior índice registrado no mundo, até agora, de queda nos tabagistas. E
atribui -se a isso várias questões de leis que foram impostas nos últimos anos,
muito rígidas. A principal delas foi exatamente proibir a veiculação de
propagandas de cigarro em absolutamente tudo", destaca.
Seja nas embalagens de
cigarro, seja em estabelecimentos que vendem cigarro, colocar imagens
impactantes, com figuras de pessoas que foram acometidas por doenças
relacionadas ao fumo, foi um passo importante para gerar consciência. Uma
atitude que provoca impacto, principalmente para quem fuma. A proibição do fumo
em locais fechados é outro ponto citado por Igor como um elemento fundamental
para a queda de fumantes no Brasil.
"Muitas vezes,
ela deixa de fumar por conta disso, ou pelo menos reduz drasticamente. Se
reduz, já há uma chance de parar. Essas medidas, ao longo de anos, foram muito
eficientes no país. Antes, era socialmente aceito, hoje não é mais. Geralmente
quando tem um fumante num grupo, ele se isola para poder fumar longe das
pessoas, para não incomodar", ressalta o oncologista.
• Inferno emocional
O tabagismo pode ter
diversas consequências negativas na saúde mental e emocional. Inicialmente, a
nicotina pode causar uma sensação temporária de prazer e redução de ansiedade,
mas, com o tempo, o uso crônico pode levar a aumento da ansiedade e sintomas
depressivos. De acordo com Lucas Benevides, psiquiatra e professor de medicina
do Ceub, a dependência de nicotina também pode exacerbar transtornos de
ansiedade e depressão, criar dificuldades para lidar com o estresse e
contribuir para o desenvolvimento de outros transtornos psiquiátricos.
"Vários fatores
podem levar uma pessoa a se viciar em cigarro. A nicotina é uma substância
altamente viciante que atua no sistema de recompensa do cérebro, liberando
dopamina e criando uma sensação de prazer. Fatores genéticos, sociais e
ambientais também desempenham um papel significativo. Muitas pessoas começam a
fumar devido à pressão social, ao estresse ou porque veem outras pessoas
fumando e querem experimentar. A dependência física e psicológica se desenvolve
rapidamente, tornando difícil parar", afirma.
Abandonar o cigarro
não é uma tarefa fácil, especialmente na fase de abstinência, que corresponde
ao período em que o fumante tenta deixar a dependência. "Os sinais de
abstinência podem começar poucas horas após o último trago e atingir o pico em
dois a três dias. Esses sintomas podem incluir irritabilidade, ansiedade,
dificuldade de concentração, aumento do apetite, insônia e desejo intenso de
fumar. A maioria dos sintomas de abstinência diminui significativamente em duas
a quatro semanas, mas o desejo de fumar pode persistir por meses ou até
anos", conclui Lucas.
A retirada do tabaco
pode ter resultados positivos e desafiadores, na avaliação do psiquiatra.
Positivamente, a cessação do tabagismo melhora a saúde física e mental, reduz o
risco de doenças relacionadas ao tabaco, traz qualidade de sono e pode melhorar
o humor e os níveis de ansiedade a longo prazo. Entretanto, os primeiros dias
podem ser difíceis para quem almeja hábitos diferentes. Afinal de contas,
acordar, tomar café e dar um trago faz parte da rotina de muita gente.
• "Eu era deprimente"
O início foi natural,
como uma válvula de escape pra tentar interagir com quem estivesse perto e
fugir da timidez. Giovanni Roque, 50 anos, fumou pela primeira vez quando tinha
apenas 18, em uma viagem de amigos. Nenhum histórico familiar de tabagismo, muito
pelo contrário, ele estava abrindo caminho para ser o primeiro da linhagem a
entrar em um beco sem saída. "Comecei pelo cigarro de cravo, chamado
cigarro da índia. O cheiro é muito bom e dá um barato porque ele é muito
forte", relembra.
O uso se restringia a
festas e baladas. Isso, claro, até o hábito se tornar diário. Com isso, o
tradicional Marlboro logo entrou para a vida de Giovanni. Por ser mais forte,
pensou que fumaria menos. Mas a realidade é que ele ficou cada vez mais
dependente. "Fumava uma carteira, cerca de 20 unidades por dia. Nos finais
de semana e baladas, a conta aumentava significamente."
Antes, praticava
esportes e corria 3 quilômetros todos os dias. Andava de bicicleta e gostava de
jogar peteca aos sábados e domingos. Contudo, com o passar do tempo, a
dependência de nicotina não lhe permitia fazer atividades. Já não havia mais
espaço nem disposição para integrar qualquer fragmento saudável ao dia a dia de
Giovanni. Era sair para beber e, consequentemente, fumar.
• Hora de parar
O círculo social,
também, era de fumantes. Assim, conhecer outras coisas e se apegar a elas
parecia impossível. "As garotas até aceitavam o gosto de cigarro, não
tinha problemas com isso. As atividades físicas, nem tanto esportes, mas a
rotina diária já cansava, não dava vontade de nada, o corpo ficava inflamado,
sentindo inchado. A sensação de fumar é muito boa, não se pode dizer que o
tabaco é ruim. Se fosse, ninguém fumava", conta.
O primeiro cigarro
durante a manhã, tomando um café, contemplando o horizonte, era muito bom,
segundo Giovanni. "Até hoje sinto cheiro de cigarro sem ninguém perto.
Tipo espírito obsessor. Tentei parar várias vezes, não ficava mais que dois
dias sem. Quando comecei a namorar minha primeira esposa, logo no começo já via
que ia sair casamento, sempre fui doido para ser pai. Eu já vinha muito forte
nessa questão de parar, via várias pessoas mais velhas com os dedos e dentes
manchados, pessoas sem atividade, problemas de saúde. Eu não queria ser assim", recorda
Giovanni.
Ser um pai saudável,
praticando esportes com os filhos, foi a única coisa que conseguiu lhe arrancar
do vício. Cuidar, estar presente e viver para vê-los de perto. Na fé de um
futuro bonito, Giovanni decidiu que era hora de parar. "Depois de uma viagem
de pescaria com os amigos, levei um pacote e voltei domingo à noite com cinco
unidades na carteira e uma ressaca doida de cigarro. Tava suando fumaça,
decidido a parar. Fiquei andando uma semana com essa carteira de cigarro no
bolso, joguei fora porque já estava todo amassado. Não fumei mais desde
então", lembra Giovanni, que está há mais de 15 anos sem qualquer derivado
de tabaco.
• Ainda não matou, mas pode
Um estudo divulgado
este mês pela Fundação do Câncer mostrou que o tabagismo é responsável por 80%
das mortes por câncer de pulmão entre homens e mulheres no Brasil. Segundo o
oncologista Igor Morbeck, existem mais de 4.700 substâncias químicas no cigarro
e pelo menos 2.000 delas são cancerígenas.
De acordo com ele, as
substâncias inaladas pela queima do cigarro são rapidamente absorvidas pelo
organismo, como uma injeção na veia. “E isso se acumula em vários órgãos, e o
pulmão, claro, por ser esse filtro inicial, recebe grande parte dessas substâncias
carcinogênicas que levam ao aparecimento do câncer”, explica o oncologista.
Igor explica que, além
do câncer de pulmão, a dependência do tabaco pode levar ao desenvolvimento de
câncer de mama, bexiga, estômago, esôfago, cavidade oral, e vários tumores de
cabeça e pescoço. O Instituto Nacional do Câncer estima que aproximadamente 50
enfermidades estão relacionadas ao tabagismo ativo e à exposição passiva à
fumaça.
Os efeitos de prazer e
relaxamento da nicotina são instantâneos, motivo pelo qual tantas pessoas
recorrem à substância. Porém, apesar de não aparecer nas primeiras tragadas, as
consequências surgem antes do que se imagina.
A tecnóloga em
radiologia Livia Leticia Marques, 21, colocou o primeiro cigarro na boca aos 12
anos, depois do divórcio dos pais. “Fumar era uma válvula de escape que eu
achei para acalmar a ansiedade, e depois virou um hábito”, conta. Após nove
anos usando todos os tipos de fumo, a jovem ficou internada por conta de um
derrame pleural, consequência do vício. O susto a fez tomar a decisão de parar
de fumar para não piorar mais a saúde.
Nos primeiros dias sem
nicotina, o mais difícil para Lívia foi a necessidade da primeira tragada do
dia, logo após acordar, e o cigarro após as refeições. A jovem teve compulsão
alimentar, muita crise de ansiedade e estresse, mas após 10 dias os sintomas
foram diminuindo e ela continua firme no processo. “O que me ajudou foi comprar
o chiclete de nicotina e ir diminuindo a quantidade de chiclete até não
precisar mais dele. Voltar para academia e manter uma alimentação saudável
também”, declara.
• As idas e vindas da dependência
No auge da juventude e
da liberdade universitária, a psicóloga Gabriela Almeida experimentou pela
primeira vez, aos 20 anos, a sensação de inalar e soltar fumaça. A jovem tem
lembranças de infância de ver a mãe fumando e achar interessante e estiloso o hábito.
“Quando eu me vi adulta e podendo comprar o meu próprio cigarro, pude fazer
isso sem que eu fosse censurada”, diz.
A curiosidade guardada
desde criança se tornou um vício que perdurou por quase uma década. Gabriela
fumava diariamente, sem exceção, pelo menos uma vez ao dia, e do que estivesse
disponível para cessar a vontade. Porém, beirando os 30 anos, a psicóloga começou
a sentir os efeitos inversos do prazer.
Em vez de relaxar,
Gabriela começou a passar mal todas as vezes que fumava, com forte queda de
pressão e tontura no mesmo instante em que sentia a fumaça entrando no
organismo. “Era uma sensação que não estava mais legal.”
Paralelo a isso, o
fumo começou a impactar nos dois hobbies da jovem: o canto e a corrida. “Eu
percebia que eu não estava conseguindo me desenvolver na corrida da forma que
eu gostaria e da forma que eu podia, porque eu não tinha muito fôlego. E no
canto, o meu desenvolvimento também não estava bacana”, alega. O que era
prazeroso e uma forma de escapar das ansiedades diárias passou a ser um
obstáculo para os objetivos pessoais.
Os contras passaram a
ser maiores que os prós. Por isso, depois de ficar uma semana sem fumar, em
decorrência de uma gripe, em novembro do ano passado, Gabriela não via mais
necessidade de continuar com o vício, e decidiu cessar. “Toda vez que sentia
falta, e eu sentia falta muitas vezes, lembrava que eu ia sentir aquelas
sensações horríveis e pensava que não valia a pena”, conta.
Foi assim que, durante
cinco meses, Gabriela ficou sem colocar um cigarro na boca. Porém, o convívio
social e o ciclo de amigos majoritariamente fumantes levou a jovem a tragar
novamente. Cada vez ficou mais difícil negar as ofertas dos amigos, e uma hora
o sim foi inevitável. “Infelizmente, quando você bota na boca, no outro dia
você quer de novo.”
Desde então, Gabriela
voltou a fumar esporadicamente, somente nos fins de semana, porém controlar a
vontade tem sido mais desafiante que antes. “O desejo está vindo mais forte e a
vontade de não fazer está muito menor do que da primeira vez.” Apesar das recaídas,
a psicóloga está recomeçando o processo. “Eu estou tendo que admitir que estou
tentando, de novo, parar de fumar.”
• Bonito, prático e extremamente nocivo
Outra preocupação
atual dos profissionais e órgãos da saúde é o uso exacerbado de cigarros
eletrônicos, principalmente por jovens e adolescentes. Segundo o Inteligência
em Pesquisa e Consultoria (Ipec), o consumo desses dispositivos quadruplicou,
entre 2018 e 2022, saltando de 500 mil para 2,2 milhões de usuários.
Recentemente, em abril
deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decretou a
manutenção da proibição da comercialização de cigarros eletrônicos, que está em
vigor desde 2009. Apesar disso, os dispositivos são facilmente encontrados on-line,
em tabacarias e nos mais diversos comércios.
Quando os primeiros
vapes apareceram, as campanhas de marketing e publicidade o destacavam como uma
alternativa "mais saudável" que o cigarro tradicional. Mesmo que
enganoso, esse discurso convenceu milhares de jovens de que esses dispositivos seriam
menos prejudiciais.
Vaping é o termo
designado à inalação de vapor em vez de fumaça, que, na teoria, seria menos
nocivo, pois tratava-se "só de vapor d'água". Entretanto, a presença
de nicotina e de outras milhares de substâncias tóxicas, ainda não totalmente
identificadas, desmistificam essa ideia. Existe muito mais do que só água
nesses dispositivos.
O oncologista Igor
Morbeck afirma que ainda não se tem um parâmetro claro das consequências do
consumo de vapes a longo prazo. Porém, o aparecimento constante de novos casos
de jovens com doenças e inflamações pulmonares derivados do vício preocupa os
especialistas. "Os estudos mostram hoje que o vape já leva a alterações da
célula, principalmente no pulmão", explica. "Essas alterações estão
ocorrendo muito precocemente, o que não acontece em geral com o tabaco."
A pneumologista Gilda
Elizabeth alerta para uma nova doença causada pelos cigarros eletrônicos,
chamada evali, descrita pela primeira vez em 2019, nos Estados Unidos.
"Uma síndrome respiratória aguda, gravíssima, que pode, na grande maioria
dos casos, levar a pessoa a óbito", declara.
Os pods, um tipo de
cigarro eletrônico mais usado ultimamente, possuem uma estética atrativa para o
consumo. São coloridos, com diferentes sabores artificiais e não deixam cheiro.
Além disso, são pequenos, cabem na palma da mão e no bolso, recarregáveis,
práticos e possuem uma alta dose de nicotina. Todos esses fatores atraem jovens
e adolescentes ao uso e geram um vício tão alto, ou até mais, que os cigarros
tradicionais.
• Da curiosidade ao vício
O estudante Álex de
Oliveira Mesquita, 21 anos, fumou pod pela primeira vez em 2022, no ápice do
retorno das festas e festivais após a pandemia. De início, foi só por
curiosidade, já que todos os amigos fumavam o aparelho, porém, não demorou
muito para comprar o próprio pod e se viciar. "Antes mesmo de escovar os
dentes eu já dava umas tragadas, e antes de dormir também", conta.
"Era tipo um celular, não saía de perto de mim por nada."
O estudante começou a
sentir os efeitos em menos de um ano de fumo, como falta de ar e cansaço
extremo. "Vi amigos meus com esses sintomas também, e resolvemos parar
pela nossa saúde, para não ser mais prejudicial do que já foi." Desde
junho do ano passado, Álex vem tentando parar com o vício. Depois de umas idas
e vindas, em dezembro, o jovem jogou tudo fora e está sem fumar desde então.
Álex sabia que deveria
parar, porém tomar a atitude não foi fácil. "É sempre o 'amanhã eu paro',
e esse amanhã nunca chega." Até que o dia de cessar com o vício veio e o
organismo pedia pelas substâncias que ele já estava tão acostumado a receber
diariamente. Nos primeiros dias, o estudante ficou estressado como nunca antes,
qualquer coisa o tirava do sério.
Depois dos piores
momentos da abstinência, manter o eixo e a decisão de parar mesmo quando o
desejo grita é a parte mais difícil. Para Álex, estar nessa jornada com os
amigos tem sido fundamental para sustentar a decisão. Outra motivação do jovem
é ver o dinheiro que era investido em pods receber outros destinos. "Ver
que eu tenho mais dinheiro para gastar comigo e com outras coisas contou muito
nesse momento", finaliza.
• Uma vida melhor
O tratamento mais
eficaz para parar de fumar, geralmente, envolve uma combinação de abordagens,
segundo o psiquiatra e professor de medicina do Ceub Lucas Benevides. Terapias
comportamentais, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), podem ajudar a pessoa
a identificar e mudar os comportamentos e pensamentos relacionados ao uso do
tabaco. “Medicamentos, como vareniclina e bupropiona, e terapias de reposição
de nicotina (adesivos e gomas) também podem ser eficazes. Além disso, o suporte
social é crucial. Substituir o uso do tabaco por outras atividades saudáveis,
como exercícios físicos, meditação ou hobbies, pode ajudar a reduzir o desejo
de fumar e melhorar o bem-estar geral”, acrescenta.
Fonte: Correio
Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário