Saiba quais são alguns dos políticos
brasileiros negacionistas do clima
O discurso
negacionista sobre a crise climática voltou a se destacar após as enchentes no
Rio Grande do Sul, que afetaram mais de 2 milhões de pessoas. Nas redes
sociais, tanto usuários comuns quanto políticos negam a relação entre as ações
humanas sobre o meio ambiente e fenômenos extremos como as chuvas que causaram
a maior tragédia climática da história do estado gaúcho.
De um lado, alguns
negacionistas encaram como mais um episódio "normal" e comparam com
outras situações parecidas. No caso do Rio Grande do Sul, algumas pessoas
relembram as enchentes de 1941, que também causaram um estrago no estado.
Já por outro lado,
outros divulgam até teorias conspiratórias para negar a crise climática.
Segundo alguns negacionistas, as chuvas no Rio Grande do Sul teriam sido
provocadas pelo sistema HAARP, um
projeto de estudo dos Estados Unidos focado na análise da interação de
transmissões de ondas de rádio com elétrons e íons livres na ionosfera, usado
para aprimorar sistemas de comunicação, como wi-fi, internet móvel para
celulares e aplicativos baseados em localização.
A reprodução desses
discursos negacionistas representa um perigo para o combate ao real motivo
desses fenômenos extremos: a crise climática. Negar essa nova realidade impede
que políticas públicas avancem, principalmente se o discurso negacionista
estiver sendo reproduzido por políticos - como acontece, e muito, no Brasil.
O cientista Carlos
Nobre, que estuda o aquecimento global, ressaltou a grave ameaça que o
crescimento de políticos populistas negacionistas representam.
"O crescimento de
políticos populistas negacionistas é um risco enorme. Bolsonaro não é o único.
Milei é um negacionista. Trump é um supernegacionista. Quando era presidente,
retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris. Não querem admitir os riscos das
alterações climáticas e não querem implementar medidas. Trump já disse que, se
vencer, autorizará a exploração de petróleo e gás natural", aponta, em
entrevista ao jornalista Bernardo Gutiérrez, no site CTXT.
Abaixo, listamos
alguns políticos negacionistas e suas declarações que negam a crise climática.
Jair Bolsonaro
Em 2019, durante seu
primeiro ano de governo, Jair Bolsonaro (PL) declarou que o aquecimento global
seria um "jogo comercial" ao comentar sobre a Conferência das Partes
da Convenção das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP-25, que teria
sido realizada no Brasil, mas não foi aceita pelo ex-presidente.
Além disso, Bolsonaro
conduziu um dos maiores desmontes ambientais no país, alcançando recordes de
desmatamento, destruindo a estrutura do Ministério do Meio Ambiente - onde
colocou outro negacionista, Ricardo Salles, à frente da pasta -, dando aval
para a mineração e o garimpo ilegal, atacando comunidades indígenas e outras
medidas. Durante três anos de governo, Bolsonaro cortou 93% da verba para
pesquisa em mudanças climáticas, segundo levantamento da BBC News Brasil.
Já neste ano, ao falar
sobre a tragédia no Rio Grande do Sul, Bolsonaro afirmou que as
"problemáticas climáticas" são "pura desinformação"
utilizada "pela organização" (governo federal) com o objetivo de
atingir um fim: tornar as pessoas dependentes do Estado. Ele também classificou
como "tirania verde" e "ecoterrorismo" as práticas ESG (
Ambiental, Social e Governança em português) adotadas em todo mundo para
redução do efeito estufa, que vem provocando as mudanças climáticas.
• Carlos Bolsonaro
Em 2019, um dos filhos
de Jair Bolsonaro e vereador do Rio de Janeiro, viralizou ao usar o frio para
negar o aquecimento global e as mudanças climáticas. Em um post no X (antigo
Twitter), ele questionou: "Só por curiosidade: quando está quente a culpa
é sempre do possível aquecimento global e quando está frio fora do normal como
é que se chama?". Após a declaração, especialistas explicaram a distinção
entre tempo e clima e por que usar dias frios é um erro para negar o
aquecimento global.
Já em 2024, ele voltou
a negar a crise climática. "Mais e mais liberdades que nos são tiradas
todos os dias sob a falácia do bem-estar físico e das mudanças climáticas. Quem
é o governo para decidir o quê é bom para cada um de nós? Quem é o governo para
restringir as nossas liberdades de escolha? Mais: quem é o governo para fazer
tudo isso com base numa hipótese tremendamente duvidosa como é essa das
chamadas mudanças climáticas? Por trás dessa suposta preocupação com a saúde e
a ecologia, está a tentativa de controlar cada aspecto da vida privada para a
imposição de uma filosofia de vida coletivista. É a toada do 'você não terá
nada, pagará mais caro, mas será feliz' a pleno vapor", publicou, também
no X, a partir de uma reportagem do G1 que fala sobre a cobrança de impostos
sobre cigarros, bebidas alcoólicas, açucaradas, carro e petróleo.
Além disso, em um
projeto de lei apresentado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro no começo
deste mês, o vereador propõe proibir a atuação de ONGs socioambientais na
cidade e, em seu discurso, também nega a crise climática.
• Flávio Bolsonaro
No dia 14 de maio,
durante votação no Senado para aprovar o projeto de lei que estabelece
diretrizes para planos de adaptação climáticas municipais e estaduais, Flávio
Bolsonaro (PL-RJ), que votou contra, negou a relação das chuvas no Rio Grande
do Sul com a crise climática.
“Eu pergunto: o que
está acontecendo no Rio Grande do Sul tem relação com emissão de carbono na
atmosfera ou tem relação com o zoneamento urbano de todas as cidades
impactadas? Tem a ver com queima de petróleo ou tem a ver com questões
geográficas, a realidade regional daquelas várias cidades que estão em uma área
suscetível a alagamento?”, disse.
“Se aconteceu algo
similar, óbvio que não nas mesmas proporções do que está acontecendo neste
momento, em 1941 [quando se deram as enchentes que, até o início do mês, tinham
sido as maiores já registradas no RS], no estado do Rio Grande do Sul, é de se
concluir, de uma forma lógica, que não é pelas circunstâncias globais”,
acrescentou.
• Ricardo Salles
Ex-ministro do Meio
Ambiente de Bolsonaro conhecido por "passar a boiada" na Amazônia,
Ricardo Salles é mais um dos políticos negacionistas.
Logo após assumir o
cargo, em janeiro de 2019, o ex-ministro acabou com a Secretaria de Mudanças do
Clima e Florestas com a justificativa de que as pessoas estavam "fazendo
turismo internacional às custas do governo". Ele usou como exemplo a viagem
de 48 servidores do ministério para participar da Conferência das Partes (COP)
24 na Polônia. O evento é um dos mais importantes para debater a crise
climática e reúne representantes de todo o mundo.
Além disso, Salles
também desistiu de sediar a COP 25 no Brasil naquele ano. Questionado, ele
afirmou que o tema das mudanças climáticas
era “um assunto acadêmico controverso” e que havia “muito alarmismo
sobre o assunto”.
Em 2021, ele voltou a
criticar a COP, afirmando que os cientistas queriam "convencer que peido
do boi é culpado do efeito estufa", após mais de 100 líderes mundiais
firmarem um acordo para reduzir em 30% as emissões de metano até 2030 em relação
aos níveis de 2020.
• Antonio Fernando Pinheiro Pedro
Antonio Fernando
Pinheiro Pedro, ex-secretário de Mudanças Climáticas do município de São Paulo,
declarou em julho de 2023 que o “planeta se salva sozinho” durante um fórum organizado pela Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB) para discutir os efeitos da crise climática.
“O planeta não será
salvo por nós. Ninguém salva o planeta Terra, geralmente ele se salva sozinho.
Ele o faz há 4,3 bilhões de anos. E muda o clima em todo esse período. [...]
Nós somos parte do problema para a vida na Terra neste momento, mas nossa solução
é muito pequena. Os fatores são de ordem geológica, cósmica e solar”, disse o
ex-secretário, que após a afirmação foi exonerado do cargo.
Em janeiro deste ano,
o ex-secretário declarou apoio à candidatura de Ricardo Salles. Ele chegou a
fazer parte da equipe de transição do governo Bolsonaro e ajudou a elaborar a
política adotada pelo ex-ministro do Meio Ambiente.
• Ernesto Araújo
Em setembro de 2019,
o ministro das Relações Exteriores de
Bolsonaro, Ernesto Araújo, em um uma palestra na Fundação Heritage, centro de
estudos conservador em Washington, negou as mudanças climáticas, as queimadas na
Amazônia e afirmou que uma "ditadura climática" foi criada em cima do
debate ambiental.
Ele ainda acrescentou
que tanto Bolsonaro quanto o ex-presidente Donald Trump começaram a ser odiados
por se afastarem do "globalismo", que segundo o ex-ministro opera com
três instrumentos: "Um é a ideologia das mudanças climáticas, outro é a
ideologia de gênero e a terceiro, a oikofobia, o ódio à sua própria
nação", disse. "O ponto principal da ditadura do clima, do
climatismo, é o fim do debate político normal".
Em 2023, o ex-ministro
voltou a negar a crise climática em um artigo em que, novamente, ataca o
globalismo, além da China, o Fórum Econômico Mundial em Davos e os governos de
esquerda da América Latina.
"Não existe crise
climática, mas uma oscilação de temperaturas que já ocorreu muitas vezes no
passado e independe das emissões de CO2, como indica o fato de que a
temperatura média da terra no período 2015-2022 teve tendência de queda de 0,11
grau centígrados por década, a despeito do aumento contínuo das emissões de
dióxido de carbono", afirma um trecho do seu texto.
Em outro, ele diz que
"a 'crise climática', principalmente, tornou-se um grande mecanismo de
lavagem ideológica das ditaduras"; e que "por meio da adesão à
histeria climática, sistemas ditatoriais e propostas autoritárias de toda
ordem, desde Maduro e Petro até a China comunista, adquirem respeitabilidade
internacional e ganham sua inclusão no sistema que controla os destinos do
mundo".
• Ricardo Gomes
O vice-prefeito de
Porto Alegre também é outro político que atua em prol do negacionismo
climático. Além do cargo na prefeitura, Ricardo Gomes também atua como
apresentador da produtora Brasil Paralelo, que dissemina diversos conteúdos que
negam a crise climática.
Segundo alguns
políticos de Porto Alegre, as atuações como vice-prefeito e vereador, no
mandato anterior, sempre foram regidas pelo negacionismo. Como vereador, se
posicionou a favor da perda de atribuições pela Secretaria de Meio Ambiente,
defendeu que o plano diretor fosse “atropelado” e que passasse a vigorar o
autolicenciamento ambiental.
Em uma reunião com
integrantes da Câmara Municipal e o prefeito Sebastião Melo, Gomes causou uma
confusão com políticos de esquerda que propuseram “socializar” recursos em meio
às enchentes em Porto Alegre. Segundo ele, os parlamentares estavam querendo implementar
o comunismo.
• Negligência
A negligência frente a
anúncios globais emitidos por pesquisadores há anos também colabora com as
práticas negacionistas. Esse é o caso do governador do Rio Grande do Sul,
Eduardo Leite (PSDB), e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). Os
políticos não realizam discursos em que negam ou minimizam a crise climática -
porque sequer entram no debate sobre o tema. Porém, atuam para promover
desmontes ambientais ou ignoram políticas públicas para mitigir os efeitos de
eventos extremos.
• Eduardo Leite
Apesar de ter negado
que não agiu para minimizar os impactos das chuvas no Rio Grande do Sul em
razão do negacionismo, o governador Eduardo Leite foi responsável por
flexibilizar quase 500 normas ambientais desde 2019, quando assumiu o cargo.
Atacar o meio ambiente, principalmente em meio a um cenário em que
pesquisadores alertam há anos para a crise climática e a importância da
preservação ambiental para mitigar seus efeitos, também é agir como
negacionista.
• Sebastião Melo
Nesta terça-feira
(21), o deputado estadual Matheus Gomes (PSOL-RS) mostrou que o prefeito de
Porto Alegre, Sebastião Melo, agiu com negligência após ignorar uma série de
alertas sobre riscos de inundações emitidos pelo Departamento Municipal de Água
e Esgoto (DMAE) desde novembro de 2023.
Além disso, seu
governo não destinou nenhuma verba para a prevenção de enchentes, mesmo tendo
R$ 428,9 milhões em caixa, segundo informações publicadas pelo site UOL com
base no Portal da Transparência de Porto Alegre.
• Os cavaleiros do apocalipse
Há também os políticos
que podem não tocar no assunto da crise climática para negá-la, mas que
defendem uma série de projetos de lei que atacam o meio ambiente e,
consequentemente, agravam as consequências do fenômeno.
O Clima Tempo, o
Instituto Socioambiental e o Observatório do Clima listaram os "cavaleiros
do apocalipse": políticos que articulam o "Novo Pacote da
Destruição" no Congresso Nacional. Para saber mais, leia a matéria Conheça
os cavaleiros do apocalipse climático no Congresso segundo entidades
ambientais.
Fonte: Fórum
Nenhum comentário:
Postar um comentário