Bases militares e ‘Plano Marshall’ são o
caminho anunciado pelo USA para aprofundar dominação na América Latina
Nas últimas duas
semanas, diferentes episódios trouxeram às claras os novos planos de
aprofundamento da dominação do imperialismo norte-americano para o
subcontinente latinoamericano. Primeiro, durante uma conferência, a comandante
do Comando Sul do Estados Unidos (Southcom), Laura Richardson, apontou para os
planos de novos investimentos em infraestrutura na América Latina, nos moldes
de um “Plano Marshall”. Em segundo lugar, exercícios militares voltaram a
ocorrer pela costa da América do Sul, no trajeto feito pelo gigantesco USS
George Washington, um porta-aviões que foi enviado da costa Oeste do USA
para uma base militar ianque no Japão essa semana.
Tudo isso ocorre na
esteira de outras movimentações intervencionistas dos ianques na América
Latina. Uma delas foram os exercícios militares norte-americanos na Guiana, impulsionados pelo medo ianque de perder a dominação
imperialista da região rica em petróleo de Essequibo para a Venezuela. Outra
foi o anúncio de uma nova base militar na cidade argentina de Ushuaia. É um
local extremamente estratégico, já que oferece um acesso facilitado para a
Antártida.
·
Disputa imperialista
por recursos na América Latina
As motivações para o
aprofundamento dessa política intervencionista são claras. Laura Richardson
listou várias delas durante uma conferência no Wilson Center, em Washington, na
semana passada: “olha para o petróleo [da região]. A Amazônia tem 31% da água
doce do mundo, 60% do lítio, ouro, cobre e soja do mundo. Mais de 50% da soja
do mundo é cultivada nesta região. Mais de 30% do açúcar e do milho”, disse
ela.
Ou seja, se trata de
recursos. Recursos extensivamente explorados pelo governo e por empresas do
USA, mas ameaçados por outras potências ou superpotências imperialistas. O
Estados Unidos está preocupado que sua dominação na região seja minada pela
crescente atuação do imperialismo russo ou do social-imperialismo chinês na
América Latina. A China tem crescido muito sua influência na América Latina,
particularmente na América Central. Ao menos 21 dos 33 países da América Latina
e Caribe (ALC) já assinaram Memorandos de Entendimento (MoU, na sigla em
inglês) de adesão à Iniciativa do Cinturão e Rota, ou Nova Rota da Seda
Chinesa. A China também é a potência imperialista que lidera o comércio com
países como Brasil, Argentina, Chile e Peru. Antes do presidente argentino
Javier Milei negociar com o USA a entrega da preciosa Terra do Fogo para sediar
a nova base militar ianque, quem estava de olho nos recursos da região era Xi
Jinping, que buscava construir um porto naquele ponto.
A própria Richardson
já admitiu mais de uma vez a disputa. “Nós temos competição. E eu diria que nós
estamos em uma grande disputa estratégica no Hemisfério Ocidental. Nós temos a
República Popular da China, Rússia…”, disse ela durante uma entrevista à thinktank pró-imperialismo
ianque Fundação para a Defesa da Democracia (FDD). Na mesma entrevista,
Richardson apontou o Irã e o Hezbollah como motivos de preocupação, repetindo a
velha tática do imperialismo norte-americano de usar as chamadas “influências externas”
como pretextos para aprofundar sua dominação em países semicoloniais. Tanto o
Irã, quanto a Rússia e a China foram citados como motivações para operações em
12 de 13 discursos de comandantes do Southcom entre 2008 e 2020.
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Planos econômicos de
dominação imperialista
Também por isso, o
imperialismo norte-americano atua, para além do âmbito militar, no campo
econômico. Esse é o pano de fundo dos anúncios de Laura Richardson na mesma
conferência no Wilson Center, em 16 de maio, quando a comandante imperialista
tratou da necessidade de criar um “Plano Marshall” para a América Central e de
novos investimentos em infraestrutura para toda a ALC, por meio do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Parceria das Américas para a
Prosperidade Econômica (APEP). Segundo Richardson, já está tudo combinado com o
Secretário de Estado ianque, Anthony Blinken. “Conversei com o secretário
Blinken há uma semana e eu posso dizer que temos, talvez, uma estratégia, um
Plano Marshall para a região. Temos a Parceria das Américas para a Prosperidade
Econômica. Ela recebeu 11 líderes latino-americanos durante uma semana em
novembro de 2023”, explicou. Richardson também citou o papel de agentes da
USAID em países como o Brasil.
Já existem alguns
megaprojetos imperialistas de infraestrutura na América Central em andamento,
como o Corredor Interoceanico do Istmo de Tehuantepec, que busca criar uma espécie de Canal do Panamá no México. A iniciativa, que é amplamente denunciada por ativistas
mexicanos pelo despejo de camponeses e indígenas e destruição do meio natural,
além do planejamento de roubo das matérias-primas nacionais contido no projeto,
foi elaborada para contornar o domínio chinês no porto panamenho.
·
Crise política e
rebeliões, a outra face da preocupação ianque
Além das disputas
entre potências e superpotências imperialistas pelos ricos recursos
latinoamericanos, há os aspectos internos. Os governos locais, ou mesmo as
Forças Armadas reacionárias dos diversos países latinoamericanos, não
apresentam grandes contradições com a política intervencionista ianque – a não
ser naqueles mais subjugados às superpotência imperialista Rússia ou a potência
social-imperialista China, como é o caso da Venezuela. Mas essas potências
sabem que o mesmo não ocorre com o povo e as massas populares da região,
opositores ferrenhos da dominação imperialista quando assim mobilizados.
Leia também: Temendo grandes levantes camponeses, ianques
avançam militarização na América Latina
O Estados Unidos sabe
que a América Latina é um barril de pólvora para grandes levantamentos
populares. Nos últimos anos, eventos como a rebelião de 2022 no Equador, as
grandes tomadas de terras por camponeses brasileiros na Amazônia Ocidental,
particularmente em Rondônia, entre 2020 e 2021, que irradiam até hoje na luta
pela terra do País, e as grandes revoltas no Chile entre 2019 e 2020, não
deixam dúvidas disso. E o cenário de crise política, sintomático em episódios
como a crise diplomática entre México e Equador, a disputa por Essequibo entre Venezuela e Guiana e a quase ruptura institucional por um golpe militar no
Brasil, favorece ainda mais a ebulição social, o que preocupa os ianques como
obstáculo aos seus objetivos. A luta contra o CIIT é outra prova disso. E
reside aqui uma razão fundamental, na vista dos ianques, para o aprofundamento
da militarização na América Latina, que toma forma tanto nas bases militares
quanto nos megalomaníacos exercícios feitos anualmente na Amazônia, com o aval
dos militares reacionários brasileiros, colombianos ou peruanos.
¨
EUA usa tensões no
Oriente Médio para aprofundar dominação na América Latina
Em entrevista recente,
a general ianque Laura Richardson, do Comando Sul do Estados Unidos (Southcom),
aproveitou o crescimento das tensões do Oriente Médio para tentar justificar o
aumento da agressão imperialista contra a América Latina. “As atividades do
Hezbollah [na América Latina] obviamente são uma preocupação”, declarou, em
entrevista à Fundação para a Defesa da Democracia (FDD), thinktank pró-imperialismo
ianque criada após a maquinação do 11 de setembro de 2001 e conhecida por sua
atuação (como sanções) contra países agredidos pelo USA, como Irã e
Síria.
As referidas
“atividades do Hezbollah” na América Latina são frequentemente usadas pelo
Southcom, sem provas, para aprofundar sua dominação e agressão nos países
latinoamericanos, principalmente em países como Argentina, Brasil e Paraguai,
sujeitos às supostas “operações” do grupo islâmico. Na Argentina, o
imperialismo ianque chegou a financiar a construção de uma base militar na
província de Neuquén sob a alegação de operações do Hezbollah.
E o agrupamento não
foi escolhido à toa. Na última semana, o Hezbollah, grupo transacional com
atuação no Líbano e no Irã, ganhou destaque no monopólio de imprensa
internacional pelas ações contra o Norte de Israel em solidariedade aos
palestinos agredidos pelo Estado sionista. Agora, o USA busca aprofundar o
caldo de antipropaganda criado contra os combatentes do grupo islâmico sob o
mote de “antiterrorismo” para justificar sua própria agressão no subcontinente
americano.
No mesmo sentido, o
Irã também foi alvo da militar imperialista. “Navios de guerra iranianos, que
estão fazendo um giro global, vieram para o hemisfério a partir do Pacífico e
tentaram fazer escalas em inúmeras cidades, que foram negadas. E a fragata acabou
recebida no Rio [de Janeiro]”, disse. O Irã também tem se sobressaído nos
últimos 11 dias com o desenvolvimento das tensões no Oriente Médio. Em mais de
uma oportunidade, o país declarou apoio à Palestina e afirmou que agiria em
caso de continuação dos crimes de guerra sionistas contra os palestinos ou de
intervenção do USA no Oriente Médio.
Afora os países do
Oriente Médio, Richardson também classificou como “influências malignas” outros
rivais imperialistas do USA. “Nós tivemos várias coisas… é o que a Rússia está
fazendo no hemisfério […] viagens para a região durante a primavera, para Cuba,
Nicarágua, Venezuela, mas também para o Brasil, para reuniões”, afirmou.
A estratégia de elevar
“influências externas” para justificar o aprofundamento da agressão
imperialista é velha conhecida do imperialismo ianque, no geral, e do Southcom,
em particular. Nos últimos meses, um documento do governo ianque divulgado
revelou o planejamento de uma “operação anticorrupção” no Paraguai justificada
por, dentre outros motivos, a possibilidade de que a China “volte seus olhos
para o Paraguai com vigor renovado após as eleições”. Já entre os anos de 2008
e 2020, em 13 discursos de comandantes do Southcom no Senado ianque, só houve
um em que as “ameaças externas”, referindo-se a China, Rússia ou Irã, não foram
tocadas.
São sinais mesmo do
desespero do imperialismo ianque para manter sua dominação sobre as suas
semicolonias, sobretudo na América Latina. A necessidade torna-se ainda mais
evidente frente às crescentes tensões mundiais, tanto pelos conflitos
interimperialistas quanto pelo nível crescente de explosividade das massas em
todo o mundo – como a Resistência Nacional Palestina deu provas no dia 7 de
outubro.
Assim também admitiu a
general ianque: “eu acho que na região [América Latina], com a insegurança e
vulnerabilidade, podemos fazer mais para manter fora competidores estratégicos
que tem intenções malignas”, concluiu.
Fonte: A Nova
Democracia
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