sábado, 27 de abril de 2024

Por soberania nacional, o Brasil deve criar seu próprio sistema de navegação e geolocalização?

Para um país com grande extensão territorial, como o caso do Brasil, o que significa ter seu próprio sistema de navegação e geolocalização? À Sputnik Brasil, especialistas analisam a importância do desenvolvimento da tecnologia para a soberania nacional.

O Brasil, quando o assunto é tecnologia de posicionamento, navegação e geolocalização, utiliza o sistema norte-americano, o GPS (Global Positioning Satellite) — uma marca que, por aqui, virou sinônimo de tecnologia.

Em um cenário marcado por sanções ocidentais contra países do Sul Global, a autonomia sobre dados informacionais dos seus cidadãos e ter seu próprio sistema de navegação têm sido considerados fatores cada vez mais cruciais para a soberania de um país. Nesse quesito, a Rússia e a China são exemplos, além dos EUA, por possuírem seus próprios sistemas.

Tanto o GLONASS, sistema russo, quanto o BeiDou, tecnologia chinesa, foram passíveis de investimentos significativos, com a finalidade de "reduzir a dependência desses países de tecnologias estrangeiras", comenta o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), que propôs no ano passado um Projeto de Lei (PL) que tem como objetivo criar um sistema brasileiro.

"Considerando a geografia do Brasil, seu potencial e todas as múltiplas questões que um sistema de localização possibilita, vejo como questão de obrigatoriedade termos o nosso próprio sistema", destaca o parlamentar.

  • Brasil pode aprender com Rússia e China para desenvolver o seu próprio sistema?

"A história demonstra que somente um país com capacidade tecnológica avançada é capaz de competir em um cenário global. O realismo político mostra que um país precisa ter hard power e soft power", afirma Ericson Scorsim, advogado, doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP) e consultor em direito da comunicação.

Segundo o especialista, é fundamental que o Brasil entenda a "imperiosa necessidade de investimentos em ciência e inovações tecnológicas" e aprenda a importância da soberania tecnológica para ser "um país soberano de fato e de direito".

Além disso, Scorsim ressalta que a soberania econômica também requer uma economia de tecnologias avançadas.

"Sistemas de tecnologias de navegação e geolocalização são uma tecnologia considerada dual-use, isto é, com aplicações civis e militares. Essa tecnologia serve para monitorar, rastrear, vigiar o movimento de pessoas, veículos, cargas, infraestruturas e alvos", explica.

Nesse ponto, segundo o senador Styvenson Valentim, o governo brasileiro, no caso do desenvolvimento do seu próprio sistema, pode ponderar fazer como fizeram Rússia e China, que disponibilizaram seu sistema de navegação para uso comercial e civil em todo o mundo, o que inclui uma nova possibilidade de geração de receita para os países.

"Seguindo o exemplo da Rússia e da China, bem como de todos os países que possuem seu sistema, o Brasil pode trabalhar para construir sua própria infraestrutura de navegação e geolocalização, aumentando assim sua independência tecnológica e sua capacidade de proteger seus dados informacionais e sua soberania nacional", sublinha o senador.

  • O que o Brasil precisa para avançar na construção do seu próprio sistema de navegação?

O ponto fulcral para começar a trabalhar em um sistema próprio, segundo Scorsim, é a implementação de uma política de incentivo à pesquisa e ciência em tecnologias avançadas.

"O Brasil precisa de inovação tecnológica como uma forma de fomentar o ecossistema digital do país e o sistema de educação em tecnologia, o que exige conhecimentos em física, matemática, engenharia, sistemas computacionais, entre outros", comenta.

Outro caminho sugerido, este por Phillipe Valente, professor de geocartografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), é o de parcerias com outros países como uma possibilidade mais viável.

"Vejo isso como uma possibilidade devido à alta demanda que se tem para o desenvolvimento desse sistema. Uma ideia interessante seria esse desenvolvimento de parcerias, talvez até indo um pouco na linha ou da América do Sul ou do próprio BRICS", sugere.

O analista cita ainda exemplos de parcerias que o Brasil tem com outras nações no campo da tecnologia espacial — caso do Satélite de Recursos Terrestres China-Brasil (CBERS, na sigla em inglês) — como molde de projetos já existentes de parcerias.

  • Por que é importante para o Brasil ter seu próprio sistema?

Autor do PL que "cria o Programa de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de Posicionamento Global", o senador Styvenson Valentim afirma que o Brasil, ao depender de tecnologia estrangeira, "fica vulnerável a eventuais interrupções ou indisponibilidades desses sistemas".

"Não estamos falando apenas do Waze, Maps ou tráfego de carros de aplicativos, o que por si só já é muito importante. Estamos falando de soberania. Utilizar sistemas estrangeiros implica em insegurança e na possível falta de privacidade dos dados de localização dos usuários brasileiros", diz o senador.

Criar seu próprio sistema, segundo afirma Valente, faria com que o Brasil tivesse tecnologia voltada para as suas próprias questões logísticas de geolocalização. "Desenvolvendo o próprio sistema, você poderia atender mais às suas demandas específicas do país, principalmente voltadas para a indústria, para a agricultura de precisão", avalia.

Outro ponto-chave para a discussão de um sistema autônomo é a segurança, que, segundo o senador, poderia abarcar a criação de medidas mais robustas na área.

"Estamos falando de autonomia, independência, segurança nacional, desenvolvimento tecnológico, benefícios econômicos. Ter nosso próprio sistema de navegação proporcionará ao Brasil maior segurança, autonomia e capacidade de competir no cenário global, além de impulsionar o desenvolvimento tecnológico e econômico do país", resume o proponente do projeto que está sob a relatoria do senador Marcos Pontes (PL-SP) e segue em tramitação.

¨      Missão humanitária brasileira auxilia Guiana em combate a incêndios florestais

Atendendo ao pedido do governo da República Cooperativa da Guiana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou o envio de uma missão humanitária ao país vizinho.

É o que informa uma nota publicada nesta sexta-feira (26) pelo Itamaraty.

Segundo o informativo, a missão, composta por cinco especialistas em combate a incêndios florestais, tem como objetivo realizar uma avaliação conjunta da situação atual das regiões afetadas pelos incêndios que vêm assolando a Guiana nas últimas semanas.

A missão brasileira, organizada pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores, terá duração de cinco dias, entre 25 e 29 de abril. Os especialistas, provenientes das corporações de bombeiros militares do Distrito Federal e dos estados de Roraima, Amazonas e Minas Gerais, serão liderados pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

A iniciativa demonstra a solidariedade do Brasil para com a Guiana, reforçando os laços de amizade e cooperação entre os dois países.

<<<< Confira a nota na íntegra

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou o envio à República Cooperativa da Guiana de missão de assistência humanitária, com vistas a realizar avaliação conjunta da situação atual em que se encontram diversas regiões afetadas pelos incêndios que atingiram o país vizinho nas últimas semanas.

A pedido do governo guianense, a missão brasileira foi organizada pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores e será realizada entre os dias 25 e 29 de abril. Integrada por 5 especialistas em combate a incêndios florestais das corporações de bombeiros militares do Distrito Federal e dos Estados de Roraima, Amazonas e Minas Gerais, a missão é chefiada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR).

¨      Garimpo em áreas indígenas da Amazônia cresceu 361% entre 2016 e 2022, aponta pesquisa

As ocupações feitas por garimpos na Amazônia brasileira abrangem cerca de 241 mil hectares, equivalente a duas vezes o tamanho da cidade de Belém, capital do Pará.

Entre essa extensão, 25 mil hectares correspondem a áreas de 17 terras indígenas (TIs), conforme revelado por um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), divulgado nesta sexta-feira (26).

O estudo investigou a atividade mineradora na região ao longo de 37 anos, de 1985 a 2022, destacando o período entre 2016 e 2022 como o de maior impacto, com um aumento de 361% na presença de garimpos em terras indígenas. Notavelmente, a maioria das atividades mineradoras que afetam os povos originários da Amazônia (78%) teve início nesse período.

Em apenas seis anos, o avanço do garimpo na Amazônia aumentou 12 vezes em extensão, enquanto nas TIs específicas as áreas invadidas cresceram 16 vezes.

À Agência Brasil, Martha Fellows Dourado, uma das pesquisadoras expressou surpresa com esse resultado, destacando que em algumas TIs, como a Kayapó, houve aumento de 1.339% nesse curto período.

"Em algumas terras indígenas, o aumento foi muito expressivo. Por exemplo, a TI Kayapó teve um aumento de 1.339% nesse curto período. A gente já trabalhava com a hipótese de crescimento do garimpo nessas áreas, mas não imaginava que iria ser tão agressivo", ressalta Martha Fellows Dourado.

O impacto se estende aos rios que cortam as reservas, sendo afetados pela atividade garimpeira. Segundo os pesquisadores, 122 TIs foram alcançadas pelas águas dos rios utilizados pelo garimpo, somando 139 povos indígenas que enfrentam as consequências, como rios assoreados, morte de animais e contaminação da água e da vegetação pelo mercúrio, usado na extração do ouro.

Martha explica que a equipe também analisou outros estudos para compreender melhor o alcance do impacto do garimpo nas águas: "O garimpo tem um impacto direto na saúde indígena, documentado em um estudo da Fiocruz [Fundação Oswaldo Cruz], que mostra a contaminação pelo consumo de peixes e água. Além disso, outros estudos indicam que o mercúrio contaminado é incorporado à vegetação, sendo liberado na atmosfera durante incêndios em períodos secos e se dispersando por correntes de ar, alcançando áreas ainda mais distantes."

¨      Oferta e concorrência justificam alta no mercado aeronáutico latino-americano, aponta analista

Brasil, Colômbia e México iniciaram 2024 com número recorde de passageiros em voos domésticos e internacionais, com crescimento superior a 13% em relação a 2023. Em diálogo com a Sputnik, o analista aeronáutico Nicolás Larenas atribuiu o boom à chegada de novas companhias aéreas e a uma "mudança filosófica" ocorrida após COVID-19.

Quatro anos depois de a pandemia de COVID-19 ter deixado o setor em xeque, o mercado aeronáutico latino-americano atravessa um momento de crescimento com números recorde de passageiros e novas companhias aéreas. Brasil, Colômbia e México, por exemplo, tiveram em fevereiro de 2024 o melhor número de passageiros pelo segundo mês do ano em toda a sua história, segundo relatório da Associação Latino-Americana e do Caribe de Transporte Aéreo (ALTA).

O estudo da ALTA, publicado em abril, mas com dados fechados até fevereiro, indica que nesse mês viajaram 38,5 milhões de passageiros de e para a América Latina e Caribe, 13,4% a mais que no mesmo período de 2023. Enquanto os voos domésticos aumentaram 8,6%, nos voos internacionais o aumento foi mais acentuado, atingindo 19%.

Os dados são mais impressionantes tomando como referência o México, a Colômbia e o Brasil, três dos mais importantes centros aeronáuticos da região. A Colômbia se destacou com um aumento de 37% no número de passageiros com voos internacionais, enquanto o Brasil teve um aumento de 29%, ultrapassando pela primeira vez os 2 milhões de passageiros no mês de fevereiro. O México, por sua vez, foi origem ou destino de 4,9 milhões de passageiros internacionais, 13% a mais que no mesmo mês de 2023.

"O aumento nestes três mercados se deve sobretudo ao fato de haver mais concorrência entre companhias aéreas, tanto tradicionais como low cost ou ultra low cost. Como há mais concorrência, há um dinamismo que baixou consideravelmente os preços nestes mercados, possibilitando que mais pessoas voem", explicou o analista aeronáutico equatoriano Nicolás Larenas à Sputnik.

O especialista explicou que, quando surge uma nova companhia aérea no mercado aeronáutico, "todo o mercado é estimulado" e impulsiona todo o setor para cima. Ao contrário das teorias que indicam que as companhias aéreas de baixo custo colocam em risco as companhias aéreas tradicionais, Larenas afirmou que "quando uma companhia aérea de baixo custo entra no mercado, incentiva mais pessoas a voar e obriga as companhias aéreas tradicionais a baixarem os seus preços para não perderem passageiros".

Este fenômeno, segundo o especialista, faz com que o mercado ganhe novos passageiros, dado que "há pessoas que querem e podem adquirir passagens e que antes não conseguiam devido ao preço". Um dado significativo é que o aumento de passageiros internacionais ocorreu mais fortemente nos voos intrarregionais, especialmente entre Brasil e Chile e entre Argentina e Brasil.

Larenas destacou que um dos dados mais importantes é que a América Latina e o Caribe já ultrapassaram o número de passageiros registrado em 2019, pouco antes da pandemia, e "a tendência continua aumentando. Poderá haver alguma diminuição no percentual de crescimento, talvez passe de 7% em 2023 para 4%, mas as perspectivas são de que o mercado continue a crescer devido à maior concorrência no setor", considerou.

A isto, o especialista acrescentou outro fato que não escapa aos analistas: depois do surto da COVID-19, as pessoas querem viajar mais.

"Depois da pandemia houve um boom, não só na América Latina, mas em todo o mundo, de que as pessoas querem viajar, precisam voar mais e não ficar presas. As pessoas querem sair, explorar o mundo e seus países, aproveitar a vida", resumiu Larenas.

Embora o analista reconheça que se trata "até de uma questão filosófica" que pode escapar aos estudos estritamente técnicos, esta mudança no estilo de vida de muitos latino-americanos "é um fenômeno que se tem verificado na indústria aeronáutica".

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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