Thomas Friedman: Netanyahu isolou Israel do
mundo pelo modo como conduz a guerra
Atualmente, Israel
está correndo um grande perigo. Com inimigos como o Hamas, o Hezbollah, os
houthis e o Irã, Israel deveria contar com a simpatia de grande parte do mundo.
Mas não conta. Devido à maneira como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e
sua coalizão extremista têm conduzido a guerra na Faixa de Gaza e a ocupação da
Cisjordânia, o país está se tornando radioativo, e as comunidades judaicas da
diáspora em todos os lugares estão cada vez mais inseguras. Temo que a situação
esteja prestes a piorar.
Nenhuma pessoa justa
poderia negar a Israel o direito de autodefesa depois que o ataque do Hamas em
7 de outubro matou cerca de 1.200 israelenses em um dia. Mulheres foram
abusadas sexualmente; crianças foram mortas na frente de seus pais, e pais, na
frente de seus filhos. Dezenas de homens, mulheres, crianças e idosos
israelenses sequestrados ainda são mantidos como reféns em condições terríveis.
ALGO DEU
ERRADO
Mas nenhuma pessoa
justa pode olhar para a campanha israelense para destruir o Hamas, que já matou
mais de 31 mil palestinos em Gaza, cerca de um terço deles combatentes, e não
concluir que algo deu terrivelmente errado lá.
Entre os mortos estão
milhares de crianças e, entre os sobreviventes, muitos órfãos. Grande parte da
Faixa de Gaza é agora um deserto de morte e destruição, fome e casas em ruínas.
A guerra urbana traz à
tona o que há de pior nas pessoas, e isso certamente é verdade para Israel em
Gaza. Essa é uma mancha no Estado judeu. Mas Israel não é o único responsável
por essa tragédia. A mancha do Hamas também é negra.
ATAQUE A
CIVIS
Essa milícia islâmica
iniciou o conflito em 7 de outubro sem nenhum aviso, proteção ou abrigo para os
civis palestinos, e fez isso sabendo muito bem, por experiência própria, que
Israel responderia bombardeando as fortalezas do Hamas, que se encontram em
túneis sob casas, mesquitas e hospitais.
O Hamas demonstrou
total desprezo pela vida dos palestinos, não apenas dos israelenses. Mas o
Hamas já havia sido rotulado como uma organização terrorista. Ele não é um
aliado dos EUA e nunca alegou praticar a “pureza das armas”.
Dito isso, a posição
de Israel no mundo pode sofrer outro grande golpe em breve devido a algo que me
fez desconfiar de sua invasão desde o início: Netanyahu enviou as Forças de
Defesa de Israel para Gaza sem um plano coerente para governá-la após qualquer
desmantelamento ou cessar-fogo do Hamas.
GAZA SEM
COMANDO
Na minha opinião, há
apenas uma coisa pior para Israel, sem mencionar os palestinos, do que uma Gaza
controlada pelo Hamas: uma Gaza em que ninguém está no comando, uma Gaza em que
o mundo espera que Israel estabeleça a ordem, mas Israel não pode ou não quer,
de modo que ela se torna uma crise humanitária permanente e gritante.
Minha recente visita à
fronteira de Gaza me sugeriu que é exatamente para onde estamos indo. Em 2 de
março, acompanhei o comandante do Centcom dos EUA [órgão responsável por
planejar e conduzir operações militares dos EUA no Oriente Médio, na África
Central e na Ásia Central], general Michael Kurilla, em sua visita ao ponto de
passagem de Erez entre Israel e Gaza. Kurilla estava encarregado do lançamento
aéreo de alimentos humanitários dos EUA que estava prestes a ocorrer
NÃO HÁ
GOVERNO
Com o som de drones
zumbindo no alto e o estrondo distante da artilharia, um comandante israelense
local explicou que a maioria das forças israelenses no norte de Gaza, que
inclui sua maior área urbana, a Cidade de Gaza, havia se retirado para a área
de fronteira israelense ou ao longo da estrada que divide Gaza de Norte a Sul.
De agora em diante,
disse outro oficial israelense sênior, as tropas israelenses e as forças
especiais só entrariam e sairiam do Norte de Gaza para atacar ameaças
específicas do Hamas, mas basicamente ninguém estava governando o dia a dia dos
civis deixados para trás, exceto algumas centenas de combatentes do Hamas e
líderes de gangues locais.
Entendi imediatamente
como uma cena caótica se desenrolou na distribuição de alimentos dois dias
antes. Israel está rompendo o controle do Hamas e, ainda assim, recusando-se a
assumir a responsabilidade pela administração civil em Gaza com suas próprias forças
—e recusando-se a recrutar a Autoridade Nacional Palestina (ANP) na
Cisjordânia, que tem milhares de funcionários em Gaza, para realizar essa
tarefa.
ESTADO
PALESTINO
Ele está se
comportando dessa maneira porque Netanyahu não quer que a ANP se torne o
governo palestino na Cisjordânia e em Gaza, o que poderia dar a ela uma chance
de credibilidade para se tornar um Estado palestino independente um dia.
Em outras palavras,
Israel tem um primeiro-ministro que, aparentemente, prefere ver Gaza se
transformar na Somália, governada por senhores da guerra, e arriscar os ganhos
militares de Israel no desmantelamento do Hamas a fazer parceria com a
Autoridade Palestina ou com qualquer órgão governamental palestino legítimo, de
base ampla e não pertencente ao Hamas. Isso porque seus aliados de extrema
direita do gabinete, que sonham que Israel controle todo o território entre o
rio Jordão e o mar Mediterrâneo, incluindo Gaza, o expulsarão do poder se ele
fizer isso.
Ø
EUA não descartam 'consequências' para
Israel no caso de uma operação em Rafah
A vice-presidente dos
Estados Unidos, Kamala Harris, não descartou "consequências" para o
governo de Benjamin Netanyahu no que diz respeito às relações com Washington,
caso Tel Aviv lance uma operação militar em Rafah.
"Não estou
descartando nada", disse Harris quando questionada durante uma entrevista
à rede de televisão ABC neste domingo (24).
Em contraste a
declarações anteriores de autoridades norte-americanas,
que ligaram o acordo para adiar as operações de combate em Rafah ao desenvolvimento de um plano para
evacuar a população da
cidade, Harris disse que uma operação militar em grande escala em Rafah "seria um erro" e
apontou as dificuldades para encontrar opções realistas para tirar as pessoas de lá.
"Deixe-me dizer
uma coisa. Estudei os mapas e essas pessoas não têm para onde ir. Estamos
falando de um milhão e meio de pessoas em Rafah que estão lá, principalmente,
porque lhes disseram para ir para lá", enfatizou a vice-presidente dos
EUA.
Uma delegação
israelense liderada pelo ministro da Defesa, Yoav Galant, deve chegar em breve
a Washington para discutir os planos para a operação em Rafah, cidade que o
governo de Israel designou inicialmente como uma "zona segura" para
civis, antes de mudar de posição, argumentando que tropas do Hamas estão
escondidas na região.
No dia 17 de março, o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, avisou durante uma reunião do
Conselho de Ministros que a operação em Rafah será realizada dentro de algumas
semanas.
A guerra em Gaza
poderá chegar a seis meses no próximo dia 7 de abril. Até o momento, desde o
ataque do Hamas que matou mais de 1,1 mil israelenses no começo de outubro do
ano passado, mais de 32 mil palestinos morreram em Gaza após a invasão das
Forças de Defesa de Israel.
Ø
Israel não vai cessar a ofensiva em Gaza,
apesar da resolução do Conselho de Segurança da ONU
Em resposta à
aprovação da resolução que exige o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza,
chanceler israelense diz que Israel pretende seguir com a ofensiva no enclave.
Israel não vai cessar
a ofensiva na Faixa de Gaza até que todos os reféns sejam libertados, afirmou
nesta segunda-feira (25) o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel
Katz.
A declaração foi dada
em resposta à resolução aprovada nesta segunda-feira pelo Conselho de Segurança
das Nações Unidas (CSNU), que exige um cessar-fogo imediato no enclave durante
o período do Ramadã.
"O Estado de
Israel não cessará os ataques. Destruiremos o Hamas e continuaremos a lutar até
que o último dos reféns regresse para casa", escreveu Katz na rede social
X (antigo Twitter).
Anteriormente, o
ministro da Defesa israelense, Yoav Galant, deu uma declaração semelhante. Em
comunicado emitido enquanto estava em visita ao EUA, ele afirmou que a ausência
de uma vitória consolidada na Faixa de Gaza poderia aproximar Israel de uma guerra
com o movimento libanês Hezbollah, com quem trava combates paralelos no sul do
Líbano.
"Não temos o
direito moral de parar com a guerra em Gaza até devolvermos todos os reféns às
suas casas. Se não o fizermos, se não alcançarmos uma vitória clara e absoluta
em Gaza, poderemos entrar em guerra também no Norte [sul do Líbano]."
Por sua vez, o Hamas
celebrou a aprovação da resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre
o cessar-fogo durante a celebração do Ramadã, mas enfatizou a necessidade de um
cessar-fogo permanente. O grupo afirmou ainda estar disposto a negociar com
Israel uma troca imediata de reféns.
¨
Israel propõe libertar quase 800
prisioneiros palestinos em troca de 40 reféns
Israel teria entregado
ao Hamas um documento com suas posições sobre as três fases do acordo que está
sendo negociado para a libertação de prisioneiros, incluindo a disposição para
libertar cerca de 800 prisioneiros palestinos por 40 reféns israelenses.
Citando fontes
anônimas, o Canal 12, emissora de TV israelense, informou que no documento
apresentado, Israel demonstrou flexibilidade em diversas pontos importantes.
Embora no âmbito das
negociações realizadas em Paris em fevereiro Israel tenha dito que planejava
libertar 400 prisioneiros palestinos em troca de 40 reféns – mulheres,
crianças, doentes e idosos –, na primeira fase de um novo acordo, durante uma
trégua de seis semanas, o país deverá agora libertar "quase o dobro",
incluindo 100 condenados por homicídio.
Outros meios de
comunicação israelense sugerem que o país está pronto para libertar 700
prisioneiros em troca dos 40 sequestrados.
O Canal 12 afirmou
ainda que Israel espera uma resposta do líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya
Sinwar, nos próximos três dias e considera que a possibilidade de se chegar a
um acordo são "de 50 para 50".
A emissora acrescentou
que, pela primeira vez nas negociações, Israel disse que está disposto a
discutir a possibilidade de permitir que os palestinos que foram evacuados
durante os combates retornem ao norte de Gaza. No entanto, não se trata de
todos, uma vez que se pretende deixar de fora do acordo os homens em idade de
lutar, indicou a mídia.
Israel segue mantendo
"linhas vermelhas" que excluem uma retirada completa dos seus
militares da Faixa de Gaza e insiste que a campanha para destruir o Hamas será
retomada assim que o acordo for concretizado, acrescentou.
O Hamas, até então,
tem exigido que qualquer nova libertação de reféns fosse acompanhada de um
compromisso israelense de pôr fim à guerra, uma condição que Israel rejeitou.
Fonte: FolhaPress/Sputnik
Brasil
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