terça-feira, 26 de março de 2024

Thomas Friedman: Netanyahu isolou Israel do mundo pelo modo como conduz a guerra

Atualmente, Israel está correndo um grande perigo. Com inimigos como o Hamas, o Hezbollah, os houthis e o Irã, Israel deveria contar com a simpatia de grande parte do mundo. Mas não conta. Devido à maneira como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e sua coalizão extremista têm conduzido a guerra na Faixa de Gaza e a ocupação da Cisjordânia, o país está se tornando radioativo, e as comunidades judaicas da diáspora em todos os lugares estão cada vez mais inseguras. Temo que a situação esteja prestes a piorar.

Nenhuma pessoa justa poderia negar a Israel o direito de autodefesa depois que o ataque do Hamas em 7 de outubro matou cerca de 1.200 israelenses em um dia. Mulheres foram abusadas sexualmente; crianças foram mortas na frente de seus pais, e pais, na frente de seus filhos. Dezenas de homens, mulheres, crianças e idosos israelenses sequestrados ainda são mantidos como reféns em condições terríveis.

ALGO DEU ERRADO 

Mas nenhuma pessoa justa pode olhar para a campanha israelense para destruir o Hamas, que já matou mais de 31 mil palestinos em Gaza, cerca de um terço deles combatentes, e não concluir que algo deu terrivelmente errado lá.

Entre os mortos estão milhares de crianças e, entre os sobreviventes, muitos órfãos. Grande parte da Faixa de Gaza é agora um deserto de morte e destruição, fome e casas em ruínas.

A guerra urbana traz à tona o que há de pior nas pessoas, e isso certamente é verdade para Israel em Gaza. Essa é uma mancha no Estado judeu. Mas Israel não é o único responsável por essa tragédia. A mancha do Hamas também é negra.

ATAQUE A CIVIS 

Essa milícia islâmica iniciou o conflito em 7 de outubro sem nenhum aviso, proteção ou abrigo para os civis palestinos, e fez isso sabendo muito bem, por experiência própria, que Israel responderia bombardeando as fortalezas do Hamas, que se encontram em túneis sob casas, mesquitas e hospitais.

O Hamas demonstrou total desprezo pela vida dos palestinos, não apenas dos israelenses. Mas o Hamas já havia sido rotulado como uma organização terrorista. Ele não é um aliado dos EUA e nunca alegou praticar a “pureza das armas”.

Dito isso, a posição de Israel no mundo pode sofrer outro grande golpe em breve devido a algo que me fez desconfiar de sua invasão desde o início: Netanyahu enviou as Forças de Defesa de Israel para Gaza sem um plano coerente para governá-la após qualquer desmantelamento ou cessar-fogo do Hamas.

GAZA SEM COMANDO 

Na minha opinião, há apenas uma coisa pior para Israel, sem mencionar os palestinos, do que uma Gaza controlada pelo Hamas: uma Gaza em que ninguém está no comando, uma Gaza em que o mundo espera que Israel estabeleça a ordem, mas Israel não pode ou não quer, de modo que ela se torna uma crise humanitária permanente e gritante.

Minha recente visita à fronteira de Gaza me sugeriu que é exatamente para onde estamos indo. Em 2 de março, acompanhei o comandante do Centcom dos EUA [órgão responsável por planejar e conduzir operações militares dos EUA no Oriente Médio, na África Central e na Ásia Central], general Michael Kurilla, em sua visita ao ponto de passagem de Erez entre Israel e Gaza. Kurilla estava encarregado do lançamento aéreo de alimentos humanitários dos EUA que estava prestes a ocorrer

NÃO HÁ GOVERNO 

Com o som de drones zumbindo no alto e o estrondo distante da artilharia, um comandante israelense local explicou que a maioria das forças israelenses no norte de Gaza, que inclui sua maior área urbana, a Cidade de Gaza, havia se retirado para a área de fronteira israelense ou ao longo da estrada que divide Gaza de Norte a Sul.

De agora em diante, disse outro oficial israelense sênior, as tropas israelenses e as forças especiais só entrariam e sairiam do Norte de Gaza para atacar ameaças específicas do Hamas, mas basicamente ninguém estava governando o dia a dia dos civis deixados para trás, exceto algumas centenas de combatentes do Hamas e líderes de gangues locais.

Entendi imediatamente como uma cena caótica se desenrolou na distribuição de alimentos dois dias antes. Israel está rompendo o controle do Hamas e, ainda assim, recusando-se a assumir a responsabilidade pela administração civil em Gaza com suas próprias forças —e recusando-se a recrutar a Autoridade Nacional Palestina (ANP) na Cisjordânia, que tem milhares de funcionários em Gaza, para realizar essa tarefa.

ESTADO PALESTINO 

Ele está se comportando dessa maneira porque Netanyahu não quer que a ANP se torne o governo palestino na Cisjordânia e em Gaza, o que poderia dar a ela uma chance de credibilidade para se tornar um Estado palestino independente um dia.

Em outras palavras, Israel tem um primeiro-ministro que, aparentemente, prefere ver Gaza se transformar na Somália, governada por senhores da guerra, e arriscar os ganhos militares de Israel no desmantelamento do Hamas a fazer parceria com a Autoridade Palestina ou com qualquer órgão governamental palestino legítimo, de base ampla e não pertencente ao Hamas. Isso porque seus aliados de extrema direita do gabinete, que sonham que Israel controle todo o território entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, incluindo Gaza, o expulsarão do poder se ele fizer isso.

 

Ø  EUA não descartam 'consequências' para Israel no caso de uma operação em Rafah

 

A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, não descartou "consequências" para o governo de Benjamin Netanyahu no que diz respeito às relações com Washington, caso Tel Aviv lance uma operação militar em Rafah.

"Não estou descartando nada", disse Harris quando questionada durante uma entrevista à rede de televisão ABC neste domingo (24).

Em contraste a declarações anteriores de autoridades ​​norte-americanas, que ligaram o acordo para adiar as operações de combate em Rafah ao desenvolvimento de um plano para evacuar a população da cidade, Harris disse que uma operação militar em grande escala em Rafah "seria um erro" e apontou as dificuldades para encontrar opções realistas para tirar as pessoas de lá.

"Deixe-me dizer uma coisa. Estudei os mapas e essas pessoas não têm para onde ir. Estamos falando de um milhão e meio de pessoas em Rafah que estão lá, principalmente, porque lhes disseram para ir para lá", enfatizou a vice-presidente dos EUA.

Uma delegação israelense liderada pelo ministro da Defesa, Yoav Galant, deve chegar em breve a Washington para discutir os planos para a operação em Rafah, cidade que o governo de Israel designou inicialmente como uma "zona segura" para civis, antes de mudar de posição, argumentando que tropas do Hamas estão escondidas na região.

No dia 17 de março, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, avisou durante uma reunião do Conselho de Ministros que a operação em Rafah será realizada dentro de algumas semanas.

A guerra em Gaza poderá chegar a seis meses no próximo dia 7 de abril. Até o momento, desde o ataque do Hamas que matou mais de 1,1 mil israelenses no começo de outubro do ano passado, mais de 32 mil palestinos morreram em Gaza após a invasão das Forças de Defesa de Israel.

 

Ø  Israel não vai cessar a ofensiva em Gaza, apesar da resolução do Conselho de Segurança da ONU

 

Em resposta à aprovação da resolução que exige o cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, chanceler israelense diz que Israel pretende seguir com a ofensiva no enclave.

Israel não vai cessar a ofensiva na Faixa de Gaza até que todos os reféns sejam libertados, afirmou nesta segunda-feira (25) o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz.

A declaração foi dada em resposta à resolução aprovada nesta segunda-feira pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), que exige um cessar-fogo imediato no enclave durante o período do Ramadã.

"O Estado de Israel não cessará os ataques. Destruiremos o Hamas e continuaremos a lutar até que o último dos reféns regresse para casa", escreveu Katz na rede social X (antigo Twitter).

Anteriormente, o ministro da Defesa israelense, Yoav Galant, deu uma declaração semelhante. Em comunicado emitido enquanto estava em visita ao EUA, ele afirmou que a ausência de uma vitória consolidada na Faixa de Gaza poderia aproximar Israel de uma guerra com o movimento libanês Hezbollah, com quem trava combates paralelos no sul do Líbano.

"Não temos o direito moral de parar com a guerra em Gaza até devolvermos todos os reféns às suas casas. Se não o fizermos, se não alcançarmos uma vitória clara e absoluta em Gaza, poderemos entrar em guerra também no Norte [sul do Líbano]."

Por sua vez, o Hamas celebrou a aprovação da resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o cessar-fogo durante a celebração do Ramadã, mas enfatizou a necessidade de um cessar-fogo permanente. O grupo afirmou ainda estar disposto a negociar com Israel uma troca imediata de reféns.

¨      Israel propõe libertar quase 800 prisioneiros palestinos em troca de 40 reféns

Israel teria entregado ao Hamas um documento com suas posições sobre as três fases do acordo que está sendo negociado para a libertação de prisioneiros, incluindo a disposição para libertar cerca de 800 prisioneiros palestinos por 40 reféns israelenses.

Citando fontes anônimas, o Canal 12, emissora de TV israelense, informou que no documento apresentado, Israel demonstrou flexibilidade em diversas pontos importantes.

Embora no âmbito das negociações realizadas em Paris em fevereiro Israel tenha dito que planejava libertar 400 prisioneiros palestinos em troca de 40 reféns – mulheres, crianças, doentes e idosos –, na primeira fase de um novo acordo, durante uma trégua de seis semanas, o país deverá agora libertar "quase o dobro", incluindo 100 condenados por homicídio.

Outros meios de comunicação israelense sugerem que o país está pronto para libertar 700 prisioneiros em troca dos 40 sequestrados.

O Canal 12 afirmou ainda que Israel espera uma resposta do líder do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, nos próximos três dias e considera que a possibilidade de se chegar a um acordo são "de 50 para 50".

A emissora acrescentou que, pela primeira vez nas negociações, Israel disse que está disposto a discutir a possibilidade de permitir que os palestinos que foram evacuados durante os combates retornem ao norte de Gaza. No entanto, não se trata de todos, uma vez que se pretende deixar de fora do acordo os homens em idade de lutar, indicou a mídia.

Israel segue mantendo "linhas vermelhas" que excluem uma retirada completa dos seus militares da Faixa de Gaza e insiste que a campanha para destruir o Hamas será retomada assim que o acordo for concretizado, acrescentou.

O Hamas, até então, tem exigido que qualquer nova libertação de reféns fosse acompanhada de um compromisso israelense de pôr fim à guerra, uma condição que Israel rejeitou.

 

Fonte: FolhaPress/Sputnik Brasil

 

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