sábado, 30 de março de 2024

CIA, a principal ferramenta do 'Estado profundo' americano

Há muito tempo que os americanos entregaram o destino de sua nação a homens não eleitos. Trata-se de espiões e tecnocratas que exercem um poder indizível na condução da política externa e doméstica dos Estados Unidos. Estamos falando justamente da Agência de Inteligência Central (CIA, na sigla em inglês).

Fundada originalmente em 1947 sob os auspícios do então presidente americano Harry Truman, a CIA começou sua história como uma agência de inteligência independente dentro do Poder Executivo estadunidense.

Pensada para o exercício de funções como coleta, avaliação e divulgação de informações que afetassem a segurança nacional dos Estados Unidos, não demorou muito para que a CIA recebesse poderes cada vez mais extraordinários, utilizados tanto para a espionagem em massa como para operações insidiosas no exterior.

Fato é que a CIA nunca se absteve de justificar o sigilo excessivo — e arbitrário — em torno de suas ações para proteger informações que comprometessem a organização. Isso só foi possível devido aos sucessivos fracassos do Congresso americano, que jamais conseguiu exercer uma vigilância adequada ou minimamente satisfatória sobre a agência de inteligência. Com isso, os segredos obscuros da CIA raramente foram divulgados ao público, seja por ex-operativos ou pela mídia.

No entanto, quando algum escândalo acabava ainda assim escapando do controle da organização, eram evidenciados casos de participação da CIA em conspirações de assassinato contra líderes políticos no exterior, apoio ativo e logístico a diversos golpes de Estado internacionais e ligações preferenciais com a elite financeira americana.

Para além disso, como depois veio a revelar Edward Snowden, ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), a CIA exercia vigilância atenta sobre uma lista incrivelmente abrangente de cidadãos americanos, em especial no ambiente virtual, podendo deduzir até mesmo seus pensamentos e seu grau de periculosidade para o "sistema".

Logo, os agentes da CIA e da NSA eram instruídos a agir preventivamente contra qualquer indivíduo que pudesse trazer algum tipo de prejuízo à organização e a seus interesses.

Contudo, essa não é nem de longe a única — nem a mais grave — das práticas reprováveis exercidas pela CIA ao longo de sua história. Outras investigações por parte do Congresso americano relevaram que a agência já trabalhou, por exemplo, em experimentos de controle mental por meio de psicotrópicos, o LSD, assim como em operações de infiltração na imprensa, por meio de jornalistas "selecionados".

Há indícios de que centenas de jornalistas — desde a década de 1950 até hoje — tenham sido agenciados pela CIA, no âmbito da operação Mockingbird, com o intuito de acompanhar o trabalho de redação dos maiores jornais dos Estados Unidos.

Esse, por si só, é um esforço que diz muito sobre a natureza insidiosa da CIA, instituição que obteve cada vez mais poderes e financiamento ao longo do tempo. Logo, resta demonstrado que um grupo seleto de funcionários não eleitos goza de imensos privilégios, recebendo carta branca do governo americano para implementar programas desconhecidos do grande público.

A CIA faz tudo isso no mais profundo sigilo, isenta de qualquer responsabilização direta, em parte porque o próprio Congresso dos Estados Unidos lhe fornece as condições para agir assim. Hoje, portanto, não há força política capaz de desafiar o poder da CIA, seja no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário. Soma-se a isso a percepção, por parte de alguns operativos da agência, de que eles estão na verdade "fazendo a coisa certa" pela nação, servindo e protegendo — à sua maneira — os interesses dos Estados Unidos no mundo.

A partir da esquerda, o diretor do FBI, Christopher Wray, o diretor do Comando Cibernético dos EUA, general Paul Nakasone, a diretora de Inteligência Nacional Avril Haines, o diretor da Agência Central de Inteligência, William J. Burns, e o diretor da Agência de Inteligência de Defesa, tenente-general Scott Berrier, reunidos no Senado dos EUA em 8 de março de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.03.2024

A partir da esquerda, o diretor do FBI, Christopher Wray, o diretor do Comando Cibernético dos EUA, general Paul Nakasone, a diretora de Inteligência Nacional Avril Haines, o diretor da Agência Central de Inteligência, William J. Burns, e o diretor da Agência de Inteligência de Defesa, tenente-general Scott Berrier, reunidos no Senado dos EUA em 8 de março de 2023

© AP Photo / Amanda Andrade-Rhoades

Não é de duvidar que muitos dentro da CIA tenham mesmo a convicção de que suas ações disruptivas e ilegítimas sejam justificáveis à luz de um "bem maior", que se reduz de forma cínica à sua perpetuação burocrática no âmago do aparato estatal americano. Com isso, a CIA representa um dos mais arraigados e engenhosos tentáculos do chamado "Estado profundo" estadunidense, capaz de influenciar o curso de sua política doméstica e externa, sem qualquer consideração pelas vítimas de suas ações.

No final das contas, temos uma situação em que a CIA é quem acaba controlando a Casa Branca, e não o contrário. Por outro lado, sempre que um novo vazamento acerca das atividades secretas da agência acaba milagrosamente vindo à tona, o cidadão americano comum se vê diante de verdadeiras barbaridades cometidas em nome da "segurança da América".

Em geral, este é um pequeno resumo da realidade da democracia americana, democracia essa composta por agências secretas que, ao agir nas sombras, dão lugar aos piores impulsos da natureza humana, facilmente corrompível por poder, status e dinheiro. Portanto, tenhamos uma coisa em mente: o destino da política externa americana não depende unicamente de quem venha a ser eleito o próximo presidente do país nas eleições de novembro deste ano.

Afinal, parte desse destino está nas mãos de agências como a CIA, cujo princípio orientador é o da própria sobrevivência. Foi assim que ela patrocinou e participou da realização de golpes de Estado na América Latina, no Oriente Médio, na África e no Leste Europeu ao longo das últimas décadas. Isso porque a paz, em resumo, não é do interesse da CIA.

Seu interesse é, sim, agir de maneira irrestrita e secreta, produzindo novas ameaças artificiais para os formuladores de políticas em Washington e mantendo o público americano cada vez mais alheio a suas atividades. Trata-se de um grupo de espiões profissionais e burocratas inescrupulosos que usam o discurso da proteção à segurança dos Estados Unidos para instigarem o caos pelo mundo, tornando-o inseguro e infringindo a liberdade de pessoas e de nações inteiras.

Enfim, falar da CIA é falar da principal ferramenta do chamado "Estado profundo" americano, razão pela qual alimentar esperanças quanto a uma possível mudança nas políticas em Washington é, ao mesmo tempo, ingênuo e infrutífero.

 

Ø  Ilusão perdida: Leste Europeu perdeu soberania e força econômica com expansão da OTAN, diz analista

 

Os países do Leste Europeu marcam os 20 anos desde a sua adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Além das consequências nefastas para a segurança internacional, a expansão da aliança militar ocidental levou a perda da democracia e empobrecimento nos países do Leste Europeu, dizem analistas ouvidos pela Sputnik Brasil.

Nesta sexta-feira (29), a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) marca os 20 anos de sua fatídica expansão para o Leste Europeu, integrando a Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovênia.

Enquanto países como a Lituânia realizaram desfiles militares para marcar a data ainda nesta quinta-feira (28), a Romênia anunciou investimentos para expandir a base de Mihail Kogalniceanu, instalada em seu território, e torná-la a maior base aérea da OTAN na Europa.

"Este tipo de atividade de membros da OTAN é de natureza provocativa e agrava as tensões militares ao longo de nossas fronteiras, criando ameaças adicionais à segurança russa", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, em resposta ao anúncio romeno. "O objetivo é preparar os membros do bloco militar para um conflito potencial com o nosso país."

A expansão da OTAN é amplamente considerada uma ruptura no equilíbrio estratégico entre a Rússia e forças ocidentais lideradas pelos EUA. Há também uma ruptura nos laços de confiança entre as partes, uma vez que o Ocidente estendeu garantias à liderança soviética, no contexto do fim da Guerra Fria, de que não expandiria suas forças para territórios a leste da Alemanha reunificada.

Mas as negociações para a expansão da aliança começaram pouco depois da queda do Muro de Berlim. Já em 1997, países como a Polônia, Hungria e a República Tcheca aderiram às fileiras da OTAN.

Em recente discurso proferido a pilotos da Força Aeroespacial russa, o presidente russo Vladimir Putin notou o impacto negativo da expansão da OTAN para a manutenção da estabilidade estratégica e segurança da Rússia.

"Eles vieram até as nossas fronteiras. […] Nós cruzamos o oceano e nos aproximamos das fronteiras dos EUA?", questionou o presidente Putin. "Não. São eles que se aproximam de nós, eles que chegaram até as nossas fronteiras."

O papel central que a expansão teve na eclosão do conflito ucraniano foi prevista por especialistas de todo o mundo, inclusive norte-americanos: o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, o ex-embaixador dos EUA na URSS, George Kennan, e o proeminente teórico de Relações Internacionais, John Mearsheimer, alertaram para os riscos desta iniciativa.

"Kissinger apontava para a importância que o Leste Europeu tinha, desde a queda do império alemão, para formar um colchão de segurança desejável entre Berlim e Moscou", disse o doutorando do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, Pedro Silva, à Sputnik Brasil. "O mesmo pode ser dito do período pós-Guerra Fria: os países do Leste Europeu, não alinhados nem à Rússia nem à OTAN, garantiam uma zona de segurança entre essas potências."

O ministro das Relações Exteriores da República Tcheca, Jan Kavan (sentado), assina o documento de adesão que inscreve a República Tcheca na OTAN, em 12 de março de 1999, na biblioteca Harry Truman em Independence, no Missouri, EUA.

Já George Kennan, um dos maiores especialistas norte-americanos em Rússia do século XX, classificou a expansão da OTAN para o Leste Europeu como "o erro mais fatídico da política americana em toda a era pós-Guerra Fria". Para ele, a expansão da OTAN causaria danos irreparáveis aos EUA, transformando a Rússia de parceira em adversária do Ocidente.

"Hoje sabemos que, no longo prazo, a expansão da OTAN gerou uma perda significativa para a segurança internacional", asseverou o especialista em Relações Internacionais Pedro Silva.

Déficit Democrático

As consequências nefastas para a paz e segurança internacionais que a expansão da OTAN causou são amplamente debatidas. No entanto, pouco é dito sobre os impactos negativos desta expansão para a manutenção da democracia no Leste Europeu.

"Existe uma perda de soberania, já que os países que entraram na aliança não podem mais decidir, a partir do seu próprio processo democrático, quais são as suas prioridades na área de segurança", afirmou Silva. "Caso a população de um país que atualmente integra a OTAN decida se retirar da aliança, será que ela realmente poderia fazer isso? A história mostra que não."

O especialista cita o caso de Portugal, que, quando aventou a possibilidade de se retirar da aliança foi visitado por um porta-aviões americano. A resposta dos EUA teria o objetivo de sinalizar que a saída da aliança militar não é uma opção.

"Entrar na OTAN é fácil. Difícil é sair. Após a Revolução dos Cravos, o governo revolucionário de Portugal considerava seriamente a saída do país da organização militar. Em uma bela manhã de 1975, Lisboa acorda com o porta-aviões USS Saratoga ancorado em frente ao Palácio de Belém", escreveu o especialista em Rússia, Rodrigo Ianhez, na plataforma X.

Pedro Silva ainda lembra o caso do então presidente francês, Charles de Gaulle, que questionou certas atividades da OTAN e demandou mais transparência por parte da aliança. Segundo Silva, a aliança eventualmente negociou com de Gaulle, já que a França é uma potência militar. "Mas não poderíamos esperar esse tratamento caso o questionamento fosse feito por países menores, como a Bulgária ou a Romênia", considerou.

"Todo Estado tem que ter o direito de andar pelas próprias pernas e o direito à autodeterminação, baseado na vontade popular", disse Silva. "O que vemos é que esse espaço para essas populações acabou."

·        Déficit Econômico

Além do déficit democrático, as consequências econômicas da expansão da OTAN para os países do Leste Europeu também são negativas, explica o professor de economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), José Menezes Gomes.

"A expansão da OTAN está estreitamente vinculada à expansão da União Europeia e da zona do euro. Havia o interesse de integrar esses países à dinâmica econômica europeia, garantindo a expansão do capital de França e Itália, mas, principalmente, em benefício do capital alemão", disse Menezes Gomes.

Para os países do Leste Europeu, no entanto, a adesão aos projetos econômicos e militares ocidentais levaram à perda de mão de obra, fuga de cérebros e significativo processo de desindustrialização.

"Esses países perderam a sua moeda, o seu Banco Central, sua identidade e autonomia", disse Menezes Gomes. "Abandonaram as políticas sociais, o que levou a emigração de sua população, que vive de trabalhos precários em países ricos do bloco europeu."

Além disso, a privatização em grande escala de empresas nacionais debilitou de maneira permanente o orçamento dos Estados da região. Apesar dos recursos escassos, esses países devem arcar com a demanda, por parte da OTAN, de expansão dos seus gastos militares.

Para Menezes Gomes, que é coautor do livro "Guerra da Ucrânia e Crise Mundial", organizado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Osvaldo Coggiola, os ganhos econômicos do conflito ucraniano não são auferidos pela Europa.

"Economicamente, quem ganha com o conflito ucraniano é os EUA", disse Gomes de Menezes. "Os países europeus foram obrigados a parar de comprar recursos energéticos russos e adquirir o equivalente norte-americano, a preços muito mais altos. Os equipamentos militares comprados pelos países da OTAN e pela Ucrânia também são dos EUA."

O encarecimento dos recursos energéticos leva à forte inflação em países como a Alemanha, gerando desindustrialização. Atrelado às perdas já sofridas pelo Leste Europeu, o resultado é desastroso para o futuro socioeconômico da Europa como um todo.

"A OTAN é apenas o preço mais caro que esses países pagam para entrar em um projeto de expansão ocidental mais amplo, que inclui também a União Europeia e a zona do euro. Os dados já mostram que os ganhos para o Leste Europeu eram ilusórios e o projeto europeu, uma falácia", concluiu Menezes Gomes.

 

Ø  Pentágono precisa 'acordar' para falta de sono das tropas, diz relatório de órgão do Congresso

 

Apesar das promessas dos líderes militares de resolver a falta de sono entre os soldados, a maioria deles ainda não consegue descansar o suficiente todas as noites para funcionar plenamente em seus postos de trabalho, alertaram investigadores em um relatório divulgado nesta semana.

"A fadiga e a privação de sono entre os militares da ativa continuam a ser mais a regra do que a exceção", escreveram investigadores do Government Accountability Office (GAO) em conclusões divulgadas ao Congresso na última terça-feira (26). "A deficiência causada pela fadiga pode ser equivalente aos efeitos da intoxicação alcoólica e aumenta o risco de colisões e acidentes", aponta o órgão responsável por auditoria, avaliações e investigações do Congresso dos Estados Unidos.

Estudos anteriores realizados por funcionários do Departamento de Defesa mostraram que o pessoal da ativa tem duas vezes mais probabilidade do que os seus homólogos civis de dormir menos de sete horas por noite, levando a um risco grande de acidentes e erros nas tarefas diárias.

De acordo com o portal Air Force Times, o novo estudo afirma que pouco progresso foi feito em relação ao problema nos últimos anos, apesar de os responsáveis militares terem prometido que a questão seria levada a sério.

A pesquisa com oficiais militares realizada pelo GAO revelou que mais de um em cada quatro entrevistados dormia seis horas ou menos por noite, e metade de todos os entrevistados classificaram a qualidade do sono como ruim ou extremamente ruim.

Entre os problemas foram relatadas longas horas passadas no trabalho, destacamentos que interromperam os padrões de sono e problemas médicos do serviço militar que afetaram a capacidade de descanso das tropas.

O relatório, no entanto, considerou promissores alguns projetos e diretrizes de alguns serviços militares individuais concebidos para ajudar no descanso das tropas, mas observou que os esforços não são generalizados e que, portanto, conduzem a resultados incompletos e que por ora não podem ser analisados.

Em 2021, investigadores do Departamento de Defesa delinearam várias recomendações para resolver o problema, incluindo a adoção de novos horários de serviço para garantir oito horas de sono, enfatizando a importância do tema para os líderes militares norte-americanos.

O novo estudo, porém, revela que é preciso avançar com as mudanças atrasadas e designar líderes dentro das Forças Armadas e do Pentágono para conduzir tais esforços, uma vez que as autoridades de defesa geralmente concordaram com as ideias, mas não forneceram nenhum cronograma de aplicação ou não informaram se as mudanças seriam feitas, segundo investigadores do GAO.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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