quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Human Rights Watch: Israel descumpre ordem da Corte de Haia que exige ajuda humanitária a Gaza

A organização Human Rights Watch (HRW) afirmou, nesta segunda-feira (26/02), que Israel não cumpriu nenhuma das medidas ordenadas pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), no caso em que a África do Sul acusa o governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu de cometer genocídio contra o povo palestino. 

Ao alertar sobre as “condições catastróficas” em Gaza, o mais alto tribunal das Nações Unidas, sediada em Haia, havia ordenado a Israel, em 26 de janeiro, a tomar “medidas imediatas e eficazes para permitir a prestação de serviços básicos e ajuda humanitária” na região. O organismo determinou o prazo de um mês para que Tel Aviv enviasse informa sobre as medidas que está tomando para evitar o crime de genocídio.

No entanto, após um mês, Israel continua interferindo na entrada e na distribuição de recursos no território palestino, incluindo bens essenciais como combustível e alimento. 

A Human Rights Watch classificou, nesse sentido, as ações do governo israelense como “punição coletiva que equivale a crimes de guerra e inclui o uso da fome de civis como arma de guerra”.

Segundo o gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA), ainda menos caminhões e missões de ajuda foram autorizados a entrar em Gaza, após a decisão proferida pela CIJ.

“O governo israelense está matando de fome os 2,3 milhões de palestinos em Gaza, colocando-os em perigo ainda maior do que antes da ordem vinculativa da CIJ”, afirmou Omar Shakir, o diretor responsável pela questão Israel e Palestina da Human Rights Watch, acrescentando que Tel Aviv “ignorou a decisão do tribunal e, de certa forma, até intensificou a sua repressão”.

O organismo ainda recomendou que a comunidade internacional deveria usar “todas as formas de influência, incluindo sanções e embargos para pressionar” Netanyahu no cumprimento das medidas colocadas pela CIJ.

Segundo o OCHA, no momento, apenas uma das linhas de abastecimento de água permanece operando em Gaza, e de forma parcial, devido aos cortes e à destruição generalizada da infraestrutura do território palestino, fruto das operações militares israelenses.

A agência também fez um levantamento que concluiu que o número médio diário de caminhões que transportam alimentos, ajuda e medicamentos, caiu mais de um terço nas semanas seguintes após a decisão do tribunal: foram 93 caminhões, entre 27 de janeiro e 21 de fevereiro de 2024, em comparação com os 147 caminhões entre 1 e 26 de janeiro.

Já antes de 7 de outubro, uma média de 500 caminhões de alimentos e mercadorias entravam em Gaza todos os dias.

A Human Rights Watch também documentou que “altos responsáveis israelenses articularam uma política para privar os civis de alimentos, água e combustível", enquanto o próprio Israel culpa a ONU pelos atrasos na distribuição e acusa o Hamas de desviar a ajuda humanitária.

Entre 1 e 15 de fevereiro, o governo de Israel apenas facilitou duas das 21 missões planejadas para fornecer combustível ao norte da área de Wadi Gaza, localizada no centro do enclave. Menos de 20% das missões destinadas à entrega do recurso foram facilitadas entre 1 de janeiro e 15 de fevereiro, em comparação com os 86% das missões planejadas entre outubro e dezembro, de acordo com o OCHA.

·        Corte de financiamentos à UNRWA

Segundo a Human Rights Watch, as autoridades israelenses tomaram medidas para minar o trabalho da Agência das Nações Unidas de Assistência a Refugiados Palestinos (UNRWA), o maior fornecedor de ajuda humanitária em Gaza, do qual dependem mais de metade das outras organizações para a realização de operações na região.

Israel alegou que pelo menos 12 dos 30 mil funcionários da agência da ONU tiveram participação nos ataques de 7 de outubro, e incentivou países a cortarem o financiamento destinado ao organismo.

Nesse contexto, o ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, declarou ter bloqueado um carregamento de farinha financiado pelos Estados Unidos com destino a Gaza "porque se dirigia para a UNRWA".

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) concluiu que 90% das crianças com menos de dois anos e 95% das mulheres grávidas e lactantes enfrentam “grave pobreza alimentar”. Neste mês ainda, a organização Save the Children disse que as famílias em Gaza “são forçadas a procurar restos de comida deixados por ratos e a comer folhas no desespero para sobreviver”, apontando que “1,1 milhão de crianças em Gaza [estão] enfrentando a fome”.

 

Ø  Jornalistas britânicos e norte-americanos pedem que Israel libere acesso da imprensa internacional a Gaza

 

Mais de 50 jornalistas que trabalham para emissoras de televisão britânicas e norte-americanas, incluindo a BBC e a CNN, escreveram aos governos israelense e egípcio para exigir “acesso livre e desimpedido” a Gaza para os meios de comunicação estrangeiros.

“Quase cinco meses após o início da guerra em Gaza, os jornalistas estrangeiros ainda não têm acesso a este território, salvo raras visitas sob escolta do Exército israelense”, sublinham os jornalistas em carta publicada nesta quarta-feira (28/02).

Os signatários são correspondentes ou apresentadores baseados em Londres que trabalham para as redes de tevê britânicas BBC, Sky News, ITV, Channel 4 e para os canais norte-americanos CNN, ABC, NBC e CBS.

“Fazemos um apelo aos governos israelense e egípcio para permitirem a todos os meios de comunicação estrangeiros acesso livre e desimpedido a Gaza”, escrevem.

“Pedimos ao governo israelense para (...) permitir que jornalistas internacionais trabalhem em Gaza e às autoridades egípcias para permitirem que jornalistas internacionais tenham acesso ao ponto de passagem de Rafah”, acrescentam.

Apenas alguns meios de comunicação, incluindo a AFP, têm jornalistas em Gaza. São palestinos que já estavam no território antes da guerra em 7 de outubro.

Desde então, quase 30 mil pessoas foram mortas na Faixa de Gaza, bombardeada diariamente pelo Exército israelense. A ONU estima que 2,2 milhões de pessoas correm o risco de passar fome.

Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, pelo menos 85 profissionais da comunicação morreram na Faixa de Gaza desde o início do conflito, um número ainda maior, segundo outras fontes. 

“É essencial que a segurança dos jornalistas locais seja respeitada e que seus esforços sejam apoiados pelo jornalismo e membros da mídia internacional”, disse o correspondente da Sky News, Alex Crawford.

“Só posso presumir que Israel não permite que jornalistas trabalhem livremente dentro de Gaza, porque seus soldados fazem coisas que não querem que vejamos”, disse Jeremy Bowen, da BBC.

"Relatórios de jornalistas estrangeiros poderiam confirmar a afirmação de Israel de que, para usar uma expressão comum no país, 'este é o exército mais moral do mundo'", continuou ele, antes que "jornalistas estrangeiros pudessem descobrir provas que confirmassem alegações de crimes de guerra e, ainda mais grave, de genocídio". “Até entrarmos nunca saberemos”, frisou o jornalista.

·        Dia de apoio aos jornalistas palestinos

O dia 26 de fevereiro foi declarado “dia mundial de apoio aos jornalistas palestinos”. A iniciativa partiu do Sindicato dos Jornalistas da Jordânia, que fez um apelo para que todos os jornalistas e profissionais de comunicação do reino tomassem posição, em solidariedade aos jornalistas palestinos. 

Na segunda-feira, cerca de 50 diretores de veículos de comunicação, editores-chefes e repórteres da Jordânia decidiram se reunir e fornecer informações sobre a situação dos colegas palestinos que atualmente cobrem a situação na Faixa de Gaza. A iniciativa recebeu o apoio da Federação Internacional de Jornalistas.

“Este protesto visa enviar uma mensagem aos nossos irmãos, irmãs, colegas jornalistas que trabalham atualmente na Faixa de Gaza, que fazem um trabalho excelente e sem precedentes, com coragem e determinação”, explica Hassan Choubaki, diretor do escritório da Al Jazeera em Amã.

·        Mais de cem jornalistas mortos em Gaza

Hamza al-Dahdouh, Mustafa Thuraya são alguns jornalistas palestinos que morreram cobrindo a guerra em Gaza.

Organizações como Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê para a Proteção dos Jornalistas denunciam o ataque deliberado a jornalistas.

“Aqui, temos quase dez sindicatos de jornalistas jordanianos mobilizados em prol dos jornalistas palestinos. Nós, na Jordânia, tivemos que fazê-lo, porque estamos muito próximos do conflito. Os repórteres palestinos documentam a realidade de Gaza sob escombros e numa situação terrivelmente complicada", diz Basil Okoor, editor-chefe de um canal de televisão local.

De acordo com o último relatório da Sociedade de Jornalistas de Imprensa Palestinos, publicado no início do ano, 102 jornalistas foram mortos na sequência dos bombardeios israelenses, ou quase 8,5% dos jornalistas em Gaza.

 

Fonte: Opera Mundi/RFI

 

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