quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O 8 de Janeiro: prenúncio de um desmoronamento

A nova e raivosa direita não quer encontrar soluções para os problemas, mas destruir as instituições democráticas a fim de erguer uma estrutura social dentro da sua concepção reacionária de mundo.Há cerca de um ano, apoiadores fanáticos do presidente derrotado nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro, atacaram as instituições da jovem democracia brasileira. A turba provocou incêndios, quebrou janelas, destruiu obras de arte, defecou em móveis históricos e quebrou aparelhos eletrônicos. A destruição estava por todos os lados no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal e no Palácio do Planalto, e os danos materiais chegaram à casa dos milhões de reais.

O que inicialmente parecia uma revolta espontânea de alguns milhares de fanáticos que conseguiram entrar nos edifícios devido a falhas das forças de segurança acabou se revelando uma ação organizada: financiada por empresários, fomentada através das redes sociais e tornada possível pela inação das forças de segurança, ela deveria instigar um golpe militar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomara posse uma semana antes. Os criminosos foram acompanhados por meios de comunicação, como a emissora Jovem Pan, uma porta-voz do bolsonarismo, que tentou apresentá-los como “cidadãos preocupados”.

Hoje as consequências da destruição não são mais visíveis em Brasília, e os acontecimentos foram amplamente esclarecidos. Muitos dos responsáveis ​​foram indiciados, muitos agressores estão atrás das grades, e a boa notícia é que a democracia do Brasil mostrou que sabe se defender. Suas instituições funcionam, especialmente o Judiciário.

Mas a pergunta fica: a democracia saiu realmente fortalecida ou aqueles acontecimentos são apenas o prenúncio de um desmoronamento que pode ser observado por todo o mundo. O ataque às instituições democráticas do Brasil não criou um consenso social de rejeição, mas ampliou ainda mais o isolamento do bolsonarismo. Hoje, mais do que nunca, os bolsonaristas acreditam que estão sendo perseguidos e oprimidos. É uma característica típica de todos os movimentos fanáticos.

Não há dúvida de que as democracias ocidentais são profundamente falhas. Nos EUA é preciso ser rico para ser eleito, e o sistema eleitoral não deixa espaço para vozes alternativas a democratas e republicanos, que já não são mais partidos políticos pulsantes de vivas ramificações sociais, mas representantes de poderosos interesses econômicos. Na Alemanha, ninguém chega ao topo se não tiver passado anos dentro de um aparato partidário que elimina todo o pensamento criativo e inusitado. No Brasil, o Congresso, composto predominantemente de homens ricos e brancos, não representa a população, mas os interesses das grandes empresas e da agricultura. Em todos esses três países, um Estado visto como elitista gasta grandes somas de dinheiro dos contribuintes. Mas especialmente no Brasil os cidadãos não recebem nada em troca de seus impostos.

É um dever histórico corrigir esses erros. Mas a chamada Nova Direita não quer reformar a democracia: quer destruir suas instituições e colocá-las a seu serviço. O perigo para a democracia vem de dentro. Do bolsonarismo no Brasil, do trumpismo nos EUA, da AfD na Alemanha. O novo presidente da Argentina, Javier Milei, até declara abertamente que quer colocar o país sob o estado de emergência para levar adiante seu programa de choque ultraliberal.

A ascensão desses homens e grupos tem muito a ver com a desierarquização da informação nas redes sociais. Hoje, qualquer pessoa pode alegar qualquer coisa e sempre vai achar alguém que acredite nela. Isso levou grandes setores da população a se desconectarem da realidade e serem levados pela manipulação – até porque muitos influenciadores nas redes sociais transformaram mentiras e provocações num modelo de negócio.

Um estudo publicado recentemente mostra que a maioria dos apoiadores de Bolsonaro continua vivendo numa bolha mais de um ano depois de ele ter perdido a eleição presidencial. Qualquer coisa que não corresponda à sua visão de mundo está errada. Os dados oficiais sobre o crescimento econômico, o declínio do desemprego e da inflação são desqualificados como propaganda porque não pode ser verdade que a economia esteja indo bem sob Lula.

Muitos brasileiros nunca aprenderam a questionar criticamente informações. Eles tanto mais acreditam em algo quanto mais fortemente isso reforçar uma determinada opinião ou sentimento já existentes. Não só no Brasil, mas especialmente no Brasil, os jovens não aprendem a interpretar criticamente um texto ou um filme: que eles criam uma imagem subjetiva da realidade, que perseguem uma intenção e utilizam diferentes meios retóricos e artísticos para consegui-la. A ausência dessa habilidade torna as pessoas extremamente manipuláveis, pois elas entendem tudo literalmente. A máquina de propaganda bolsonarista funciona sobre essa base, tal como a de Trump. Cada bobagem, cada meia verdade, cada mentira, cada difamação são celebradas.

Nenhuma democracia pode suportar isso por muito tempo, porque falta uma base comum para o debate. É impossível resolver problemas (tarefa primária da política) se não houver nem mesmo consenso de que existe um problema. Como é possível implementar medidas contra as alterações climáticas se um dos lados insiste que as alterações climáticas não existem? Historicamente, esse sempre foi o melhor caminho para o ocaso de qualquer sociedade.

Antigamente, conservadores e progressistas debatiam sobre a melhor forma de resolver problemas sociais. A nova e raivosa direita não está nem aí para resolver problemas. Ela quer é derrubar o sistema democrático, que afirma já não cumprir a vontade do povo, que ela representaria. Trump, Bolsonaro, Milei e a AfD não são conservadores ou direitistas clássicos que querem preservar alguma coisa. São revolucionários reacionários que querem destruir a estrutura social existente para erguer, sobre os escombros, uma nova, dentro da sua concepção.

É por isso que o 8 de Janeiro de 2022 não acabou, mas continua sendo uma ameaça.

 

Ø  Ministério da Justiça diz que não há preocupação com segurança para 8 de janeiro

 

O ministro interino da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, afirmou nesta quarta-feira, 3, que não há “preocupação maior” sobre a segurança do ato que vai relembrar o aniversário de um ano dos ataques de 8 de janeiro em Brasília. Em entrevista à Rádio Eldoradoo número 2 do ministério foi questionado sobre a movimentação de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em direção à capital federal neste início do ano e se haveria controle dos ônibus que entram na cidade.

“A segurança será reforçada, haverá monitoramento. O monitoramento está em curso”, respondeu Cappelli. “Até o momento, não há nada que gere preocupação maior, adicional. Claro que essas informações de inteligência mudam todo dia, mas até o momento não há nada que gere preocupação.”

Autoridades do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) se reuniram na semana passada para discutir o esquema de segurança do evento. O objetivo da cerimônia é lembrar os ataques aos prédios públicos e reforçar compromissos com a democracia. O ato contará com a presença dos chefes dos Três Poderes e de governadores estaduais.

Alguns dos governadores mais alinhados ao ex-presidente, como Ibaneis Rocha (MDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), já avisaram que não vão comparecer por estarem de férias. Como mostrou a Coluna do Estadão, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiropediu aos comandantes militares que reservem suas agendas em 8 de janeiro de 2024. Ele faz questão que as Forças Armadas estejam no evento preparado pelo Palácio do Planalto.

·        Cappelli defende gestão de Dino na segurança pública

Cappelli é braço direito de Flávio Dino desde que o próximo ministro do STF era governador no Maranhão. Ele é cotado para assumir o lugar de Dino no ministério e chefia a pasta enquanto o titular está de férias. Na entrevista à Eldorado, Cappelli defendeu a gestão atual na área de segurança pública e argumentou por uma maior integração entre as diferentes corporações de polícia.

“O que nós construímos esse ano (2023), independentemente da escolha que o presidente Lula deve fazer em breve, esse caminho tem se mostrado correto”, disse. “Não há outro caminho para enfrentar o crime organizado que não seja o Susp (Sistema Único de Segurança Pública), a integração entre guarda municipal, polícias estaduais e federal.”

Ele destacou que o efetivo da Polícia Federal (PF) não é suficiente para combater crimes de fronteira e disse não haver espaço fiscal para aumentar o número de agentes. Por isso, para Cappelli, a única saída seria a integração entre as forças de segurança. O número 2 do Ministério da Justiça citou o instrumento de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) aplicado a portos e aeroportos do Rio de Janeiro como exemplo de êxito nessa integração.

“O que está saindo da GLO hoje é que conseguimos colocar na mesma mesa PF, PRF (Polícia Rodoviária Federal) e Receita Federal junto com Exército, Marinha e Aeronáutica discutindo segurança pública”, afirmou. “O principal legado da GLO é a integração.”

O ministro interino citou como outra prioridade o combate ao crime organizado nos presídios e o enfrentamento a crimes financeiros. Sobre esse último assunto, Cappelli afirmou que o ministério está montando uma unidade de inteligência financeira da PF com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

·        Segurança reforçada no DF e monitoramento de bolsonaristas

Os governos federal e do Distrito Federal devem acertar nesta quinta os detalhes do plano de segurança para o dia 8 de janeiro, quando haverá no Congresso uma cerimônia conjunta dos Três Poderes em defesa da democracia.

O evento ocorrerá exatamente um ano depois dos atos golpistas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que invadiram e vandalizaram prédios públicos em Brasília.

Em entrevista à Rádio Eldorado, o ministro da Justiça e Segurança Pública em exercício, Ricardo Cappelli, disse que o esquema de segurança será reforçado e já conta com um monitoramento de bolsonaristas, mas ressaltou que “até o momento não há nada que gere preocupação”. Segundo ele, diferentemente de um ano atrás, existe agora “uma relação bastante cooperativa com a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal”.

 

Ø  Autoridades monitoram grupos bolsonaristas sobre possíveis atos em Brasília

 

O setor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal monitora redes sociais de grupos bolsonaristas que discutem organizam protestos na próxima segunda, 8 de janeiro. A data marca um ano da tentativa fracassada de golpe de Estado, em que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições de 2022, invadiram e depredaram as sedes dos três poderes, em Brasília.

Já o governo federal avalia que, por ora, os diálogos não apontam para uma grande mobilização na Esplanada. Mesmo assim, até esta quinta-feira autoridades da área de segurança vão apresentar um plano integrado de ações para garantir a segurança durante a realização do ato proposto no final do ano pelo presidente Lula para celebrar a democracia.

Segundo o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, o evento contará com a presença dos presidentes dos três poderes, bem como de governadores, parlamentares, representantes da sociedade civil, ministros e presidentes de Tribunais de Justiça estaduais e de assembleias legislativas dos estados.

·        8 de janeiro será festa da democracia

No último dia 26, Cappelli afirmou que o evento será “um ato de celebração democrática, com todas as autoridades do Brasil; e um momento de festa para celebrar a democracia revigorada após os atos inaceitáveis do dia 8 de janeiro de 2023”. Segundo ele, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estarão, até o dia 8, monitorando “qualquer movimentação atípica relacionada a atos que ameacem os poderes”.

– Volto a dizer: o Brasil é um país livre e democrático. As manifestações são sempre bem-vindas e próprias da democracia. O que vamos monitorar são iniciativas que atentem contra os poderes constituídos – ressaltou Cappelli.

·        O que foram os atos golpistas

Em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse de Lula, bolsonaristas romperam barreiras de proteção e invadiram o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Foram causados danos em quadros, bens públicos históricos, além de mobiliário. Uma das Casa mais afetadas foi o STF, que precisou de reconstrução completa.

Ao longo do governo Bolsonaro, o Supremo foi o mais atacado em discursos do ex-presidente, que também mobilizava sues discursos contra os ministros da Corte. Bolsonaro também estimulou a rejeição ao processo eleitoral ao divulgar uma série de mentiras sobre fraudes.

Até o momento o Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos do Ministério Público Federal (MPF) denunciou 1.413 pessoas. São 1.156 incitadores, 248 executores, oito agentes públicos e um financiador. O STF já condenou 30 pessoas a partir de denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O grupo responde pelos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

 

Fonte: Deutsche Welle/Agencia Estado/RBA

 

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