O 8 de Janeiro: prenúncio de um desmoronamento
A nova e raivosa direita não quer encontrar
soluções para os problemas, mas destruir as instituições democráticas a fim de
erguer uma estrutura social dentro da sua concepção reacionária de mundo.Há
cerca de um ano, apoiadores fanáticos do presidente derrotado nas eleições de
2022, Jair Bolsonaro, atacaram as instituições da jovem democracia brasileira.
A turba provocou incêndios, quebrou janelas, destruiu obras de arte, defecou em
móveis históricos e quebrou aparelhos eletrônicos. A destruição estava por todos
os lados no Congresso Nacional, no Supremo Tribunal Federal e no Palácio do
Planalto, e os danos materiais chegaram à casa dos milhões de reais.
O que inicialmente parecia uma revolta espontânea
de alguns milhares de fanáticos que conseguiram entrar nos edifícios devido a
falhas das forças de segurança acabou se revelando uma ação organizada:
financiada por empresários, fomentada através das redes sociais e tornada
possível pela inação das forças de segurança, ela deveria instigar um golpe
militar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomara posse uma
semana antes. Os criminosos foram acompanhados por meios de comunicação, como a
emissora Jovem Pan, uma porta-voz do bolsonarismo, que tentou apresentá-los
como “cidadãos preocupados”.
Hoje as consequências da destruição não são mais
visíveis em Brasília, e os acontecimentos foram amplamente esclarecidos. Muitos
dos responsáveis foram indiciados, muitos agressores estão atrás das grades, e a boa notícia é que a democracia do Brasil mostrou que sabe se defender. Suas instituições funcionam, especialmente o Judiciário.
Mas a pergunta fica: a democracia saiu realmente
fortalecida ou aqueles acontecimentos são apenas o prenúncio de um
desmoronamento que pode ser observado por todo o mundo. O ataque às
instituições democráticas do Brasil não criou um consenso social de rejeição,
mas ampliou ainda mais o isolamento do bolsonarismo. Hoje, mais do que nunca,
os bolsonaristas acreditam que estão sendo perseguidos e oprimidos. É uma
característica típica de todos os movimentos fanáticos.
Não há dúvida de que as democracias ocidentais são
profundamente falhas. Nos EUA é preciso ser rico para ser eleito, e o sistema
eleitoral não deixa espaço para vozes alternativas a democratas e republicanos,
que já não são mais partidos políticos pulsantes de vivas ramificações sociais,
mas representantes de poderosos interesses econômicos. Na Alemanha, ninguém
chega ao topo se não tiver passado anos dentro de um aparato partidário que
elimina todo o pensamento criativo e inusitado. No Brasil, o Congresso,
composto predominantemente de homens ricos e brancos, não representa a
população, mas os interesses das grandes empresas e da agricultura. Em todos
esses três países, um Estado visto como elitista gasta grandes somas de
dinheiro dos contribuintes. Mas especialmente no Brasil os cidadãos não recebem
nada em troca de seus impostos.
É um dever histórico corrigir esses erros. Mas a
chamada Nova Direita não quer reformar a democracia: quer destruir suas
instituições e colocá-las a seu serviço. O perigo para a democracia vem de
dentro. Do bolsonarismo no Brasil, do trumpismo nos EUA, da AfD na Alemanha. O
novo presidente da Argentina, Javier Milei, até declara abertamente que quer
colocar o país sob o estado de emergência para levar adiante seu programa de
choque ultraliberal.
A ascensão desses homens e grupos tem muito a ver
com a desierarquização da informação nas redes sociais. Hoje, qualquer pessoa
pode alegar qualquer coisa e sempre vai achar alguém que acredite nela. Isso
levou grandes setores da população a se desconectarem da realidade e serem
levados pela manipulação – até porque muitos influenciadores nas redes sociais
transformaram mentiras e provocações num modelo de negócio.
Um estudo publicado recentemente mostra que a
maioria dos apoiadores de Bolsonaro continua vivendo numa bolha mais de um ano
depois de ele ter perdido a eleição presidencial. Qualquer coisa que não
corresponda à sua visão de mundo está errada. Os dados oficiais sobre o
crescimento econômico, o declínio do desemprego e da inflação são
desqualificados como propaganda porque não pode ser verdade que a economia
esteja indo bem sob Lula.
Muitos brasileiros nunca aprenderam a questionar
criticamente informações. Eles tanto mais acreditam em algo quanto mais
fortemente isso reforçar uma determinada opinião ou sentimento já existentes.
Não só no Brasil, mas especialmente no Brasil, os jovens não aprendem a
interpretar criticamente um texto ou um filme: que eles criam uma imagem
subjetiva da realidade, que perseguem uma intenção e utilizam diferentes meios
retóricos e artísticos para consegui-la. A ausência dessa habilidade torna as
pessoas extremamente manipuláveis, pois elas entendem tudo literalmente. A
máquina de propaganda bolsonarista funciona sobre essa base, tal como a de
Trump. Cada bobagem, cada meia verdade, cada mentira, cada difamação são
celebradas.
Nenhuma democracia pode suportar isso por muito
tempo, porque falta uma base comum para o debate. É impossível resolver
problemas (tarefa primária da política) se não houver nem mesmo consenso de que
existe um problema. Como é possível implementar medidas contra as alterações
climáticas se um dos lados insiste que as alterações climáticas não existem?
Historicamente, esse sempre foi o melhor caminho para o ocaso de qualquer
sociedade.
Antigamente, conservadores e progressistas debatiam
sobre a melhor forma de resolver problemas sociais. A nova e raivosa direita
não está nem aí para resolver problemas. Ela quer é derrubar o sistema
democrático, que afirma já não cumprir a vontade do povo, que ela
representaria. Trump, Bolsonaro, Milei e a AfD não são conservadores ou
direitistas clássicos que querem preservar alguma coisa. São revolucionários
reacionários que querem destruir a estrutura social existente para erguer,
sobre os escombros, uma nova, dentro da sua concepção.
É por isso que o 8 de Janeiro de 2022 não acabou,
mas continua sendo uma ameaça.
Ø Ministério
da Justiça diz que não há preocupação com segurança para 8 de janeiro
O ministro interino da Justiça e Segurança
Pública, Ricardo
Cappelli, afirmou nesta quarta-feira, 3, que não há “preocupação maior”
sobre a segurança do ato que vai relembrar o aniversário de um ano dos ataques de 8 de janeiro em Brasília. Em entrevista à Rádio Eldorado, o número 2
do ministério foi questionado sobre a movimentação de apoiadores do
ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) em direção à capital federal neste início do ano e se haveria
controle dos ônibus que entram na cidade.
“A segurança será reforçada, haverá monitoramento.
O monitoramento está em curso”, respondeu Cappelli. “Até o momento, não há nada
que gere preocupação maior, adicional. Claro que essas informações de
inteligência mudam todo dia, mas até o momento não há nada que gere
preocupação.”
Autoridades do Palácio do Planalto, do Congresso
Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) se reuniram na semana passada para discutir o esquema de segurança do
evento. O objetivo da cerimônia é lembrar os ataques aos prédios públicos e
reforçar compromissos com a democracia. O ato contará com a presença dos chefes
dos Três Poderes e de governadores estaduais.
Alguns dos governadores mais alinhados ao
ex-presidente, como Ibaneis
Rocha (MDB) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), já avisaram que não vão comparecer por estarem de férias. Como
mostrou a Coluna do Estadão, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, pediu aos comandantes militares que reservem suas agendas em 8 de
janeiro de 2024. Ele faz questão que as Forças Armadas estejam no evento
preparado pelo Palácio do Planalto.
·
Cappelli defende gestão de Dino na segurança pública
Cappelli é braço direito de Flávio Dino desde que o
próximo ministro do STF era governador no Maranhão. Ele é cotado para assumir o lugar de Dino no ministério
e chefia a pasta enquanto o titular está de férias. Na entrevista à Eldorado,
Cappelli defendeu a gestão atual na área de segurança pública e argumentou por
uma maior integração entre as diferentes corporações de polícia.
“O que nós construímos esse ano (2023),
independentemente da escolha que o presidente Lula deve fazer em breve, esse
caminho tem se mostrado correto”, disse. “Não há outro caminho para enfrentar o
crime organizado que não seja o Susp (Sistema Único de Segurança
Pública), a integração entre guarda municipal, polícias estaduais e
federal.”
Ele destacou que o efetivo da Polícia
Federal (PF) não é suficiente para combater crimes de fronteira e disse não haver
espaço fiscal para aumentar o número de agentes. Por isso, para Cappelli, a
única saída seria a integração entre as forças de segurança. O número 2 do
Ministério da Justiça citou o instrumento de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) aplicado a portos e
aeroportos do Rio de Janeiro como exemplo de êxito nessa integração.
“O que está saindo da GLO hoje é que conseguimos
colocar na mesma mesa PF, PRF (Polícia Rodoviária Federal) e
Receita Federal junto com Exército, Marinha e Aeronáutica discutindo segurança
pública”, afirmou. “O principal legado da GLO é a integração.”
O ministro interino citou como outra prioridade o
combate ao crime organizado nos presídios e o enfrentamento a crimes
financeiros. Sobre esse último assunto, Cappelli afirmou que o ministério está
montando uma unidade de inteligência financeira da PF com o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
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Segurança reforçada no DF e monitoramento de
bolsonaristas
Os governos federal e do Distrito Federal devem
acertar nesta quinta os detalhes do plano de segurança para o dia 8 de janeiro,
quando haverá no Congresso uma cerimônia conjunta dos Três Poderes em defesa da
democracia.
O evento ocorrerá exatamente um ano depois dos atos
golpistas de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, que invadiram e
vandalizaram prédios públicos em Brasília.
Em entrevista à Rádio Eldorado, o ministro da
Justiça e Segurança Pública em exercício, Ricardo Cappelli, disse que o esquema
de segurança será reforçado e já conta com um monitoramento de bolsonaristas,
mas ressaltou que “até o momento não há nada que gere preocupação”. Segundo
ele, diferentemente de um ano atrás, existe agora “uma relação bastante
cooperativa com a Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal”.
Ø Autoridades
monitoram grupos bolsonaristas sobre possíveis atos em Brasília
O setor de inteligência da Secretaria de Segurança
Pública do Distrito Federal monitora redes sociais de grupos bolsonaristas que
discutem organizam protestos na próxima segunda, 8 de janeiro. A data marca um
ano da tentativa fracassada de golpe de Estado, em que apoiadores do
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições de 2022, invadiram e
depredaram as sedes dos três poderes, em Brasília.
Já o governo federal avalia que, por ora, os
diálogos não apontam para uma grande mobilização na Esplanada. Mesmo assim, até
esta quinta-feira autoridades da área de segurança vão apresentar um plano
integrado de ações para garantir a segurança durante a realização do ato
proposto no final do ano pelo presidente Lula para celebrar a democracia.
Segundo o secretário-executivo do Ministério da
Justiça, Ricardo Cappelli, o evento contará com a presença dos presidentes
dos três poderes, bem como de governadores, parlamentares, representantes
da sociedade civil, ministros e presidentes de Tribunais de Justiça estaduais e
de assembleias legislativas dos estados.
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8 de janeiro será festa da democracia
No último dia 26, Cappelli afirmou que o evento
será “um ato de celebração democrática, com todas as autoridades do Brasil; e
um momento de festa para celebrar a democracia revigorada após os atos
inaceitáveis do dia 8 de janeiro de 2023”. Segundo ele, a Polícia Rodoviária
Federal (PRF) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) estarão,
até o dia 8, monitorando “qualquer movimentação atípica relacionada a atos que
ameacem os poderes”.
– Volto a dizer: o Brasil é um país livre e
democrático. As manifestações são sempre bem-vindas e próprias da democracia. O
que vamos monitorar são iniciativas que atentem contra os poderes constituídos
– ressaltou Cappelli.
·
O que foram os atos golpistas
Em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse de
Lula, bolsonaristas romperam barreiras de proteção e invadiram o Palácio do
Planalto, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional. Foram
causados danos em quadros, bens públicos históricos, além de mobiliário. Uma
das Casa mais afetadas foi o STF, que precisou de reconstrução completa.
Ao longo do governo Bolsonaro, o Supremo foi o mais
atacado em discursos do ex-presidente, que também mobilizava sues discursos
contra os ministros da Corte. Bolsonaro também estimulou a rejeição ao processo
eleitoral ao divulgar uma série de mentiras sobre fraudes.
Até o momento o Grupo Estratégico de Combate aos
Atos Antidemocráticos do Ministério Público Federal (MPF) denunciou 1.413
pessoas. São 1.156 incitadores, 248 executores, oito agentes públicos e um
financiador. O STF já condenou 30 pessoas a partir de denúncias apresentadas
pela Procuradoria-Geral da República (PGR). O grupo responde pelos crimes de
associação criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de
direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e
deterioração de patrimônio tombado.
Fonte: Deutsche Welle/Agencia Estado/RBA
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