sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Netanyahu diz que conflito em Gaza está no 'auge' com avanço de ofensiva por terra

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta quinta-feira (02/11) que o país está no "auge da batalha” na Faixa de Gaza.

"Tivemos sucessos impressionantes e ultrapassamos os arredores da Cidade de Gaza. Estamos avançando", disse em nota.

Nesta quinta, equipes da BBC relataram a ocorrência de cinco batalhas terrestres entre Israel e o Hamas no norte de Gaza.

Israel lançou uma ofensiva terrestre em Gaza na semana passada — militares vêm se deslocando lentamente em direção à Cidade de Gaza, capital do território palestino.

Enquanto isso, o Ministério da Saúde local, administrado pelo Hamas, informou que o número de mortos na Faixa de Gaza desde 7 de outubro superou 9 mil.

O ministério afirma que, desse total de mortos, 3.760 são crianças; além disso, foram contabilizados 32.000 feridos.

Israel vem realizando bombardeios e ofensivas militares em Gaza desde 7 de outubro, quando o Hamas atacou várias partes do país, principalmente ao sul.

Na ocasião, segundo autoridades israelenses, 1.400 pessoas morreram. Além disso, o país calcula que 242 pessoas seguem mantidas pelo Hamas como reféns, incluindo crianças e idosos.

Em paralelo à ofensiva terrestre, Israel segue lançando ataques aéreos contra o território palestino.

Os militares israelenses dizem que têm como alvo a infraestrutura do Hamas, incluindo túneis subterrâneos e lançadores de foguetes.

Nos últimos dois dias, Israel bombardeou o campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza. O país informou que, na ocasião, matou um comandante do Hamas e dezenas de combatentes.

Já segundo o Hamas, o ataque deixou 1.000 pessoas mortas, feridas ou desaparecidas.

Vários edifícios foram destruídos e corpos continuam sendo resgatados dos escombros.

·         Resgate de feridos

Após milhares de pessoas serem mortas e feridas em Gaza, na quarta-feira (31) foi liberada pela primeira vez a passagem de dezenas de pessoas feridas em Rafah, que liga o território palestino ao Egito.

O Egito montou um hospital de campanha na Península do Sinai para receber feridos de Gaza.

De acordo com os Médicos sem Fronteiras, 20 mil feridos ainda não conseguiram sair de Gaza para ter atendimento.

O embaixador de Israel na Alemanha pediu aos países estrangeiros que enviassem navios-hospitais para o Egito.

Ron Prosor disse que eles seriam usados para tratar palestinos feridos que entrassem no Egito vindos da Faixa de Gaza.

Numa entrevista à Kan, emissora pública de Israel, ele acrescentou: "Ainda não sei se isso está acontecendo. Pedimos isso. Suponho que esteja sendo discutido. Há uma tendência, aqui na Europa, para ajudar em questões humanitárias de qualquer maneira possível."

Na semana passada, a França disse que iria enviar um navio para o Mediterrâneo oriental para “apoiar os hospitais de Gaza”.

Estrangeiros também tiveram permissão para deixar o território rumo ao Egito.

Diplomatas de mais de 30 países vêm fazendo lobby junto aos governos do Egito e de Israel para incluir seus cidadãos na lista de quem pode atravessar a fronteira.

Pelo segundo dia consecutivo, o Brasil não faz parte dessa lista. Um grupo de 34 pessoas aguarda a liberação para deixar a região. São 24 brasileiros e 10 palestinos que estão em processo ou darão início à imigração ao Brasil.

Já o Bahrein se tornou o primeiro dos quatros países da Liga Árabe que reconheceram Israel em 2020 a romper laços econômicos e chamar de volta seu embaixador no país devido à ofensiva militar israelense em Gaza.

O embaixador de Israel no Bahrein também deixou o país.

As relações entre Bahrein e Israel cresceram consideravelmente desde que os dois países estabeleceram laços diplomáticos com o apoio dos EUA.

Na ocasião, isso foi visto como um grande avanço na desescalada do conflito árabe-israelense de décadas.

Na quarta-feira, a Bolívia anunciou que também cortou relações com Israel.

Já a Jordânia, país com o qual Israel faz fronteira, chamou de volta seu embaixador no país, assim como Chile e Colômbia.

 

Ø  Israel facilita acesso a armas e 120 mil civis fazem pedido pela primeira vez

 

Desde o ataque de 7 de outubro, quando mais de 1,4 mil pessoas foram mortas por atiradores do Hamas, mais de 120 mil novos pedidos de licenças de armas de fogo foram apresentados por cidadãos israelenses.

A corrida para adquirir uma arma legalmente acontece em todo o país. Estandes de tiro têm recebido números sem precedentes de israelenses que buscam aprimorar suas habilidades. Do lado de fora das lojas de armas, pessoas esperam pacientemente em enormes filas para comprar sua primeira arma.

Após o anúncio do governo israelense de que iria flexibilizar suas leis sobre armas, pessoas elegíveis, sem antecedentes criminais ou complicações de saúde, podem agora obter uma licença de porte no prazo de uma semana.

Estes indivíduos também podem possuir até 100 balas, em vez de 50.

 “Agora, como eliminaram todas as restrições, é mais fácil conseguir uma arma”, diz Omri Shnaider, um advogado de 41 anos que vive em um Kibutz nos arredores de Jerusalém.

Mas Schnaider está longe de estar satisfeito com a sua decisão. Ele está preocupado com as implicações da distribuição de dezenas de milhares de armas a civis.

"Há vantagens, mas é claro que também há desvantagens. Vemos o que aconteceu nos EUA. Não é uma decisão fácil. Mas é isso que sinto que preciso fazer, para que o povo de Israel se sinta mais seguro."

O Ministro da Segurança Nacional Itamar Ben-Gvir — um político de extrema-direita defensor de longa data da posse privada de armas — tem viajado pelo país distribuindo milhares de armas.

Ele disse que as novas armas eram especificamente para quem vive perto da fronteira com Gaza ou em cidades mistas judaico-árabes Ben-Gvir encorajou todas essas comunidades judaicas a formarem equipes civis de segurança.

Schnaider vive em um grande kibutz que abriga 200 famílias.

Ele apoia essa ideia de “ação civil”.

“Devido a essa situação, no meu kibutz decidimos arranjar armas e formar uma vigilância de bairro. Esta equipe de socorristas intervirá se alguma vez houver, Deus nos livre, outro tiroteio ou infiltração de terroristas”, diz.

Mas enquanto a maioria da população judaica procura formas de se sentir mais segura, os árabes israelitas, que representam mais de 20% da população, dizem que nunca tiveram tanto medo.

Incidentes de discriminação, abuso verbal e perseguição online foram relatados à BBC por cidadãos árabes israelenses de todo o país.

A cidade de Lod, no centro de Israel, tem uma dolorosa história de violência racial entre a sua população judaica e árabe.

Suhair Hamdouni, professora especializada no ensino a crianças com deficiência, viveu em Lod toda a sua vida. De um lado da rua estão casas judias, do outro, árabes.

Ela diz que, desde os ataques, não vai mais comprar mantimentos no bairro judeu, e percorre o caminho mais longo até as lojas árabes, puramente por medo de ser agredida.

“Já fomos atacados em nossas casas antes. Já estamos lutando contra o trauma”.

Os cidadãos árabes de Israel, muitos dos quais se identificam como palestinos, estão geralmente isentos do recrutamento militar obrigatório. Sem esse treinamento, é muito mais difícil para eles obterem uma licença de porte de arma.

“Preocupa-me que, enquanto os israelenses exercem o seu direito de se defenderem, eu possa acabar morta. Eu e os meus filhos", diz.

"Não porque eu tenha feito algo errado. Mas porque sou árabe. Se os judeus da minha vizinhança têm o direito de obter armas, então eu também. Ou ambos os lados não deveriam poder."

Desde o ataque do Hamas, as cidades mistas de Israel, que outrora floresceram com turistas locais, parecem ter ficado desertas. Lojas e restaurantes estão fechados.

“Mais de 60% dos meus clientes eram judeus”, diz o proprietário do restaurante Lod, Abu Amir.

"Mas agora eles não vêm. Ninguém vem. Ninguém liga. Os árabes têm medo de ir aos bairros judeus e os judeus têm medo de ir às cidades árabes."

 

¨       Por que tantos tailandeses foram alvos do Hamas em Israel

 

Kong Saelao se orgulhava de seu trabalho em Israel. Todas as manhãs, o jovem trabalhador ia em sua bicicleta elétrica até as plantações onde colhia abacates até o sol de pôr.

Ele enviava dinheiro e selfies tiradas em meio a exuberantes árvores frutíferas à sua mulher na distante Tailândia. "Planejávamos construir uma casa e começar uma família", contou à DW sua esposa Suntree. No dia 7 de outubro, seu sonho modesto foi despedaçado.

Terroristas do Hamas atacaram a plantação em Khirbet Mador, próxima à Faixa de Gaza, e sequestraram o jovem de 26 anos. Desde então, ela não teve mais notícias dele.

No momento, o grupo terrorista Hamas mantém mais de 200 reféns em Gaza. Entre estes, estão 22 tailandeses afirmou o governo do país asiático. Outros 32 cidadãos tailandeses foram assassinados pelos terroristas - um dos maiores números entre os estrangeiros vítimas da ofensiva do Hamas.

·         Politicamente neutros

Os trabalhadores tailandeses são considerados politicamente neutros e, em grande parte, se ocupam de suas próprias vidas. As relações sociais do marido de Suntree em Israel eram quase que exclusivamente com seus compatriotas. "Por que ele, de todas as pessoas?", lamenta a esposa. "Ele é apenas um trabalhador inocente que queria juntar algum dinheiro." 

Na Tailândia, muitas pessoas não entendem por que tantos cidadãos do país foram mortos em meio ao conflito. O cientista político Thitinan Pongsudhirak descreveu o ataque do Hamas como algo "inimaginável".

 Pongsudhirak especula que talvez os palestinos estivessem "irritados com os trabalhadores tailandeses nas fazendas que exercem funções que poderiam e deveriam ter sido atribuídas a eles".

Até o final dos anos 1980, eram os palestinos que se realizavam o trabalho rural de baixa renda nas plantações israelenses. Após a primeira Intifada – o levante palestino contra a ocupação israelense da Cisjordânia, em 1987 – isso mudou repentinamente.

Israel passou a impor toques de recolher na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, entre outras áreas, o que resultou na redução da mão de obra disponível. O governo passou então a recrutar trabalhadores estrangeiros "de modo a reduzir a dependência do clima político, além de decisões de segurança administrativa e militar", disse Assia Ladizhinskaya da ONG Kav LaOved, sediada em Tel Aviv, que trabalha pelos direitos dos trabalhadores que pertencem a minorias.

Nos anos 1990, os imigrantes tailandeses se tornaram o pilar central do setor agrícola israelense. Pesquisas recentes indicam que o número de palestinos que trabalham nas fazendas israelenses seria de cerca de 10 mil, sendo que, antes do início da guerra com o Hamas, até 30 mil tailandeses trabalhavam nas plantações e pomares.

·         "Diplomacia do bambu"

governo tailandês adotou uma postura neutra no conflito no Oriente Médio e se escora na "diplomacia do bambu", assim chamada pelo fato de as questões de política externa serem tratadas com a flexibilidade e maleabilidade dos bambus, em meio a interesses nacionais enraizados.

Enquanto os países muçulmanos da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), como a Indonésia, Brunei e Malásia  não mantêm relações diplomáticas com Israel, a Tailândia possui contatos estreitos com o Estado judaico.

Em 2012, as duas nações assinaram um acordo bilateral para facilitar a contratação de trabalhadores tailandeses convidados por Israel. No mesmo ano, porém, a Tailândia reconheceu o Estado palestino e defendeu a solução de dois Estados no Conselho de Segurança da ONU. Na semana passada, Bangcoc votou a favor de uma resolução que pedia um cessar-fogo imediato.

As atrocidades do Hamas contra os trabalhadores tailandeses não devem mudar essa postura. A nação aisática tampouco deve pôr em risco suas lucrativas relações com o mundo islâmico, em especial, com a Arábia Saudita, diz a analista política Daungyewa Utarasint, da Universidade de Nova York em Abu Dhabi.

"Considerando que a Arábia Saudita acaba de atravessar seu processo de normalização [das relações diplomáticas] com Israel, seria estranho se a Tailândia apoiasse Israel nesse caso", observou. No ano passado, Bangcoc e Riad reavivaram seus laços diplomáticos após uma "era do gelo" que durou décadas.

Em agosto, a nação do Sudeste Asiático também introduziu o chamado Corredor Econômico Halal (HEC) para a exportação de bens produzidos de acordo com as regras islâmicas nas províncias tailandesas majoritariamente muçulmanas de Pattani, Yala e Narathiwat, até o Oriente Médio.

No final de outubro, centenas de tailandeses saíram às ruas de Bangcoc para protestar em solidariedade com o povo palestino. "Se o governo tailandês declarar apoio a Israel, isso poderá aumentar a separação da comunidade malaia muçulmana nas províncias do sul do país", explicou Utarasint.

·         Governo quer repatriar cidadãos

O agravamento da crise no Oriente Médio também gerou novas tensões entre Tailândia e Israel. Isso se deve principalmente às diferenças de atitude em relação ao repatriamento dos trabalhadores convidados. Ao mesmo tempo em que Israel tenta evitar a saída dos trabalhadores, oferecendo a ampliação de vistos e incentivos financeiros, Bangcoc faz todo o possível para trazer de volta o maior número possível de seus cidadãos.

"Voltem, por favor", apelou o primeiro-ministro tailandês, Srettha Thavisin, aos seus cidadãos em Israel. "No momento, mil tailandeses por dia podem ser repatriados. Desejo que todos retornem", afirmou. Até agora, 4,5 mil tailandeses voltaram ao seu país.

Um deles, Katchakon Pudtason, diz estar satisfeito de estar de volta. O colhedor de tomates teve de fugir dos terroristas do Hamas na traseira de uma picape. "Eles nos perseguiam e atiravam como loucos", contou à DW o homem de 40 anos. Na fuga, um tiro acertou seu joelho de raspão. A pessoa a seu lado levou um tiro no rosto. Somente após uma longa perseguição eles conseguiram escapar através de estradas de terra esburacadas.

Um colega tailandês que sofreu ferimentos na cabeça está sendo tratado em uma unidade de terapia intensiva de um hospital israelense. Katchakon conseguiu embarcar em um voo para seu país em uma cadeira de rodas. O ferimento em seu joelho deve se curar logo, mas mesmo assim, ele diz não deseja "de jeito nenhum" voltar a Israel.

·         Falta de proteção

A segurança na fazenda remota onde ele trabalhava já era inadequada antes do ataque do Hamas, afirma Katchakon. "Nosso abrigo era feito somente de simples tubos de concreto." Quando se ouvia uma ocasional granada ou morteiro ele pensava que "se uma bomba nos atingir, estaremos mortos".

A ONG Kav LaOved diz ter conhecimento do problema e recomenda que os trabalhadores rurais não trabalhem em dias de alto risco, porque no caso de um ataque com foguetes não haverá tempo para buscar um abrigo. "Isso se conseguirem ouvir a sirene em uma plantação distante", diz Assia Ladizhinskaya.

"Muitas acomodações de trabalhadores não são construções de alta qualidade com salas de segurança modernas." Além dos 600 abrigos existentes, Israel promete construir outros 430 novos sistemas de bunker nas regiões rurais.

O país dedicou um orçamento de 4,7 bilhões de euros (R$ 24,8 bilhões) para compensações financeiras aos trabalhadores estrangeiros "que continuarem a trabalhar na fronteira com Gaza até o final do ano", informou a embaixada israelense em Bangcoc, para o desgosto do primeiro-ministro tailandês.

Thavisin se queixou pessoalmente à embaixadora israelense Orna Sagiv. "Isso é inaceitável. Vidas estão em jogo", esbravejou na presença da imprensa local ao anunciar que seu governo dará a cada um que voltar ao país 15 mil baht tailandeses (aproximadamente R$ 2 mil) para, de alguma forma, compensar as perdas pessoais.

Katchakon Pudtason se diz satisfeito com o apoio financeiro, mas diz não saber de que forma os tailandeses desempregados poderão sustentar suas famílias no futuro. "Três ou quatro de meus colegas já estão novamente trabalhando nas plantações israelenses", contou. "Eles agora contam com a segurança de tanques israelenses." Para ele, no entanto, após a experiência traumática o capítulo de Israel em sua vida está definitivamente encerrado.

 

Fonte: BBC Árabe/Deutsche Welle

 

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