Núcleo bolsonarista tenta blindar ex-presidente e isolar Zambelli após
operação da PF
Interlocutores mais próximos do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) intensificaram a estratégia de isolar a deputada Carla Zambelli
(PL-SP) após a operação da Polícia Federal que prendeu, nesta quarta-feira (2),
o hacker Walter Delgatti Neto.
A PF também cumpre mandados de busca e apreensão
contra Zambelli, no apartamento da parlamentar e no gabinete na Câmara.
Há grande temor no núcleo mais próximo do
ex-presidente de que a investigação da PF acabe respingando no próprio
Bolsonaro.
A ordem é tratar Zambelli como uma espécie de
"lobo solitário", que teria agido sozinha ao se aproximar do hacker
durante a campanha eleitoral do ano passado.
O grande temor no núcleo bolsonarista é que Walter
Delgatti Neto possa revelar o movimento de ação golpista de tentativa de
ataques a urnas eletrônicas e também à invasão do sistema do Conselho Nacional
de Justiça.
Na operação desta quarta, a PF tenta obter mais
informações sobre a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos
no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.
Delgatti já revelou que estava trabalhando para
Carla Zambelli e foi levado pela deputada para um encontro com Bolsonaro no
Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto
de 2022, em meio à campanha eleitoral.
Na ocasião, o núcleo bolsonarista quis saber
detalhes do sistema de urnas eletrônicas.
Por isso, Zambelli passou a ser vista por
bolsonaristas com preocupação por ter potencial de contagiar o núcleo do
ex-presidente.
Na própria Câmara dos Deputados, ela está cada vez
mais isolada e sem qualquer sustentação dos colegas.
Caso a situação dela se complique a partir das
investigações, dificilmente Carla Zambelli escaparia de um processo de
cassação.
• Bolsonaro
diz a aliados que não atende Zambelli desde janeiro
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acompanham
com apreensão os desdobramentos da operação da Polícia Federal que mira a
deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto.
Revelada pela âncora da GloboNews Andreia Sadi, a
ação tem conexão direta com as apurações sobre iniciativas, ainda durante as
eleições de 2022, de embaraçar o pleito, atacar as instituições e invadir
sistemas de órgãos como o Conselho Nacional de Justiça para disseminar fake
news e falsificar documentos públicos.
Segundo pessoas próximas, Bolsonaro diz a aliados
não atender os chamados de Zambelli desde janeiro. Ele teria dito que chegou a
ser procurado pela parlamentar novamente nas últimas semanas, mas decidiu não
atender aos telefonemas.
Segundo investigação, a deputada chegou a levar o
hacker - preso nesta quarta-feira (2) pela PF para uma reunião com o próprio
Bolsonaro - ainda em 2022. Na ocasião, ela teria falado sobre uma tentativa,
obviamente frustrada, de invadir o sistema das urnas eletrônicas.
Ainda segundo uma pessoa próxima a Bolsonaro, ele
ouviu toda a conversa de Zambelli "calado".
A meta agora é isolar a parlamentar bolsonarista,
que vem sendo severamente criticada na própria direita e extrema direita desde
a véspera do segundo turno da eleição de 2022, quando varou pelas ruas de área nobre
da capital paulista com arma em punho, perseguindo um jornalista que
participava de ato pro-Lula e travou uma discussão com ela.
<><> Processo que pode cassar mandato
de Zambelli avança na Câmara
O deputado João Leão (PP-BA) votou nesta
quarta-feira (2), no Conselho de Ética, a favor da continuidade de um processo
aberto contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que pode terminar com a
cassação da parlamentar.
O relatório de João Leão ainda precisa ser votado
pelo Conselho de Ética. Um pedido de vista (mais tempo para análise do caso)
foi apresentado pelo deputado Domingos Sávio (PL-MG). Com isso, a análise do
parecer foi empurrada para a próxima semana.
O processo contra a deputada foi aberto depois de
ela ter xingado o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) em uma reunião da Comissão de
Segurança Pública destinada a ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino. O PSB
pede a perda do mandato da deputada.
"Assim, em juízo, prima vista, é possível
aferir a necessidade de que este Conselho de Ética se debruce sobre os fatos.
Do vídeo e das notas taquigráfica, despontam elementos suficientes de autoria e
materialidade relativos à possibilidade de que a representada teria proferidos
xingamentos graves e supostamente achincalhando a honra de Duarte Junior,
cenário habitual a suportar o prosseguimento deste feito”, afirmou o relator.
O partido argumenta que o xingamento tinha como
objetivo constranger o deputado publicamente.
Segundo o PSB, Zambelli “extrapolou suas
prerrogativas para agir às margens da lei proferindo palavras de baixo calão”.
A legenda falou em abuso de prerrogativa
parlamentar e sustentou que as condutas de Zambelli fomentaram a violência
discursiva e a afronta contra os princípios da moralidade e impessoalidade.
• O que
diz Carla Zambelli
A deputada compareceu ao Conselho de Ética para se
defender. Ela se disse arrependida e pediu o arquivamento por ausência de justa
causa.
"Como eu não tenho advogado nesse caso, o fato
apresentado pelo PSB não traz a veracidade dos fatos. Naquele dia, a audiência
estava muito barulhenta. Existe um vídeo que aparece eu fazendo assim para trás
e falando a palavra que não vou repetir aqui, mas eu não mandei a pessoa para
aquele lugar", disse a deputada.
• Tramitação
Se o relatório for aprovado pelo Conselho de Ética,
a deputada será notificada para apresentar sua defesa e será feita coleta de
provas.
Na sequência, o relator elaborará um novo parecer,
em que pode pedir a absolvição ou aplicação de punição, que vai de censura à
perda do mandato parlamentar.
A deputada poderá recorrer da decisão à Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ).
Se o Conselho de Ética decidir pela suspensão ou
cassação do mandato de um parlamentar, o processo segue para o plenário da
Câmara, que terá a palavra final. O prazo máximo de tramitação dos processos no
Conselho é de 90 dias.
Hacker
da 'Vaza Jato' diz à PF que Bolsonaro perguntou, em reunião, se ele conseguiria
invadir urnas eletrônicas
O hacker Walter Delgatti Neto, preso nesta
quarta-feira (2) pela Polícia Federal, havia dito em depoimento anterior à
corporação que se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da
Alvorada, para tratar do sistema das urnas eletrônicas.
Segundo Delgatti Neto, no encontro, Bolsonaro
perguntou se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas se estivesse munido
do código-fonte dos equipamentos. O hacker disse aos investigadores, no
entanto, que "isso não foi adiante".
A reunião entre Bolsonaro e o hacker teria sido
intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), também alvo da
operação da PF desta quarta.
Delgatti Neto disse aos investigadores que só
poderia ter acesso ao código-fonte das urnas dentro da sede do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), e que "não poderia ir lá".
Para garantir a segurança dos equipamentos, a Corte
autoriza o acesso antecipado aos sistemas eleitorais, para fins de auditoria,
12 meses antes da data do primeiro turno. No entanto, segundo o TSE, o acesso
ocorre em ambiente específico e sob a supervisão do tribunal.
"QUE apenas pode afirmar que a Deputada Carla
Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante,
conforme saiu em reportagem, encontrou o ex- Presidente Jair Bolsonaro no
Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do
código fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante,
pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o
declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório
das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", diz o
relatório da PF.
• Operação
3FA
Os investigadores apuram se Delgatti Neto invadiu o
site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu documentos fraudados no
Banco Nacional de Monitoramento de Prisões – incluindo um falso mandado de
prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Segundo o hacker, os serviços ilegais teriam sido
solicitados por Carla Zambelli. A PF afirma que Delgatti recebeu pelo menos R$
13,5 mil de assessores da parlamentar.
A operação desta quarta, autorizada pelo ministro
Alexandre de Moraes, cumpriu uma ordem de prisão preventiva contra Walter
Delgatti Neto e cinco mandados de busca e apreensão contra ele e Carla Zambelli
(três no DF, dois em SP).
Entre outras medidas contra a deputada, Moraes
determinou:
• a
apreensão de armas, munições, computadores, tablets, celulares e outros
dispositivos eletrônicos, e passaporte;
• busca
e apreensão em carros eventualmente encontrados nos endereços da deputada e nos
armários de garagem:
• apreensão
de dinheiro e bens (joias, veículos, obras de arte e outros objetos) em valores
superiores a R$ 10 mil, desde que não comprovada cabalmente, no local dos
fatos, a origem licita.
A operação desta quarta foi chamada de 3FA. Segundo
a PF, o nome faz referência à "autenticação de dois fatores (2FA), método
de segurança de gerenciamento de identidade e acesso que exige duas formas de
identificação para acessar recursos e dados".
O nome se refere ao fato de os mandados falsos de
prisão e soltura terem sido inseridos nos bancos de dados do Judiciário Federal
após invasão dos sistemas, com o uso de credenciais falsas obtidas de forma
ilícita.
Ainda de acordo com a PF, os fatos investigados
"configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e
falsidade ideológica".
<><> Invasão de dispositivo e falsidade
ideológica: os crimes citados na prisão de Walter Delgatti Neto
O mandado de prisão cumprido pela Polícia Federal
nesta quarta-feira (2) contra Walter Delgatti Neto, o "hacker da Vaza
Jato", cita o possível cometimento de dois crimes: invasão de dispositivo
informático e falsidade ideológica.
Somadas, as penas podem variar de 3 a 8 anos de
reclusão e multa.
A jorbalista Camila teve acesso ao conteúdo do
mandado autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes e cumprido pela PF em São Paulo nesta quarta.
A PF também cumpria até as 9h mandados de busca e
apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), no apartamento e no
gabinete.
Na ação, a PF tenta obter mais informações sobre a
inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de
Monitoramento de Prisões.
Os documentos forjados incluíam um mandado de
prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes. No ofício, havia inclusive a frase "faz o L" – um dos slogans
da campanha eleitoral mais recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
"Os crimes apurados ocorreram entre os dias 4
e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e,
possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de
indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor
do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes", diz material
da Polícia Federal.
Saiba
quem é Walter Delgatti Netto, hacker da 'Vaza Jato' preso pela Polícia Federal
A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (2) o
hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por ter dado origem à chamada "Vaza
Jato" ao invadir telefones de autoridades envolvidas com a operação Lava
Jato.
O nome de Walter Delgatti Netto apareceu com mais
frequência no noticiário a partir de 2019 e, antes de ganhar fama como hacker,
ele teve uma passagem pela polícia em 2015, quando foi preso por falsidade
ideológica ao mentir ser um delegado e que estava com armas no carro.
Dois anos depois, em 2017, foi investigado por
falsificação de documentos, além de passagens por estelionato.
Em 2019, passou a ser reconhecido como "o
Hacker de Araraquara", indicando a cidade dele e entrou no radar da
Polícia Federal. De lá pra cá, foram várias passagens pela polícia.
• 2019
- Walter Delgatti Neto foi preso pela Polícia Federal depois de invadir as
contas do aplicativo Telegram de várias autoridades. Esses diálogos foram
divulgados e atribuídos a Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros procuradores
da Operação Lava Jato, dando origem à famosa "Vaza Jato".
• 2020
- Delgatti e Thiago Eliezer, outro hacker acusado de invadir celulares de
autoriades são colocados em liberdade. Na época, o hacker de Araraquara ficou
com tornozeleira eletrônica e com restrição do uso de internet.
• 2022
- Dois anos depois, o hacker disse ter sido levado por Zambelli para um
encontro com Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do
presidente da República, em plena campanha eleitora. Naquele encontro, segundo
o hacker, o núcleo bolsonarista quis saber detalhes do sistema de urnas
eletrônicas. Desde então, o hacker não saiu do núcleo bolsonarista.
• 2023
- Em janeiro deste ano, Delgatti voltou a entrar na mira da PF pela invasão dos
sistemas do Conselho Nacional de Justiça para a inclusão de um falso mandado de
prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior
Eleitoral. Na ocasião, ele disse que o falso documento foi redigido pela
deputada Carla Zambelli.
De acordo com a PF, o documento foi inserido no
Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça. Na
época, Zambelli negou os fatos relatados por Delgatti.
• 2023
- Em junho, o hacker foi preso novamente por descumprir medidas judiciais. Ele
dizia estar cuidando do site e das redes sociais da deputada Carla Zambelli e
não foi encontrado nos endereços passados à Justiça. Naquela época, a prisão já
preocupou o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro por conta de uma possível
delação premiada.
• 2023
- Em julho ele foi solto e voltou a usar tornozeleira, mas voltou a ser preso
nesta quarta-feira, 2 de agosto. A PF também cumpriu mandados de busca e
apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), no apartamento e no
gabinete dela. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal
Federal (STF) Alexandre de Moraes, que também determinou apreender o passaporte
da parlamentar e dinheiro e bens acima de R$ 10 mil.
Fonte: g1
Nenhum comentário:
Postar um comentário