quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Núcleo bolsonarista tenta blindar ex-presidente e isolar Zambelli após operação da PF

Interlocutores mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificaram a estratégia de isolar a deputada Carla Zambelli (PL-SP) após a operação da Polícia Federal que prendeu, nesta quarta-feira (2), o hacker Walter Delgatti Neto.

A PF também cumpre mandados de busca e apreensão contra Zambelli, no apartamento da parlamentar e no gabinete na Câmara.

Há grande temor no núcleo mais próximo do ex-presidente de que a investigação da PF acabe respingando no próprio Bolsonaro.

A ordem é tratar Zambelli como uma espécie de "lobo solitário", que teria agido sozinha ao se aproximar do hacker durante a campanha eleitoral do ano passado.

O grande temor no núcleo bolsonarista é que Walter Delgatti Neto possa revelar o movimento de ação golpista de tentativa de ataques a urnas eletrônicas e também à invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça.

Na operação desta quarta, a PF tenta obter mais informações sobre a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.

Delgatti já revelou que estava trabalhando para Carla Zambelli e foi levado pela deputada para um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em agosto de 2022, em meio à campanha eleitoral.

Na ocasião, o núcleo bolsonarista quis saber detalhes do sistema de urnas eletrônicas.

Por isso, Zambelli passou a ser vista por bolsonaristas com preocupação por ter potencial de contagiar o núcleo do ex-presidente.

Na própria Câmara dos Deputados, ela está cada vez mais isolada e sem qualquer sustentação dos colegas.

Caso a situação dela se complique a partir das investigações, dificilmente Carla Zambelli escaparia de um processo de cassação.

•        Bolsonaro diz a aliados que não atende Zambelli desde janeiro

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro acompanham com apreensão os desdobramentos da operação da Polícia Federal que mira a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto.

Revelada pela âncora da GloboNews Andreia Sadi, a ação tem conexão direta com as apurações sobre iniciativas, ainda durante as eleições de 2022, de embaraçar o pleito, atacar as instituições e invadir sistemas de órgãos como o Conselho Nacional de Justiça para disseminar fake news e falsificar documentos públicos.

Segundo pessoas próximas, Bolsonaro diz a aliados não atender os chamados de Zambelli desde janeiro. Ele teria dito que chegou a ser procurado pela parlamentar novamente nas últimas semanas, mas decidiu não atender aos telefonemas.

Segundo investigação, a deputada chegou a levar o hacker - preso nesta quarta-feira (2) pela PF para uma reunião com o próprio Bolsonaro - ainda em 2022. Na ocasião, ela teria falado sobre uma tentativa, obviamente frustrada, de invadir o sistema das urnas eletrônicas.

Ainda segundo uma pessoa próxima a Bolsonaro, ele ouviu toda a conversa de Zambelli "calado".

A meta agora é isolar a parlamentar bolsonarista, que vem sendo severamente criticada na própria direita e extrema direita desde a véspera do segundo turno da eleição de 2022, quando varou pelas ruas de área nobre da capital paulista com arma em punho, perseguindo um jornalista que participava de ato pro-Lula e travou uma discussão com ela.

<><> Processo que pode cassar mandato de Zambelli avança na Câmara

O deputado João Leão (PP-BA) votou nesta quarta-feira (2), no Conselho de Ética, a favor da continuidade de um processo aberto contra a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que pode terminar com a cassação da parlamentar.

O relatório de João Leão ainda precisa ser votado pelo Conselho de Ética. Um pedido de vista (mais tempo para análise do caso) foi apresentado pelo deputado Domingos Sávio (PL-MG). Com isso, a análise do parecer foi empurrada para a próxima semana.

O processo contra a deputada foi aberto depois de ela ter xingado o deputado Duarte Júnior (PSB-MA) em uma reunião da Comissão de Segurança Pública destinada a ouvir o ministro da Justiça, Flávio Dino. O PSB pede a perda do mandato da deputada.

"Assim, em juízo, prima vista, é possível aferir a necessidade de que este Conselho de Ética se debruce sobre os fatos. Do vídeo e das notas taquigráfica, despontam elementos suficientes de autoria e materialidade relativos à possibilidade de que a representada teria proferidos xingamentos graves e supostamente achincalhando a honra de Duarte Junior, cenário habitual a suportar o prosseguimento deste feito”, afirmou o relator.

O partido argumenta que o xingamento tinha como objetivo constranger o deputado publicamente.

Segundo o PSB, Zambelli “extrapolou suas prerrogativas para agir às margens da lei proferindo palavras de baixo calão”.

A legenda falou em abuso de prerrogativa parlamentar e sustentou que as condutas de Zambelli fomentaram a violência discursiva e a afronta contra os princípios da moralidade e impessoalidade.

•        O que diz Carla Zambelli

A deputada compareceu ao Conselho de Ética para se defender. Ela se disse arrependida e pediu o arquivamento por ausência de justa causa.

"Como eu não tenho advogado nesse caso, o fato apresentado pelo PSB não traz a veracidade dos fatos. Naquele dia, a audiência estava muito barulhenta. Existe um vídeo que aparece eu fazendo assim para trás e falando a palavra que não vou repetir aqui, mas eu não mandei a pessoa para aquele lugar", disse a deputada.

•        Tramitação

Se o relatório for aprovado pelo Conselho de Ética, a deputada será notificada para apresentar sua defesa e será feita coleta de provas.

Na sequência, o relator elaborará um novo parecer, em que pode pedir a absolvição ou aplicação de punição, que vai de censura à perda do mandato parlamentar.

A deputada poderá recorrer da decisão à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Se o Conselho de Ética decidir pela suspensão ou cassação do mandato de um parlamentar, o processo segue para o plenário da Câmara, que terá a palavra final. O prazo máximo de tramitação dos processos no Conselho é de 90 dias.

 

       Hacker da 'Vaza Jato' diz à PF que Bolsonaro perguntou, em reunião, se ele conseguiria invadir urnas eletrônicas

 

O hacker Walter Delgatti Neto, preso nesta quarta-feira (2) pela Polícia Federal, havia dito em depoimento anterior à corporação que se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no Palácio da Alvorada, para tratar do sistema das urnas eletrônicas.

Segundo Delgatti Neto, no encontro, Bolsonaro perguntou se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas se estivesse munido do código-fonte dos equipamentos. O hacker disse aos investigadores, no entanto, que "isso não foi adiante".

A reunião entre Bolsonaro e o hacker teria sido intermediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), também alvo da operação da PF desta quarta.

Delgatti Neto disse aos investigadores que só poderia ter acesso ao código-fonte das urnas dentro da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e que "não poderia ir lá".

Para garantir a segurança dos equipamentos, a Corte autoriza o acesso antecipado aos sistemas eleitorais, para fins de auditoria, 12 meses antes da data do primeiro turno. No entanto, segundo o TSE, o acesso ocorre em ambiente específico e sob a supervisão do tribunal.

"QUE apenas pode afirmar que a Deputada Carla Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex- Presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a Urna Eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", diz o relatório da PF.

•        Operação 3FA

Os investigadores apuram se Delgatti Neto invadiu o site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e inseriu documentos fraudados no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões – incluindo um falso mandado de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Segundo o hacker, os serviços ilegais teriam sido solicitados por Carla Zambelli. A PF afirma que Delgatti recebeu pelo menos R$ 13,5 mil de assessores da parlamentar.

A operação desta quarta, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, cumpriu uma ordem de prisão preventiva contra Walter Delgatti Neto e cinco mandados de busca e apreensão contra ele e Carla Zambelli (três no DF, dois em SP).

Entre outras medidas contra a deputada, Moraes determinou:

•        a apreensão de armas, munições, computadores, tablets, celulares e outros dispositivos eletrônicos, e passaporte;

•        busca e apreensão em carros eventualmente encontrados nos endereços da deputada e nos armários de garagem:

•        apreensão de dinheiro e bens (joias, veículos, obras de arte e outros objetos) em valores superiores a R$ 10 mil, desde que não comprovada cabalmente, no local dos fatos, a origem licita.

A operação desta quarta foi chamada de 3FA. Segundo a PF, o nome faz referência à "autenticação de dois fatores (2FA), método de segurança de gerenciamento de identidade e acesso que exige duas formas de identificação para acessar recursos e dados".

O nome se refere ao fato de os mandados falsos de prisão e soltura terem sido inseridos nos bancos de dados do Judiciário Federal após invasão dos sistemas, com o uso de credenciais falsas obtidas de forma ilícita.

Ainda de acordo com a PF, os fatos investigados "configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica".

<><> Invasão de dispositivo e falsidade ideológica: os crimes citados na prisão de Walter Delgatti Neto

O mandado de prisão cumprido pela Polícia Federal nesta quarta-feira (2) contra Walter Delgatti Neto, o "hacker da Vaza Jato", cita o possível cometimento de dois crimes: invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.

Somadas, as penas podem variar de 3 a 8 anos de reclusão e multa.

A jorbalista Camila teve acesso ao conteúdo do mandado autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e cumprido pela PF em São Paulo nesta quarta.

A PF também cumpria até as 9h mandados de busca e apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), no apartamento e no gabinete.

Na ação, a PF tenta obter mais informações sobre a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões.

Os documentos forjados incluíam um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. No ofício, havia inclusive a frase "faz o L" – um dos slogans da campanha eleitoral mais recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes", diz material da Polícia Federal.

 

       Saiba quem é Walter Delgatti Netto, hacker da 'Vaza Jato' preso pela Polícia Federal

 

A Polícia Federal prendeu nesta quarta-feira (2) o hacker Walter Delgatti Neto, conhecido por ter dado origem à chamada "Vaza Jato" ao invadir telefones de autoridades envolvidas com a operação Lava Jato.

O nome de Walter Delgatti Netto apareceu com mais frequência no noticiário a partir de 2019 e, antes de ganhar fama como hacker, ele teve uma passagem pela polícia em 2015, quando foi preso por falsidade ideológica ao mentir ser um delegado e que estava com armas no carro.

Dois anos depois, em 2017, foi investigado por falsificação de documentos, além de passagens por estelionato.

Em 2019, passou a ser reconhecido como "o Hacker de Araraquara", indicando a cidade dele e entrou no radar da Polícia Federal. De lá pra cá, foram várias passagens pela polícia.

•        2019 - Walter Delgatti Neto foi preso pela Polícia Federal depois de invadir as contas do aplicativo Telegram de várias autoridades. Esses diálogos foram divulgados e atribuídos a Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outros procuradores da Operação Lava Jato, dando origem à famosa "Vaza Jato".

•        2020 - Delgatti e Thiago Eliezer, outro hacker acusado de invadir celulares de autoriades são colocados em liberdade. Na época, o hacker de Araraquara ficou com tornozeleira eletrônica e com restrição do uso de internet.

•        2022 - Dois anos depois, o hacker disse ter sido levado por Zambelli para um encontro com Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República, em plena campanha eleitora. Naquele encontro, segundo o hacker, o núcleo bolsonarista quis saber detalhes do sistema de urnas eletrônicas. Desde então, o hacker não saiu do núcleo bolsonarista.

•        2023 - Em janeiro deste ano, Delgatti voltou a entrar na mira da PF pela invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça para a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Na ocasião, ele disse que o falso documento foi redigido pela deputada Carla Zambelli.

De acordo com a PF, o documento foi inserido no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça. Na época, Zambelli negou os fatos relatados por Delgatti.

•        2023 - Em junho, o hacker foi preso novamente por descumprir medidas judiciais. Ele dizia estar cuidando do site e das redes sociais da deputada Carla Zambelli e não foi encontrado nos endereços passados à Justiça. Naquela época, a prisão já preocupou o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro por conta de uma possível delação premiada.

•        2023 - Em julho ele foi solto e voltou a usar tornozeleira, mas voltou a ser preso nesta quarta-feira, 2 de agosto. A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão contra a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), no apartamento e no gabinete dela. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que também determinou apreender o passaporte da parlamentar e dinheiro e bens acima de R$ 10 mil.

 

Fonte: g1

 

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