sábado, 8 de julho de 2023

Diante do inimigo comum: os novos contornos políticos da liderança sino-russa na Eurásia

As relações de parceria estratégica entre Rússia e China nunca estiveram em melhor momento. Enquanto o Ocidente prossegue sua política de sanções contra Moscou e suas tentativas de conter a ascensão de Pequim no sistema internacional, ambas as potências têm exercido uma verdadeira liderança coletiva no continente eurasiático.

Tal aproximação entre os dois gigantes não surpreende. Afinal, a grande extensão de suas fronteiras terrestres e a presença de uma longa história de cooperação política são fatores mais do que suficientes para que China e Rússia desempenhem um papel fundamental no novo jogo de forças global.

No âmbito econômico, vemos por exemplo que os países que compõem a Organização para Cooperação de Xangai (OCX) já iniciaram um movimento no sentido da diminuição do papel do dólar em suas transações comerciais.

É nesse contexto que, conforme assinalado por Vladimir Putin em reunião recente com os chefes de Estado da OCX, cerca de 40% das exportações russas em 2022 para os países do bloco foram realizadas em rublos.

Esse cenário se deu sobretudo pela contribuição das relações comerciais entre Rússia e China, dado que mais de 80% de suas transações já são feitas em suas moedas locais.

Nesse ínterim, Moscou tem cada vez mais alavancado a venda de seus hidrocarbonetos para potências asiáticas como China e Índia, redirecionando para o Oriente parte de suas commodities antes negociadas com a Europa.

Sobretudo após a eclosão do conflito na Ucrânia em 2022, a Rússia viu as sanções ocidentais contra o país se intensificarem, motivando as indústrias do país e a própria economia russa a fazerem uma "virada" definitiva para o Leste.

Diante desse novo contexto, Moscou e Pequim almejam atingir a marca de US$ 200 bilhões (um pouco mais de R$ 975 bilhões) em seu comércio bilateral anual até o ano de 2024. Para efeito de comparação, em 2021 as trocas comerciais entre Rússia e China somaram cerca de US$ 138 bilhões (R$ 672,9 bilhões).

Ainda em se tratando de comércio, a proposta (que data de 2012) de construção de um Novo Corredor de Grãos Terrestre, ligando a China aos países da União Econômica Eurasiática, ganhou ainda mais força nos últimos tempos.

Dada a solidariedade econômica sino-russa, esforços já têm sido empreendidos para conectar o mercado chinês aos grandes exportadores de grãos russos, a fim de reduzir a dependência da China das importações norte-americanas e da Austrália.

Em troca, Pequim vem expandindo suas exportações de maquinários e de tecnologia para a Rússia, ajudando o país a escapar dos efeitos negativos das sanções ocidentais. Além do mais, outra das principais rotas de integração entre os dois países na Eurásia tem sido a questão energética.

Símbolo dessa integração foi a inauguração do gasoduto Power of Siberia (Poder da Sibéria) em 2019, supervisionado pela Gazprom e pela China National Petroleum Corporation (CNPC, na sigla em inglês), fornecendo cerca de 38 bilhões de m³ de gás russo anualmente à China.

Uma extensão para o gasoduto já se encontra nos planos, cuja construção é prometida para ter início em 2024, redirecionando a Pequim parte do gás que a Rússia anteriormente vendia à Europa, tornando-se um substituto para o Nord Stream.

Se tudo correr conforme o planejado, até 2030 as exportações de gás russo para a China atingirão 98 bilhões de m³, constituindo um verdadeiro marco geoeconômico no continente eurasiático.

Não obstante, essa parceria entre Rússia e China também tem gerado resultados na Ásia Central. Ano após ano, por exemplo, têm aumentado as exportações da região para o mercado chinês, enquanto a China tem investido em infraestrutura energética e de transportes nos países centro-asiáticos.

Como resultado, o Cazaquistão e o Turcomenistão se tornaram importantes fornecedores de gás para a China. A título de exemplo, em 2022 o valor combinado do comércio chinês com esses dois países chegou à casa dos US$ 100 bilhões.

Ao mesmo tempo, a Rússia, por meio da Organização do Tratado de Segurança Coletiva, tem oferecido segurança e "estabilidade" política aos governos centro-asiáticos, ancorada em seu poderio militar predominante e na existência de um mecanismo de segurança coletiva regional.

Por conta dessa inteiração complementar na Ásia Central, Rússia e China têm desempenhado papel fundamental no fortalecimento do espaço eurasiático como um polo de poder independente nas relações internacionais.

Já no plano geopolítico, russos e chineses entendem que não podem mais ignorar as alianças dos Estados Unidos na Ásia-Pacífico e as políticas americanas de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) na Europa, o que demonstra uma tentativa clara de "cerco" militar à Eurásia.

Iniciativas como o QUAD (Diálogo Quadrilateral de Segurança entre Estados Unidos, Índia, Japão e Austrália), retomado em 2017, e a AUKUS (aliança militar formada por Austrália, Estados Unidos e o Reino Unido) são movimentos geopolíticos evidentes de contenção à China no Leste Asiático.

Enquanto isso, a ampliação da Aliança Atlântica em solo europeu no contexto pós-Guerra Fria trata-se de uma provocação aberta contra a Rússia no espaço pós-soviético. Ora, o antigo plano da OTAN de atrair a Ucrânia (assim como a Geórgia) para o seu quadro de membros visava utilizar os países vizinhos à Rússia como "plataformas" para minar sua segurança e sua posição regional.

Já o programa em curso para armar a Austrália com submarinos movidos a energia nuclear visa ostensivamente provocar a China. Foram essas políticas ocidentais, portanto, que serviram de impulso para uma aproximação ainda mais sólida entre Rússia e China na Eurásia diante do "inimigo comum".

No final das contas, é preciso lembrar também que no começo desse ano Xi Jinping realizou uma importante visita de Estado à Rússia, demonstrando solidariedade ao presidente Vladimir Putin pouco tempo depois do mandatário russo ter sofrido uma acusação insidiosa por parte do Tribunal Penal Internacional.

Com efeito, a presença de Xi em Moscou apenas (re)afirmou a parceria estratégica "sem limites" entre chineses e russos, parceria essa que tem tudo para se fortalecer nos próximos anos.

Dessa proximidade política sino-russa é que surgirá uma Eurásia capaz de defender sua posição diante do cerco empreendido pelo Ocidente, que terá de lidar – a contragosto – com um continente que ganha cada vez mais importância nesse mundo multipolar em formação.

 

Ø  Pentágono não tem reservas estratégicas de metal crítico alvo de restrições de exportação da China

 

O Pentágono possui um estoque estratégico de germânio nos EUA, mas atualmente não tem estoques da reserva de gálio, afirmou um porta-voz nesta quinta-feira (6), depois que China anunciou restrições à exportação dos dois metais usados em semicondutores.

"O Departamento [de Defesa] está tomando medidas proativas usando a autoridade da Lei de Produção de Defesa Título III para aumentar a mineração doméstica e o processamento de materiais críticos para a cadeia de suprimentos de microeletrônica e do espaço, incluindo gálio e germânio", disse o porta-voz da entidade militar dos EUA.

O germânio é usado em chips de computador de alta velocidade e aplicações militares, como dispositivos de visão noturna, bem como sensores de imagens de satélite. O gálio é usado em dispositivos de comunicação de rádio e de radar, satélites e LED, escreve agência Reuters.

Em entrevista à Sputnik o jornalista e analista político especializado na região da Ásia-Pacífico K.J. Noh sugeriu que a China pode eventualmente decidir adicionar "metais mais críticos à sua lista de sanções" e que o plano dos Estados Unidos de "isolar a China da indústria de chips não funcionará", já que Pequim estaria efetivamente dizendo a Washington: você pode controlar o maquinário, mas nós possuímos as matérias-primas.

Outro especialista na região da Ásia-Pacífico, Thomas W. Pauken II, disse que, dado que 94% do gálio do mundo e 83% do germânio são produzidos na China, os EUA podem enfrentar uma série de problemas na sequência da proibição das exportações de Pequim.

 

Ø  Taiwan: China tenta desmoralizar a ilha com desinformação de 'plano de fuga'

 

Altos responsáveis taiwaneses disseram à Reuters que Pequim está realizando esforços informacionais para minar Taipé antes das eleições presidenciais de Taiwan em 2024.

A China lançou uma campanha de desinformação que inclui notícias de que a presidente de Taiwan tem um "plano de fuga" no caso de um ataque da China para enfraquecer a moral, declararam autoridades de Taiwan, citadas na sexta-feira (7) pela agência britânica Reuters.

Segundo supostos relatórios de segurança analisados em junho pela Reuters, Taiwan está em alerta máximo para o que considera tentativas da China de influenciar a opinião pública na ilha autogovernada, inclusive por meio de financiamento "ilícito" de candidatos favoráveis a Pequim na corrida para a eleição presidencial de 2024.

A partir de maio surgiram na mídia estatal chinesa notícias que incluem "desinformação" sobre exercícios de evacuação, incluindo para Tsai Ing-wen, presidente de Taiwan. Algumas das mensagens teriam sido publicadas em portais chineses antes de surgirem em sites de Hong Kong e de Taiwan, havendo até acusações de que a campanha foi supervisionada por um grupo governamental liderado por Xi Jinping, presidente da China.

Tal seria parte de uma campanha para influenciar a opinião em Taiwan, de acordo com várias autoridades de Taiwan. Segundo uma delas, o objetivo é semear pânico e enfraquecer a confiança do público na liderança taiwanesa.

O Escritório de Assuntos da China Continental de Taiwan, responsável pela elaboração de políticas, declarou à Reuters que Pequim está sempre tentando "prejudicar o prestígio de nosso governo, dividir a sociedade taiwanesa e enfraquecer o apoio da comunidade internacional", e prometeu "tomar ações específicas para mostrar sua determinação em se defender".

 

Ø  'De olho na China', EUA iniciam no Pacífico grande exercício de logística da Força Aérea

 

Os EUA farão com outros países exercícios navais para testar a capacidade de resposta de suprimir as forças militares de sua Força Aérea.

O Mobility Guardian 2023, o principal exercício de treinamento da Força Aérea dos EUA para as frotas logísticas do país norte-americano, começa nesta semana no Pacífico, escreve na sexta-feira (7) o portal Air Force Times.

A edição deste ano, a quarta, é a maior até o momento, com cerca de 3.000 pilotos dos EUA e de países aliados, além de 70 aviões de carga e de abastecimento. As manobras serão realizadas até 21 de julho.

O objetivo do exercício, "de olho em um possível conflito com a China", é provar a facilidade com que a Força Aérea pode enviar pessoal e carga para o Pacífico em uma crise, e testar a facilidade com que as tropas dos EUA colaboram com seus parceiros na região, a França, o Japão, e também os outros países dos Cinco Olhos: a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Reino Unido.

Duas aeronaves C-17A Globemaster III com a 105ª Ala de Transporte Aéreo, Guarda Nacional de Nova York completaram uma missão de volta ao mundo em apoio ao exercício Air Defender 2023 e Mobility Guardian 2023.

Transportando a Equipe de Resposta de Contingência da 123ª Ala de Transporta Aéreo, esta é a primeira vez que uma Equipe de Resposta de Contingência é transferida do teatro europeu para o teatro do Pacífico sem reabastecimento.

"Essa é uma [região] completamente diferente, com um foco completamente diferente. Isso está realmente mudando a maneira como pensamos em nossas táticas, técnicas e procedimentos", comentou o tenente-coronel Jake Parker, planejador do exercício.

Segundo Parker, as são em grande parte improvisadas para forçar as tropas a pensar como navegar pelo vasto Pacífico, estabelecer comunicações e outros serviços de apoio em regiões que nunca visitaram, e para poder lidar com os problemas quando as coisas não saem conforme o planejado.

Os problemas logísticos já estão colocando essa flexibilidade à prova, com uma das tripulações de quase 50 pilotos partindo após a meia-noite de quinta-feira (6) da Base Conjunta de Charleston, na Carolina do Sul, EUA, depois que o tempo atrasou a saída do avião C-5 Galaxy por várias horas. Em seguida, a equipe se demorou em Honolulu, Havaí, quando a tripulação que devia transportá-los ao território americano não incorporado de Guam não chegou à Base Conjunta Pearl Harbor-Hickam a tempo.

 

Ø  Depois de cortejar Japão, EUA negociam estaleiros na Índia para combater China, diz mídia asiática

 

Além dos acordos bilaterais e pactos de defesa assinados com o Estado indiano recentemente, os Estados Unidos buscam transformar o país asiático em um centro de reabastecimento e manutenção de embarcações navais.

Para tal proposta, Washington fornecerá a Nova Deli apoio para desenvolver a infraestrutura que será usada para reabastecer, reparar e manter navios e aeronaves, de acordo com o Nikkei Asia. Como parte desse esforço, a Marinha dos EUA assinará acordos de reparo de navios com estaleiros indianos.

Segundo a Casa Branca, citada pela mídia, sua Marinha concluiu um acordo mestre de reparo de navios com o estaleiro Larsen & Toubro, perto da cidade indiana de Chennai. A força marítima também está perto de fechar acordos separados com outros dois construtores navais, com sede em Mumbai e Goa.

"Teremos muito mais a seguir no futuro próximo, mas o objetivo aqui é tornar a Índia um centro logístico para os Estados Unidos e outros parceiros na região do Indo-Pacífico", disse o general Pat Ryder, secretário de imprensa do Pentágono, a repórteres no final de junho.

No final de maio, os norte-americanos estavam negociando com o Japão de fazer a mesma manobra, ou seja, ter estaleiros do país asiático disponíveis para manutenção de navios estadunidenses no Indo-Pacífico.

As Forças Armadas dos EUA procuram se preparar para lidar rapidamente com atividades de reabastecimento e reparos na região do Indo-Pacífico. Se a Marinha tiver acesso a mais hubs na região, navios e aeronaves perderão menos tempo parando operações para ambos, escreve a mídia.

"Há uma grande lacuna entre as bases que os Estados Unidos sustentam nos acordos bilaterais de hub que eles têm no Oriente Médio e depois no Pacífico Ocidental. Então, a Índia cumpre isso", afirmou Jeffrey Payne, professor assistente do Centro de Estudos Estratégicos do Oriente Médio e Sul da Ásia ouvido pelo jornal asiático.

O ex-comandante do Comando Indo-Pacífico dos Estados Unidos, Harry Harris, elogiou a iniciativa.

"Atualmente, operamos a partir de Diego Garcia e da Austrália Ocidental no oceano Índico. Garantir um centro de manutenção, reparo e logística no subcontinente é significativo, pois isso nos daria a flexibilidade necessária na vasta região do oceano Índico", afirmou.

A Marinha da China tem cerca de 355 navios e submarinos, o que a torna a maior do mundo numericamente, segundo a edição de 2021 do relatório anual do Pentágono sobre a China.

Se os navios americanos não puderem passar mais tempo no mar, os EUA correrão o risco de ficar atrás de Pequim em termos de capacidade naval, enfraquecendo a dissuasão, diz a mídia. O governo Biden planeja aprofundar a parceria com a Índia além do oceano Índico no espaço marítimo.

Na semana passada, Daniel Kritenbrink, secretário de Estado adjunto para assuntos do Leste Asiático e Pacífico, participou de um evento organizado por um think tank dos EUA e abordou o fortalecimento da colaboração com a Índia no mar do Sul da China, conforme noticiado.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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