terça-feira, 4 de julho de 2023

Desdolarização da economia mundial é alimentada pelo aumento da dívida dos EUA, diz economista

Os EUA são a maior nação devedora da história do mundo, disse o renomado investidor norte-americano, Jim Rogers, à Sputnik alertando que a bonança da impressão de dinheiro não pode durar para sempre.

O presidente dos EUA declarou na quarta-feira (28) em um discurso em Chicago que "a 'Bidenomics' está funcionando". Segundo Joe Biden, suas políticas econômicas impediram que o país caísse em recessão, impulsionaram a recuperação mais forte entre as economias desenvolvidas e conseguiram domar a inflação. No entanto, apenas 34% dos norte-americanos acreditam que a economia do país está em boa forma, de acordo com o NORC Center for Public Affairs Research.

De acordo com Jim Rogers, um lendário investidor norte-americano, é preciso ser cauteloso ao ouvir os políticos assumindo o crédito por domar a inflação e salvar o dia.

"Eu concordo que o pior ainda está por vir", disse Rogers à Sputnik. "Sempre vem depois das flutuações e correções normais. Não concordo com a Casa Branca de que está tudo bem agora e certamente não concordo que eles devam levar o crédito por isso. Olhando para a inflação anterior em qualquer lugar do mundo, você verá que sobe, desce, sobe, desce. É assim que os mercados funcionam."

O cerne da questão é que os EUA são a maior nação devedora da história do mundo, disse o investidor. De fato, a dívida nacional dos EUA atingiu mais de US$ 32,3 trilhões (cercar de R$ 154,6 trilhões), ou US$ 96.702 (aproximadamente R$ 462.790) para cada pessoa no país.

"Cada nação na história que entrou nesse tipo de situação acabou tendo problemas", explicou Rogers. "Imprimimos muito dinheiro, tomamos empréstimos e gastamos muito dinheiro, o que é maravilhoso no curto prazo, mas eventualmente teremos que pagar o preço. A inflação vai piorar. Os problemas da dívida vão piorar, e os EUA vão sofrer. Este não é um bom momento para ser um jovem americano. Sou um velho americano. É um bom momento para ser um velho americano porque não tenho que pagar a dívida. Mas meus filhos vão ter que pagar a dívida e vão ter muitos problemas."

Embora os formuladores de políticas de Washington estejam insistindo que a economia dos EUA é muito grande e importante para entrar em default (inadimplência), e tão tecnologicamente avançada que poderia continuar crescendo apesar da dívida crescente, a realidade pode ser mais dura do que eles ousam imaginar, de acordo com o investidor.

Para ilustrar seu argumento, Rogers se referiu à década de 1980, quando a inflação era igualmente ruim. Então, o presidente do Federal Reserve (Fed), Paul A. Volcker, recorreu a fortes aumentos nas taxas de juros que ultrapassaram 19% em janeiro de 1981. Funcionou na época. No entanto, em 1983, os Estados Unidos ainda eram uma nação credora, observou Rogers.

"A inflação agora está pior", disse o investidor. "Agora, os Estados Unidos são a maior nação devedora da história do mundo. Então, com certeza, as coisas estão bem no momento, mas 'no momento' não vai durar para sempre. Alguém tem que pagar essa dívida. Alguém tem que imprimir mais dinheiro. Alguém tem que pedir mais dinheiro emprestado. E quando você empresta grandes quantias de dinheiro, as taxas de juros vão subir cada vez mais, a inflação vai subir porque muito dinheiro foi impresso."

·         Maior falha de 'Bidenomics'

Enquanto isso, o epítome da "Bidenomics" foi o aumento dos gastos, tanto em termos de infraestrutura e saúde quanto em orçamento militar. Alguém pode se perguntar o quão sustentáveis são esses planos de aumento de gastos.

"Eles gastaram muito dinheiro comprando votos", respondeu Rogers. "Isso é o que as pessoas em Washington fizeram muito bem nas últimas décadas. Eles aprenderam como fazer isso. É sustentável? Claro que não. Quero dizer, a menos que você ou outra pessoa lhes empreste grandes quantias de dinheiro a juros cada vez mais baixos, o que nunca aconteceu, claro que não é sustentável."

Os EUA não vão ficar sem dinheiro porque sempre podem imprimir o quanto quiserem, explicou o economista. Os EUA vão se socorrer ou o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai entrar em cena e lhes emprestar mais dinheiro também. No entanto, como resultado dessas manobras financeiras, "o valor do dinheiro se deteriorará e diminuirá à medida que eles imprimirem e tomarem emprestado cada vez mais dinheiro".

"O valor do dólar americano vai perdendo cada vez mais valor à medida que imprime mais. Acontece sempre assim", frisou o investidor.

Rogers se referiu à história do Império Britânico, citando o fato de que, na década de 1920, era o país mais rico e poderoso do mundo, inigualável. Ainda assim, 50 anos depois, a Grã-Bretanha estava literalmente falida, de modo que o FMI teve que voar para Londres e resgatá-los.

"Isso vai acontecer com os EUA", alertou Rogers. "Não este ano. Não se preocupe. Não vai acontecer este ano, mas vai acontecer."

·         O que Yellen não diz sobre a desdolarização

Não se deve descartar a tendência de desdolarização em desenvolvimento como algo inconsistente, dado o aumento vertiginoso da dívida dos EUA e os riscos de recessão, de acordo com o investidor.

A secretária do Tesouro, Janet Yellen, sugeriu que atualmente não há um substituto viável para o dólar quando se trata de comércio, investimentos ou moeda de reserva. "Há uma razão muito boa para o dólar ser amplamente usado no comércio, porque temos mercados de capitais profundos, líquidos e abertos, estado de direito e instrumentos financeiros longos e profundos", disse ela à imprensa no início desta semana, ao comentar sobre BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) questionando o domínio do dólar.

"Tudo o que [Yellen] disse é verdade, e essa é a razão pela qual os EUA chegaram a essa posição", disse Rogers. "Mas agora, o que ela deixou de fora, [é que] eles são os maiores devedores da história e a dívida está disparando e a impressão de dinheiro está disparando. Eventualmente, temos que pagar o preço. Todos os países da história tiveram que pagar o preço. Sim, ela vai imprimir grandes quantias de dinheiro. Ela vai pedir emprestado e gastar grandes quantias de dinheiro, e eles vão pensar que estão bem por um tempo, assim como fizeram com outros países no passado. Mas, a menos que algo tenha mudado na história mundial e na economia mundial, isso não vai durar para sempre."

O BRICS vem estudando uma alternativa ao dólar americano e deve discutir o assunto na 15ª Cúpula, que vai acontecer de 22 de agosto a 24 em Joanesburgo, África do Sul.

Até o momento, no entanto, não há moeda que possa substituir completamente o dólar, de acordo com Rogers, que vê algum potencial no yuan chinês.

"Ainda não vejo nada no horizonte", disse o investidor. "E isso pode causar um grande problema se e quando as coisas realmente derem errado com os EUA e com o dólar americano, o mundo terá uma séria crise financeira por um tempo, a menos que possamos vincular algo mais."

·         Não ouça 'algum cara na TV' enquanto se prepara para a crise

O investidor não descarta que os EUA estejam prestes a se encontrar em apuros enquanto o governo do país não tiver ferramentas eficazes para consertar a economia. "Em 2008, tivemos um grande problema por causa de muita dívida. Desde 2009, a dívida em todos os lugares disparou. Portanto, o próximo problema financeiro deve ser muito, muito sério porque a dívida é muito maior", alertou.

Quando questionado sobre o que os norte-americanos poderiam fazer para se proteger no caso de uma recessão iminente, o economista observou que eles não deveriam "ouvir um cara na Internet ou na TV", mas colocar seu dinheiro em coisas que eles próprios entendem e sabem sobre.

"É extremamente importante, especialmente quando surge uma crise, que você tenha seu dinheiro no lugar, do qual você mesmo entenda muito", disse Rogers. "E se for apenas a sua própria moeda local e o seu próprio banco local, tudo bem, faça isso. Você sobreviverá aos problemas gigantescos que estão por vir [...]. Tivemos crises econômicas ao longo da história. Teremos de novo. A forma como eles se preparam é ficar com o que você mesmo conhece."

Ao mesmo tempo, o investidor pediu a todos que mantenham sua dívida o mais baixa possível.

"Pedir dinheiro emprestado nunca foi uma grande maneira de resolver esses problemas", continuou Rogers. "Portanto, peço a todos que mantenham suas dívidas o mais baixas possível, faça o que fizerem com seu dinheiro ou com seus bens, fiquem longe de pessoas que têm grandes dívidas, se puderem. Você realmente sabe quem tem dívidas e quem não tem, evite as pessoas que têm grandes dívidas e os países que têm grandes dívidas e guarde seu dinheiro em coisas que você conhece, e não se afunde em dívidas até que a crise termine."

Da mesma forma, deve-se saber onde se está pisando se quiser começar como investidor e ter sucesso nas circunstâncias atuais, de acordo com o especialista.

"Não dê ouvidos a dicas quentes na Internet ou TV ou algo assim. Todo mundo que ouve isso sabe muito sobre alguma coisa, seja carros, tecnologia ou moda. Fique com o que você sabe. Você encontrará. Você encontrará coisas que vão mudar muito antes de mim, porque é isso que você faz todos os dias. E quando você vir algo mudando que você sabe que vai funcionar, faça alguma pesquisa e invista e você terá sucesso. Não dê ouvidos a dicas quentes. Não dê ouvidos à Internet. Não dê ouvidos à TV. Fique com o que você sabe. E se as pessoas disserem que isso é chato, seja chato", concluiu o investidor.

 

Ø  Analista explica como os países do BRICS podem acelerar processo de desdolarização

 

Os países do BRICS podem acelerar o processo de abandono do dólar como moeda de reserva se criarem uma moeda única, escreve a analista Claire Bargelès no jornal Les Echos.

A jornalista observa que um dos principais temas da cúpula do BRICS na África do Sul, que está planejada para 22- 24 de agosto, será a criação de uma moeda única.

"Este grupo de cinco países representa mais de 40% da população mundial, quase um quarto do PIB mundial e 18% do comércio mundial. Isto é suficiente para ter ambições monetárias com vista a proteger um mundo multipolar no qual os EUA não dominarão e, em geral, o domínio ocidental será uma coisa do passado", disse Bargelès.

Segundo ela, o BRICS está estudando outras maneiras de reduzir a dependência do dólar dos EUA, incluindo o aumento do comércio em moedas locais. Além disso, a possível expansão desta organização interestatal por meio de adesão de outros países poderia dar um "impulso inesperado" ao processo.

Recentemente, o professor e economista Richard Wolff disse que a expansão do grupo de países BRICS de economias emergentes coincidiu com a perda de domínio do dólar americano como moeda de reserva e comércio mundial e que as duas tendências estão interligadas. A ascensão do BRICS tem diretamente a ver com o declínio do dólar americano.

·         UE pode reconectar banco russo ao SWIFT para estender acordo de grãos

O jornal Financial Times informou que os países da União Europeia estão debatendo a possibilidade de reconectar o Rosselkhozbank ao sistema de pagamento internacional SWIFT para garantir o prolongamento do acordo de grãos.

A medida permitiria que o banco russo criasse uma subsidiária, conectada ao SWIFT, para gerenciar os pagamentos relacionados às exportações de grãos.

Após a última rodada de negociações entre a Rússia e a ONU, em 9 de junho, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Vershinin, questionou os pontos do memorando sobre as exportações agrícolas da Rússia dentro do acordo de grãos.

O diplomata observou que, apesar de todas as declarações que chegam regularmente das capitais ocidentais, as barreiras para as exportações agrícolas russas via mar Negro ainda estão em vigor, especificamente o fato de que o banco russo especializado em transações agrícolas continua impedido de executar operações via SWIFT.

O memorando russo na ONU prevê o desbloqueio das exportações russas de alimentos e fertilizantes, bem como a reconexão do Rosselkhozbank ao sistema SWIFT, além da retomada do fornecimento de máquinas agrícolas, peças de reposição e serviços, e uma série de outras medidas.

Por sua vez, Moscou observou que parte do acordo não foi implementada, e que não há pré-requisitos para a extensão do acordo de grãos, já que as obrigações para com a Rússia não estarem sendo cumpridas.

 

Ø  Índia se aproxima de limite de importação de petróleo da Rússia após novo máximo em junho

 

A Índia recebeu em média 2,2 milhões de barris de petróleo russo por dia no último mês, dos quais 1,5 milhão é da variedade Urals, escreve mídia norte-americana.

As importações de petróleo russo pela Índia atingiram um novo máximo em junho, conforme um artigo publicado na segunda-feira (3) pela agência norte-americana Bloomberg.

Os volumes diários subiram para 2,2 milhões de barris por dia em junho, o décimo mês consecutivo de aumento, de acordo com Viktor Katona, chefe de análise de petróleo bruto da empresa de análise Kpler.

A estatal Indian Oil Corp. foi a maior compradora de petróleo bruto russo nos últimos dois meses, seguida pela Reliance Industries Ltd. As importações indianas do petróleo Urals também atingiram um recorde, de 1,5 milhão de barris por dia em junho, disse a Kpler.

A empresa também relatou que as compras russas novamente excederam as remessas combinadas da Arábia Saudita e do Iraque. Segundo a Bloomberg, a Índia pode estar se aproximando do limite de seu aumento de compras do principal produtor da OPEP+.

A Índia surgiu como um importante consumidor de petróleo russo após o começo da operação militar especial da Rússia na Ucrânia em fevereiro de 2022, podendo agora as compras do país estar perto de seu limite devido a problemas de infraestrutura e à necessidade de manter boas relações "com outros fornecedores", em provável referência aos países ocidentais, que podem não ver com bons olhos o aumento das exportações russas.

Tal acontece em meio ao embargo petrolífero e o teto de preços para o petróleo e produtos petrolíferos da Rússia por parte de países ocidentais, impostos após o começo da operação especial. Ao mesmo tempo, a Rússia sinalizou a intenção de reduzir sua produção petrolífera, para, como explicou, estabilizar o mercado de hidrocarbonetos.

·         Arábia Saudita estende corte voluntário na produção de petróleo até agosto

A Arábia Saudita vai continuar a cortar voluntariamente sua produção de petróleo em um milhão de barris por dia (mb/d) também em agosto, escreveu a agência de notícias SPA, citando uma fonte do Ministério da Energia do reino.

"Uma fonte oficial do Ministério da Energia afirmou que o Reino da Arábia Saudita estenderá o corte voluntário de um mb/d, que entrou em vigor em julho, por mais um mês para incluir o mês de agosto", informou a agência.

Assim, a produção de petróleo do reino será de nove mb/d em agosto, segundo a nota.

A fonte citada afirmou que o corte voluntário visa reforçar as medidas de precaução dos países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo mais associados (OPEP+) para manter a estabilidade e o equilíbrio nos mercados de petróleo.

Após a reunião da OPEP+ do dia 4 de junho, a Arábia Saudita anunciou que em julho faria um corte adicional em sua produção de petróleo em um mb/d e não descartaria estender essa medida.

Além disso, no início de abril, vários países da OPEP+, incluindo a Arábia Saudita, anunciaram cortes voluntários na produção de petróleo de maio até o final de 2023 totalizando 1,16 mb/d (acima de suas cotas atuais), qualificando a medida preventiva para manter a estabilidade do mercado.

Em outubro passado, a OPEP+ concordou com um corte de produção de dois mb/d a partir de novembro.

Após uma reunião do dia 4 de junho, a aliança anunciou uma extensão de seu acordo até 2024 e uma redução de sua meta global de produção de petróleo em 1,4 mb/d a partir do próximo ano.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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