quinta-feira, 27 de julho de 2023

A roda gigante da violência

Grosso modo, a agressão se divide em dois campos:

(i)           por parte do Estado, que detém o monopólio da repressão policial-militar, é denominada “um ato de força” e;

(ii)          por parte do cidadão, que atenta contra a propriedade privada, a liberdade ou a vida é chamada de “violência”. Ambas as definições se referem à legitimidade moral e legal de uma ação.

A violência é constitutiva (acumulação primitiva) do capitalismo. “A situação miserável da classe operária não devia ser procurada em males isolados, mas no próprio sistema capitalista”, escreveu o jovem Friedrich Engels, no livro Situação da classe operária na Inglaterra, em 1845. Era a tirania do capital que iniciava sua aventura, a bordo do deixai-fazer: salários irrisórios, jornadas de trabalho extenuantes de 16 horas, exploração de mulheres e crianças.

No nazifascismo, a violência vincula uma política de identidade ao sentimento de pertencimento a um grupo, sejam os Sturmabteilung nazis, os camicie nere da Itália fascista, os camisas azules da Falange Espanhola, os camisas verdes do Integralismo brasileiro ou os camisas amarelas do cruento bolsonarismo. Hostilidades aos artistas, jornalistas e professores tornaram-se corriqueiras a partir do impeachment (2016) que instalou o neoliberalismo duro no país. Vide as reformas previdenciária e trabalhista, o teto de gastos públicos, a lei das terceirizações, a internacionalização do preço dos combustíveis, o fatiamento da Petrobras, a autonomização do Banco Central no controle da política monetária, o recrudescimento do processo de desindustrialização.

À época, se alguém por inadvertência passasse perto de uma manifestação da extrema direita corria o risco de linchamento. A estudante universitária que num domingo de sol pilotava a bike com uma camisa vermelha, ao estilo do grande herói de dois hemisférios, Giuseppe Garibaldi, foi agredida ao se deparar com a aglomeração de zumbis entorpecidos de preconceitos. O passaporte para o passeio no findi havia adquirido a cor do canarinho, e não a que trajava. A roda gigante da violência girava num ritmo alucinante, com a energia de séculos de dominação.

·         O Anti-intelectualismo

O Anti-intelectualismo é o produto da redução da política a um militontismo alienante. Ao descartar a inteligência para enaltecer as emoções, o que sobra é a atividade rasteira da desrazão como critério de performance na luta de classes. Fato que explica o nome belicoso (“combate”) dado por Benito Mussolini ao movimento Fasci Italiani di Combattimento (1919), convertido no Partito Nazionale Fascista (PNF, 1921). Coisa que, – por incompetência – o discípulo miliciano da Barra da Tijuca não logrou realizar, embora tivesse em mãos a poderosa caneta Bic.

“Ao ouvir falar em cultura, puxo o revólver”, “Este homem é perigoso, acredita no que diz”, “Uma mentira contada mil vezes torna-se verdade” são frases de Joseph Goebbels, ministro da Informação e da Propaganda da Alemanha nazista, braço direito de Adolf Hitler. As assertivas adaptaram-se à tragédia do Brasil, no período recente. A prática operacional do novo fascismo reverbera o fascínio pela violência ao refutar a ideia de política, da Antiga Grécia, de que a persuasão e o convencimento deviam buscar a verdade com a palavra, e não com a falsidade.

A invasão terrorista incentivada por Donald Trump ao Capitólio, em Washington, no 6 de janeiro de 2021, e a depredação por vândalos das sedes do poder republicano, alimentada ao longo do mandato do inelegível, em Brasília, no 8 de janeiro de 2023, têm em comum a frustração com a expectativa de desencadear um irresistível movimento negacionista do regime democrático, nos Estados Unidos e no Brasil. Por metonímia, imaginaram encarnar a nação. A disponibilidade subjetiva para atender a uma convocação para um conflito anunciado separa o simpatizante, do combatente. Ignorar a nuance compromete as ilusórias estratégias de mobilização.

Os partícipes do golpismo tiveram um gozo não compartilhado pela totalidade dos eleitores do populismo extremista. Na urgência, os estrategos confundiram a dinâmica da base radical com a “vontade geral” rousseauniana. São coisas distintas. Tivessem acertado o prognóstico, a história teria parido o totalitarismo e globalizado palhaços sociopatas.

·         Culto da ação pela ação

Para Umberto Eco, a rejeição ao modernismo, a mistificação da tradição e o culto da ação são traços incontornáveis do fascismo, tanto o velho quanto o novo. O antimodernismo resulta da decepção com o império da tecnologia que não garante empregos e rebaixa salários; o amor à tradição é uma reação ao feminismo, ao black lives matter e à homoafetividade; e, o ativismo, é uma resposta ao fracasso das teorias iluministas para revolucionar o mundo.

Nos anos 1930, as células comunistas reuniam-se para debater a conjuntura e a linha de atuação, afora distribuir tarefas postas pelo comitê central. Já enclaves fascistas, ontem como hoje, ao invés de encontros para discussão, reúnem-se para atacar propriedades, cercear liberdades públicas e surrar inimigos da causa autoritária. Marcelo Arruda, diretor do Sindicato de Servidores Municipais de Foz do Iguaçu (Sismufi), assassinado no dia do aniversário pelo ódio de um direitista armado, foi mais uma vítima da irracionalidade dos patriotas postiços.

As agressões do poder vão além dos mecanismos legítimos para a repressão. Também ocorrem pela identificação com um líder carismático ou então por um apego emotivo à simbologia emblemática da comunidade política (a bandeira, o hino nacional). Sem o que não se viabiliza a arregimentação para as demonstrações de potência, em passeatas e concentrações.

A guerra não é a continuação da política por outros meios, conforme pensava Carl von Clausewitz. Ao abdicar do discurso como instrumento para formação de consensos, a autoridade do argumento cede lugar ao argumento da autoridade imposto por um ato de força do Estado. Ora, trata-se aí da troca de um paradigma civilizacional, não de um método apenas.

·         Alexandre de Moraes/TSE

A violência sobre Alexandre de Moraes no aeroporto conjuminou uma agressão verbal (contra o ministro e a família) e a agressão física (contra o filho). Juridicamente, implicou uma coerção dirigida ao responsável por decisões relevantes para o futuro da República, na Suprema Corte e, em especial, na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Com óbvia intenção provocativa, a atitude do empresário de Santa Bárbara d’Oeste/SP forçou o titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a julgar a natureza da cena “uma ameaça às funções constitucionais e ao Estado de direito democrático”. A consequência expõe os autores aos rigores da legislação. Incivilidade não tem perdão.

A moda não começou com a ascensão do Bozo. Antes, com a benção da Lava Jato e da Rede Globo, os progressistas foram submetidos a um linchamento social sob a acusação de corruptos. Ricardo Lewandowski era xingado (sic) de garantista. A justiça regredira à Idade Média, onde a suspeição já significava meia culpa, pela presunção de culpa. A Idade Moderna funda a presunção de inocência, até prova em contrário e uma sentença em última instância.

Michel Foucault, em Vigiar e punir, no capítulo “Os recursos para o bom adestramento”, debruçou-se sobre o tema no contexto da modernidade. “O castigo disciplinar tem a função de reduzir os desvios. Deve, portanto, ser essencialmente corretivo. A punição disciplinar é, em parte, isomorfa à própria obrigação; ela é menos a vingança da lei ultrajada que sua insistência redobrada. O efeito corretivo que se espera de maneira acessória passa pela expiação e pelo arrependimento”. Bem-vindos os que chegam atrasados à sociabilidade democrática.

·         Para uma agenda positiva

A pergunta é: como enfrentar a violência quando quase metade da população, de acordo com as pesquisas, se espelha na ultradireita cujo prócer perverso venceu uma eleição presidencial acenando o gesto da arminha para lidar com a oposição antifascista? Aberta a Caixa de Pandora, inocentes morreram em abordagens da Polícia Rodoviária Federal (PRF) asfixiados em gás lacrimogêneo, no porta-malas de uma viatura da corporação – impunemente. Para impedir o alastramento do habitus da selvageria na sociedade, urge construir a agenda positiva.

Primeiro, defender uma governança que não se limite às “normas procedimentais” (Alain Touraine) ou às “regras do jogo” (Norberto Bobbio), e não fique de costas para a “questão social” qual os liberais clássicos fizeram e os neoliberais fazem. A saber, uma governabilidade sadia que promova políticas (re)distributivas. Segundo, defender a educação pública gratuita e de qualidade em todos os níveis, e o aperfeiçoamento do Sistema Único de Saúde (SUS), para revalorizar o conhecimento e a ciência em áreas sensíveis à percepção do povo trabalhador.

Terceiro, defender o ambiente natural e para superar a crise climática medidas que interpelem a sensibilidade ecológica da juventude. Quarto, defender a igualdade de gênero, de raça e dos grupos LGBTQIA+ para conferir concretude ao conceito de democracia “como um processo cumulativo de valores civilizatórios” e, junto, assegurar “o direito a ter direitos” (Claude Lefort). Quinto, defender a presença dos indivíduos na vida pública via o Plano Plurianual Participativo (PPA), na libertadora transição “de consumidor a cidadão” (Albert Hirschman).

Esse é o programa capaz de parar a roda gigante da violência. Punições severas às ações diretas, sem mediações institucionais, da extrema direita são necessárias. A iniciativa do governo Lula de elevar as penas é oportuna, dialoga com a noção de que “a lei é para todos”. Mostra o panóptico estatal (que tudo vê, como o olho de Deus) ativo. Valha para desvendar o mandante da execução covarde de Marielle Franco e Anderson Gomes, no triste 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Porém, é insuficiente. Ao par disso, é preciso cortar pela raiz as condições sociais que levam a ideologia do neofascismo apoiar-se na violência. Capisci?

 

Ø  Irmão de Eduardo Campos vê possível assassinato de ex-governador e quer reabertura das investigações

 

O advogado Antônio Campos, irmão do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, afirmou nesta quarta-feira, 26, que o político pode ter sido assassinado e informou que pedirá a reabertura do inquérito do caso. Eduardo Campos, então candidato do PSB à Presidência da República, morreu aos 49 anos em um acidente de avião na manhã de 13 de agosto de 2014, em Santos, no litoral de São Paulo.

“O Brasil precisa saber a causa do acidente, se teve conotação política e se existe a real possibilidade de Eduardo Campos ter sido assassinado”, disse o advogado, em entrevista ao veículo Folha de Pernambuco.

Antônio Campos ainda divulgou uma nota nesta terça-feira, 25, ressaltando que o relatório do inquérito policial sobre a morte do irmão foi “inconclusivo” e afirmando que entrará com um pedido de reabertura da investigação no próximo dia 13, data do falecimento do ex-governador.

“Estaremos, no próximo dia 13 de agosto, quando completa 9 anos do falecimento do ex-governador Eduardo Campos, meu único irmão, solicitando a reabertura do inquérito policial que investigou a morte do ex-governador e outros companheiros, cujo relatório do inquérito policial foi inconclusivo, trazendo provas novas, como também mostrando as deficiências do inquérito policial anterior e o do CENIPA, conforme permite a legislação penal”, disse.

A morte do ex-governador mudou o rumo político das eleições de 2014. O avião com Campos, que cumpriria agenda de campanha em Santos, saiu do aeroporto Santos Dumont, no Rio de janeiro, em direção ao Guarujá. De acordo com a Aeronáutica, a aeronave arremeteu quando se preparava para o pouso devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com o jato Cessna 560XL.

<><> Confira íntegra da nota

Estaremos, no próximo dia 13 de agosto, quando completa 9 anos do falecimento do ex-governador Eduardo Campos, meu único irmão, solicitando a reabertura do inquérito policial que investigou a morte do ex-governador e outros companheiros, cujo relatório do inquérito policial foi inconclusivo, trazendo provas novas, como também mostrando as deficiências do inquérito policial anterior e o do CENIPA, conforme permite a legislação penal, especialmente o Art. 18 do Código de Processo Penal, cujo arquivamento não faz coisa julgada material.

Tramita perante a 4ª Vara Federal de Santos também ação cível de produção de provas, sob o número 5001663-02.2017.4.03.6104 movida por mim e Ana Arraes, que se encontra na fase de citação da fabricante do avião, através de carta rogatória, nos Estados Unidos, que estamos diligenciando a agilização, tendo saído hoje da Vara Judicial um ofício ao Ministério da Justiça pedindo informações sobre o cumprimento e andamento da citação.

Tal ação interrompeu a prescrição cível, entre outras questões relevantes. O intuito nuclear da ação é a realização de perícia técnica judicial no sentido de verificar a causa do acidente, ante inconsistências do laudo do Cenipa e da conclusão do inquérito da Polícia Federal.

O TRF da 3ª Região, através da 4ª Turma, negou provimento a recurso da União julgando admissível produção de provas em acidente aéreo e que o pedido de perícia se justifica, nesse caso, nos autos do agravo nº 5015438-29.2018.4.03.0000 que teve publicação do acórdão em 07.04.21. Foi uma importante vitória no caso, cuja ação de produção de provas está em curso, tendo sido expedido oficio hoje ao Ministério da Justiça sobre o cumprimento da carta precatória para citar a Cesna, fabricante do avião.

Entre outros aspectos, mereceu zero interesse por parte da autoridade policial e do CENIPA, aspecto relevante de Recomendação de Segurança A 09 113 – 128 “O BANCO DE DADOS DE ACIDENTES/INCIDENTES DO N.T.S.B. CONTÉM, PELO MENOS, OITO (8) ACIDENTES ENVOLVENDO O COMPENSADOR DE PROFUNDOR DO CESSNA CITATION OU ‘FALHAS CORRELATAS’”.

Estou, juntamente com o perito assistente do caso Carlos Camacho, fazendo um livro documentário sobre o acidente que vitimou Eduardo Campos e outros companheiros, em seus múltiplos aspectos, em formato e-book, ante a existência também de imagens, vídeos e links sobre o acidente.

O Brasil precisa saber a causa do acidente, inclusive a real possibilidade de tal sinistro ter sido intencionalmente provocado, podendo ter conotação política, para vitimar o então candidato a Presidente, com campanha em ascenção, ante indícios existentes e que precisam ter uma investigação mais aprofundada pelas autoridades policiais e judiciais. Estamos estudando a possibilidade de pedir que tal caso seja avocado pelo Procurador-Geral da República, ante peculiaridades do caso.

Além de protocolar a petição de desarquivamento perante o Juiz que presidiu o caso, estaremos dando conhecimento ao Ministro da Justiça e ao Procurador-Geral da República do teor do requerimento.

Olinda/Recife, 25 de julho de 2023.

Antônio Campos - OAB/PE 12.310

 

       Médicos querem cassar senador do barraco em aeroporto

 

A Federação Médica Brasileira (FMB) pediu a cassação do mandato do senador Alan Rick (União Brasil-AC), o mesmo que viralizou nas últimas semanas após vir à tona um vídeo dele fazendo barraco em um aeroporto.

A petição solicitando a perda de mandato do parlamentar foi protocolada pela entidade, no último dia 18 de julho, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal.

O pedido de cassação, entretanto, não está ligado à confusão no aeroporto. A FMB quer cassar o mandato de Alan Rick por causa de um discurso realizado por ele, no plenário do Senado, em 13 de junho deste ano.

No discurso, Rick afirmou que os médicos brasileiros estão fazendo um “boicote” a médicos formados no exterior e que não tiveram seus diplomas revalidados, como exige o Ministério da Educação (MEC).

Segundo o senador, médicos brasileiros estariam se inscrevendo no programa Mais Médicos sem a intenção de ocupar as vagas, com o objetivo de impedir que médicos com diploma no exterior sejam contratados.

“Note-se, portanto, que sob a pretensa motivação de exercer o (legítimo) direito de manifestação na tribuna, atividade inerente ao seu respectivo mandato, o Excelentíssimo Senhor da República exacerba quando, desmedidamente, fomenta a sociedade cogitar que os médicos brasileiros não estariam preocupados com a saúde”, afirma a entidade na representação contra o senador.

 

Fonte: Por Luiz Marques, em A Terra é Redonda/Agencia Estado/Metrópoles

 

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