sexta-feira, 28 de julho de 2023


 Como a  Rússia está segurando contraofensiva da Ucrânia

O general encarregado da contraofensiva da Ucrânia no sul do país, Oleksandr Tarnavskyi, diz que a Rússia criou campos minados de várias camadas e linhas defensivas fortificadas que dificultam o avanço de equipamentos militares, incluindo tanques e veículos blindados fornecidos pelo Ocidente.

"É por isso que a maioria das tarefas precisam ser executada por tropas", disse.

Ele afirmou que os militares da Rússia demonstraram "qualidades profissionais" ao impedir que as forças ucranianas "avançassem rapidamente".

"Não subestimo o inimigo", acrescenta.

Os últimos relatórios dos EUA sugerem que o principal impulso da contraofensiva já começou. O grupo de pesquisa Institute for the Study of War (Instituto para o Estudo da Guerra) diz que as forças ucranianas parecem ter rompido "certas posições defensivas russas pré-preparadas".

Até agora, há poucas evidências de que tanques e veículos blindados fornecidos pelo Ocidente tenham conseguido fazer pender a balança a favor da Ucrânia.

Vários tanques Leopard e veículos de combate US Bradley foram danificados ou destruídos nos primeiros dias da ofensiva, perto da cidade de Orikhiv.

A 47ª Brigada da Ucrânia, que havia sido amplamente treinada e equipada pelo Ocidente para tentar romper as linhas russas, logo foi parada por minas e depois alvejada pela artilharia.

A Rússia divulgou vários vídeos do incidente, alegando que a ofensiva da Ucrânia já havia falhado. Na realidade, foi mais um revés do que um golpe decisivo.

Visitamos a oficina externa da mesma brigada, escondida em uma floresta atrás da linha de frente, onde agora eles estão tentando consertar mais de uma dúzia de veículos blindados — a maioria deles US Bradleys.

Eles chegaram à Ucrânia ilesos, mas agora carregam as cicatrizes da batalha: trilhos quebrados e rodas empenadas, os sinais reveladores de que vários deles passaram por minas russas.

"Quanto mais rápido pudermos consertá-los, mais rápido poderemos levá-los de volta à linha de frente para salvar a vida de alguém", diz Serhii, um dos engenheiros.

Mas ele também admite que alguns precisarão de mais que um reparo, e terão que ter partes trocadas ou até devem ser "devolvidos aos nossos parceiros" para serem reconstruídos.

Embora a blindagem ocidental tenha fornecido melhor proteção às tropas ucranianas, ela não foi capaz de penetrar nas fileiras de minas russas — um dos maiores desafios para o avanço da Ucrânia.

Viajando pela frente sul, também vimos veículos blindados Mastiff, fornecidos pelo Reino Unido, danificados e destruídos.

Serhii, engenheiro da linha de frente ucraniana, diz que é crucial consertar os tanques rapidamente, mas alguns estão além do reparo

A 47ª Brigada agora está usando alguns de seus tanques mais antigos da era soviética para limpar os campos minados. Mas eles também não conseguem escapar dos explosivos escondidos no solo, mesmo quando equipados com acessórios especializados na remoção de minas.

Mais perto da linha de frente, o comandante do tanque Maksym nos mostrou seu tanque T-64 recentemente destruído. Foi equipado com dois rolos na frente para detonar deliberadamente as minas, mas perdeu um deles na noite anterior, enquanto tentava abrir caminho para as tropas.

"Normalmente nossos rolos suportam até quatro explosões", diz. Mas os russos, acrescenta ele, têm colocado minas umas sobre as outras para destruir os equipamentos.

"É muito difícil porque há muitas minas", diz Maksym, acrescentando que muitas vezes havia mais de quatro fileiras de campos minados na frente das linhas defensivas russas.

Também tem sido doloroso assistir ao desenrolar da batalha para o piloto Doc e sua equipe de drones de reconhecimento do Exército Voluntário da Ucrânia.

Doc participou da ofensiva bem-sucedida do ano passado em Kherson. Mas ele diz que desta vez tudo está provando ser muito mais difícil.

Pela primeira vez na guerra, diz ele, os soldados estão sendo mais feridos por minas do que por artilharia: "Quando avançamos, encontramos campos minados por toda parte."

Ele me mostra um vídeo que filmou recentemente de um de seus drones enquanto as tropas ucranianas avançavam em direção a uma trincheira russa.

Há uma grande explosão assim que os soldados entram. A trincheira estava vazia, mas repleta de minas.

Doc diz ainda que as forças russas agora estão usando minas controladas remotamente.

"Quando nossos soldados chegam às trincheiras, eles apertam um botão e ela explode, matando nossos amigos."

Ele diz que viu a tática sendo usada nas últimas duas semanas e a chama de "uma nova arma".

Há uma lógica militar na ofensiva da Ucrânia no sul. A operação é vista como a chave para dividir as forças russas e alcançar as cidades ocupadas de Melitopol e Mariupol — até a Crimeia.

Mas o foco neste eixo significa que a Ucrânia agora também está atacando as linhas defensivas russas onde elas são mais fortes.

O general Tarnavskiy disse que suas forças estavam fazendo "um trabalho árduo e meticuloso". Ele disse que "qualquer defesa pode ser quebrada, mas é preciso paciência, tempo e ações hábeis".

A Ucrânia estava lentamente desgastando seu inimigo e a Rússia não se importava em perder homens, diz ele. Mas mudanças recentes na liderança militar "significam que nem tudo está bem", acrescentou.

Mas ele insistiu que a Ucrânia ainda não comprometeu sua principal força de ataque. "Devagar ou não, a ofensiva está acontecendo e com certeza vai atingir seu objetivo", diz.

Pergunto ao general como podemos julgar se é um sucesso ou um fracasso. Ele sorri e responde: "Se a ofensiva não tivesse dado certo, eu não estaria falando com você agora."

 

Ø  Guerra na Ucrânia cada vez mais perto das fronteiras da Otan

 

Ao nascer do dia, pontos minúsculos aparecem no céu da Romênia, acompanhados pelo barulho crescente de motores: são drones que se aproximam. Os barqueiros do rio Danúbio primeiro reagem incrédulos, depois em pânico, filmam com seus celulares: "Eles vão explodir aqui", exclama um dos homens, "vai cair direto no porto!"

Em seguida, a algumas centenas de metros, primeiro se vê o clarão de uma bola de fogo, em seguida uma violenta detonação se faz ouvir. "Vamos fugir, gente, a guerra agora começou bem na frente da Romênia!", grita um dos barqueiros.

Na manhã de 24 de julho de 2023, a Rússia enviou 15 drones iranianos Shahed-136 para o porto fluvial de Reni, na Ucrânia. Alguns são derrubados pela defesa aérea ucraniana, outros explodem, destruindo armazéns e celeiros cheios de cereal, e deixando sete feridos.

Um navio de carga romeno também é danificado. O porto de Izmail, rio acima, é igualmente alvo de ataques, mas sem êxito. Até então a guerra da Rússia na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, nunca avançara até tão perto da fronteira externa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Reni se situa no triângulo Ucrânia-Romênia-Moldova, cerca de 120 quilômetros a oeste da foz do Danúbio no Mar Negro. A partir do porto destruído, são uns 200 metros até a metade do rio, onde se situa a fronteira estatal da Romênia, e portanto de um Estado-membro da Otan. Mais 200 metros e chega-se à margem romena.

Por sua vez, o porto moldovo de Giurgiulești fica apenas cinco quilômetros rio acima; enquanto até a metrópole romena de Galați, com 220 mil habitantes, são dez quilômetros em linha reta. Foi mera questão de sorte, portanto, os pouco precisos drones Shared não terem atingido o território da aliança atlântica.

·         Putin quer paralisar exportação de grãos ucranianos

A ofensiva contra Reni é o degrau mais recente na escalada do terrorismo das bombas de Moscou, inaugurada há pouco mais de uma semana nas cidades portuárias de Odessa e Mykolaiv, no Mar Negro, e dirigido sobretudo contra a infraestrutura ucraniana de exportação de grãos.

Antes, mísseis russos já haviam atravessado um trecho do espaço aéreo romeno; destroços caíram sobre a República de Moldova; um projétil foi parar num bosque polonês. Até então, porém, o país agressor nunca empreendera uma ofensiva intencional tão perto da fronteira externa da Otan, ainda mais contra um alvo civil, numa área sem infraestrutura militar importante.

"Vladimir Putin quer paralisar por todos os meios a exportação de grãos da Ucrânia, e ao mesmo tempo se vingar por não terem sido suspensas certas sanções à Rússia, por exemplo contra o setor bancário", analisa o politólogo Armand Gosu, que leciona história e diplomacia russa e soviética na Universidade de Bucareste e é um dos principais especialistas romenos em Rússia e o espaço pós-soviético.

A Ucrânia depende urgentemente do faturamento com cereais e sementes oleaginosas, e até agora dispunha para tal de três vias de exportação. O maior volume saía dos portos de Odessa e Mykolaiv, pela rota do Mar Negro, mesmo depois da invasão russa, em fevereiro de 2022, graças a um acordo com Moscou sob mediação internacional. Após sua expiração, em 17 de julho, contudo, Putin recusou-se a prorrogá-lo.

Desde o início da invasão, outra parte chegava aos mercados mundiais por via terrestre, através da Romênia, Hungria, Eslováquia e Polônia. A terceira rota é pelo delta do Danúbio, passando tanto pelos portos ucranianos de Reni e Izmail, quanto por um trecho do Mar Negro pertencente às águas territoriais romenas. Kiev tenciona ampliar sobretudo essa terceira rota.

·         Bombardeios no Danúbio também visam efeito psicológico

Apesar de afastado e de acesso complicado por terra, o porto fluvial da localidade de Reni, no extremo sudoeste do país, oferece melhor acesso ao caminho náutico. A partir de lá, grandes navios de carga chegam ao Mar Negro passando pelo canal romeno de Sulina, o braço do delta do Danúbio mais bem ampliado para navegação.

Izmail – localidade com população de 70 mil, no braço de Kiliya do delta – por sua vez, é mais acessível por terra, porém só poucos grandes navios são capazes de aportar lá. Um projeto para aumentar a profundidade de certos trechos do Danúbio nessa região, por exemplo o canal Novostambulske-Bystroye, só avança lentamente, sendo tema controverso entre Bucareste e Kiev há muitos anos.

Comparado com a rota do Mar Negro, partindo de Odessa e Mykolaiv, até agora só uma fração dos grãos ucranianos pôde ser exportada a partir dos portos danubianos. Desse ponto de vista, o risco para a Rússia de bombardear Reni parece muito maior do que eventuais benefícios, devido à localização diretamente na fronteira da Otan.

Segundo o cientista político Gosu, entretanto, há muito mais em jogo na ofensiva do que apenas paralisar a exportação de grãos: "Putin quer mostrar que não se importa com a proximidade dos seus ataques com o território da Otan. Mais ainda: o objetivo dele é expor a indecisão da Otan."

·         Com reticência, Otan colabora para jogo cínico

A opinião pública romena reagiu com horror e apreensão profunda ao bombardeio dos portos de Reni e Izmail. Não só por a guerra ter avançado até tão perto de seu território: o delta do Danúbio é uma região cujos habitantes de ambos os lados têm laços recíprocos fortes, do ponto de vista histórico, linguístico e cultural. Mais da metade dos 18 mil habitantes de Reni, por exemplo, é de etnia romena.

Ao contrário da população, as reações oficiais de Bucareste foram estranhamente reticentes. O presidente Klaus Iohannis só tuitou brevemente que condenava com severidade as investidas russas próximo à Romênia. O Ministério da Defesa meramente comunicou que "não há ameaças militares diretas do território nacional".

Da parte da Otan, por sua vez, até agora não houve uma tomada de posição. É fato que o Conselho Otan-Ucrânia está reunido há mais de uma semana, desde a onda de bombardeios russos contra Odessa e Mykolaiv. Porém não houve qualquer condenação ou advertência a Moscou pelos ataques nas vizinhanças da fronteira da aliança militar ocidental.

Armand Gosu acredita que a Otan "quer evitar uma escalada a qualquer preço": "As elites do Ocidente agora estão cansadas da guerra, e temem mais um colapso da Rússia do que uma derrota da Ucrânia." Por isso o apoio a Kiev é aquém do necessário.

"Não é por causa da Rússia que vai haver um conflito longo, congelado na Ucrânia, mas porque o Ocidente não fornece armas suficientes", prognostica o politólogo romeno. "É um jogo cínico."

·         Defesa russa: EUA enganam a comunidade internacional sobre voos ilegais de drones na Síria

Os Estados Unidos estão enganando a comunidade internacional sobre os voos ilegais de seus veículos aéreos não tripulados (UAVs, na sigla em inglês) sobre a Síria, acusando a Rússia de fazer "manobras perigosas", disse o contra-almirante, Oleg Gurinov.

O vice-chefe do Centro de Reconciliação Síria do Ministério de Defesa da Rússia, contra-almirante Oleg Gurinov, disse nesta quinta feira (27) que drones norte-americanos fazem voos ilegais na Síria e enganam a comunidade internacional.

"Os EUA continuam a enganar a comunidade internacional sobre os voos sem conflito e ilegais de seus UAVs sobre o espaço aéreo sírio, acusando a Rússia de fazer 'manobras perigosas'. É a coalizão liderada pelos EUA que inicia todas as situações perigosas na Síria, violando os protocolos de não conflito e o espaço aéreo sírio", disse Gurinov em um briefing.

Além disso, oito violações do espaço aéreo sírio por três pares de caças F-16, um par de caças Rafale e um par de caças Typhoon da coalizão liderada pelos Estados Unidos foram registradas no último dia perto da área de Al-Tanf, através da qual passam as rotas aéreas, acrescentou o funcionário.

 

Fonte: BBC News Ucrânia/Deutsche Welle

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