Quem
é Cristiano Zanin e por que sua indicação ao STF causa controvérsia
O advogado Cristiano Zanin Martins, indicado pelo presidente
Lula para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), não tinha
experiência em direito penal quando assumiu a defesa do petista nos casos da
operação Lava Jato.
Formado em direito pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), Zanin era especializado em direito processual e
atuava em direito empresarial, especialmente em disputas complexas e grandes
casos de recuperação judicial.
Suas vitórias na defesa de Lula, no entanto, o
projetaram como um dos principais nomes da advocacia brasileira nos últimos
cinco anos.
Com as condenações anuladas pelo STF em causas
reconhecidamente difíceis, Lula conseguiu concorrer novamente e assumir seu
terceiro mandato como presidente da República.
Advogado de Lula desde 2013 e ao seu lado no que
foram os momentos mais difíceis de sua vida, segundo o próprio Lula, Zanin
ganhou a confiança do presidente e agora foi indicado ao prestigiado cargo de
ministro do STF, considerado o topo da carreira jurídica.
O presidente Lula afirmou em sua página no Twitter
que Zanin será um "grande ministro" e que conhece suas
"qualidades, formação, trajetória e competência".
"Acho que o Brasil irá se orgulhar",
escreveu o presidente. Antes de assumir, o advogado precisa passar por uma
sabatina no Senado.
Embora Zanin não seja o primeiro advogado que atuou
em defesa de um presidente a ser indicado para a Corte, a sua nomeação ao STF
tem dado munição a críticos de Lula que reclamam da grande proximidade do
presidente com o advogado.
Mas afinal, quem é Cristiano Zanin Martins e por que
sua indicação gera controvérsias?
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Quem é Cristiano Zanin?
A relação de Cristiano Zanin Martins com Lula vem do
fato de que o advogado é casado com Valeska Zanin Martins, afilhada de Lula e
filha do seu amigo Roberto Teixeira, próximo de Lula há mais de 40 anos.
Nascido em uma família de classe média no interior
de São Paulo, Zanin é filho do advogado Nelson Martins.
Estudou em colégios particulares de Piracicaba e
depois fez direito na PUC-SP, indo para a área de direito processual e direito
empresarial.
Quando assumiu o caso de Lula, Zanin era sócio do
sogro no escritório Teixeira Martins, localizado nos Jardins, em São Paulo.
A região é cheia de escritórios de advocacia e de
restaurantes onde era comum encontrar os nomes em ascensão no direito durante o
curso dos casos da Lava Jato.
A notoriedade trazida por ter Lula como cliente - e
os riscos -, no entanto, faziam com que Zanin não estivesse entre eles.
Reservado, ele costumava pedir comida e almoçar no escritório.
Após um rompimento com o sogro, Zanin criou seu
próprio escritório com a esposa, o Zanin Martins Advogados.
O escritório que deve ser tocado por Valeska com a
ida do marido para o STF - os dois têm três filhos e são bastante unidos,
segundo advogados que conhecem o casal ouvidos pela BBC News Brasil.
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Requisitos para o STF
Zanin tem hoje 47 anos, o que significa que poderia
atuar por 28 anos na Corte, até a aposentadoria compulsória aos 75 anos.
Apesar de ser jovem, ele não é o ministro mais novo
a ser nomeado e cumpre todos os requisitos determinados pela Constituição como
necessários para a indicação, diz o especialista em direito constitucional e
administrativo Wallace Corbo, professor de direito da Fundação Getúlio Vargas
(FGV-RJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Em seu Artigo 12, a Constituição Federal determina
que os ministros do Supremo devem ser escolhidos entre "cidadãos com mais
de 35 e menos de 70 anos", de "notável saber jurídico" e
"reputação ilibada".
"Nos últimos anos ele (Zanin) se consolidou
como um dos advogados mais conhecidos do país e foi muito bem sucedido em casos
que estavam desenganados, é um advogado de grandes causas, não há dúvidas sobre
ter um notório saber jurídico", diz Corbo.
"Ele também tem reputação ilibada - não há
nenhum fato que o desabone."
As críticas que têm sido feitas, diz Corbo, não são
à figura do advogado em si, mas ao fato de ele ser muito próximo ao presidente
- algo que tem gerado desgaste político a Lula.
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Proximidade
Adversários criticam a proximidade pessoal de Zanin
com Lula e afirmam que a indicação poderia ferir o princípio da impessoalidade
da administração pública.
Corbo aponta, no entanto, que não há nenhum
impedimento legal à nomeação de alguém próximo, desde que a pessoa seja
capacitada.
"É inevitável que o presidente busque
profissionais que conhece ou indicações de pessoas muito próximas a ele. O
desenho da indicação ao STF na Constituição é feito para que o presidente possa
imprimir na Corte sua orientação, colocando alguém que compartilhe sua visão."
Após a indicação, diz Corbo, o ministro se torna
independente e o fato de ter sido próximo não significa que vai decidir a favor
dos interesses de quem o indicou.
O ministro Dias Toffoli, por exemplo, que foi
indicado por Lula e foi advogado do PT, teve uma postura dura que não favoreceu
Lula nos casos da Lava Jato, lembra o professor de direito.
Zanin não é o primeiro indicado a ter atuado na
defesa do presidente que fez a nomeação.
O mais recente ministro da Corte, André Mendonça,
fez a defesa de Bolsonaro como Advogado-Geral da União (AGU). O ministro Gilmar
Mendes também foi AGU no governo de Fernando Henrique Cardoso antes de ser
nomeado pelo tucano ao STF. Dias Toffoli também foi AGU por quase dois anos.
Alguns ministros atuais da Corte já se posicionaram
publicamente para dizer que não veem impedimentos à indicação de Zanin e
elogiando sua atuação como advogado.
"Não vejo nenhum conflito ético, nem moral, nem
violação da impessoalidade. É um advogado que desempenhou o trabalho quando
tudo parecia perdido, quando tudo estava ladeira acima", disse o ministro
Luis Roberto Barroso em uma entrevista ao portal Uol neste ano.
No julgamento que declarou Moro suspeito para julgar
Lula, em 2021, o ministro Gilmar Mendes descreveu o trabalho da defesa do
petista como "brilhante".
"Vimos um advogado que não se cansou de trazer
questões ao tribunal, muitas vezes até sendo censurado, incompreendido",
afirmou.
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Críticas à direita e ressalvas à esquerda
Bolsonaristas têm questionado a indicação de Zanin
com a pergunta sobre qual seria a reação se Bolsonaro indicasse o advogado da
família, Frederick Wassef, para o STF.
"É uma comparação totalmente sem
cabimento", diz Corbo, "porque Wassef não tem o histórico de atuação
jurídica de Zanin, não tem o notório saber jurídico nem reputação
ilibada".
Wassef é investigado em casos criminais envolvendo a
família Bolsonaro e o ex-assessor Fabrício Queiroz, que chegou a ficar foragido
e foi encontrado pela polícia na casa de Wassef. Eles negaram quaisquer
irregularidades.
"Em termos de proximidade, a indicação da Zanin
é muito mais comparável à indicação do André Mendonça ou de Gilmar
Mendes", diz Corbo.
O professor aponta que a sabatina no Senado do novo
ministro serve justamente para barrar indicações inapropriadas.
"E a sabatina do Zanin não será fácil.
Antigamente elas eram mais simples e protocolares, mas nos últimos anos não têm
sido", diz Corbo.
A composição do Senado, embora mais amigável ao PT
do que a da Câmara dos Deputados, tem nomes que devem dificultar a sabatina de
Zanin.
Entre eles, está o atual senador e ex-juiz de
primeira instância Sergio Moro - que condenou Lula à prisão e contra quem Zanin
conseguiu vitórias no STF.
O Supremo decidiu em 2021, por 7 votos a 4, que Moro
era suspeito para julgar Lula e anulou suas condenações.
Mas não são só a direita e os adversários do
presidente que tem críticas à indicação de Zanin.
Parte da esquerda - e membros do próprio governo -
têm ressalvas à nomeação.
Uma das principais é que não se conhece publicamente
a posição de Zanin em relação a temas importantes e muito caros ao partido,
como direito trabalhista e direito tributário, por exemplo.
Encontros do possível futuro ministro com petistas,
como um jantar na casa do deputado Alencar Santana (PT-SP) em março, não
ajudaram a esclarecer essas visões, disse um deputado à BBC News Brasil -
afirmando, no entanto, que confia "na escolha pessoal do presidente".
Outra ressalva é que a indicação de Zanin não ajuda
a contribuir com a diversidade da Corte, que hoje tem apenas duas mulheres e
nenhum negro.
Fonte: BBC News Brasil
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