domingo, 25 de junho de 2023


 Mercado Financeiro apoia Lula contra bolsonarista do BC

Lula aumentou o tom das críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, após o Comitê de Política Monetária (Copom) manter a taxa de juros básica em 13,75%.

O presidente da República afirmou, na Itália, que Campos Neto “joga contra a economia brasileira” e que o patamar de juros estipulado pelo BC é simplesmente “irracional”.

Agora é mesmo.

Ao contrário do início do ano, hoje a crítica ao Banco Central não é apenas de Lula, mas de todos os setores empresariais e até de economistas do mercado financeiro.

A inflação em 12 meses está abaixo de 4%. Vai subir um pouco no segundo semestre – mas a previsão é que termine em 5%. E – pior – a previsão do próprio BC é de menos de 4% em 2024.

Ou seja, dá para resumir assim, leitor: acabou o surto inflacionário. Esperava-se, portanto, que o Banco Central indicasse, em seu tradicional comunicado, que iria reduzir na próxima reunião. Mas ele, lamentavelmente, não deixou esse sinal. Isso só fortalece o Lula.

Até no Senado está caindo o apoio a Roberto Campos Neto. Enquanto isso, ele tem a chance de mudar a comunicação até a próxima reunião, que acontecerá no início de agosto.

        Até a Faria Lima se irritou com Bob Neto

Roberto Campos Neto, desde sempre, apanhou muito do presidente Lula, da esquerda em geral e do setor industrial por causa das taxas de juros. Agora, desde a noite de quarta-feira, perdeu boa parte do apoio irrestrito que sempre teve na Faria Lima depois do comunicado emitido após a reuniãodo Copom.

O problema não foi a decisão de o BC manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, algo já esperado por todos. Mas uma parte expressiva dos grandes bancos e gestoras avalia que o comunicado emitido após a reunião deveria ter deixado uma porta aberta para a queda da taxa de juros no dia 2 de agosto, quando o Copom se reúne novamente.

Explica um banqueiro de investimentos:

— A consequência deste comunicado é dar munição aos que não toleram a independência do Banco Central. O Campos está prestando um desserviço à instituição da autonomia do BC.

Ainda assim, boa parte desses mesmos banqueiros continua apostando que agosto marcará o início da trajetória de queda da Selic. É óbvio, porém, que isso depende dos sinais mostrar em vários indicadores e que não haja nenhum perigo de repique na inflação.

Há uma expectativa de que na ata do encontro de anteontem da diretoria do BC, que será publicada na semana que vem, haja uma modulação do que saiu no comunicado. Diz um banqueiro:

— O BC tem a chance de na ata botar o carro novamente na pista.

Outro banqueiro, que também crê que a Selic será reduzida no próximo Copom, lembra que em agosto Gabriel Galípolo, o primeiro diretor indicado pelo governo Lula, já terá tomado posse:

— Vai ficar parecendo que foi a chegada dele ao BC é que forçou a queda, o que não é correto.

Neste momento, Campos Neto está em período de silêncio. Não pode dar qualquer declaração até que a ata do Copom seja publicada na semana que vem. Não pode falar, mas pode ouvir. E o que tem ouvido são esses sinais de descontentamento vindo de uma turma que até agora esteve sempre muito alinhada com ele.

 

       Ignorância da cúpula do governo sobre juros e Banco Central ainda custa caro ao país

 

O presidente da República deve ter facilidades para demitir o presidente do Banco Central. Tal poder é tão mais justo quando se trata de Luiz Inácio Lula da Silva e de um presidente do BC nomeado por Jair Bolsonaro, que fica no cargo até 2024, se quiser, pois tem mandato legal.

É o que disse o ministro Rui Costa, da Casa Civil, em um almoço com parlamentares. A Selic e outras taxas de juros ainda estão nas alturas em parte por declarações como estas, de Costa ou de Lula.

O país “legitimou” um novo projeto econômico por meio da eleição de Lula, o que se sobrepõe à ideologia de uma pessoa, Roberto Campos Neto, que preside o BC, segue o ministro.

Para começar, essa conversa revela que Costa tem escassa compreensão de como funciona o Banco Central. Além disso, sugere a primazia de políticas de governo sobre políticas de Estado (se muda o governo, tudo pode ser virado do avesso). Pode ser o caso, mas onde está a proposta de mudança institucional?

Até agora, o governo ladra, mas não morde, em parte porque a derrubada da autonomia do BC não vai passar no Congresso. Se passasse, qual o plano de reforma do BC? Apenas nomear um amigo, como Lula acaba de fazer no Supremo ou como diz que quer fazer na Eletrobras, por exemplo? Isso é República?

Sim, a política, o funcionamento e o grau de subordinação do BC a diretrizes do governo podem ser objeto de debate e mudança. Aliás, o governo já pode decidir, por exemplo, qual a meta de inflação ou como e quando a alcançar.

Desde a eleição, o governo apenas xinga o BC e sugere que vai mudar a meta de inflação. Essa conversa, além dos ataques de Lula à ideia de controle da dívida pública, provocou uma alta de juros no atacadão do mercado de dinheiro onde se definem as taxas de financiamento da dívida do governo, que são os pisos do custo do crédito em geral.

Foi apenas quando surgiu algum plano de contenção de gastos (“arcabouço fiscal”) e quando melhoraram algumas condições financeiras determinadas lá fora (como o dólar), por exemplo, que os juros no mercado voltaram ao nível de novembro, do “Lula Day”, baixa que ocorreu a partir de maio.

O ruído sobre a mudança (aumento) da meta de inflação ainda impede a queda mais rápida de expectativas e juros. Se o governo já tivesse dito que não vai mexer na meta, a ser decidida no final do mês, estaria ganhando dinheiro. Mas, com esse rumor ignaro tem dado dezenas de bilhões aos rentistas que diz execrar.

Quase ninguém no governo Lula entende os rudimentos do funcionamento do mercado financeiro. Entende-se por lá, na verdade, que “tudo é político” ou politiqueiro, mesmo. Que preços, condições financeiras, investimento produtivo ou consumo se decidem por canetada, o que fica evidente na palermice vexatória desse programa “Mais Carros”.

 É a mentalidade de deputado decidindo o uso de emenda parlamentar ou ministros disputando a nomeação para uma superintendência da Codevasf no interior da Bahia.

Se o governo tem outra ideia além de nomear amigos do rei para os postos-chaves do Estado, qual é? Ainda que morra no Congresso, qual é a sua teoria monetária moderna, por assim dizer? Apenas baixar a Selic na marra, colocando um sultão amigo no BC, com outra “concepção ideológica”?

Então, o que o governo vai fazer com expectativas de inflação, juros futuros e dólar? São os indícios da disposição dos donos do dinheiro grosso a emprestar ao governo ou a manter seu dinheiro em reais. Em suma, o preço que cobram. Vai tabelar preços e juros, controlar saída de capital?

É bom dar um jeito de que os endinheirados cobrem menos. Mas qual é o plano de Lula 3 além dessas queixinhas desinformadas e contraproducentes?

 

 

       Se todos perdessem com inflação e juros altos, eles já teriam recuado para níveis mínimos

 

O Banco Central, mais uma vez, manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano e não deu qualquer sinal de seu recuo nos próximos meses. O presidente Lula da Silva, em declaração feita na França à GloboNews na manhã de quinta-feira, afirmou que Roberto Campos Neto joga contra a economia brasileira.

A manutenção dos juros em 13,75% significa também um aumento real adicional de mais 1% para efeito de aplicações no mercado. É que em 2021 a inflação do IBGE acusou 10,5% e o BC elevou a Selic para 13,75%. Juros reais em cerca de 3%. Em 2022, a inflação recuou para 5,7%, e a Selic se manteve inalterada, produzindo um juro real de 8%. Agora, em 2023, quando ao longo dos últimos 12 meses o índice inflacionário desceu a quatro pontos, mantendo a Selic em 13,75%, o Banco Central e o Comitê de Política Monetária elevaram os juros reais para 9%.

A reação contra a manutenção dos juros partiu também da indústria do comércio em várias escalas. Na realidade, a decisão do Banco Central e a falta de perspectiva para a diminuição dos juros significou mais uma agressão ao governo Lula, e como disse o presidente da República, a própria economia brasileira.  No O Globo, a matéria sobre a decisão do BC é de Renan Monteiro, Manuel Ventura, João Sorima Neto, Renata Andrade, Juliana Causin e Letícia Cardoso. Na Folha de S. Paulo, de Natália Garcia.

 

       Banco Central "sabota" o Brasil com "negacionismo" sobre os juros, diz Randolfe Rodrigues

 

Líder do governo Lula (PT) no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) afirmou nesta sexta-feira (23) à GloboNews que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, está "sabotando" a economia brasileira com sua postura "negacionista" sobre a taxa básica de juros, atualmente em 13,75% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fez sua mais recente reunião nesta semana e decidiu pela manutenção do patamar da Selic. O comunicado, por sua vez, não indicou a possibilidade de um corte nos juros nos próximos meses, como era esperado - ainda que interlocutores do BC garantam que o comunicado indica sim para esta possibilidade.

"Quem tem que ficar irritado com a decisão negacionista - vou tratar assim - do Banco Central, negacionista diante dos fatos, da realidade, é o país, o setor produtivo, os industriais, é o varejo, é a atividade econômica, são os trabalhadores. Ele não está irritando o presidente da República ou o parlamento. Ele está sabotando o Brasil. Não tem assento em nenhuma realidade a manutenção da taxa de juros [em 13,75% ao ano]. Pior: não tem assento em nenhuma realidade sequer indicar a redução. O Banco Central está influenciando um ciclo vicioso na economia ao invés de cumprir sua função de induzir o crescimento econômico. E isso eu não estou dizendo só por mim, estou dizendo pela ata [comunicado] do Banco Central", declarou o senador.

"O Banco Central tem que ver os indicadores da economia e, de acordo com esses indicadores, definir se a taxa de juros cumpriu o seu objetivo de desacelerar a inflação ou não. Não se assenta na realidade. É um ato de sabotagem. Não é um ato técnico, é um ato político da parte do presidente do Banco Central", complementou na sequência.

Randolfe garantiu que apresentará no âmbito da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado um requerimento para a convocação de Campos Neto. O parlamentar disse já estar conversando sobre o assunto com o presidente do colegiado, Vanderlan Cardoso (PSD-GO), e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). "O presidente do Banco Central tem que prestar explicações, porque está atuando contra o Brasil, contra a realidade e contra os fatos concretos. Vou fazer contato ainda hoje com o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, com o presidente Vanderlan. Ainda ontem conversei com o presidente Rodrigo Pacheco. Antecipo que a insatisfação com o resultado e a perspectiva da última reunião do Banco Central não é somente minha, somente da liderança do governo, do governo. É do parlamento também. Dialoguei sobre isso com o presidente Pacheco ainda ontem. Então é urgente ele comparecer novamente ao Senado para prestar explicações".

 

       Após pressão generalizada, membros do Banco Central procuram o governo e dizem que Selic pode cair

 

A repercussão negativa causada pela declaração do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na noite de quarta-feira (21) levou membros do colegiado a procurarem representantes do governo Lula (PT) para explicar que, embora poucas pessoas tenham compreendido dessa maneira, o texto realmente deixa uma brecha aberta para uma redução na taxa básica de juros (Selic) em breve.

Segundo o site O Antagonista, os indícios sobre o início de um ciclo de cortes nas taxas de juros devem se tornar mais claros com a publicação da Ata do Comitê, que será publicada na terça-feira (27). “Essa talvez seja a explicação para o comportamento dos juros futuros ontem, que mantiveram a precificação de corte praticamente inalterada”, ressalta a reportagem.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem sendo alvo de críticas por parte do presidente Lula e de integrantes do governo federal em função da manutenção da taxa de juros no patamar de 13,75% ao ano - mais alto do mundo em nível real -, o que prejudica investimentos e reduz o poder de compra da população.

A pressão, porém, aumentou com as críticas feitas pelas grandes varejistas e também pelo mercado financeiro. “Uma parte expressiva dos grandes bancos e gestoras avalia que o comunicado emitido após a reunião deveria ter deixado uma porta aberta para a queda da taxa de juros no dia 2 de agosto, quando o Copom se reúne novamente", destacou o jornalista Lauro Jardim em sua coluna no jornal O Globo.

Apesar do Copom manter a taxa básica de juros no atual patamar pela sétima vez consecutiva, a expectativa do mercado financeiro é de que os juros devem cair a partir de agosto ou setembro.

Nesta quinta-feira (22), o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou no Conselho Monetário Nacional (CMN) denúncia contra o presidente do BC. Lindbergh acusa Campos Neto de descumprimento dos objetivos da instituição e pede que o CMN avalie a possibilidade de pedir ao Senado Federal a exoneração do presidente do BC, indicado por Jair Bolsonaro (PL).

 

Fonte: Veja/Tribuna da Internet/FolhaPress/Brasil 247

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