domingo, 25 de junho de 2023


 César Fonseca: BC nem aí para Lula; está voltado para o BC americano

Ficou claro, na reunião do Copom que o BC Independente comandado por Campos Neto tem sua preocupação voltada apenas para a situação internacional; as últimas notícias que o BC levou em conta foram as relacionadas às preocupações do BC americano com a guerra na Ucrania, entre Rússia x Otan/EUA.

O FED entende, de acordo com as palavras de Jeremy Powell, seu presidente, que a guerra virou fonte de pressão inflacionária global; as crescentes tensões internacionais se voltam contra o dólar, dadas disposições da China e da Rússia, com seus aliados, na Eurásia e nos BRICS, de criarem alternativas às transações monetárias em moedas locais, para além das realizadas sob comando da moeda americana; essa propensão internacional, que eleva a temperatura das relações de Washington com Pequim, a ponto de Biden, de forma destemperada, chamar Xi Jinping de ditador, gera incertezas traduzidas na elevação dos preços e aprofundamento da recessão, especialmente, na Europa, agora, desesperada para abrir mercado na América do Sul.

Nesse contexto em que saídas estão bloqueadas pelas incertezas quanto ao comportamento dos preços, Banco Central americano e Banco Central Europeu, especialmente, emitem comunicados ressaltando tensões inflacionárias que levantam expectativas de aumentos de juros; o reflexo dessas análises batem fundo na orientação do BC brasileiro, obediente e preocupado não com a economia brasileira, ou com as previsões otimistas de Lula em lançar programas de retomada do desenvolvimento, mas com as orientações emanadas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), ao qual estão submetidos os bancos centrais do ocidente, entre eles o BC Independente brasileiro.

Campos Neto, portanto, não está nem aí para o governo Lula e seu arcabouço fiscal em análise no Congresso, sob a lupa neoliberal do mercado financeiro; este se mostra interessado, tão somente, em sustentar juro elevado capaz de manter sua rentabilidade elevada, o que não ocorre em relação à capacidade da economia de garantir tal situação privilegiada por meio do incremento da produção e do consumo em meio ao baixo poder de compra dos trabalhadores, desfavorecidos pela reforma neoliberal; o arcabouço fiscal é, essencialmente, um freio ao desenvolvimento sustentável diante do juro que mantém a economia semi paralisada, ameaçada de retrocessos quanto mais a queda da Selic é adiada mediante argumentos escapistas e sem correlação com a realidade deflacionária em marcha.

 

       Julimar Roberto: Juros Altos - Basta de sabotagem!

 

A manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% é sabotagem do projeto popular eleito nas urnas. É com essa frase ─ em com profunda insatisfação ─ que inicio o artigo desta semana. A deliberação descabível foi tomada em reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nessa quarta-feira (21). Um tamanho descaso com o Brasil e seu povo.

Nem mesmo a pressão do governo, de empresários, das centrais sindicais e de movimentos populares, fez com que o Copom recuasse de sua política monetária. Formado pelo presidente do BC, Campos Neto ─ indicado por Bolsonaro ─, e outros diretores da instituição, o Comitê tem se mostrado um verdadeiro entrave para o crescimento econômico e social do país.

A justificativa do Copom é que “medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação". Mas a verdade é que os indicadores econômicos mostram que é possível, sim, abaixar os juros. O próprio mercado já recuou de suas análises equivocadas sobre o governo Lula e projetou um novo cenário para a economia brasileira. Um cenário, diga-se de passagem, bastante promissor. Não há mais motivos para tamanha barbaridade ─ se é que houve em algum momento.

Lembra da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), aquela que, em 2015, apoiou o golpe contra Dilma? Pois bem, a entidade sinalizou seu descontentamento com o BC e afirmou que “este é um momento crucial para a autoridade monetária decidir pelo início do ciclo de baixa da taxa de referência, dando fôlego à economia".

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) também se posicionou contra os juros altos e afirmou que o alto valor da Selic compromete a geração de empregos e "torna inviável a compra de imóveis por milhares de famílias, comprometendo o desempenho de um setor que gera 10% dos empregos formais no Brasil”.

A CUT, pioneira na mobilização pela redução dos juros, também se manifestou após a manutenção da Selic e afirmou que a taxa de 13,75% “mesmo diante de um cenário de queda da inflação e melhoria dos indicadores macroeconômicos, é um atentado ao esforço do governo para a reconstrução do Brasil”.

E por aí vai. Empresários, trabalhadores, governo, entidades sindicais, movimentos populares, todos os setores da sociedade estão dizendo: “não aguentamos mais!”. Está mais do que na hora de o BC rever sua postura e fazer o papel de uma instituição pública que trabalha em prol do país. Queremos o Brasil crescendo, com geração de empregos com direitos, comida na mesa, inflação baixa, PIB nas alturas e o povo feliz. Mas, apesar dos esforços e do trabalho árduo de Lula, isso só será possível com a Selic baixa.

Basta de juros altos!

O Brasil quer voar!

 

       Campos Neto não pratica ortodoxia econômica, mas terrorismo financeiro. Por Jeferson Miola

 

O sabotador bolsonarista do Banco Central manteve os juros na estratosfera, de 13,75%, diante de uma inflação acumulada de 3,94% nos últimos 12 meses.

Isso significa ganhos financeiros reais, acima da inflação, de quase 10% ao ano. De longe a maior taxa do mundo, que faz do Brasil o reino do parasitismo financeiro no planeta Terra.

Sob qualquer ângulo da realidade econômica brasileira esta política de juros é injustificável. O desempenho econômico rapidamente alcançado pelo governo Lula é indiscutível, tanto que em poucos meses já conseguiu diminuir o grau de risco do Brasil.

Além do enorme consenso existente a respeito da política obscena do Banco Central, há também um grande clamor pela baixa imediata dos juros no país. Tudo isso, no entanto, não comove o sabotador bolsonarista do Banco Central.

Nem mesmo na cartilha da ortodoxia neoliberal se encontra alguma explicação para a manutenção dos juros nesses patamares.

Esta política absurda só encontra justificativa na estratégia de terrorismo financeiro de Campos Neto para travar a economia e sabotar o governo Lula.

E esta escolha também gera, é claro, ganhos formidáveis para o rentismo por meio da rapinagem.

Considerando o estoque da dívida pública, a cada 1% de juros, cerca de 70 bilhões de reais que poderiam ser alocados nos orçamentos do SUS, educação, ciência & tecnologia, obras e investimentos prioritários são desviados do Tesouro Nacional para os bolsos de rentistas, financistas e parasitas do gênero na forma de pagamento de juros e serviços da dívida.

Campos Neto mostra a verdadeira natureza da sua gestão no Banco Central, que é independente e indiferente em relação ao governo, à população brasileira e aos interesses nacionais, e totalmente servil à pilhagem do capital financeiro e ao terrorismo da extrema-direita ultraliberal que sabota o governo Lula.

de Cambridge UK e Columbia NY. É professor de economia na FGV-SP desde 2002

 

       Paulo Gala: Decisão do Copom e sinais sutis sobre os juros

 

'Um corte de juros pode ser mais provável em setembro do que em agosto', afirma o economista Paulo Gala.

1/ O COPOM decidiu manter a taxa de juros em 13,75%. Apesar disso, alguns sinais sutis indicam a possibilidade de redução em agosto, embora sem garantias. O comunicado não foi explícito sobre um corte, mas destacou questões relevantes.

2/ O primeiro sinal sutil foi a retirada das projeções divulgadas anteriormente, que indicavam inflação abaixo de 3% com a manutenção da taxa até o final do próximo ano. Agora, o COPOM olha para 2024 e menciona a queda nos preços das commodities, embora a maior parte do movimento já tenha ocorrido.

3/ Embora exista risco de queda adicional nas commodities, o COPOM considera que a maior parte do ajuste já foi feita. Os próximos passos dependerão das expectativas de inflação, principalmente em prazos mais longos. O BC continuará a agir com cautela.

4/ O comunicado não anuncia um corte de juros, mantendo o balanço de riscos equilibrado. Existe a possibilidade de a inflação subir ou cair. Outro sinal sutil foi a retirada da possibilidade de aumento da taxa caso a inflação acelere novamente, o que pode indicar a abertura para um possível corte.

5/ No entanto, de maneira geral, o tom do COPOM permanece firme. Não houve grandes novidades que suavizassem o discurso. Os sinais sutis indicam possibilidades, mas ainda é incerto. Um corte de juros pode ser mais provável em setembro do que em agosto.

 

       Bolsonaro inelegível enfraquece Roberto Campos Neto no BC. Por Pedro do Coutto

 

O presidente Lula da Silva, em declarações feitas na Itália, voltou a atacar fortemente o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pela decisão de manter a taxa de juros da Selic em 13,754% ao ano, o que significa juros reais de quase 10%, pois a inflação dos últimos 12 meses foi de quatro pontos percentuais, de acordo com o IBGE. O ministro Fernando Haddad acompanhou o presidente nas críticas e acentuou que a manutenção dos juros nessa absurda escala prejudica amplamente o projeto de arcabouço fiscal.

Lula assinalou ainda que “esse cidadão está atuando contra a economia brasileira, tornando irracional o que está acontecendo no país”, referindo-se a Campos Neto. Ampla reportagem de Manuel Ventura, O Globo, destaca as reações do governo contra a política mantida por Campos Neto. Ele foi nomeado por Jair Bolsonaro e seu mandato termina em 2024. Lula frisou que a culpa pela manutenção de Campos Neto é dos senadores, pois pela lei em vigor só o Senado poderá afastá-lo antes do término do seu mandato.

Os juros altos estão contribuindo para a retração da atividade econômica de modo geral, o que se reflete no fechamento de centenas de lojas comerciais nos últimos 12 meses, conforme destaca Letícia Cardoso em reportagem também na edição de ontem de O Globo. Até o Magazine Luiza que lidera o comércio varejista fechou mais de 90 lojas no país nos últimos 12 meses.

No período de maio de 2022 a maio de 2023, as ações da empresa caíram 22%.  A rede Marisa fechou, também em decorrência da retração, praticamente cem unidades comerciais. A consequência do fechamento de lojas comerciais, evidentemente, influi no nível de emprego, reduzindo os postos de trabalho substancialmente. E não só reduzindo, mas bloqueando o acesso de jovens aos setores do comércio.

Logo, os resultados em cadeia da manutenção dos juros em 13,75% ao ano são profundamente negativos. A impressão que tenho é que o presidente Lula da Silva tentará uma investida através do Senado contra a permanência de Roberto Campos Neto.

De fato, autonomia e independência do BC não podem significar a base de um conflito político intenso como o que está atingindo o governo do país. Autonomia e independência não são sinônimos de uma divergência fundamental na política pública. Se assim fosse, o presidente do Banco Central não precisaria ser nomeado pelo presidente da República.

A questão essencial é que o BC tem que atuar como instrumento de desenvolvimento econômico e não pode se transformar sob qualquer hipótese numa plataforma contrária ao governo do país. Da mesma forma que o governo não pode manter um ministro que se oponha à orientação do Planalto, a permanência de Roberto Campos Neto no cargo representa uma contradição e um impasse.

A autonomia do Bacen está atribuindo a ele, banco, um poder superior ao do presidente da República, um grande absurdo. Por outro lado, a atitude de Roberto Campos Neto, sem dúvida, é desafiadora. Ele, inclusive, não abre nenhuma perspectiva para a redução dos juros. Ao contrário. Campos Neto insiste e até acredita que se emociona com sua postura contra Lula, contra Haddad, contra Simone Tebet.

Com isso, além de tornar difícil a política econômica do Planalto, contribui de forma exagerada para abalar a posição internacional do Brasil. Afinal de contas, como o sistema internacional pode interpretar uma situação nacional em que o presidente do Banco Central se opõe de forma tenaz ao Palácio do Planalto e se julga em condições de ditar uma política monetária que se choca com a política econômica do governo e do país ?

A situação de Roberto Campos Neto cada dia se torna mais difícil e o desfecho da crise entre ele e Lula se aproxima, o que deverá ocorrer imediatamente após, calculo, a perspectiva dominante de que o Tribunal Superior Eleitoral tornará Bolsonaro inelegível. O PL e o bolsonarismo partirão em busca de outro candidato para 2026. Na estrada para essa busca, Campos Neto ficará para trás.

 

Fonte: Brasil 247/Tribuna da Internet

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